Reverter a entrega de Libra
- Enquanto o Brasil prepara a entrega do seu petróleo ao capital
transnacional, em discurso na ONU a sua presidente finge
indignação pela espionagem da NSA mas nem sequer fala na
possibilidade de romper os acordos militares e policiais que submetem o
país aos EUA
1- Continuam entregando tudo. Quando se dará mais importância
à realidade que ao discurso? Que se pode fazer para reverter o presente
curso de destruição do Brasil? Certamente, não é
coisa convencional.
2- Estamos diante da entrega às petroleiras lideradas pelo cartel
angloamericano das reservas de petróleo da plataforma continental e da
camada do pré-sal.
3- Também, diante do descalabro na infra-estrutura, de que são
exemplos gritantes a energia elétrica e os transportes. Cada um desses
caos nos custa trilhões de reais por ano e decorre de sacrifícios
de setores vitais no altar do falso deus mercado. Na verdade, entregas
graciosas a carteis estrangeiros.
4- Além disso, está exposta a completa insegurança das
telecomunicações, à mercê das tecnologias de
espionagem de empresas e de agências governamentais dos EUA, sem
mencionar que, desde há mais de quinze anos, quando a EMBRATEL foi
entregue à estadunidense Verizon, essa segurança pouco vale,
devido à privatização tucana, intocada pelos governos
petistas.
5- Os brasileiros não se devem iludir com discursos nem com o enviesado
noticiário da grande mídia. Tanto no petróleo, como na
energia elétrica, nos transportes e nas comunicações, o
País cai para um patamar intolerável de submissão e de
degradação socioeconômica.
O CASO DO CAMPO LIBRA
6- No caso do campo de Libra, da área do pré-sal, cujo
leilão a Agência Nacional do Petróleo (ANP) quer realizar,
de qualquer maneira, em 21 de outubro, apesar das numerosas ilegalidades
do edital, denunciadas ao Tribunal de Contas da União pela
Associação dos Engenheiros da Petrobrás, trata-se do maior
campo já descoberto no Mundo, com mais de 40 mil milhões de
barris de reservas
in situ.
No mínimo, 12 mil milhões de barris de reservas
recuperáveis.
7- Como o preço atual do petróleo está em US$ 100 por
barril, o valor desse campo são US$ 1,2 milhões de
milhões, equivalentes a R$ 3 milhões de milhões.
8- Ora, na medida em que a Petrobrás estará alijada do
leilão, até por ter investido para viabilizar
produção em prazos menores que os possíveis na zona do
pré-sal, onde também investiu para pesquisar Libra e outros
campos, as companhias do cartel angloamericano ficam com tudo, mesmo porque a
ANP resolveu, beneficiando-as, exigir do consórcio vencedor um
bônus no valor de R$ 15 mil milhões.
9- Essa quantia é ridícula comparada ao valor do campo, mas
é demasiado elevada para a Petrobrás desembolsar de uma vez,
devido às dificuldades de caixa em que foi envolvida, até por
subsidiar os preços dos derivados no País.
10- Ao contrário da propaganda governamental propícia ao cartel
angloamericano, o bônus nem constitui receita para o governo, mas
tão somente adiantamento, que devolverá em parcelas ao
consórcio ganhador do leilão.
11- Ao denunciar o autoritarismo e a prepotência dos órgãos
decisórios do setor, o Eng. Paulo Metri nota que o Estado brasileiro
está loteado, e o capital internacional, no comando da energia e
mineração.
12- Provas disso e do absurdo de entregar 70% da reserva conhecida de Libra a
empresas estrangeiras são, conforme Metri: 1) elas exportarão o
óleo bruto, sem adicionar valor algum; 2) nunca
contribuirão para o abastecimento do País; 3) dificilmente
contratarão plataformas no Brasil o item de maior peso nos
investimentos; 4) não gerarão empregos qualificados aqui; 5)
não pagarão impostos, graças à lei Kandir; 6)
só pagarão os royalties e uma parcela "combinada" do
lucro.
12- Cabe esclarecer sobre este último ponto:
a) os royalties, embora de, em princípio, 15%, conforme a Lei do
Pré-Sal, 12.351/2010 maiores, portanto, que os 10% da famigerada
lei de FHC, 9.478/1997 são, na realidade, reduzidos por brechas
criadas nas emendas do Congresso à lei de 2010; mesmo em países
sem a capacidade de exploração da Petrobrás, os royalties
costumam ser, em média, 80%;
b) a parcela combinada são os 30% a que Petrobrás faz jus, de
acordo com a Lei 12.351/2010, a qual, desde a proposta do ex-presidente Lula,
garante à Petrobras a condição de operadora única,
com 30% do resultado, ficando, porém, os 70% para o ganhador do
leilão, no caso o cartel estrangeiro, sem correr riscos.
13- O atual governo não aplica em favor do País o que deve
decorrer das leis do Pré-Sal, deixando de fazer cessão onerosa do
campo de Libra à Petrobrás, conforme a Lei nº 12.276/2010, e
agindo como caudatário dos interesses anglo-americanos, mesmo
ciente da espionagem de agências públicas dos EUA, como a NSA e a
CIA, tendo como alvos o petróleo e o pré-sal.
15- O Eng. Fernando Siqueira lembra que, já no 11º leilão, a
Petrobrás teve participação pífia, tendo comprado
menos de 20% das áreas ofertadas e sendo operadora só em
três delas. Como essas áreas não são do
pré-sal e se regem pela Lei 9.478/1997, todo o petróleo fica para
quem ganhou o leilão.
16- Acrescenta:
"Creio que, propositadamente, exauriram a capacidade financeira da
Petrobrás com leilões desnecessários, pois o país
está abastecido por mais de 40 anos.
A partir da 11ª rodada, o capital internacional irá sempre ganhar
vários blocos, graças a plano maquiavélico com
aprovação do governo do Brasil."
17- Ainda conforme Siqueira, o governo está abrindo mão de parte
da parcela destinada ao Fundo Social. Também troca lucros de centenas de
milhares de milhões de dólares por um oneroso empréstimo
de quantia irrisória.
18- Siqueira esclarece que a Petrobrás tem previsão de produzir 4
milhões de barris em 2020, e não, há, pois, necessidade
alguma de leiloar o pré-sal. Menos ainda, nas condições
altamente danosas ao País, em que está sendo feito.
19- A 11ª rodada de leilões, já realizada, e a 12ª,
marcada para breve, implicam amarrar o Brasil à condição
de país sem autodeterminação, definitivamente
inviabilizado para o desenvolvimento, condenado a exportação
primária e poluente, controlada pelas transnacionais do petróleo
e rendendo-lhe vultosas divisas que farão suplantar a das automotivas no
posto de donas do País.
20- Outras consequências: agravar a desindustrialização, a
concentração de renda
[NR]
nas mãos da oligarquia estrangeira e marginalizar mais brasileiros.
21- O que ocorre com o petróleo basta, por si só, para afundar o
Brasil. Ao mesmo tempo, a derrocada do País é puxada pelo que
acontece na infra-estrutura.
22- O setor da energia elétrica está deteriorado, com frequentes
apagões num país de excelente potencial de fontes.
Grande parte dos insuficientes investimentos é desperdiçada
e são cobrados preços extorsivos aos usuários (exceto
às privilegiadas eletrointensivas).
23- Deliberadamente, desde FHC, deu-se espaço às absurdas e caras
centrais térmicas, subinvestindo e investindo mal na hidroeletricidade,
sem aproveitar plenamente a capacidade das bacias hídricas, nem
construir eclusas (prejudicando também a navegação
fluvial).
24- O setor elétrico exemplifica a grande fraude das concessões e
privatizações, realizadas para proporcionar ganhos a
predatórias empresas financeiras, através de supostos
leilões (sempre a ficção do mercado) sob critérios
abstrusos, para ninguém entender.
25- Conforme dados da ANEEL, mostrados pelo Eng. Roberto d'Araújo, os
componentes, em percentuais, do preço da energia são:
geração 31,3%; transmissão 6,3%;
distribuição 29%; tributos 33,5%.
26- Há abusos incríveis em todas essas etapas. As empresas
de distribuição concentram a maior parte dos lucros, tendo
o economista Gustavo Santos verificado que a rentabilidade média delas
sobre o patrimônio líquido superou 30%, ou seja, 700% em oito anos.
27- Esclarece d'Araújo que o governo, sem coragem para enfrentar os
próprios erros e as distribuidoras, resolveu atacar a parcela produtiva.
Em suma, está sendo completada a destruição da
Eletrobrás mais um pilar do projeto de Getúlio Vargas
derrubado a mando do império angloamericano.
[NR] No Brasil chamam de renda a qualquer espécie de rendimento.
Ver também:
Romper os acordos militares com os EUA e suspender o leilão do Campo de Libra
Dilma patrocina a maior entrega do patrimônio brasileiro
Algumas mentiras divulgadas pela Petrobras
Após espionagem comercial na Petrobrás, movimentos sociais protestam no Consulado dos EUA no Rio
[*]
Doutorado em economia e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento,
abenayon.df@gmail.com
O original encontra-se em
www.correiocidadania.com.br/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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