Como Obama está a fomentar uma crise na Península Coreana
O que preocupa os norte-coreanos?
As relações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte atingiram
um nadir e, na maior parte dos media ocidentais, fala-se da aparentemente
irracional retórica dura vinda de que é acusada a Coreia do
Norte. Inexplicavelmente, dizem-nos, a Coreia do Norte optou por elevar a
tensão.
O que está a faltar nesta imagem do comportamento hostil norte-coreano e
da imaculada inocência americana é contexto. Como é
frequente, os media apresentam eventos de um modo isolado como se surgissem
subitamente e sem qualquer causa.
É preciso olhar para trás no tempo para perceber o que
está a perturbar os norte-coreanos. Em meses recentes, a
administração Obama deu um certo número de passos que a
RDPC (República Democrática e Popular da Coreia, o nome oficial
da Coreia do Norte) considerou ameaçadores.
O primeiro passo no caminho do agravamento das relações ocorreu
em Outubro de 2012, quando os Estados Unidos concederam à Coreia do Sul
uma isenção sob o Regime de Controle de Tecnologia de
Mísseis, a qual permitiu estender o alcance dos seus mísseis
balísticos de modo a que pudessem cobrir todo o território da
RDPC.
[1]
Em consequência, houve um conjunto de termos que se aplicavam a todo o
país que houvesse aderido ao tratado e um conjunto diferente que se
aplicava só à Coreia do Sul, claramente com o propósito de
alvejar o seu vizinho do Norte.
Naquele mesmo mês, responsáveis militares dos EUA e Coreia do Sul
encontraram-se para a Reunião anual Consultiva de Segurança, onde
acordaram mudanças vastas na sua aliança. Ainda mais importante:
eles desenvolveram um plano que denominaram "dissuasão sob
medida" ("tailored deterrence"), o qual apela a
operações militares conjuntas sul-coreanas-estado-unidenses
contra a Coreia do Norte num certo número de cenários, incluindo
incidentes menores. Qualquer "provocação" por parte da
Coreia do Norte é para respondida com força desproporcionada e,
segundo responsáveis militares sul-coreanos, "esta
estratégia será aplicada tanto em tempo de paz como de
guerra".
[2]
Uma componente essencial da dissuasão sob medida é uma
"cadeia de destruição"
("kill chain")
para rastrear e atacar sítios de mísseis norte-coreanos, em que
satélites e drones americanos detectam alvos e mísseis e
aviões de guerra sul-coreanos eliminam-nos. O plano apela a um ataque
antecipativo
(preemptive)
baseado na percepção de um lançamento iminente de
mísseis norte-coreanos. O vice-comandante do Comando Coreia das
Nações Unidas, general Jan-Marc Jouas, explicou que
mísseis norte-coreanos podiam ser rapidamente alvejados "antes de
estarem em posição de serem empregados".
[3]
Para dizer isso em termos simples, poderia ser lançado um ataque a
sítios de mísseis com base em suposições, mesmo
quando mísseis norte-coreanos não estivessem numa
posição de fogo.
Em 13 de Abril de 2012, a RDPC lançou em órbita um
satélite de observação da terra, o que disparou
condenações pela administração Obama, com a
acusação de ser um teste disfarçado de míssil
balístico. Resoluções da ONU proíbem a Coreia do
Norte de testar mísseis balísticos, mas Pyongyang argumentou que
enviar um satélite para o espaço não é a mesma
coisa que efectuar um teste de míssil balístico. Peritos em
tecnologia de mísseis tendem a concordar, destacando que ao
míssil lançado pela RDPC faltava o desempenho para servir de ICBM
e que a rota do seu voo adoptou uma viragem aguda para evitar voar sobre
Formosa e as Filipinas, uma acção que é contra-producente
para um teste de míssil balístico.
[4]
Vasos navais sul-coreanos conseguiram recuperar destroços do
míssil norte-coreano. Análises efectuadas mostravam que um motor
pequeno com um baixo impulso de 13 a 14 toneladas propulsionaram o segundo
estágio. O engenheiro aeroespacial Marcus Schiller, baseado de Munique,
informou que um segundo estágio de baixo impulso e queima longa, tal
como o utilizado pelos norte-coreanos, é precisamente a
concepção necessária para um lançados de
satélite. Tal concepção é necessária para
atingir uma altitude suficientemente elevadas para colocar um satélite
em órbita. Essa concepção, contudo, é inadequada
para um teste de míssil balístico, pois ela faria perder mais de
1000 km de alcance. Para testar um míssil balístico, o segundo
estágio deveria ter a concepção oposta, tendo um alto
impulso e tempo de queima curto. Schiller conclui que relatos dos media
ocidentais de que o satélite norte-coreano serviu como teste de
míssil balístico "não são verdadeiros".
[5]
Michael Elleman, analista de segurança do International Institute for
Strategic Studies, observa que os resultados de um lançamento de
satélite "têm aplicação limitada para
mísseis balísticos", pois só fracções
das questões em causa podem ser testadas. "Outras exigências,
mais notavelmente tecnologias de re-ingresso e exigências de
flexibilidade operacional, não podem ser tratadas adequadamente por
lançamentos de satélites". Elleman informa que por estas e
outras razões, lançamentos de mísseis com satélite
pela Coreia do Norte "não são um substituto para o teste de
mísseis balísticos".
[6]
Curiosamente, no mesmo dia em que a Coreia do Norte lançou o seu
satélite para o espaço, a Índia, outra potência
nuclear, testou o disparo de um míssil balístico sem que
responsáveis americanos expressassem uma queixa.
[7]
Os Estados Unidos não estão faltos de engenheiros aeroespaciais
e responsáveis dos EUA certamente estavam consciente de que o
lançamento do satélite da Coreia do Norte não podia
tecnologicamente ser interpretado como um teste de míssil
balístico disfarçado. Parece que a administração
Obama deliberadamente optou por falsear a natureza do lançamento a fim
de promover os seus próprios fins políticos.
O lançamento do satélite proporcionou à
administração Obama uma oportunidade para endurecer o nó
corrediço em torno da Coreia do Norte e, após
negociações extensas, conseguiu pressionar uma
resolução no Conselho de Segurança das
Nações Unidas. Como explicou a porta-voz do Departamento de
Estado dos EUA, Victoria Nuland, a intenção da
administração Obama era "continuar a aumentar a
pressão sobre o regime norte-coreano. E estamos a procurar a maneira de
melhor fazer isso, a avançar tanto bilateralmente como com nossos
parceiros. Até que eles obtenham a mensagem, vamos ter de continuar a
fomentar o isolamento deste regime".
[8]
Com a aprovação da resolução 2087 de
22/Janeiro/2013 do Conselho de Segurança da ONU, novas
sanções foram impostas à Coreia do Norte, apesar do facto
de que o tratado internacional do espaço exterior garante o direito de
explorar o espaço a "todos os estados sem
discriminação de qualquer espécie".
[9]
A Coreia do Norte reagiu furiosamente por ser discriminada como o único
país sobre a terra ao qual é negado o direito de lançar um
satélite. A RDPC não tendia a anuir à
imposição de sanções adicionais, quando a sua
economia já estava a cambalear com as sanções existentes.
Um porta-voz da RDPC destacou que ao forçar a resolução no
Conselho de Segurança, os Estados Unidos haviam violado a Carta das
Nações Unidas, a qual declara que "a
Organização é baseada no princípio da igualdade
soberana de todos os seus membros".
Falando nas Nações Unidas, o delegado da RDPC, So Se Pyong,
declarou: "Houve não menos de 2000 testes nucleares e pelo menos
9000 lançamentos de satélite no mundo desde que a ONU existe, mas
nunca houve uma única resolução do seu Conselho de
Segurança que proibisse testes nucleares e lançamentos de
satélites". Acrescentando que o Estados Unidos havia executado mais
testes nucleares e lançamentos de satélite do que qualquer outro
país, o delegado disse que não deveria ser permitido aos Estados
Unidos bloquearem a Coreia do Norte exercerem o seu direito "a utilizar o
espaço para fins pacíficos", nem utilizar as
Nações Unidas "como uma ferramenta para executar a sua
política hostil para com a RDPC".
[10]
Sem qualquer surpresa, a Coreia do Norte optou por exprimir a sua
resistência à agressividade da política estado-unidense
efectuando o seu terceiro teste nuclear em 12 de Fevereiro de 2013.
Vários dias depois, numa aparente referência ao Iraque e à
Líbia, os media norte-coreanos recordaram os destinos que haviam
acontecido àqueles países que haviam abandonado suas armas
nucleares em resposta à pressão estado-unidense. Estes exemplos,
acrescentavam, "ensinam a verdade de que a chantagem nuclear dos EUA
deveria ser contida com contra-medidas substancial, não com compromisso
ou retirada".
[11]
Um dia após o teste nuclear, o Ministério da Defesa Nacional
sul-coreano anunciou que havia instalado mísseis de cruzeiro capazes de
atingir qualquer lugar na Coreia do Norte e que aceleraria o desenvolvimento de
mísseis balísticos de alcance semelhante. Além disso, a
implementação da cadeia de destruição
(kill chain)
seria acelerada.
[12]
Planeada originalmente para estar completa em 2015, a cadeia de
destruição está agora em vias de estar instalada no fim
deste ano.
[13]
Enquanto decorriam discussões no Conselho de Segurança das
Nações Unidas sobre a imposição de
sanções adicionais à Coreia do Norte, a União
Europeia avançou com o seu próprio conjunto de medidas, incluindo
uma proibição de comércio com entidades públicas
norte-coreanas e de comércio com títulos públicos da RDPC.
A UE também aplicou uma proibição à abertura de
bancos europeus na RDPC e de bancos norte-coreanos estabelecerem uma
agência na UE.
[14]
Levou mais de três semanas para negociar uma resolução do
Conselho de Segurança da ONU em resposta ao teste nuclear norte-coreano.
A questão mais contenciosa era incluir ou não o Capítulo
7, Artigo 42, o qual teria autorizado imposição militar. Tanto os
Estados Unidos e a Coreia do Sul argumentaram fortemente pela sua
inclusão. Outra questão difícil era a
inspecção de navios cargueiros norte-coreanos e houve
discussão extensa antes de os Estados Unidos e a China acordarem na
extensão de inspecções.
[15]
Os chineses recusaram-se a acordar na imposição militar,
certamente temendo que isso aumentaria o risco de guerra. Nem acompanharam
algumas das medidas mais duras que os Estados Unidos haviam incluído,
como uma lista de desejos na sua minuta.
[16]
A imposição militar teria sido particularmente perigosa, dada
história de como o Artigo 42 serviu de caminho para os Estados Unidos
travarem guerra.
Embora os Estados Unidos não obtivessem tudo o que queriam, a
aprovação da Resolução 2094 em 7 de Março de
2013 pelo Conselho de Segurança da ONU atingiu muitos dos objectivos que
advogavam. A resolução exige a todos os países que
inspeccionem navios e aviões norte-coreanos que forem suspeitos de
transportarem bens proibidos. Restrições fortes são
aplicada a operações bancárias norte-coreanas. É
ordenado a países que impeçam indivíduos norte-coreanos de
transferirem volume de dinheiro
(bulk cash),
incluindo pessoal diplomático, que passam a estar sujeitos a
"vigilância agravada" em violação da
Convenção de Viena sobre Relações
Diplomáticas.
[17]
Ao visar diplomatas norte-coreanos para vigilância, buscas e
detenção, os Estados Unidos têm como objectivo eliminar um
dos poucos meios remanescentes que a RDPC tem para envolver-se em
transacções monetárias internacionais. As
sanções bancárias da ONU e dos Estados Unidos fizeram com
que a maior parte dos bancos internacionais ficassem pouco desejosos de ter
transacções com a Coreia do Norte, forçando a RDPC a
efectuar grande parte do seu comércio exterior na base de cash.
É a medida de restringir negócios de bancos com a Coreia do Norte
que promete infligir o maior dano à economia norte-coreana.
"Perseguir o sistema bancário de um modo universal é
comprovadamente a coisa mais forte na lista", observa antigo
responsável do Departamento de Estado J. R. Revere. "Isto
começa a morder na capacidade da Coreia do Norte para financiar muitas
coisas".
[18]
Primariamente o comércio normal, dever-se-ia notar.
Poucos dias depois, o Departamento do Tesouro dos EUA avançou com as
suas próprias sanções, proibindo transacções
entre o Foreign Trade Bank da Coreia do Norte e indivíduos e
negócios estado-unidenses, e colocando um congelamento sobre activos
mantidos sob jurisdição dos EUA. O Foreign Trade Bank, destaca o
Departamento do Tesouro, é "o banco primário do
intercâmbio externo da Coreia do Norte".
[19]
A proibição efectivamente impede bancos e empresas em outros
países de comerciarem com o Foreign Trade Bank, por temor de serem
excluídos do contacto com o sistema financeiro dos EUA. "Quando
há um banco estrangeiro com que bancos dos EUA não estejam a
fazer negócios, bancos em outros países começam a evitar
transacções com ele", observa um especialista financeiro.
"Eles ficam preocupados acerca de sofrerem eles próprios as
consequências". Tipicamente, o comércio internacional
está baseado no dólar, exigindo transacções a
processar através do sistema financeiro estado-unidense. Por essa
razão, "bancos chineses não vão ser capazes de ajudar
a Coreia do Norte", acrescenta o analista financeiro.
[20]
Pelo seu lado, a Coreia do Sul adoptou políticas que agravam o perigo de
guerra. Segundo um responsável militar sul-coreano, "Foi dada aos
comandantes a autoridade para actuarem primeiro à vontade no caso de uma
provocação norte-coreana para infligir uma
retaliação que é mais de dez vezes tão dura quanto
o nível da provocação".
[21]
O Director de Operações do Estado Maior das Forças
Armadas, Kim Yong-hyon, declara que em resposta a um incidente as forças
armadas sul coreanas "punirão resolutamente não só a
origem da provocação como também suas forças que
comandam".
[22]
Não é preciso muita imaginação para reconhecer
como tal política tem o potencial para transformar uma escaramuça
menor numa guerra.
Os Estados Unidos e a Coreia do Sul assinaram recentemente um plano de
contra-provocação, no qual forças estado-unidenses
são comprometidas a providenciar apoio quando forças sul-coreanas
ataquem um alvo norte-coreano. O plano esclarece acções que devem
ser tomadas como resposta a vários cenários. De acordo com um
responsável militar sul-coreano, ele leva em conta a política
sul-coreana "a qual apela ao lançamento de contra-ataque não
só para a origem da provocação como também a
forças que a apoiam e seus comandantes". Em alguns cenários
"armas estado-unidenses podiam ser mobilizadas para retaliar em
águas territoriais e solo da Coreia do Norte".
[23]
O plano de contra-provocação requer à Coreia do Sul
consultas com os Estados Unidos antes de entrar em acção, mas se
Seul requerer assistência os Estados Unidos não podem recusar-se a
tomar parte em operações militares.
[24]
Numa poderosa demonstração destinada a intimidar a Coreia do
Norte, os Estados Unidos e a Coreia do Sul começaram o seu
exercício militar anual Resolução Chave
(Key Resolve)
em 11 de Março, sobrepondo-se ao exercício militar de dois meses
Foal Eagle
que começou a primeiro de Março. Durante o exercício,
bombardeiros B-52 com capacidade nuclear decolaram de Guam e praticaram o
despejo de munições na Coreia do Sul.
[25]
Os comandantes estado-unidenses sabiam que esta acção inflamaria
sensibilidades norte-coreanas, dadas as dolorosas memórias que os
norte-coreanos têm da Guerra da Coreia, quando bombardeiros
estado-unidenses executaram uma política de terra queimada e arrasaram
toda cidade norte-coreana até ao solo.
Os Estados Unidos mais uma vez agravaram a pressão sobre a RDPC com o
envio do submarino USS Cheyenne, movido a energia nuclear, equipado com
mísseis Tomahawk, para participar no Foal Eagle.
[26]
Logo após, bombardeiros B-2 Stealth voaram sobre a Coreia do Sul em
exercícios militares. "Como o B-2 tem a função de
invisibilidade ao radar, ele pode penetrar a defesa anti-aérea para
lançar armas convencionais e nucleares", comentou um
responsável militar. "É a arma estratégica mais
temida pela Coreia do Norte".
[27]
O B-2, dever-se-ia notar, é o único avião capaz de
entregar a bomba Massive Ordnance Penetrator de 30 mil libras [13.590 kg], a
qual pode perfurar através de 200 pés [61 m] de betão
antes de detonar. O avião também pode transportar
múltiplas armas nucleares. Continuando a escalar a
demonstração de força, os Estados Unidos enviaram a seguir
aviões de combate F-22 Stealth à Coreia do Sul.
[28]
O governo sul-coreano pediu aos Estados Unidos para não mostrar os
aviões em público porque isso seria uma provocação
desnecessária à Coreia do Norte. O pedido foi desatendido pelos
Estados Unidos.
[29]
Num aumento do arsenal sul-coreano, os Estados Unidos aprovaram a venda de 200
bombas destruidores de bunkers, adequadas para alvejar
instalações subterrâneas norte-coreanas. Os planos exigem
que as bombas seja instaladas até o fim do ano.
[30]
A Coreia do Sul também planeia comprar à Europa 200
mísseis de cruzeiro Taurus, lançados do ar, os quais são
capazes de penetrar até seis metros de betão reforçado.
[31]
Como parte do seu planeamento para contingências futuras, os Estados
Unidos constituíram uma organização militar
responsável pela entrada na Coreia do Norte e captura de
instalações e armas nucleares no caso de uma crise na RDPC.
Naquele cenário, as forças dos EUA também prenderiam
"figuras chave" e reuniriam informação classificada.
Não foi revelado quais indivíduos norte-coreanos seriam sujeitos
a prisão pelas forças dos EUA. A força seria composta por
forças armadas dos EUA, operacionais de inteligência e pessoal
anti-terrorismo. Um ensaio de imitação a implementar o plano fez
parte dos exercícios Key Resolve recentemente concluídos.
[32]
Tendo feito tudo para provocar os norte-coreanos, a administração
Obama agarrou a oportunidade para apontar a sua reacção como
justificação para instalar uma lista de desejos
(wish list)
de hardware anti-míssil. O Pentágono anunciou que estacionaria
14 interceptadores de mísseis adicionais em Fort Greely, Alasca e
prosseguiria com o seu plano de colocar um segundo radar anti-míssil no
Japão.
[33]
Uma bateria Terminal High-Altitude Area Defense (THAAD) é prevista ser
exibida em Guam na sua primeira instalação,
[34]
e a plataforma SBX-1 X-Band Radar com base no mar está a mover-se para
o Pacífico ocidental, que a Marinha diz poder ser o primeiro de outros
posicionamentos navais.
[35]
O
Wall Street Journal
relata que o espectáculo de força militar foi planeado
antecipadamente, no que a administração Obama denominou "o
manual de estratégia"
("the playbook").
Os Estados Unidos actuaram com intenção deliberada de
ameaçar a Coreia do Norte. Segundo o artigo, a
administração decidiu colocar o manual em "pausa"
só quando os media revelaram a deslocação de dois
destróiers com mísseis guiados para o Pacífico ocidental e
foi sentido que talvez esta notícia arriscasse pressionar os
norte-coreanos demasiado longe. O posicionamento dos destróiers, como
foi dito, não era para ser publicitado. Os próximos passo no
manual foram adiados.
[36]
Também foi informado que os Estados Unidos adiarão um voo de
teste de um Minuteman ICBM em um mês a fim de não aumentar
tensões.
A percepção que a administração Obama pretende
transmitir ao público americano e mundial, portanto, é que os
Estados Unidos estão a actuar responsavelmente a fim de neutralizar a
situação. Um alto responsável da defesa, entretanto,
disse: "Não havia ordem de segredo da Casa Branca" em
relação ao posicionamento dos destróiers. Além
disso, hardware militar recentemente posicionado não foi retirado, ao
passo que o exercício combinado em grande escala dos EUA-Coreia do Sul,
Foal Eagle, no degrau da porta da Coreia do Norte continua sem pausa.
[37]
Apesar das afirmações de que está a amortecer suas
acções, a administração Obama está a fazer o
oposto. Responsáveis dos EUA dizem que não pretendem entrar
novamente em combate com a RDPC.
[38]
A dissuasão sob media e a cadeia de destruição
estão em programação acelerada, colocando a
Península Coreana à beira da guerra. Enquanto isso, os Estados
Unidos estão a trabalhar arduamente para persuadir outros países
a sancionarem o Foreign Trade Bank da RDPC e estão a considerar outros
meios pelos quais possam levar a Coreia do Norte ao colapso económico.
Um responsável anónimo do Departamento de Estado dos EUA observou
que ainda havia espaço para a ampliação de
sanções. "Não sei o que acontecerá, mas
não alcançámos o limite, ainda há espaço
para mais, e temos de tentar".
[39]
Responsáveis dos EUA pediram à União Europeia para
sancionar o Foreign Trade Bank e novas discussões são
expectáveis de acordo com estas linhas.
[40]
O Japão e a Austrália já concordaram e juntar-se aos
Estados Unidos no sancionamento do banco, tanto o responsável do
Departamento do Tesouro David Cohen como o secretário do Tesouro Jack
Levy pediram à China para fazer o mesmo.
[41]
O presidente Obama fez um telefonema pessoal ao presidente chinês Xi
Jinping, instando-o a sancionar o Foreign Trade Bank e responsáveis dos
EUA continuam a pressionar a China, insistindo em que se a China não
"tomar posição" sobre a Coreia do Norte os EUA
aumentarão suas forças militares na Ásia.
[42]
Essa consequência, os chineses certamente percebem, seria voltada tanto
contra eles como contra a Coreia do Norte. A opção que a
administração Obama está a oferecer é que os
chineses possam ou observar os Estados Unidos expandirem sua
militarização da região e endurecerem o seu cerco da
China, ou dobrarem-se à pressão americana e cooperarem provocando
a ruína económica da Coreia do Norte. É provável
que ao escolher a última opção os chineses venham a
descobrir que os Estados Unidos não têm intenção de
reduzir seu eixo central na Ásia e a sua presença militar na
região cresceria sem dificuldades.
Uma fonte diplomática revela que quer a China concorde ou não em
acompanhar os pedidos estado-unidenses, o efeito sobre a economia da Coreia do
Norte pode ser o mesmo. "O que o governo dos EUA está à
procura de aplicar pressão psicológica sobre bancos chineses. Se
bancos dos EUA evitarem transacções com bancos chineses que
têm laços com bancos norte-coreanos na lista negra ou outras
entidades, isso podia levar a efeitos semelhantes àqueles das
sanções do boicote secundário".
[43]
Sem qualquer dúvida, os responsáveis e os media norte-coreanos
têm estado a emitir proclamações de cortar o fôlego,
a efectuar acções como cortar a linha telefónica militar
com a Coreia do Sul, a anunciar a intenção de reiniciar o reactor
nuclear de Yongbyon e a encerra temporariamente o Complexo Industrial de
Kaesong, o que parece exacerbar tensões de forma imprudente. Contudo,
há lógica no seu comportamento. A administração
Obama nunca quiz negociar com a Coreia do Norte e, claramente, pretende
efectuar mudança de regime quando acumula sanções sobre
sanções e desenvolve planos militares que ameaçam a
existência da RDPC. Com efeito, acções dos EUA encorajaram
a Coreia do Norte a desenvolver um programa de armas nucleares como seu
único dissuasor realista contra ataques, dada a tecnologia obsoleta do
seu armamento convencional.
Entretanto, responsáveis norte-coreano sabem que os EUA sabem que eles
não têm uma arma nuclear utilizável, nem têm um
veículo de entrega adequado. A RDPC tem opções limitadas
e, por agora, responsáveis norte-coreanos aparentemente sentem que
têm apenas duas opções. Podem ou aceitar docilmente ciclo
após ciclo de punição enquanto testemunham
desamparadamente o dano crescente à sua economia e as ameaças
à sua nação, ou podem reforçar a sua
retórica como meio de enviar uma mensagem aos Estados Unidos. Essa
mensagem é de que se o Estados Unidos atingirem a Coreia do Norte
obterão uma resposta mais forte do que esperam, que deveriam pensar duas
vezes antes de atacar e que quanto mais os Estados Unidos exercerem
pressão, mais a RDPC resistirá.
Infelizmente, isto produz um ciclo de realimentação
(feedback loop),
em que quanto mais os Estados Unidos punem a RDPC, mais fortemente os
norte-coreanos resistem e, quanto mais resistem, mais punição vem
a seguir. O único meio aparente de sair deste impasse é um
processo de paz, mas a administração Obama permanece
obstinadamente oposta a negociações.
O analista de assuntos internacionais Chen Qi, da Universidade Tsinghua,
destaca que os Estados Unidos "não respeitaram as
preocupações de segurança da RDPC e que está
é a razão porque a questão nuclear na Península
Coreia não foi resolvida". Chen sugere que "Washington pode
querer que a questão nuclear de Pyonyang seja resolvida porque
proporciona uma desculpa para a instalação de sistemas
anti-mísseis e penetrações militares na região, as
quais estão alinham-se com o seu reequilíbrio militar no Extremo
Oriente".
[44]
Os responsáveis dos EUA, deveria ser mantido em mente, nunca esconderam
o seu desejo de provocar mudança de regime na Coreia do Norte, sem se
importar com os perigos dessa política.
Uma mudança na política estado-unidense pode nunca acontecer a
menos que a Coreia do Sul abra o caminho com firmeza e isso é uma
perspectiva improvável no presente. Uma tal mudança pode ter de
esperar cinco anos, quando a próxima eleição presidente
tiver lugar na Coreia do Sul. Isto é um longo tempo, dados os planos
estado-unidenses para elevar tensões na Península Coreana. Se a
Coreia do Sul não demonstrar liderança para uma abordagem
alternativa antes disso, a questão é por quanto tempo
tensões podem ferver sem transbordar uma crise perigosa.
NOTAS
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2 http://www.kpolicy.org/documents/interviews-opeds/
121204gregoryelichmappingthefutureussk.html
3 http://www.kpolicy.org/documents/interviews-opeds/
121204gregoryelichmappingthefutureussk.html
4 http://www.globalresearch.ca/putting-the-squeeze-on-north-korea/53216
5 David Wright, "Markus Schiller's Analysis of North Korea's Unha-3
Launcher," All Things Nuclear, February 22, 2013.
6 Michael Elleman, "Prelude to an ICBM? Putting North Korea's Unha-3
Launch into Context," Arms Control Association, March 2013.
7 http://www.globalresearch.ca/putting-the-squeeze-on-north-korea/5321689
8 http://www.globalresearch.ca/putting-the-squeeze-on-north-korea/5321689
9 http://www.oosa.unvienna.org/oosa/SpaceLaw/outerspt.html
10 "DPRK Delegate Makes Speech at UN Special Committee Session,"
KCNA, February 23, 2013.
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11 "Nuclear Test, Part of DPRK's Substantial Countermeasures to Defend its
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14 Adrian Croft, "EU to Tighten Sanctions on North Korea after Nuclear
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23 Song Sang-ho, "Korea, U.S. Set Up Plan to Counter N.K.
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26 Kang Seung-woo, "Nuclear Sub Joins ROK-US Joint Naval Drill,"
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27 Kim Eun-jung, "U.S. B-2 Stealth Bomber Conducts First Drill in
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Do mesmo autor:
http://resistir.info/asia/missile_mania_p.html
, 30/Junho/2006
http://resistir.info/asia/coreia.html
, 12/Janeiro/2003
[*]
Do Conselho de Directores do
Jasenovac Research Institute
, do Conselho Consultivo do Korea Policy Institute e da Korea Truth Commission,
autor de
Strange Liberators: Militarism, Mayhem, and the Pursuit of Profit
.
O original encontra-se em
www.counterpunch.org/2013/04/09/whats-annoying-the-north-koreans/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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