O Reino Unido viola flagrantemente as normas de um comportamento decente
por Peter Korzun
A Rússia e a Venezuela encontram-se entre os países a quem a
União Europeia, incluindo a Grã-Bretanha, impôs
sanções. Esses dois países foram alvo de vigorosos ataques
de Londres, acusados de inúmeras coisas nefandas que, alegadamente,
terão feito. O Reino Unido insiste que todos obedeçam às
regras. Entretanto, Londres troça das normas comummente aceites nas
relações internacionais.
O governo da Venezuela
procura repatriar
, pelo menos 14 toneladas de ouro, guardadas no Banco de Inglaterra. Há
pouco tempo, pediu para libertar as barras de ouro, no valor de 420
milhões de libras esterlinas, ou seja, 550 milhões de
dólares. Foi um pedido correto e atempado, quando ocorreu a nova ronda
de medidas punitivas que Washington
impôs recentemente
a Caracas. O Banco
recusou-se
a satisfazer esse pedido!
Segundo noticiado, os funcionários do Reino Unido insistiram em que a
Venezuela clarificasse as suas intenções em relação
ao ouro. Londres suspeita que o presidente Maduro, da Venezuela, congemina
planos para vender o tesouro nacional em benefício próprio.
Também usa um subterfúgio para explicar porque é que a
propriedade venezuelana não foi devolvida ao seu dono. O Reino Unido diz
que é muito difícil obter um seguro para o embarque duma carga
tão grande. Mesmo que a Venezuela consiga reaver o ouro, será
muito difícil usá-lo, encontrar uma divisa forte por causa da
nova ronda de sanções
norte-americanas anunciadas a 1 de novembro. Com as punições em
curso, será impossível vender o ouro diretamente a partir do
Banco de Inglaterra.
O Reino Unido sabe muito bem quem deverá ser o suspeito do quê e
quem poderá ser de confiança para devolver a propriedade ao seu
dono. Se não é roubo, então o que é? As regras do
comportamento civilizado, dizem vocês? Esqueçam, compete a
Londres, obedecendo fielmente às instruções emanadas de
Washington, decidir o que é civilizado e o que não é.
Segundo John Bolton, o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA (NSA),
"As novas sanções visarão redes que funcionam no
interior de setores económicos venezuelanos corruptos e negam-lhes
acesso à riqueza roubada". A NSA explicou que: "Com efeitos
imediatos, as novas sanções impedirão que pessoas dos EUA
se envolvam com agentes e redes cúmplices em transações
corruptas ou fraudulentas do ouro venezuelano". Portanto, a
administração dos EUA é o supremo juiz a decidir
exatamente quais são as transações "corruptas"
ou "fraudulentas". Londres presta atenção, cumprimenta
e corre a cumprir o que os seus "superiores" lhe dizem.
Hoje é a Venezuela; amanhã será qualquer outro detentor na
lista de mais de 30 países que guardam as suas reservas de ouro nos
cofres do Banco de Inglaterra.
A Venezuela, um membro da
"troika da tirania"
, está a tentar ser um importante exportador de ouro. Está
empenhada em certificar umas 32 jazidas de ouro e a construir 54
fábricas de transformação.
A flagrante violação dos direitos de um estado soberano afeta
outros países, que também têm os seus interesses em perigo.
Um deles é a Rússia. Moscovo prefere o precioso metal às
notas de dólar e, por isso, tornou-se num grande importador mundial de
ouro. No ano passado, comprou um récorde de 92,2 toneladas para
constituir reservas que
excedem as 2000 t
. Poderá em breve alcançar a Itália (2451,8 t) e a
França (2436 t) os terceiro e quarto detentores mundiais de ouro.
As atividades britânicas ilegais são uma ameaça direta aos
interesses nacionais da Rússia.
A Alemanha, o segundo maior detentor mundial de ouro, a seguir aos EUA, com
3378 toneladas, acabou de repatriar, no ano passado, 300 toneladas de ouro que
estavam nos EUA. Mas os EUA demoraram vários anos a fazê-lo!
Noticiou-se
que as barras de ouro recebidas no Bundesbank tinham etiquetas diferentes, o
que levou a pensar que os EUA podiam ter substituído o ouro
alemão por outras barras de ouro compradas no mercado. Significa que o
ouro não estava guardado, na altura em que a Alemanha fez o pedido de
devolução. Porventura, o Reino Unido não pode satisfazer o
pedido da Venezuela pela mesma razão o ouro não
está nos cofres de Londres e é preciso tempo para o comprar.
Koos Jansen, colaborador da BullionStar,
pôs em dúvida
se o ouro do Fort Knox ainda lá se encontrará.
Ron Paul
, antigo Representante, tentou perceber alguns dos mistérios que
envolvem o Federal Reserve, questionando a organização e
interrogando representantes do Fed. Nunca obteve uma resposta clara. O governo
dos EUA não faz auditorias ao ouro.
Ainda há uma outra razão que afeta a Rússia a
Venezuela é o seu maior parceiro económico. Caracas paga as suas
contas. Moscovo quer que ela se mantenha em solvência.
É um absurdo a Grã-Bretanha ter perguntado à Venezuela
"Para que querem o ouro?". É um comportamento
inaceitável e escandaloso. Será que Londres se recusará a
pagar o
fornecimento de gás da Rússia
, perguntando a Moscovo "Para que querem o dinheiro?" Desta vez, a
Grã-Bretanha foi longe demais. Este precedente é suficientemente
importante para justificar o lançamento do alarme na comunidade
internacional. Ou respeitamos as normas de comportamento comummente aceites ou
vivemos numa selva. Em vez de atacar a Rússia e outros países sem
qualquer prova que justifique as suas acusações, seria bem melhor
que o governo dos EUA olhasse para o espelho. Agora, todos vemos que o Reino
Unido é um parceiro pouco fiável com quem negociar. Será
necessário um esforço longo e difícil para restaurar a
reputação de Londres.
10/novembro/2018
O original encontra-se em
www.strategic-culture.org/...
. Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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