Boicote a Microsoft !

  • O software XP da Microsoft viola a lei e anula direitos do consumidor.
  • Ao comprar o software XP você não passa a possuí-lo — ao contrário, é a Microsoft que passa a possuir você.
  • por Paul Lutus [*]

    Posso recordar-me do tempo em que a Microsoft era apenas mais uma companhia de software, sujeita à forças do mercado e submissa ao senso comum. Também posso recordar-me do tempo em que a A.T.&T. era uma companhia telefonica.

    Mas tudo isso é passado. No momento em que escrevo isto, a Microsoft está em vias de lançar o Windows/Office XP e esta versão assinala um arranque histórico para a Microsoft. Assinala o primeiro tiro numa guerra — uma guerra entre a Microsoft e os seus consumidores.

    Leia o seguinte diálogo cuidadosamente, e seja benvido ao "Admirável mundo novo" da Microsoft.



    Com este novo sistema, as suas obrigações para com a Microsoft não acabam quando você compra o software. Elas apenas começam.
    Na caixa de diálogo para a activação não é incluída a informação de que mudanças triviais no sistema podem invalidar a sua activação e que lhe será exigido contactar a Microsoft cada vez e todas as vezes que voce, por qualquer razão, precisar reactivar o software ou se tentar vender ou oferecer o software (a Microsoft só permite que isto aconteça uma vez), ou se tentar exercer o seu direito de instalar o software em dois sistemas utilizados por uma mesma pessoa. Além disso, o número total de activações é sempre inferior a 12, após as quais voce deve jogar fora o software e começar tudo outra vez.


    As séries XP (Windows e Office) têm um novo dispositivo — a "activação do produto" — que perverte o relacionamento normal existente entre vendedor e comprador.
    Ao comprar um produto XP, você não passa a possuí-lo. Ao invés disso é a Microsoft que passa a possuí-lo.

    O processo funciona assim:

    1. Você compra uma cópia do (digamos) Office XP.
    2. Ao instalá-lo, o programa exige que você contacte a Microsoft — do contrário o programa entra no "modo experimental" ("trial mode") , um período de 50 dias após o qual o programa é desligado. Voce tem de contactar a Microsoft para impedir que o programa encerre.
    3. Ao ser contactada, a Microsoft "autoriza" a instalação. E também pergunta um bocado de informações pessoais, algumas delas opcionais — mas só da primeira vez. Continue a ler.
    4. Se tiver de reinstalar o Windows ou o software por causa de um virus, devido a uma falha de hardware ou por alguma outra razão, voce terá de contactar a Microsoft outra vez e explicar porque precisa outra vez da sua permissão para reinstalar o software. Se eles não gostarem da explicação, e sobretudo se eles não obtiverem o seu nome, endereço, número de telefone e endereço email, você está sem sorte — terá de comprar uma nova cópia do Office XP. [1] .
    5. Se precisar fazer uma cópia do software em outro computador por uma razão legítima (digamos que possua um computador de mesa e um portável, mas que nunca utilize ambos ao mesmo tempo), está sem sorte — não pode fazer isso. A Microsoft assumirá que você é um criminoso e recusará permissão. [1] .
    6. Se decidir mudar sua cópia do XP permanentemente para outra máquina, a Microsoft não permitirá que isto seja feito. Ela assumirá que é um criminoso e recusará a permissão. [1] .
    7. Se decidir desinstalar e vender a sua cópia do XP para uma terceira parte, a Microsoft não permitirá ao novo comprador que instale o software. O seu entendimento será de que ele é um criminoso e recusará permissão. [1] .
    8. [1] Mas se conseguir passar através de todas as armadilhas do circo da Microsoft, parece que voce está limitada a oito re-instalações (alguns dizem onze), após as quais pode jogar no lixo o seu dispendioso software. Isto significa que se o seu sistema for atacado por virus, se o seu disco duro falhar, ou se você regularmente aperfeiçoa ("upgrade") o seu hardware e tenta transferir os seus programas, você terá de comprar um bocado de dispendiosas cópias extras do Microsoft XP.

    Em suma, você tanto pode:
    (a) aceitar a instalação única por defeito (a única relativamente sem esforço — mas que lhe exige contactar a Microsoft) e então jogar fora o software, juntamente com quaisquer ficheiros de dados que tenha criado que repousem sobre aquele software, ou você pode
    (b) tornar-se um Microservo [2] , um vassalo, um pedinte, inteiramente dependente da concepção da Microsoft acerca do que é ou não é razoável.

    E, não importa como sejam as suas petições, há uma coisa que voce precisa perceber — a Microsoft decide. Você não será mais um cidadão numa democracia, um agente com responsabilidade moral — a Microsoft decide se você é ou não é um criminoso, e eles decidem isto antecipadamente.

    Nos tempos em que a Constituição Americana era a lei desta terra, um queixoso tinha de esperar até que um crime fosse cometido e então comparecer perante um juiz devidamente nomeado e apelar pela justiça. A Microsoft contornou estes inconvenientes democráticos e agora faz a lei para si própria.

    E não se engane acerca disto — a Microsoft está a quebrar a lei com as séries XP, de muitas formas. Os consumidores têm razões legítimas e legais para reinstalar software, razões para instalar o software em duas máquinas utilizadas por uma pessoa, razões para reinstalar após uma falha de sistema, razões para desinstalar e vender um programa de computador. Mas sob o sistema fascista do XP, o consumidor perde todos estes direitos.

    Eu listaria todas as leis que a Microsoft está a quebrar com as séries XP, mas isto exigiria mais espaço do que o seu computador tem de memória. Aqui estão alguns destaques:

    • Presunção de culpa. Sob a lei americana, uma pessoa presume-se estar inocente até que a sua culpa seja provada. O sistema XP presume uma intenção criminosa, o que é uma violação da lei constitucional, e portanto o software actua com base neste pressuposto, um poder normalmente reservado à polícia, o que constitui uma violação adicional da lei.
    • Restrição prévia. Esta ideia, basicamente actuar para impedir um crime antes que ele seja cometido, é uma questão muito delicada na lei constitucional. Devido ao seu potencial para abusos, raramente é permitida. Ausência de evidência de causa provável nunca é permitida. Dado o facto de que há razões legítimas para fazer coisas não permitidas pelo software XP, a Microsoft está a adoptar a restrição prévia, e está portanto a quebrar a lei.
    • Descrição incorrecta. ("Misrepresentation") . No comércio, há um conjunto de pressupostos acerca de um produto que é oferecido para venda. Para dizer isto simplesmente, um produto é suposto ser adequado para a sua finalidade declarada, e isto é implícito — oferecer o produto para venda cria alguns pressupostos que, se não se verificar serem verdadeiros, estão sujeitos a processo. O software da série XP muito simplesmente não é o que parece ser — um conjunto de programas de computador destinado a servir as necessidades do consumidor. Isto é falso — o XP serve só as necessidades da Microsoft.
    • Vigilância. Ao erigir-se em juiz acerca de como as pessoas utilizam o seu software, ao micro-administrar como as pessoas preferem utilizar os programas XP, a Microsoft colocou em acção o mais insidioso sistema de espionagem já concebido nos tempos modernos. Desde que um consumidor experimente qualquer versão das realidades dos dias actuais — um virus a exigir que o software seja reinstalado, uma pessoa com dois computadores, ou quem compra um novo computador, ou quem quer vender ou doar o software XP a um terceiro — por mais frequentes que sejam estes eventos, a Microsoft fica a saber todos os pormenores, juntamente com a sua informação pessoal. Com o XP, a Microsoft conhecerá mais sobre voce do que o governo americano sabe ou alguma vez imaginou saber.

    Esta é a razão real para o XP — não é para impedir o roubo, ela é o roubo — a Microsoft, enquanto o impede de exercer os seus direitos de consumidor, está também a roubar-lhe informações que voluntariamente você nunca daria. é um estratagema desesperado para reunir uma incrível mina de ouro de informação sobre voce — suas escolha, suas experiências, seu nome e enderêço. E obtem isto com você a pagar-lhe para fazer isto consigo.

    Devido ao XP, dentro em breve a Microsoft saberá tanto acerca de tantas pessoas [leia: você] que não terá mais de vender software — eles podem simplesmente vender as bases de dados dos seus consumidores. Mas isto só acontecerá se você actuar como um carneiro e comprar os software da série XP. A escolha e o poder são seus.

    • Adenda -- Fevereiro 2002

      Numa nova e reveladora história, alguns clientes da Microsoft descobriram esta nova passagem no Microsoft XP EULA (End User License Agreement, o contrato obrigatório a que todo cliente do Microsoft XP tem de anuir):

      "Voce admite e concorda em que a Microsoft possa automaticamente conferir a versão do Produto e/ou dos seus componentes que está a utilizar e possa providenciar upgrades ou remendos (fixes) para o Produto que serão automaticamente descarregados no seu computador".

      Esta passagem diz, em essência, que a Microsoft tem o direito de examinar o disco duro do seu computador e descarregar software para dentro dele automaticamente, sem o seu conhecimento ou consentimento explícito.

      Ao ler esta nova linguagem, um cliente empresarial declarou: "A ideia de que a Microsoft possa alterar o nosso software sem informar-nos é absolutamente inaceitável. Qualquer alteração à nossa configuração padrão só pode ser posta em funcionamento após avaliação e testes cuidadosos. Será que a Microsoft não tem noção disso?" (texto integral em InfoWorld )

    Conclusão? A Microsoft sujeita-o a si e despreza os seus direitos, e eles querem ainda o controle total sobre o seu computador — e a sua vida. Eles esperam que você engula este embuste. Por favor, não cumpra as expectativas deles.

    Assim, sugiro-lhe:

    • Escreva ao seu deputado e exija que a Microsoft seja travada.
    • Recuse-se a comprar qualquer software Microsoft da série XP.
    — e —
    Boicote a Microsoft!

    Outras leituras:

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    NOTAS
    1. Ou seja, a menos que consiga convencer a Microsoft de que não é um criminoso. Você faz isto implorando, mendigando e dando-lhe toda espécie de informação pessoal, como um infrator da lei, um homem sob liberdade condicional, um estrangeiro residente, um Microservo.

    2. Microservo. Substantivo. Aquele que paga para tornar-se escravo da Microsoft.



    [*] Programador, norte-americano. Ver a sua Message Page . O autor solicita a inserção de links para a página http://www.arachnoid.com/boycott em outros sítios web.

    O original encontra-se em http://vps.arachnoid.com/boycott/index.html .

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info .
    08/Ago/03