Antes de ficar isolado de quase todos os meios de comunicação com
o mundo exterior em março, Julian Assange, o fundador da WikiLeaks, que
se mantém na Embaixada do Equador, em Londres, partilhou a sua
opinião sobre as ameaças que a humanidade enfrenta em
relação ao progresso da Inteligência Artificial e à
proteção de dados.
Um dos mais famosos denunciantes do mundo, Julian Assange, procurado pelos EUA
por revelar documentos confidenciais no seu site WikiLeaks, sobre a guerra do
Iraque durante quase dez anos, prevê um cenário sombrio que
é "muito instável quanto à civilização
tecnológica", afirmando que "não durará
muito" por causa da rápida competição no mundo
interligado.
"Pode produzir inteligências artificiais muito robustas que podem
estar alinhadas com estados. Já vemos isso nos Estados Unidos e na
China
essas duas potências vão conquistar todo o mercado. A
rápida competição entre elas, com o apoio dos estados por
detrás delas e a exacerbação da competição
comercial por intermédio da competição geopolítica
conduzirão ao desejo incontrolável do crescimento da capacidade
da inteligência artificial, que levará a um conflito muito grave
ou estupidificante. É essa a maior ameaça", disse num
vídeo, gravado antes de ser boicotado totalmente, e publicado pelos
organizadores do
World Ethical Data Forum
, em Barcelona.
Segundo o fundador da WikiLeaks, "essa competição
geopolítica, aproveitada pelas maiores empresas de inteligência
artificial" está preparada "para acelerar um processo que os
seres humanos já não conseguem controlar".
"As instituições [humanas] são criadas para a
competição, e ao aumentarem de tamanho e de domínio do
mercado, etc., agarram todas as vantagens que podem e vão continuar a
acelerar a competição. Tudo o que produzem contém esse
ADN. É para aí que caminhamos e é essa a grave
ameaça aos seres humanos, em geral, e a todos os negócios. Talvez
a resposta a essa ameaça seja as pessoas compreenderem a
segurança informática, segurança
informática ofensiva", disse Assange na entrevista.
A capacidade emergente de grandes entidades e empresas privadas para continuar
a reunir dados maciços das pessoas, juntamente com a
aplicação da Inteligência Artificial (IA) também tem
desempenhado um papel significativo. Com a Google, o Baidu, o Tencent, a Amazon
e o Facebook "praticamente a recolher os conhecimentos da humanidade,
quando comunicamos uns com os outros", este modelo clássico,
chamado "capitalismo de vigilância" é agora diferente.
"É uma mudança económica muito importante e muito
grave. Ou seja, agarrar no modelo de capitalismo de vigilância e
transformá-lo num modelo que ainda não tem nome, um "modelo
IA" e usar este vasto reservatório para treinar
inteligências artificiais de diversos tipos. Isto substituirá
não só setores intermédios a maior parte das coisas
que fazemos na Internet, em certo sentido, é uma
intermediação mais eficaz mas controlará o setor
dos transportes, ou criará setores totalmente novos", afirmou
Assange.
Assange também alertou para a crescente vulnerabilidade dos dados
pessoais, que são cada vez mais visados e roubados por criminosos.
Além disso, as pessoas têm de negociar a sua
relação com todas as principais potências mundiais desde
tenra idade. Só "muito poucas pessoas capazes tecnicamente
conseguem viver à margem", o que "cheira um pouco a
totalitarismo", é a opinião de Assange.
"Esta geração está a nascer agora
é a
última geração livre. Mal acabam de nascer, imediatamente,
ou no prazo de um ano, ficam conhecidos a nível global. A
identidade deles, de uma forma ou de outra em consequência da
idiotice dos pais, que publicam o nome e as fotos no Facebook ou em
consequência das aplicações de seguros ou do passaporte
torna-se conhecida de todas as principais potências mundiais.
É uma situação muito diferente da
anterior", afirmou no vídeo.