As despesas militares do planeta estão ao mesmo nível do tempo da
guerra fria
por Michel Cabrol
A maior parte dos países do planeta aumenta a olhos vistos as suas
despesas militares. Todos, salvo os países da União Europeia,
inclusive a França. Em 2006 elas elevaram-se a 1.204 mil milhões
de dólares segundo o
Stockholm International Peace Research Institute
(SIPRI), que é a referência no assunto. Isto equivale a 2,5% do
PIB mundial. Este montante não era atingido desde 1988, época do
fim da guerra fria. Representa uma alta das despesas de 3,5% em
relação a 2005, e de 37% entre 1997 e 2006.
Na região Ásia-Pacífico, a Índia, a China, o
Japão e a Austrália rivalizam nas suas despesas militares. No
Médio Oriente, todos os países, com excepção do
Qatar, aproveitam o maná petrolífero e gasista para
reforçar suas forças armadas. É igualmente o caso do
Magreb, onde a Argélia, a Líbia e o Marrocos são os
principais actores da alta das despesas na região. Os países da
América do Sul aumentam igualmente as suas despesas militares, ainda que
de modo mais modesto.
Neste contexto de escalada, as vendas de armas dispararam. Entre 1996 e 2005,
os fornecimentos mundiais de armas haviam-se estabilizado em torno dos 55 mil
milhões de euros. Em 2006, o volume dos fornecimentos cresceu para 67
mil milhões, ou seja, um salto de 21,8%. "Esta progressão
corresponde a aquisições de armamentos de novas
gerações que são materiais mais refinados e portanto mais
caros que anteriormente", explica-se em Paris
[1]
. Em 2006, o mercado ficou sem fôlego ao passo que no período
1996-2005 manteve-se constante". Para 2007, a tendência permanece
sempre para a alta. A
Thales
confirma o grande retorno da exportação no domínio da
defesa. "2007 foi um bom ano. Todas as regiões do mundo
aumentaram o seu esforço, com excepção da Europa",
afirmou Denis Ranque em Janeiro uúltimo.
Alta tecnologias
Actualmente, apenas um pequeno círculo de países partilha entre
si o mercado do armamento para exportação. Entre 1996 e 2006,
cinco grandes países exportadores realizavam 90% das vendas mundiais:
Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, França e Israel. Em 2006
eles cobriram 88% das exportações mundiais. Os Estados Unidos
ficaram com a parte do leão, com 55% das exportações
mundiais, seguidos pelo seu fiel aliado do Reino Unido (14%) e pela
Rússia (9,6% e 8% no período 1995-2006), cujas vendas de armas
progridem regularmente desde 2000. Em quarto lugar a França (5,9%),
seguida por Israel (5,3%). Muito presente do domínio da
electrónica, dos aviões sem piloto (drones) e dos mísseis
tácticos, a indústria israelense é um concorrente activo,
em particular na Ásia, nomeadamente em Singapura e na Índia, onde
é o segundo fornecedor das forças armadas locais, e na Europa do
Leste. Mas recém-chegados como a África do Sul, o Brasil, a
China, a Coreia do Sul, o Paquistão e a Índia começam a
andar no palco e a mordiscar partes do mercado. Paralelamente, cinco
países compraram um terço das armas exportadas (Arábia
Saudita, Emirados Árabes Unidos, Índia, Grécia e Turquia).
Todos os observadores prevêem que o mercado do armamento vai continuar
numa rampa ascendente. Nomeadamente com a renovação de certos
grandes equipamentos, como as frotas de aviões de combate. E
também devido a novas estratégias: os estados-maiores repensaram
seus equipamentos na sequência dos conflitos no Kosovo, no
Afeganistão e no Iraque. Ao invés de tanques e dos
helicópteros de ataque os estrategas privilegiam hoje "materiais
muito mais móveis e aerotransportáveis".
[1] Este artigo está na página de negócios e
estratégia de
La Tribune,
que não está aberta ao leitor da edição digital
(só aos assinantes), parece ter sido produzido em resposta a um livro
branco sobre a defesa a publicar em França. Este livro branco reflecte
a nova posição do presidente, que estava na origem do seu
conflito com Chirac. Sarkozy exige, desde a sua passagem em Bercy, economias
orçamentais na defesa. O artigo de
La Tribune
destina-se a fazer entender que estamos num mundo perigoso onde conflitos de
alta intensidade podem ocorrer. Assim, com o rigor orçamental previsto
na próxima lei de programação, arriscamo-nos a perder
definitivamente em relação ao Reino Unido e além disso
há o risco de haver todo um novo material de alta eficiência que
não poderíamos atingir. Apesar de este artigo insistir sobre
certos aspectos perigosos do rigor orçamental para a indústria do
armamento, ele não deixa de ser interessante. (Nota de Danielle
Bleitrach)
21/Fevereiro/2008
O original encontra-se em
http://www.legrandsoir.info/spip.php?article6063
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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