Trump pode não levar adiante as sanções contra o petróleo russo ou o Tomahawk

Trump está a obrigar a Rússia a buscar uma vitória militar na Ucrânia.

M. K. Bhadrakumar [*]

Posto Rosneft.

O presidente dos EUA, Donald Trump, parece ter mudado de estratégia para impedir que a Rússia crie novos factos no terreno na Ucrânia. As forças russas têm vantagem ao longo dos 1250 km da linha de frente ucraniana, esticando as defesas e os recursos de Kiev, o que nenhuma ajuda militar ocidental poderá reverter num futuro previsível. Trump está a obrigar a Rússia a buscar uma vitória militar na Ucrânia.

Até agora, Trump tem assumido uma postura de estadista profundamente angustiado com os aspetos humanitários do conflito. Moscovo tolerou o espetáculo teatral para mimar a personalidade egocêntrica de Trump — isto é, até Putin ter destruído o mito na semana passada, revelando que Trump detém, na verdade, o recorde de presidente americano que mais vezes sancionou a Rússia, ultrapassando até mesmo o seu antecessor, Joe Biden.

Trump, na sua nova encarnação como fomentador da guerra, revelou uma estratégia de escalar a guerra até Putin capitular. Para esse fim, ele expandiu o regime de sanções para incluir a indústria petrolífera russa e está a brincar com a ideia de fornecer à Ucrânia mísseis Tomahawk de longo alcance que podem atingir o interior do território russo.

O comunicado de imprensa do Departamento do Tesouro dos EUA anunciando as novas sanções contra a Rússia parece ter sido feito sob medida para atingir a Índia. A Índia e a China respondem por cerca de 80% das exportações de petróleo da Rússia, mas esta última é a maior compradora, com 60% das importações transportadas por oleodutos, enquanto a Índia depende de transportadoras contratadas pelo lado russo (“frota paralela”), que agora também estão sob sanções ocidentais.

O comunicado de imprensa afirma que «o objetivo final das sanções não é punir, mas provocar uma mudança positiva no comportamento». Trata-se de uma constatação, pois não se trata realmente de petróleo, mas de geopolítica. Ainda não está claro se Trump irá realmente avançar com as sanções ao petróleo, uma vez que manter o petróleo russo fora do mercado mundial acarreta o risco de preços elevados do petróleo, o que poderia ter um efeito bumerangue na economia dos EUA e ser politicamente prejudicial para Trump.

A reação inicial de Putin na quinta-feira passada foi que as sanções ao petróleo são um ato “hostil” que “terá certas consequências, mas não afetará significativamente o nosso bem-estar económico”. Putin disse que o setor energético da Rússia se sente confiante. Ele acrescentou: “Esta é, obviamente, uma tentativa de pressionar a Rússia. Mas nenhum país que se preze e nenhum povo que se preze decide alguma coisa sob pressão”.

Entretanto, a hipocrisia ocidental atingiu o seu limite, com o chanceler alemão Friedrich Merz, um dos mais entusiásticos defensores da guerra, a bater à porta de Trump para implorar por uma isenção das sanções. Aparentemente, a Alemanha tem comprado discretamente petróleo russo, mesmo enquanto retrata a Rússia em termos hostis, para evitar que o seu PIB caia mais 3%!

A Alemanha assumiu “temporariamente” o controlo de três subsidiárias da petrolífera russa Rosneft (que os EUA sancionaram) para garantir o seu abastecimento energético. Curiosamente, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, o condutor da chamada “coligação dos dispostos” ansioso por enviar tropas para a Ucrânia para combater as forças russas, está a seguir o mesmo caminho de Merz, buscando a isenção de Trump!

Esse comportamento duvidoso com conotações raciais por parte dos países ocidentais traz lições para a Índia. Claramente, a eficácia das novas sanções contra as gigantes petrolíferas russas dependerá do zelo com que os EUA as aplicarão por meio de sanções secundárias às entidades que negociam petróleo russo. Se o passado servir de referência, Washington não será capaz de manter uma pressão total — mesmo que seja apenas porque os mercados forçarão sua mão assim que os preços do petróleo dispararem.

Ou seja, graças à aplicação frouxa das sanções, o petróleo russo continuará a chegar ao mercado mundial. Compradores como a Índia, que reduziram o abastecimento de petróleo da Rússia, acabarão por pagar preços mais elevados. Ao obedecerem docilmente à ordem de Trump, comprometeram os seus interesses. A sensação de humilhação é tal que Deli evita envolver-se com Trump.

No entanto, no que diz respeito aos mísseis Tomahawk de longo alcance (alcance: 3000 km), Putin foi educado, mas franco na sua reação, dizendo:   «Esta é uma tentativa de escalada. Mas se tais armas forem usadas para atacar o território russo a resposta será muito séria, se não esmagadora. Que pensem nisso.»

O vice-presidente do Conselho de Segurança, Dmitry Medvedev, foi ainda mais direto ao transmitir o pensamento do Kremlin:   “Os EUA são nossos inimigos e o seu tagarela ‘pacificador’ agora embarcou totalmente no caminho da guerra com a Rússia... este agora é o conflito dele, não do senil Biden! ... as decisões tomadas são um ato de guerra contra a Rússia. E agora Trump se aliou totalmente à Europa insana.

“Mas há também uma vantagem clara nesta última oscilação do pêndulo de Trump:   podemos atacar todos os esconderijos de Bandera com uma grande variedade de armas, sem nos preocuparmos com negociações desnecessárias. E alcançar a vitória precisamente onde é possível:   no terreno, não numa secretária. Destruindo inimigos, não concluindo ‘acordos’ sem sentido”.

Aparentemente, a mensagem foi entendida. Trump, antes de embarcar para a Malásia em sua turnê por três países asiáticos, certificou-se de que seu enviado especial à Rússia, Steve Witkoff, estendesse um convite ao seu interlocutor russo Kirill Dmitriev, CEO do Fundo Russo de Investimento Direto, para ir a Miami para uma conversa tranquila a fim de discutir as coisas. Os dois ex-empresários se encontram hoje.

Oreshnik.

Entretanto, Trump deu a entender, em antecipação ao seu próximo encontro com o presidente chinês Xi Jinping em Kuala Lumpur no sábado, que pode afinal não aplicar as tarifas de 100% sobre produtos chineses e outras restrições comerciais a partir de 1 de novembro, em retaliação aos controlos de exportação amplamente alargados da China sobre ímanes e minerais de terras raras. A postura firme da China está a dar frutos.

Da mesma forma, a ameaça direta do Kremlin de retaliação contra o Tomahawk será levada a sério. Putin tem muitas opções — o Oreshnik, capaz de atingir a velocidade de Mach 10, por exemplo, é um míssil hipersónico que também tem capacidade nuclear, contra o qual o Ocidente não tem defesa. A arma entrou em produção em série e foi fornecida às forças armadas.

Mais uma vez, a nova bomba planadora a jato da Rússia oferece um aumento significativo no alcance e resistência superior a contramedidas eletrónicas. Ela é capaz de atingir a fronteira ocidental da Ucrânia. Também está a passar para a produção em massa e o Ocidente está indefeso contra ela.

25/Outubro/2025

[*] Analista político, indiano.

O original encontra-se em www.indianpunchline.com/trump-may-not-follow-through-on-russian-oil-or-tomahawk

Este artigo encontra-se em resistir.info

28/Out/25

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