Um novo apartheid na Letónia
por Guennadi Ziuganov
[*]
No dia 5 de Fevereiro o parlamento da Letónia aprovou emendas à
lei de educação, o que significa a supressão do direito da
população da Letónia a educar os seus filhos em russo.
Isto implica mais um passo para a conversão dos nossos compatriotas em
letões de segunda categoria, afastando-os das suas próprias
raízes culturais.
A proibição de educar as crianças no seu idioma materno
é uma grosseira violação das normas do direito
internacional, e um passo destinado a criar o sistema do apartheid na
Letónia. Após a sua liquidação na África do
Sul, a humanidade decidiu que este sistema vil, declarado pela ONU um crime
contra a humanidade, não voltaria a renascer. Entretanto, com o
silencioso beneplácito da União Europeia, o apartheid volta a
reproduzir-se na Letónia e na Estónia.
Centenas de milhares dos nossos compatriotas estão a converter-se em
vítimas de discriminação por motivos étnicos. O
presidente Putin, tal como o seu antecessor Yeltsin, recusa a sua
obrigação de defender os nossos compatriotas. O regime
governante adopta a pose de defender os direitos dos russos no Báltico,
pronunciando discursos e apresentando-se impotentes perante a União
Europeia, a qual aprova os governos anti-russos desses três países.
Estas súplicas provocam apenas zombarias e desprezo por parte da elite
letona, pois não são acompanhadas de acções reais.
Putin praticamente estimulou a entrada dos países bálticos na UE
e na NATO.
Agora, sob o guarda-chuva protector da NATO e o apadrinhamento político
da UE, os chauvinistas letões desprezam os humilhantes apelos do grupo
parlamentar "Rússia Unida" ao parlamento letão para que
não adopte leis discriminatórias.
Após a aprovação desta lei, um dos políticos
letões chamou publicamente de "idiotas" centenas de milhares
dos nossos compatriotas, insultando não só os nossos
irmãos e irmãs da Letónia como toda a Rússia.
Estes insultos são o fruto do sentimento de impunidade absoluta.
Este é o resultado directo da política de tolerância e
conivência com apartheid letão que o governo Putin desenvolveu
durante muitos anos.
É especialmente humilhante a adopção desta lei anti-russa
logo depois de a Duma se ter dirigido ao Seim letão instando-o a
abster-se de dar esse passo.
Já havíamos advertido o partido "Rússia Unida"
de que as tentativas de convencer os russófobos agressivos de Riga
apenas reforçariam a sua insolência. O parlamento russo recebeu
uma sonora bofetada dos seus "colegas" letões.
A Rússia dispõe de alavancas efectivas, económicas,
políticas e de outro tipo, para fazer com que elite letona
"recupere o sentido". Basta recordar que a economia da
Letónia repousa sobretudo no transito do petróleo russo
através dos portos construídos por conta da Rússia. Os
motivos da opressão dos nossos compatriotas não estão
só na russofobia dos governantes letões. A causa principal
é preciso procurá-la na ausência total de vontade
política no Kremlin e na solidariedade de classe das elites governantes
na Rússia e na Letónia.
O espezinhamento contínuo dos direitos dos nossos compatriotas na
Letónia significa que o presidente da Federação Russa
não cumpre as suas obrigações constitucionais. O sr.
Putin deve por fim à sua interminável précampanha
eleitoral e dar prioridade à defesa dos interesses da
população russa nos países bálticos.
É vergonhoso que dezenas de milhares de crianças russas tenham
que sair às ruas de Riga, para lutar pelos seus direitos, enquanto o
governo russo demonstra a sua completa incapacidade, cruzando os braços.
Exigimos do presidente da Federação Russa a imediata
adopção de medidas efectivas para por fim ao sistema do apartheid
na Letónia. Exigimos a aprovação de sanções
económicas contra a República da Letónia, que tão
gravemente viola as leis do direito internacional sobre direitos humanos. Na
qualidade de primeiro passo, o Ministério do Exterior da
Federação Russa deve retirar o nosso embaixador da Letónia.
[*]
Presidente do CC do PCFR
O original encontra-se em
Sovietskaya Rossia
. A versão em espanhol em
http://www.rebelion.org/internacional/040211ziuganov.htm
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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