Finanças e poder
por Rui Namorado Rosa
Os EUA encontram-se numa grave crise gerada pelo capital financeiro e
especulativo. Contudo os seus responsáveis assumem uma postura de falsa
confiança, para que outras a tomem como fé, suportada em pretensa
mas infundada manutenção ou incremento da produtividade, quando
todavia se constatam taxas de dívida privada e pública a
nível histórico, quebra de poupança, queda das receitas
das empresas, o rápido crescimento da dívida externa. Na
realidade, pelo contrário, a taxa de crescimento da produtividade (em
termos de produto por hora de trabalho) no sector empresarial privado, no
último meio século, demonstra, sobre um fundo de rápidas
oscilações, uma tendência clara de declínio de 3,5
para 1,5 %. Sem esquecer que concomitantemente, o défice comercial
externo (bens materiais) acelerou na década de 90 a par do crescimento
das dívidas internas.
A poupança privada exibe nos EUA um verdadeiro colapso, depois de ter
atingido valores máximos na década de 70, quando atingiu 11% das
receita privada líquida. A redução da poupança
privada e o aumento da dívida, privada e pública, significam um
incremento do consumo e do próprio PIB, mas configuram um percurso
insustentável a prazo; trata-se de uma transferência
inter-geracional de modos de vida e de recursos que afectará sobretudo
as próximas gerações [
http://mwhodges.home.att.net/product.htm
].
A bolsa de valores de Nova York manteve-se em persistente alta desde 1982
até Março de 2000, após o que o índice Dow Jones
entrou em lento declínio; era o inicio aparente de uma crise em demorada
gestação. A evolução em queda persistente
verificou-se também e pela mesma altura nas bolsas de do Japão
(Nikkei), Inglaterra (FTSE), França (CAC40) e Brasil (Bovespa) [
http://www.financialsense.com/stormwatch/oldupdates/2002/0621.htm
].
Uma vez iniciada a queda do valor das acções na bolsa de Nova
York, para além da continuada oferta de crédito também a
injecção de dinheiro no sistema financeiro foi acelerada, uma e
outra medida apoiadas em sucessivas reduções da taxa de juro pela
Reserva Federal. A massa monetária duplicou na segunda metade da
década de 90; a presente evolução é
instável, podendo conduzir seja a perda de confiança na moeda e a
inflação, seja ao colapso maciço de dívidas,
depressão persistente e eventualmente deflação [
http://www.financialsense.com/stormwatch/oldupdates/2002/0614.htm
].
A evolução negativa do S&P500 e do NASDAQ desde Março de
2000 parece ser sintomática. Como sintomática será
também a evolução positiva da cotação das
acções das empresas produtoras de metais preciosos e as
cotações destas
commodities
no mesmo período; evolução a que está subjacente
uma década de persistente défice de produção de
ouro e da prata e a queda para metade do inventário comercial deste
último metal precioso [
http://www.financialsense.com/stormwatch/oldupdates/2002/0621.htm
]. Ao longo dos últimos 12 meses, a cotação do ouro subiu
significativamente de $280 para $350 por onça [
http://www.kitco.com/charts/
].
O crescimento do volume bolsista nas duas décadas antecedentes foi
sustentado pela emissão e transacção de títulos,
acções e obrigações; o mercado de títulos
permitiu o incremento da injecção e circulação de
dinheiro não monetarizado e prescindindo dos canais bancários
tradicionais; os governos puderam assim assumir dívida pública
sem recurso ao lançamento de moeda no mercado e sem o risco de
tensões inflacionárias, que a maior massa monetária teria
induzido. O crescimento do volume bolsista, ainda mais acentuado na
década de 90, terá sido estimulado pela excessiva
disponibilização de crédito e sua
canalização para a especulação bolsista. Mas a
multiplicação de derivativos financeiros a uma taxa superior
à da disponibilização de moeda e de crédito,
contribuiu ainda mais para o crescimento das bolsas de valores para
dimensões desproporcionadas relativamente aos reais activos das empresas
e ao financiamento das suas reais operações financeiras. Neste
processo, o alcance da autoridade dos bancos centrais resultou substancialmente
diminuída, num mercado financeiro progressivamente complexo e virtual.
O crescimento desproporcionado da massa monetária relativamente à
produção material desvalorizou de facto o papel moeda, sobretudo
o dólar, mas foi instrumental na progressiva dolarização
da maior parte do comércio internacional e das reservas de bancos
centrais, como era desejo das instituições financeiras
imperialistas. Nestas circunstâncias, a crise e o eventual colapso do
dólar lançará ondas de choque por todo o mundo. Do ponto
de vista do capital imperialista, a fuga à crise passa logicamente por
alargar a base de suporte da exploração capitalista. Isto
é, pelo agravamento da exploração dos trabalhadores,
reduzindo a sua parte nas rendas nacionais, retirando-lhes regalias sociais,
transferindo para a esfera privada toda a propriedade de bens de
produção e de todos os fundos financeiros. E alargando ainda mais
a esfera de exploração de recursos naturais e depreciando ainda
mais as matérias-primas importadas pelos países capitalistas, o
que põe na ordem do dia a prossecução de guerras de
conquista e o domínio geoestratégico dos recursos. A perspectiva
de nova intervenção em grande escala no Golfo Pérsico,
encenada nos últimos meses de 2002, e a menos publicitada
infiltração militar no Golfo da Guiné, são a
materialização desses objectivos, que sendo de poderia militar e
diplomático, constituem a outra face do presente período do
imperialismo a grave debilitação económica com
evidentes manifestações de instabilidade financeira.
Na Europa, uma onda de aquisições e fusões de empresas
está em curso desde há uma década. Grandes empresas como a
France Telecom poderá ter de ser de novo nacionalizada para que
não colapsem serviços públicos essenciais. Esse é
também um processo induzido pela crise visível na
degradação do panorama económico e na queda dos valores
bolsistas. A queda do valor das acções, os balanços
negativos, a pressão sobre as margens de lucro, o crescimento do
crédito mal parado e a turbulência dos mercados financeiros,
estimulam as aquisições e fusões bancárias. Os
grandes bancos não têm conseguido crescer organicamente,
procurando antes reduzir custos mediante fusões; algumas
mega-fusões continentais têm-se sucedido. Depois de uma
década em que o sistema bancário foi desintermediado pelos
mercados bolsistas e pela transferência de riscos creditícios para
companhias seguradoras e fundos de pensões, o sistema bancário
continua em reordenamento, agora facilitado pela criação da UME,
ainda que a diversidade de regulamentações nacionais constitua
ainda um entrave. Assim, no período 1995-2000, registaram-se quase cem
fusões e aquisições bancárias. Mas este
poderá ser um comportamento sobretudo oportunista, com sucessos e
insucessos, mais do que um movimento pró-activo, na lógica de
reduzir custos e de aumentar receitas [
http://www.thebanker.com/art1aug02.htm
].
Há importantes bancos em dificuldade, expostos às debilidades de
grandes empresas, detendo empréstimos por liquidar e valores
mobiliários de empresas que subitamente aparecem
reclassificadas como de alto risco, como aconteceu com a Vivendi Universal.
Abbey National (Reino Unido), Credit Suisses e outros são alguns dos
importantes bancos em posição de dificuldade na Europa. No Reino
Unido, entre um grupo de 24 gestores de fundos que somam o montante de mais de
1 milhão de milhões de libras, a margem de lucro caiu de 33 para
23% e os ganhos da gestão de fundos a retalho tombou de 42% para 24% no
ano passado (2001) e a situação parece ter-se agravado depois. No
conjunto da Europa, a banca privada teve uma quebra de 14% nas receitas e
globalmente a margem de lucro caiu em média 34% [
http://www.thebanker.com/art1aug02.htm
].
O euro é agora um estímulo para a criação de um
sistema de serviços financeiros e plataformas de produtos financeiros
trans-europeus estão a ser desenvolvidos pelos bancos mais criativos,
embora a diversidade de regulamentações seja ainda um
obstáculo. Entretanto, vários bancos europeus HSBC, ABN
Amro, BNP Paribas, Royal Bank of Scotland, Allied Irish Banks - procedem a
aquisição de posições nos EUA, onde o sistema
bancário é relativamente mais fragmentário e a taxa de
rentabilidade é teoricamente mais elevada.
A ECONOMIA REAL NAS EMPRESAS
É já agora evidente que as grandes empresas têm desde
há duas décadas manipulado e exagerado os respectivos proveitos.
Essa prática enganosa e fraudulenta acentuou-se nos últimos anos,
sendo um dos factores concorrentes com a recente sobrevalorização
dos valores em bolsa [
http://www.levy.org/
]. Essas práticas são sintomáticas do aprofundamento da
crise que atravessa e dos meios de que se socorre o capital financeiro
especulativo, e vão conduzindo à falência empresas
após empresas e à barra do tribunal administradores executivos
uns atrás dos outros, sem com isso pôr em causa a razão do
curso destes acontecimentos, a própria natureza do capitalismo
imperialista. No plano laboral, a instabilidade empresarial traduz-se em
crescente precaridade do direito ao trabalho, conceito que imperialismo, no
plano ideológico, procura irradicar dos espírito dos
trabalhadores.
Segundo Graham Turner em BBC News, 30/Jun/2002, «Não há
muito tempo, as empresas dos EUA relatavam regularmente taxas de crescimento
dos respectivos ganhos de dois dígitos, enquanto a bolsa de valores
subia para níveis progressivamente mais elevados. Os ganhos do
próprio governo, detalhados nas contas nacionais, mostravam que as
empresas não estariam de facto a realizar os lucros que anunciavam.
Durante os cinco últimos anos de mercado em alta, as empresas
representadas no S&P500 relataram ganhos que teriam crescido 96% (ou seja
19%/ano). Pelo contrário, os números do governo revelavam que o
sector das corporações empresariais havia crescido apenas 36% (ou
7%/ano). Os números significavam que as empresas estariam a exagerar o
crescimento dos seus proveitos em mais de 150%. Mas na verdade, mesmo
então não era difícil ver que as empresas dos EUA estavam
a manipular as suas contabilidades. Os investidores não tinham de
procurar muito para constatarem que os ganhos anunciados por muitas empresas em
fins da década de 90 estavam inflacionados. Claro que agora sabemos que
as empresas estavam mesmo a exagerar os respectivos proveitos».
Como sabemos, os colapsos de diversas empresas, algumas de grande porte como a
Enron e a WorldCom, trouxeram grave prejuízo para os respectivos
trabalhadores, que nesses colapsos perderam os postos de trabalho e foram
espoliados das suas reformas. Outras multinacionais gigantes como a IBM, GE e a
GM, enquanto a bolsa de valores esteve em alta, extraíram vultosas
vantagens da liquidez proporcionada pelos planos de pensões dos
respectivos empregados. Mas agora, com a bolsa de valores em baixa, essas
empresas deverão prover contribuições líquidas para
os fundos de pensões, com relativa redução dos seus
proveitos. Mesmo no âmbito governamental tem sido denunciada essa
engenharia financeira. Designadamente foi relatado o desvio anual da ordem de
centenas de biliões de dólares de saldos de fundos de
pensões e de segurança social para cobertura de défices
orçamentais [
http://mwhodges.home.att.net/statistic-wizardry.htm
] .
A participação de
trabalhadores no capital das empresas em que trabalham é um logro, uma
forma de os aprisionar ao futuro da empresa, mesmo sem deter responsabilidade
na sua gestão. Eles são parcialmente remunerados com
títulos (opções) da empresa, com o direito a comprar
acções a certo preço numa certa data ou dentro de um certo
período. Trata-se de uma compensação ao trabalhador e
portanto uma despesa da empresa com a força de trabalho que emprega. O
actual Sistema Nacional de Contas - SNA93, adoptado internacionalmente pela
Comissão de Estatística da ONU, não é
explícito em classificar esse tipo de despesa como
remuneração de trabalho; bem como é incerto o tempo em que
a despesa deverá ser contabilizada
[
http://www.statistics.gov.uk/IAOSlondon2002/contributed_papers/IP_Edwards.asp
]. Pelo que assim se alimenta a confusão entre
remuneração de trabalho e remuneração de capital,
abrindo espaço à manipulação criativa
do cálculo do PI B e dos indicadores de produtividade.
UM CURSO MUITO PERIGOSO
O actual excesso de capacidade produtiva não atinge apenas alguns mas
sim muitos sectores que são objecto de intenso comércio
internacional telecomunicações, automóvel,
aeronáutica, electrónica, aço, química, etc.
que em conjunto excedem mais de metade dos fluxos internacionais (não
incluindo produtos agrícolas); nesses sectores esse excesso de
capacidade vai de 20 a 80%. O risco de queda descontrolada de preços e
de receitas é evidente. Se essa situação se multiplica e
difunde através de toda a actividade económica, teremos uma
situação de deflação
macroeconómica. O desastre. [
http://www.thebanker.com/art2oct02.htm
].
Nos EUA, os excessos financeiros da década de 90 conduziram investidores
e consumidores a deterem agora pesadas dívidas, mesmo a uma taxa de juro
progressivamente mais baixa. As amortizações das dívidas
implicam redução dos níveis de investimento e de consumo.
A inflação já desceu para 1,5% ao ano mas a
recessão tem-se manifestado recorrentemente. No Reino Unido, o
diferencial entre a procura efectiva e a oferta potencial tem sido
perceptível ao longo dos últimos anos e a tendência
desinflacionária tem persistido; a taxa de inflação
é aí já inferior a 2%. A zona Euro tem exibido igualmente
um crescimento aquém da sua capacidade produtiva, com crises atingindo a
própria Alemanha, pelo que não é previsível a sua
recuperação desinflacionária. O Japão já se
encontra em deflação há anos, sem sinais seguros de
recuperação e com taxas de juro ainda nulas. A persistência
destes sintomas nas mais fortes economias faz temer que todas elas
entrem em período deflaccionário nos próximos anos, com
graves repercursões mundiais.
As recessões financeiras verificadas nas recentes décadas foram
produzidas por subidas inflacionárias, seguidas pelas taxas de juros,
conduzindo a roturas de crédito. Agora a situação é
bem diferente. As empresas vêm as suas receitas a decrescer com os
preços, enquanto as suas dívidas crescem, a pesar da
deflação. O sistema bancário será levado a
reprogramar os empréstimos ou a precipitar as falências, o que
contribuiria para o colapso da dívida. Os mercados de
acções tornam-se desinteressantes em período de
deflação; os investidores ou os simples aforradores
preferirão deter o dinheiro em papel-moeda ou em depósito
bancário. E em alternativa procurarão investir ou salvaguardar as
suas poupanças em ouro e metais preciosos [
http://www.kitco.com/charts/
], como está de facto a acontecer como já ficou dito, ou em
outros bens materiais.
A DESORDEM FINANCEIRA
A dita nova economia caracteriza-se não só por
rápida inovação tecnológica em determinados
sectores produtivos mas também por uma persistente
inovação de instrumentos financeiros e pela
globalização da sua transacção; esta segunda
componente da nova economia alimenta-se na primeira é
sobremaneira especulativa.
A dívida que antes era assegurada sobretudo pelo sistema
bancário, mediante empréstimos, é agora assegurada
sobretudo pelos mercados financeiros, mediante títulos ou valores
mobiliários. Os riscos estão mais largamente distribuídos,
são assumidos por novas entidades financeiras de vocação
mais ou menos especulativa e até são transferidos pelo estado
para a sociedade quando políticas privatizadoras são promovidas
na segurança social, nos serviços públicos, etc.
Além da socialização dos riscos, o prejuízo social
existe também porque a intermediação das
transacções de títulos gera lucros que largamente escapam
ao pagamento de taxas, facilitando a apropriação privada de
grandes benefícios, sem trabalho produtivo. No quadro do presente
Sistema Nacional de Contas - SNA93, uma entidade que traduza os seus ganhos na
remuneração de dividendos é desfavorecida em impostos e em
poupança.
No quadro do sistema bancário tradicional, os bancos gerem carteiras de
títulos de clientes e cobram comissões sobre esses ganhos; assim
como gerem as próprias carteiras, os ganhos não sendo neste caso
explicitamente registados e portanto não visíveis na
contabilidade nacional, o que se traduz em prejuízo da receita
pública; a medida tradicional de produtividade de tais serviços
financeiros dependerá então da proporção relativa
dos dois tipos de carteiras, pelo que tal medida não tem objectividade.
No quadro do sistema de seguros, constata-se a prática de pagamento de
parte das indemnizações com os prémios cobrados, ou seja,
a utilização de parte das receitas de capital para a
liquidação de indemnizações; em princípio,
os prémios cobrados devem estar ajustados à expectativa de
indemnizações no mesmo período, ponderados os montantes
segurados, os riscos envolvidos, a receita do investimento dos prémios
cobrados e o custo dos serviços prestados; a
desregulamentação e as práticas consentidas não
protegem os segurados e obscurecem as contas desse importante sector
financeiro. Conduzindo também ao prejuizo da receita pública.
No que respeita a fundos de pensões, segundo o SNA93, a
imputação da contribuição da entidade empregadora,
quando não transferida oportunamente, é estimada na base das
transferências devidas no mesmo período; porém, quando a
população activa envelhece continuadamente (como acontece
actualmente na Europa) este critério gera uma estimativa desadequada por
defeito dos compromissos reais assumidos; isto é, o actual volume de
pagamento de pensões, por fundos que não são oportunamente
transferidos, será num futuro próximo excedido pelo volume dos
crescentes compromissos assumidos para com os trabalhadores que estão
ainda no activo. [
http://www.statistics.gov.uk/IAOSlondon2002/contributed_papers/IP_Edwards.asp
].
Em resumo, as contas nacionais, as estimativas do PIB e o bem estar material
actual e futuro da sociedade aparecem fortemente interligados mas,
lamentavelmente, em mais do que aparente contradição entre si.
COMO EM PORTUGAL?
Em Portugal, a produtividade e
a competitividade têm sido argumentos no discurso político do
governo e do patronato. Procuram, um e outro, estabelecer a sequência
lógica competitividade produtividade salário, como
se houvesse uma simples relação causa-efeito na esfera tão
complexa da produção económica.
A produtividade pode aumentar
sem correspondente aumento da competitividade e a competitividade pode aumentar
sem que haja aumento da produtividade. A competitividade de um produto é
determinada por numerosos factores, de que o preço não é o
mais importante, e o preço não é só determinado
pelo custo do factor trabalho, obviamente.
A diferença de
produtividade aferida é muito grande de empresa para empresa nacional ou
estrangeira operando em Portugal (Revista Exame, Abril 2002), muito embora a
legislação laboral e os trabalhadores sejam culturalmente os
mesmos. A baixa produtividade nem é geral nem uma necessidade, como
também não é uma consequência da
legislação laboral.
[
http://www.msst.gov.pt/forum/show.php?fid=5&id=193
].
Como é reconhecido mais geralmente noutros países, o principal
condicionante do factor trabalho para a produtividade é a
qualificação, pois que a qualificação condiciona a
qualidade do trabalho vivo posto no produto. Infelizmente os indicadores
comprovam que a força de trabalho portuguesa é a menos
qualificada na União Europeia. E que é também em Portugal
que se verifica menor incorporação de investigação
científica e desenvolvimento tecnológico na
produção. Por uma e outra razão, e pelo insuficiente ritmo
de aperfeiçoamento destes indicadores, o nosso país é o
mais mal colocado no Painel da Inovação 2001
[
http://europa.eu.int/comm/barcelona_council/1414_pt.pdf
].
A motivação dos
trabalhadores certamente contribui para a produtividade. Essa
motivação é determinada por várias
condições, nomeadamente o salário. A
remuneração do salário é aliás um incentivo
económico porque promove a procura de bens e serviços pelo
próprio trabalhador. Outros incentivos económicos, como os
incentivos à exportação, são mais
problemáticos ou arriscados, por dependerem também de
vários outras condições que não são
controláveis.
O governo português
procura de novo, agora furiosamente, desviar os fluxos financeiros da
segurança social para a recuperação da
especulação bolsista, para beneficiar os grupos
económico-financeiros constituídos, senão mesmo para a
salvação da própria bolsa. As receitas da segurança
social, regime geral, tem consistentemente excedido as despesas respectivas
(prestações); o Fundo de Estabilização Social,
gerido pelo Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social,
alimentado com os respectivos saldos, ascende a mais de 4 mil milhões de
Euro, não obstante as dívidas da parte do Estado (9,5 mil
milhões Euro) e das empresas (2,1 mil milhões Euro). Pelo
contrário, o Instituto de Seguros de Portugal afirmava «o mercado
de fundos de pensões continuava no ano de 2000 numa fase algo
estacionária (
) a ausência de reformas estruturais dos
sistema públicos de repartição e as
evoluções desfavoráveis dos mercados accionistas marcaram
o ano de 2000» para preconizar «as reformas (
) serão
decisivas para a renovação do mercado português de fundos
de pensões». E todavia, nesse ano, os fundos de pensões
geridos pelas companhias seguradoras ascendiam já a 13,7 mil
milhões de Euro! A voracidade do capital é inesgotável e a
sua instabilidade contribui para aumentar essa voracidade. A
aplicação na bolsa de uma pequena parcela do Fundo de
Estabilização já se traduziu em perdas; e a
transferência pelo Estado para esse Fundo de títulos da Portugal
Telecom, em vez de dinheiro fresco, também já se traduziu em
perdas adicionais [
http://ilhamaior.no.sapo.pt/analise/PARTE%20II.htm
].
Parece evidente a aliança entre o governo e o capital financeiro em
Portugal também. E é patente a sua teimosia em procurar
salvar a bolsa de valores da sua insanável crise, à
custa das remunerações, poupanças e pensões das
classes trabalhadoras.
Só podemos prever o pior da eventual privatização da
segurança social e, em particular, da eventual entrega do Fundo de
Estabilização. Mas o apetite do capital financeiro e a
intenção política do governo querem entregar por inteiro a
gestão desse Fundo à banca privada, podendo ser utilizado para
alimentar a especulação bolsista e, ainda por cima, devendo essa
gestão ser remunerada pelo Estado!
20/Dez/2002.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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