Alterações climáticas:
uma frente quente da crise global
por Rui Namorado Rosa
A última década da Cimeira do Rio à Cimeira de
Joanesburgo caracteriza-se pela ascensão da influência das
corporações transnacionais e o declínio dos governos dos
estados
nações. Esta constatação está conforme com a
expansão do capitalismo global, cada vez mais livre de constrangimentos,
em contraponto à territorialidade das democracias neoliberais, cada vez
mais vazias de conteúdo. A privatização e a
desregulamentação dos bens e das actividades económicas
pelos governos nacionais; a integração mundial e a mobilidade do
grande capital financeiro; a liberalização sem limites dos
mercados; a transferência de responsabilidades do poder público
para o poder privado, e dos planos nacional para o plano internacional; a
apropriação progressiva da natureza pelas
corporações transnacionais, e o seu progresso na
apropriação do próprio conceito de "desenvolvimento
sustentável" - todos estes elementos de mudança marcam esta
última década e reflectem-se no desfecho da Cimeira Mundial do
Desenvolvimento Sustentável agora concluída em Joanesburgo
[Corporate Europe Observatory,
http://www.corporateeurope.org/un/gironadecl.html
].
Podemos dizer que o processo iniciado no Rio de Janeiro foi tomado literalmente
de assalto pelo grande capital, com o apoio expresso ou implícito de
grande número de governos por esse mundo fora. Foram nesse assalto
instrumentais grupos de pressão capitalistas Business Action for
Sustainable Development, World Business Council for Sustainable Development,
International Chamber of Commerce, entre outros que dissimulando-se
entre organizações não governamentais, tradicionalmente de
base cívica, promoveram eficazmente campanhas de relações
públicas e de lavagem ideológica. Iniciado já no Rio de
Janeiro, essa operação foi largamente bem sucedida até
Joanesburgo. Os resultados desta última cimeira reconhecem em larga
medida os conceitos, os valores e as soluções da economia
neoliberal, conferindo simulada respeitabilidade, não só
económica mas também social e ambiental, e acrescida liberdade de
acção, às grandes empresas transnacionais, em detrimento
das responsabilidades e poderes dos estados nações, o que quer
dizer dos seus cidadãos. [Southern African Regional Power Network
http://www.sarpn.org.az/wssd/may2002/girona/
; Institute for Food and Development Policy
http://foodfirst.org/media/
].
O papel das instituições internacionais neste processo é
manifesto, designadamente da World Trade Organization, cuja recente Agenda para
o Desenvolvimento de Doha insidiosamente procurou influenciar o curso da
Cimeira de Joanesburgo. A própria cúpula das Nações
Unidas, sendo também alvo dos
lobbies
transnacionais, acabou sendo conivente com eles, designadamente acolhendo a
iniciativa do capital transnacional Global Compact. A frase de Kofi Annan:
«... procuremos unir o poder dos mercados com a autoridade dos ideais
universais» é um testemunho confrangedor e preocupante da
capitulação do Secretário Geral das Nações
Unidas face à presente ofensiva política e ideológica do
imperialismo. [
http://www.bsdglobal.com/
] .
Como foi possível chegar a este ponto dez anos passados sobre a cimeira
do Rio de Janeiro? Se por um lado o imperialismo tem ganho terreno,
também é verdade que o descontentamento popular tem crescido e
encontrado novas e amplas formas de expressão, como mais uma vez ficou
patente em Joanesburgo. O rio caudaloso não se confina às suas
margens e existe um só sentido certo para o seu rumo. O movimento social
encontrará agora, como encontrou noutras épocas, a forma de
expressão e intervenção política que
forçará a rectificação deste curso
histórico. Se olharmos mais de perto o que entretanto, desde a Cimeira
do Rio até à Cimeira de Joanesburgo, sucedeu no âmbito das
Alterações Climáticas, poderemos mais exactamente
compreender como o imperialismo logrou estes seus sucessos. Como também
poderemos compreender melhor quais os limites deste processo de
globalização capitalista bem como qual a alternativa que se lhe
pode opor.
O PLANETA TERRA TEM UMA HISTÓRIA
O planeta Terra comporta seus mecanismos de transformação e tem
uma longa e acidentada história. O Homem é um episódio
singular no elenco de espécies que alguma vez povoaram a biosfera
terrestre, e esta biosfera é um dos fundamentais objectos e agentes
dessa história planetária. O Homem tem-se revelado um dos mais
poderosos agentes dessa transformação. Mas a Terra é
tanto o suporte da sua subsistência quanto é o seu habitat. Sendo
certo que o trabalho humano (manifestação da consciência e
do conhecimento adquirido sobre a natureza) exercido sobre o planeta (seus
recursos naturais utilizados como matérias-primas finalmente convertidos
em resíduos e efluentes) é um entre muitos outros dos mecanismos
de transformação actuantes no planeta, também é
certo que essa transformação actua retroactivamente sobre o Homem
e impõe limites às transformações que este pode
exercer sobre o planeta. Em primeira instância é uma
questão de eficiência da formação social, no limite
é uma questão de sobrevivência da espécie humana.
As observações por meios instrumentais da temperatura, da
pressão, da humidade e do vento do ar à superfície,
só se faz regularmente desde meados do século XIX; e sobretudo
sobre terra, menos regularmente sobre o mar; daí que o conhecimento que
temos da temperatura e demais variáveis à superfície do
globo é um conhecimento pouco bem documentado. Os satélites
equipados com instrumentos de teledetecção representam um
progresso enorme na observação do nosso planeta, mas nos
últimos trinta anos apenas; os satélites permitem realizar uma
cobertura contínua de todo o globo, daquelas e de outras
variáveis, embora os métodos de interpretação
dessas tele-observações estejam ainda em processo de
aperfeiçoamento.
Para além da variabilidade geográfica da climatologia, as
observações meteorológicas acumuladas desde há um
século e meio revelam a variabilidade temporal do clima também.
Diversos dados de observação sugerem que temos vivido um
período de elevação da temperatura média à
superfície, de redução do volume da criosfera (calotes
polares mais massas glaciares), de subida do nível médio da
superfície do mar, de aumento frequência de ocorrência de
episódios extremos e, ainda, de perturbações na biosfera.
A observada variação do teor de dióxido de carbono na
atmosfera, dada a sua intervenção no efeito de estufa que regula
a temperatura à superfície da Terra, apela para o estudo
aprofundado do ciclo do carbono no nosso planeta. Existem enormes
reservatórios naturais de carbono na crusta e nos oceanos, face aos
quais o carbono existente na atmosfera sob a forma de CO
2
é quase insignificante. Existem pois quer "fontes" quer
"sumidouros" do CO
2
atmosférico que importa conhecer bem; a biosfera é um agente
particularmente activo nessas trocas gasosas; assim, as florestas, as terras
húmidas e os estuários, pela riqueza dos organismos vivos que os
habitam, são áreas de potencial captação do CO
2
. Os solos são importantes reservatórios de carbono mineral e
orgânico; por isso, o uso que se faz dos solos agrícolas e
florestais pode contribuir para a captação do CO
2
, mas também pode exercer-se em sentido inverso.
O HOMEM É TAMBÉM AGENTE DE ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS
Os observados crescimentos, ao longo do século XX, das taxas de
emissão e dos teores atmosféricos de gases com efeito de estufa -
GEE - são factos adquiridos. Incluem-se aqui CO
2
, CH
4
, N
2
O, HFC, PFC, SF
6
; os dois primeiros ocorrem naturalmente, mas têm tido taxas de
emissão agravadas, e os restantes são essencialmente artificiais.
São diversos os sectores de actividade humana responsáveis por
essas emissões: a produção/oferta e o
transporte/distribuição de energia (electricidade, gás,
calor), os meios de transporte (força motriz), as indústrias
transformadoras (força motriz, calor/frio, produtos químicos), o
sector residencial/edifícios (calor/frio), os sectores
agro-pecuário-florestal (uso do solo, uso da biomassa,
fermentação metanogénica). O CO
2
é emitido em todos os referidos sectores de actividade; o CH
4
é emitido nos sectores energético e agro-pecuário. O
aprovisionamento de energia primária, persistentemente baseado nos
combustíveis fósseis, é a causa fundamental deste curso de
acontecimentos e necessariamente será um factor chave na
resolução do presente problema; a descarbonização
das fontes de energia primária e dos vectores energéticos
são objectivos centrais das políticas energéticas que
estão na ordem do dia. [
Climate Change and the Transformation of World Energy Supply,
Steve Fetter, (Stanford: Center for International Security and Cooperation,
1999), 95 pgs;
http://www.puaf.umd.edu/faculty/papers/fetter/stanford.pdf
].
Estimativas e cenários de emissões de CO
2
(e dos demais GEE, quantificados em quantidades equivalentes a CO
2
) têm sido elaborados pela Agência Internacional de Energia da OCDE
(International Energy Outlook, 2001), a Conferência Mundial de Energia e
a Environmental Energy Agency (EUA); tratam-se de projecções
baseadas em estimativas demográficas e em hipóteses sobre o
crescimento económico, a intensidade energética da
produção e a proporção futura entre fontes de
energia primária
energy mix
. Sobre esses cenários o Painel Internacional para as
Alterações Climáticas - IPCC (Summary for Policymakers,
2001) tem elaborado, caracterizado e comentado cenários de
alteração climática a prazo (até 2100). Ora a
modelação da variabilidade e da alteração
climática é um domínio ainda não amadurecido.
Sendo o sistema climático muito complexo, há incerteza na
imputação de causas a efeitos, é insuficiente o
conhecimento de alguns mecanismos e parâmetros em presença,
há lugar a comportamentos não lineares e caóticos
conducentes a evolução para estados distintos. Resulta, pois, ser
grande a margem de incerteza não só nos modelos
sócio-económicos a montante mas também nos modelos de
simulação climática. Não obstante essa incerteza
são previsíveis, ainda com grandeza incerta, impactes ambientais
significativos deslocação de zonas bióticas,
biodiversidade/extinções, recursos renováveis..., impactes
económicos disponibilidade de recursos naturais... e impactes
sociais habitabilidade, migrações, saúde
pública, catástrofes naturais...
Postos esses cenários incertos mas preocupantes é de considerar,
no mínimo por medida de precaução, o objectivo de reduzir
as emissões potencialmente gravosas de gases com efeito de estufa; e,
para tal, a necessidade de substituição dos actuais
combustíveis fósseis e a promoção da
eficiência energética (os factores recursos naturais e tecnologias
para tal directamente relevantes); e, bem assim, a conveniência de prever
a mitigação dos potenciais impactes - sua
antecipação e soluções de adaptação. [
IPCC Third Assessment Report - Climate Change 2001
, IPCC
http://www.ipcc.ch/
;
IPCC Special Reports on Climate Change
, IPCC,
http://www.grida.no/climate/ipcc/
].
Mas o problema que se coloca não se confina à esfera meramente
científico-técnica; ele remete directamente para a esfera do
desenvolvimento económico-social; essa face do problema está
evidentemente presente nos pressupostos sócio-económicos em que
se baseiam os cenários de emissões dos GEE; presente ainda nos
referidos objectivos de substituição de combustíveis e de
incremento da eficiência energética. Mas não se confina
aí. O que está em causa é o velho problema, colocado agora
em novos termos, da relação harmoniosa do homem com a natureza e
dos homens entre si no seio da sociedade, que são pressupostos do
desenvolvimento sustentado. De novo se questionam a organização
da sociedade, a propriedade dos meios (recursos e instrumentos concretos) e o
modo de produção, no seu quadro ambiental concreto.
Este enunciado é geral, pode parecer abstracto, procuremos por isso
ilustrá-lo considerando duas formações sociais distintas,
dispondo de recursos naturais e património de conhecimentos
idênticos: uma, em que o solo é um bem social e em que o
ordenamento do território, sendo racional, o meio rural está
vitalizado e as cidades são de pequena/média dimensão e os
fluxos de pessoas e de mercadorias são equilibrados no interior desse
território; outra, em que o solo é propriedade privada, seja
imobilizado seja objecto de especulação não produtiva,
sobre o qual coexistem (e se reproduzem) tanto um espaço urbano
concentrado em poucas grandes metrópoles, gerador de exacerbada
estratificação social e saturado trânsito, quanto um
espaço rural desertificado, cruzado por fluxos de mercadorias com o
exterior. É evidente que os dois modelos sócio-económicos
são muito diversos e que, em particular, a utilização de
recursos naturais (energéticos em particular) são muito diversos
entre os dois também.
AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ENTRAM NA CENA POLÍTICA
As Alterações Climáticas, sendo um processo natural na
história evolutiva da Terra, poderão tornar-se preocupantes para
o Homem na medida em que o ritmo acelerado dessas alterações crie
desequilíbrios graves e impactos extensos irreversíveis nos
sistemas naturais e, em particular, inviabilize a adaptação e
medidas de mitigação dos impactos negativos por parte das
comunidades humanas.
As alterações climáticas podem ser induzidas pela
acumulação de GEE na atmosfera, como vimos, mas podem ser
induzidas por outros factores, naturais ou antropogénicos, e será
importante que a nossa atenção não se focalize
exclusivamente nos GEE como agentes de tais mudanças.
A Convenção Quadro das Nações Unidas para as
Alterações Climáticas (UNFCCC) aprovada em New York e
adoptada na Cimeira da Terra realizada no Rio de Janeiro em 1992, é o
primeiro grande marco que assinala a assunção da necessidade de
compromisso internacional para a acção concertada que obvie os
presumíveis riscos de alterações climáticas
antropogénicas, relativamente rápidas, que teriam
consequências potencialmente graves para vastas populações.
Essa convenção fundamentou-se já no trabalho entretanto
realizado pelo Painel Inter-governamental para as Alterações
Climáticas - IPCC (criação conjunta da UNEP e da WMO em
1988), uma estrutura internacional relativamente informal mas envolvendo muitas
equipas de prestigio científico. A Convenção Quadro das
Nações Unidas foi subscrita por um vasto conjunto de
países que a ela se obrigam (constantes no Anexo I da
Convenção), incluindo a União Europeia (e os seus estados
membros). A concretização dessa Convenção foi
objecto de sucessivas Conferências das Partes - COP; o Protocolo de
Quioto foi adoptado e subscrito por 84 países na COP-3, em Dezembro de
1997; e o Acordo de Marraquexe foi adoptado na COP-7, em Novembro de 2001.
O Protocolo de Quioto no seu Anexo A identifica os GEE e as fontes de
emissão objecto de limitação e no Anexo B lista os
países (39, mais desenvolvidos) que se comprometem a limitar as
respectivas emissões de GEE (este Anexo B é quase coincidente com
o Anexo I da Convenção Quadro) [
http://www.unfccc.de/fccc/docs/cop3/protocol.html
]. É o instrumento de acção até 2012 que fixa em
5% a redução global (dos países signatários) da
emissão média no período 2008-12 relativamente ao ano de
referência 1990; e que prevê que a partir de 2005 deva passar a ser
feita monitorização do cumprimento dos compromissos adoptados. O
Protocolo obriga os países signatários a estabelecerem planos
nacionais de acção, com vista à realização
dos seus objectivos de limitação de emissões de GEE, e a
contabilizar e a relatar adequadamente as emissões por que sejam
responsáveis.
Mas estabelece também certos mecanismos de mercado com vista à
"flexibilização" da realização das metas
de redução de emissões, designadamente: i) o
comércio de emissões (
emmissions trading
), ou seja, a transacção financeira (entre países do anexo
B) de quotas de emissão (
assigned amount units
) convertidas em licenças/direitos de emissão; ii) mecanismos de
desenvolvimento limpo (
clean development mechanisms
) que são transacções de certificados de
redução de emissões (
certified emission reductions
) entre entidades através de projectos de investimento (por
países do anexo I da UNFCCC) em países em vias de
desenvolvimento; e iii) a implementação conjunta (
joint implementation
), ou seja, a transacção de unidades de redução de
emissões (
emission reduction units
) mediante projectos de investimento entre empresas ou países do anexo
B, de tal forma que as unidades de redução de emissões
assim geradas serão adicionadas à quota do país investidor
e subtraídas à quota do país beneficiário.
O Acordo de Marraquexe fixa as regras para a aplicação dos
referidos instrumentos de mercado, nomeadamente: o arranque imediato de
projectos de desenvolvimento limpo e, a partir de 2008, de projectos de
implementação conjunta; a abertura em 2008 do mercado oficial
para o comércio internacional de emissões que, porém,
desde já poderá funcionar em regime de futuros; e o compromisso
da transferibilidade integral dos referidos títulos (
assigned amount units, certified emission reductions, emission reduction units
) e a possibilidade da sua utilização (
banking
) em período posterior a 2008-12.
AS ASSIMETRIAS E O CONFRONTO INTERNACIONAL
As emissões de CO
2
(supostamente o principal agente antropogénico do efeito de estufa)
reflectem uma ampla assimetria entre países desenvolvidos (elevado
rendimento) e subdesenvolvidos; a capitação da emissão
cifra-se no valor médio mundial 4,0 toneladas/ano, variando de 1,1 na
Índia a 20,0 nos EUA. Os países subdesenvolvidos (baixo
rendimento) não figuram no anexo B do Protocolo e não
estão sujeitos a limite de emissões (pelo menos não por
enquanto). A lógica aparente neste processo internacional iniciado com a
Convenção Quadro na Cimeira da Terra no Rio de Janeiro, ainda
presente no Protocolo de Quioto, é a da "contracção e
convergência", segundo a qual a diminuição de
emissões por parte dos países com elevadas
capitações de emissão deverá criar espaço
para o necessário incremento de emissões por parte dos
países que têm baixas capitações, tendendo para um
nível de capitação universal tolerável pelo sistema
climático. Porém, a introdução dos "mecanismos
de flexibilização", justificados por razões de
eficácia económica, mas que de facto prolongam as assimetrias
científico-técnológicas ( via
clean development mechanisms
) e estimulam os fluxos financeiros, que no actual quadro do sistema
capitalismo mundial não deixará de ter natureza marcadamente
especulativa, imprimiu um diferente rumo a esse processo.
A situação encontra-se ainda agravada por duas razões:
pela renuncia dos EUA a ratificar o Protocolo, sendo o maior emissor mundial de
CO
2
(com 24% do montante global), e pela elevada taxa de crescimento de
emissões por parte da R.P. China e da Índia (embora a partir de
um nível ainda relativamente baixo). Os EUA não ignoram o
problema das emissões dos GEE, todavia: contradizem várias
conclusões e recomendações do relatório do IPCC,
sobre que se fundamenta a razão de ser da Convenção Quadro
e os objectivos e instrumentos do Protocolo de Quioto, assumem uma
política autónoma [Global Climate Change Policy Book, Fevereiro
2002,
http://www.gcrio.org/OnLnDoc/pdf/climatechange.pdf
], fora do quadro internacional de redução das emissões,
e, finalmente, reafirmam a orientação autoritária de
não alinhamento e compromisso que vêm seguindo no quadro das
relações internacionais. Quanto à R.P. China e à
Índia (e não só), temos elevadas taxas de crescimento de
consumo energético que, sobre bases populacionais muito extensas, em
poucos anos agravará a pressão da procura de aprovisionamento de
petróleo e gás natural no mercado internacional, e
satisfará o objectivo da "convergência" mas
contraditará o objectivo da "contracção" das
emissões de CO
2
a nível mundial.
Entretanto, quer as tributações sobre a emissão de CO
2
quer as transacções financeiras de títulos associados
às emissões de CO
2
estão já a entrar em vigor, uma diligente pressa que comprova os
reais objectivos do capital financeiro e a real natureza das políticas
de certos governos, face a este problema global que, devendo ser objecto de
precaução, é apresentado e até promovido por
cenários dantescos, para melhor servir interesses capitalistas privados.
Neste respeito, o Protocolo de Quioto encontra algum precedente de
concepção e aplicação no Protocolo de Montreal
(Setembro de 1987), relativo à substituição de
substâncias a que foram atribuídas a responsabilidade pela
observada redução da camada estratosférica de ozono, os
CFC então utilizados em máquinas de refrigeração,
entretanto substituídas por outras substâncias, com grossos
proveitos para as corporações detentoras das respectivos
patentes.
A União Europeia prepara já a criação de um mercado
interno para o comércio de títulos de emissões de CO
2
(
assigned amount units, certified emission reductions
e
emission reduction units
). No Reino Unido entrou já mesmo em vigor (Abril de 2002) um esquema de
transacção de certificados de redução de
emissões. No que respeita a
clean development mechanisms
, os EUA já desde 1997 realizam projectos dessa natureza, designadamente
financiam projectos de novas centrais energéticas e de
reutilizações de solos (por exemplo reflorestamento) em
países de baixo rendimento (designadamente na América Latina),
que à luz do Protocolo de Quioto podem ser invocados como
créditos a favor do país investidor. Quanto a
tributação sobre emissão de CO
2
, existem também antecedentes como "taxas sobre poluentes".
Vários países europeus executam já a cobrança de
taxas sobre o consumo de energia na base das emissões de CO
2
ou de SO
2
associadas à produção ou ao consumo do produto
energético (gás, gasolina, electricidade,...). Esse procedimento
encontra agora legitimidade para ser generalizado e uniformizar.
O Protocolo de Quioto é avaliado diferentemente por diferentes
entidades. A sua base científico-técnica é fornecida pelo
ICPP; o seu terceiro relatório de avaliação, datado de
Fevereiro de 2001, que antecedeu o Acordo de Marraquexe, foi contestado por uns
e apoiado por outros. A National Academy of Sciences dos EUA bem como a Royal
Society de Londres tomaram posições prudentes mas de apoio ao
trabalho produzido pelo IPCC; a posição da Royal Society foi
depois reforçada por uma declaração conjunta endossada por
mais outras 16 Academias de Ciências; porém, estas tomadas de
posição não reflectem o reforço da
argumentação científica, antes são
intervenções institucionais das comunidades científicas na
esfera da decisão política. Já a Academia da
Ciências de Paris optou por emitir um feixe de reflexões sobre o
cenário de alterações climáticas, suas origens e
consequências e formas de intervenção humana para as
acautelar Algumas instituições e personalidade assumem
posições críticas sobre aspectos particulares da base
científica do Protocolo, ou sobre os cenários expostos ou, ainda,
sobre a avaliação dos impactos e as medidas para a sua
mitigação. Veremos, mais adiante, a crítica às
políticas e instrumentos internacionalmente adoptados para obviar os
riscos de eventuais alterações climáticas.
A EUROPA FACE ÀS ALTERAÇÔES CLIMÀTICAS
A União Europeia assumiu destacado protagonismo na procura do acordo que
foi alcançado em Marraquexe (Novembro de 2001), que abriu caminho
à ratificação do Protocolo de Quioto e à efectiva
entrada em vigor da Convenção Quadro. Podemos presumir uma real e
também uma fingida rivalidade entre os EUA e a UE neste palco
internacional, rivalidade conducente a uma apressada
materialização de um dos principais objectivos adoptados na
Cimeira da Terra no Rio de Janeiro dez anos atrás, em vista da
aproximação da actual Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento
Sustentável em Joanesburgo (Agosto-Setembro 2002). A modos de o mau e o
bom capitalista, ambos com interesses fundamentalmente convergentes, mas com
ambições próprias à escala planetária e com
diferentes meios e tácticas de acção.
A União Europeia dispõe e criou um conjunto de instrumentos para
actuar no âmbito das Alterações Climáticas.
Contam-se entre estes instrumentos comunitários: o Programa Europeu para
as Alterações Climáticas - EPCC (Março de 2000),
Livro Branco sobre Política Comum de Transportes, Livro Verde sobre
Segurança na Oferta de Energia, Livro Verde sobre Comércio de
Direitos de Emissão. O EPCC estabelece o controlo de emissões, a
meta de redução em 8% de 1990 (11 Mg/habitante/ano em 1990)
até 2012, as metodologias de estimativa e de observação
dos inventários e das emissões; preconiza medidas e
acções a serem adoptadas pelos estados membros
(transposição de directivas comunitárias).
Complementarmente: a comunicação COM(2000)88 estabelece
instrumentos para a redução das emissões de gases de
fontes específicas; o Livro Verde sobre a transacção de
direitos de emissão - COM(2000)87 - cria um sistema de comércio
de direitos de emissões para o sector da energia e grandes
instalações industriais; a comunicação
COM(2001)580, aborda a aplicação da primeira fase do EPCC e
enuncia um conjunto de dez medidas cuja eficácia de custo estima
será melhor que 20 Euro/tonCO
2
; a proposta de directiva COM(2001)581 estabelece o enquadramento do
comércio de direitos de emissão, a iniciar em 2005, no
âmbito do sector energético e das grandes
instalações industriais (que abarcam quase 50% das
emissões totais).
Em Portugal, foi constituída a Comissão nacional
inter-ministerial - CNAC (29 de Junho de 1998) enunciada uma estratégia
nacional (resolução do CM n.º 59/2001 de 30 de Maio de 2001)
e elaborado um programa nacional PNAC (Lei n.º 93/2001 de Agosto de 2001,
divulgado em Dezembro de 2001) actualizável, porém este
não é mais que uma transposição esquemática
de textos do IPCC e do EPCC para o plano português.
Uma caracterização breve da situação recente em
Portugal é bastante negativa: emissões 8 t CO
2
/habitante (1999), mas à taxa de crescimento 28% na década
1990-2000; a intensidade energética e a elasticidade energética
são exageradas; o sector energético (produção e
consumo) representa 5,5 Mg/habitante e cresceu 39%. Entretanto, os compromissos
face ao Protocolo de Quioto são uma redução -8% para a UE
o que, após partilha de responsabilidades no seio da UE se traduz num
acréscimo +27% para o nosso país (entretanto prematuramente
já atingido!)
O GRANDE CAPITAL À CONQUISTA DOS BENS AMBIENTAIS
Novos instrumentos financeiros direitos de poluição (ou de
emissão) transaccionáveis vão sendo
progressivamente criados e utilizados em novos âmbitos, sobretudo nas
políticas ambientais, agora também no das
alterações climáticas - aqui consagrados pelo Protocolo de
Quioto.
Os instrumentos financeiros usados em políticas ambientais são,
por um lado, ou medidas baseadas no preço - taxas e subsídios -
ou, por outro, medidas baseadas em direitos - direitos atribuídos para
utilizar recursos ou degradar o meio - direitos esses cuja
transacção é permitida. A lógica subjacente a estes
direitos transaccionáveis é: que os impactos negativos de certas
actividades económicas derivam da indefinição do
título de propriedade sobre os bens naturais (tomando como
expontânea a tendência para abusar dos recursos que são bens
públicos o que não é necessariamente verdade); que se o
bem público não pode ser apropriado privadamente, então o
direito de acesso ou uso poderá ser apropriado (o que será bom
para as corporações mas não é para os
cidadãos); o passo final dessa lógica é transferir para o
mercado a atribuição ou a redistribuição desses
direitos, admitindo que será essa a via mais eficiente para gerir esses
recursos escassos (o que é falso, pois que o objectivo das
corporações é maximizar o lucro, não optimizar o
uso de recursos ou minimizar os impactos).
Os instrumentos financeiros, nomeadamente os direitos transaccionáveis,
são promovidos, pelas grandes empresas e pelos governos, como a
solução técnica para os problemas ambientais; as
soluções tecnológicas são invocadas não como
determinantes mas antes como subsidiárias ou resultantes. O fundamento
teórico dessa suposta solução financeira reside na
interpretação económica neoclássica segundo a qual
a degradação do ambiente resulta da falha em não atribuir
um valor de mercado ao próprio ambiente e na falha em não
atribuir direitos de propriedade. Esta interpretação, que se quer
afirmar dominante, pretende justificar a ideia que a solução dos
problemas relativos ao ambiente seria a extensão do próprio
mercado. Fazendo tábua rasa da constatação que a
degradação ambiental resulta de se ter sistematicamente tomado o
ambiente como uma preocupação económica secundária
e de se terem sistematicamente tomado os recursos naturais meramente
supletivos no processo produtivo. No actual quadro económico neoliberal,
os instrumentos financeiros preconizados apenas perpetuarão e
agravarão a prazo os presentes problemas.
Os ganhos dos direitos transaccionáveis (de emissão ou
poluição) são financeiros e ideológicos que
não ambientais; pois que esses instrumentos financeiros foram concebidos
com o propósito de reduzir os custos industriais decorrentes da
protecção ambiental, favorecendo o crescimento económico e
mantendo o poder decisório da indústria, mas sem conduzir a
avanço seguro na qualidade do ambiente. A configuração
ideológica destes instrumentos financeiros tem sido dissimulada pela
aparência de neutralidade económica; essa aparente neutralidade
retira-os do debate público para os entregar nas mãos de
legisladores e tecnocratas ao serviço do capital. Mas nós sabemos
bem que o mercado confere maior poder àqueles com já detêm
maior poder financeiro; as corporações mais do que os
cidadãos (e suas organizações ambientalistas)
poderão escolher poluir ou não, comprando ou vendendo
créditos ou pagando taxas; a liberdade que nos é oferecida
é a liberdade de poluir ou de usar um recurso escasso e de vender, sob a
forma de direitos de poluição ou de uso comerciáveis, pela
oferta mais elevada. [
Trading the Earth - The politics behind tradeable pollution rights
, Sharon Beder,
Environmental Liability
, (9)2, 2001, pp. 152-160.
http://www.uow.edu.au/arts/sts/sbeder/liability.html
].
A importância omnipresente do grande capital no âmbito das
políticas ambientais exerce-se através de
associações empresariais, de influentes gabinetes de estudos e
consultoria e de certas organizações não governamentais
apoiados por grandes corporações [ como exemplo de
associações empresariais, ver Union of the Electricity Industry,
http://www.eurelectric.org
]. Entre esses gabinetes e organizações citemos apenas:
Institute of Economic Affairs, Centre for Policy Studies, (Reino Unido),
Heritage Foundation, Natural Resources Defense Council, Science and
Environmental Policy Project (EUA), entre muitos outros [ver por exemplo
Heritage Foundation,
http://www.heritage.org/Press/Commentary/
]. A sua influência afirmou-se na época de Donald Reagan e de
Margareth Thacher, para cuja tomada do poder contribuíram e, depois, no
delineamento das respectivas políticas conservadoras e
retrógradas. É de assinalar a prolixidade e a versatilidade dos
especialistas que se dedicam à propagação do
ideário neoliberal; os seus artigos e livros recebem ampla
divulgação e são frequentadores assíduos dos
órgãos de comunicação social; a sua familiaridade
com os corredores do poder facilita que de consultores passem a legisladores e
de legisladores a chefes executivos de grandes empresas, a assim por diante.
O discurso económico neoclássico tornou-se omnipresente e
é incorporado na ideologia dominante; em 1991 a OCDE emitiu
orientações para a aplicação de instrumentos
financeiros; grupos de trabalho foram desde então constituídos
nas agências governamentais com poderes regulamentadores. Na Cimeira do
Rio em 1992 os governos, associações empresariais e mesmo certas
ONGs defenderam e aceitaram os instrumentos financeiros para "proteger o
ambiente". A Agenda 21, o Plano de Acção para o
Desenvolvimento Sustentável subscrita nessa Cimeira afirma claramente
como objectivos: i) incorporar os custos ambientais nas decisões dos
produtores e dos consumidores, invertendo a tendência para considerar o
ambiente como um "bem gratuito", ii) caminhar para a plena
integração de custos sociais e ambientais nas actividades
económicas, e iii) aplicar, sempre que apropriado, os princípios
do mercado na elaboração de instrumentos financeiros e de
políticas na prossecução do desenvolvimento
sustentável. Quer dizer, as soluções de mercado
transmutaríam a prossecução do lucro e do interesse
próprio em virtude pública. Ora cometer ao mercado livre as
decisões sobre os problemas candentes por ele criados só é
garantia de que o poder permanecerá nas mãos dos que detêm
os recursos financeiros. Esta tendência já expressa na Cimeira do
Rio ganhou ainda mais universal expressão desde então, patente na
Cimeira de Joanesburgo de 2002.
Conclui-se que o grande capital antecipou a sua própria
"solução" para os problemas ambientais e desde logo de
uma acentada para o desenvolvimento sustentado, agindo habilmente desde a
década de 80 por intermédio não só de
associações empresariais, mas também de gabinetes de
estudos e consultoria "independentes" (muitas vezes em
prejuízo de centros universitários, mas utilizando o mesmo estilo
académico) e de ONGs subsidiadas. [
Hijacking sustainable development: A critique of corporate environmentalism
, Sharon Beder,
Chain Reaction
81, Summer 1999/2000, 8-10,
http://www.uow.edu.au/arts/sts/sbeder/esd/chainreaction.html
].
A OUTRA VISÃO IDEOLÓGICA DO AMBIENTE
Numa sociedade liberal a origem da democracia presume-se residir na sociedade
civil porém, na realidade, é o poder concertado dos governos com
as corporações que é determinante nas democracias
neoliberais. O poder da sociedade civil confina-se, de facto, à
expressão do descontentamento ou da desobediência. No curso dos
séculos XIII e XIX os arquitectos da democracia liberal colocavam as
suas expectativas na aliança da sociedade civil com a economia e a
ciência para realizarem uma sociedade igualitária, de liberdade e
afluência. A natureza, então considerada, erradamente, como uma
fonte inesgotável de vida e de recursos, foi tomada, também, como
factor de produção submetido aos desígnios da
produção económica; o interesse pela natureza reduziu-a
então a uma dimensão utilitarista. O surgimento, recente, de
preocupações com a vulnerabilidade e a finitude da natureza,
põe em cheque essa visão utilitarista, evidencia a
contradição subjacente a esse projecto de sociedade de liberdade
e abundância.
A adopção dos mecanismos de flexibilização do
Protocolo de Quioto, os respectivos instrumentos financeiros, traduz a
tentativa de forçada reformulação, pela democracia
liberal, de um discurso e um curso de acção conformes à
sua ideologia. Uma democracia liberal, fundada no princípio da
exploração do estado da natureza em proveito do estado de
comércio para atingir uma ordem social igualitária, não
aceitará explicitamente limites naturais ou económicos ao seu
modelo de acumulação de riqueza (ou crescimento). Uma crise
ambiental global, como a das alterações climáticas,
suscita na democracia neoliberal um novo interesse pela oportunidade de
capitalizar sobre a natureza, procurando resolver as contradições
ambientais emergentes do próprio processo de desenvolvimento,
reformulando-as em termos de ineficiência e insuficiência da
própria gestão. Nas recentes negociações sobre as
alterações climáticas, as democracias neoliberais procuram
pôr de pé um mecanismo político de "gestão do
clima" para o qual procuram encontrar expressão em termos
científicos e económicos [
Atmosphere for sale: Democratic failures in climate change negotiations
, John Byrne and Sun-Jin Yun, Center for Energy and Environmental Policy,
University of Delaware,
http://www.ne.jp/asahi/spena/energy-net/1999/jb.html
].
Confrontamo-nos com um problema de limite de capacidade de
regeneração do planeta Terra, análogo ao de limite de
recursos naturais não renováveis já encontrado noutras
circunstâncias. Estes limites colocam dificuldades às teorias
económicas neoclássica e neoliberal.
O problema do equilíbrio da relação do homem com a
natureza foi equacionado com sucesso por Karl Marx. A sua abordagem ultrapassou
a dos economistas clássicos do inicio do século XIX (J. Stuart
Mill, Thomas Malthus, James Anderson, David Ricardo), para quem a terra seria
um limite inultrapassável para o processo económico. A finitude
do solo disponível implicaria um limite para a capacidade de
subsistência o qual contrastaria com o natural crescimento exponencial
das populações, o que para Malthus serviu de argumento para
contrariar a ideia de redistribuição da terra e para negar a
necessidade de reforma social. Recordemos que por esse tempo as ideias
evolucionistas de Georges Couvier e chevalier de Lamarck, mais tarde de Charles
Darwin, eram ainda incipientes.
O materialismo de Karl Marx reconheceu o valor da observação
central de Malthus: os limites da natureza não podem deixar de ser um
constrangimento ao processo económico. Porém, Marx pôde
argumentar à luz da emergente ciência do solo, particularmente dos
respectivos processos químicos que o seu contemporâneo Justus
Liebig havia investigado. Ao contrário da precedente teoria
económico do solo e da respectiva renda, era já então
possível compreender que a produtividade do solo não é uma
propriedade inalterável, mas antes pode ser alterada pela actividade
humana, quer sendo degradada quer sendo melhorada, de modo que a produtividade
de um solo não é apenas determinada pelas condições
naturais mas é, ela também, parte de um processo
histórico. O solo deixou de ser percepcionado como parte de um fluxo
inalterado e permanente, para passar a ser entendido como um recurso que
poderia ser consumido (e até exaurido) mas também recuperado com
o fluxo de outros recursos. O pensamento histórico de Marx
contrapõe-se pelo optimismo ao pessimismo do pensamento político
de Malthus. Porque os problemas da relação entre a sociedade
humana e a natureza podem ser superados, se cientificamente compreendidos e
planificadamente resolvidos pelo sujeito da revolução social.
Será então possível conciliar o crescimento populacional
com a regeneração da disponibilidade dos recursos naturais e com
a elevação do nível de consumo. Teremos então uma
formação social em que as esferas social, económica e
biofísica coexistem em equilíbrio sustentável.
[
Facing up to our alienation from nature
, Kate McCabe,
http://socialistfuture.org.uk/livingplanet/articles/foster.htm
;
Marx Ecology Materialism and Nature
, J. Bellamy Foster, Monthly Review Press, ISBN 1-58367-012-2, 2000,
http://www.monthlyreview.org/jbfpref.htm
] .
O problema da atmosfera e de alterações climáticas
coloca-se, no fim do século XX, analogamente ao problema da terra e de
uso do solo, no inicio do século XIX. Quer num caso quer no outro, o que
está em causa é a relação do homem com a natureza,
em que a actual formação social se confronta com limites
naturais, por aí se confrontando com os seus próprios limites,
posto que do ponto de vista marxista as esferas humana e natural coexistem e
coevoluem. Hoje constatamos que temos de conviver com a nossa atmosfera como
temos de conviver com o nosso solo: cuidando das suas reais capacidades de
resistência e de regeneração, sem o que a produtividade de
um e a habitabilidade do outro se tornarão barreiras ao progresso da
sociedade humana ou até à sua sobrevivência a prazo.
3 Setembro 2002
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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