Senhor Embaixador da República de Cuba
Minhas senhoras e meus senhores
Meus amigos
Em Maio de 2001, estando presente nesta Embaixada o Presidente da
República de Cuba Fidel Castro, senti-me sobremaneira honrado ao saber,
pela leitura feita pelo Senhor Embaixador, de uma carta do Ministro das
Forças Armadas Revolucionárias, General de Exército Raul
Castro, que o
Conselho de Estado da República de Cuba, por proposta do seu
Presidente
decidira conceder-me em comemoração pelos meus 80 anos, uma das
mais altas condecorações que outorga o Estado Cubano, a Ordem da
Playa Girón, a qual se entrega
(são os termos da comunicação)
a cidadãos cubanos e estrangeiros, e a Chefes de Estado e de Governo,
que se destaquem extraordinariamente na luta contra o imperialismo e as
forças da reacção e por grandes actos a favor da paz e do
progresso da humanidade.
Cito estes termos e, do mesmo passo, desejo dizer-vos que esta
condecoração sobreleva os méritos que, porventura, terei
tido no decorrer do processo revolucionário que se desenvolveu, no nosso
país, logo a partir do dia 25 de Abril de 1974, após o
derrubamento do governo facista-colonialista, que oprimiu o povo
português e os povos das colónias, ao longo de quase meio
século.
É meu dever indeclinável associar, estreitamente, a esta elevada
distinção a aliança Povo-MFA, que foi motor das conquistas
de Abril.
Razões de ordem pessoal, nomeadamente, diversas situações
do meu estado de saúde, hoje, felizmente, ultrapassadas, impediram, como
era meu desejo, que me deslocasse a Havana, a fim de que a cerimónia de
imposição fosse realizada em ocasião propícia.
Esta ocasião veio a ser hoje, em Lisboa, na presença do
Embaixador Reynaldo Calviac, representando o Presidente da República de
Cuba, e na vossa presença.
O significado da Playa Girón é grande. São palavras do
próprio Chefe da Revolução Cubana:
... a partir daquela data o destino dos povos deste continente, na
liberdade e
na dignidade que conquistava um deles, frente à agressão do
poderoso império que os avassalava a todos, seria diferente. Porque,
diga-se o que se diga, a partir de Girón, todos os povos da
América foram um pouco mais livres.
Esta cerimónia realiza-se num momento em que a situação
que vive Cuba é de tal modo grave que, Fidel Castro declarou no passado
dia 1º de Maio, na Praça da Revolução:
Em nome do milhão de pessoas aqui reunidas neste Primeiro de Maio
desejo
enviar uma mensagem ao mundo e ao povo norte-americano. Não desejamos
que o sangue de cubanos e norte-americanos seja derramado numa guerra;
não desejamos que um incalculável número de vidas de
pessoas que podem ser amistosas se perca numa contenda. Mas nunca um povo teve
coisas tão sagradas a defender, nem convicções tão
profundas pelas quais lutar, a ponto de preferir desaparecer da face da terra,
antes de renunciar à obra nobre e generosa pela qual muitas
gerações de cubanos pagaram o elevado custo de muitas vidas dos
seus melhores filhos. Acompanha-nos a convicção mais profunda de
que as ideias podem mais que as armas, por sofisticadas e poderosas que estas
sejam.
Digamos como o Che ao despedir-se de nós: ATÉ À
VITÓRIA SEMPRE!
Neste momento, de tão pesadas e concretas ameaças para a
independência e a autodeterminação de Cuba desejo afirmar,
a minha profunda e bem sentida solidariedade com a Revolução
Cubana.
Cuba, bloqueada, demonstra, a todo o mundo, que é possível
resistir ao imperialismo, ao império norte-americano.
Mas esta resistência não é um acaso da história.
Ela é fruto de 44 anos de luta heróica, pela independência
nacional e pela autodeterminação, pela realização
de objectivos patrióticos e libertadores, luta inspirada, dia a dia,
pelos elevados exemplos de patriotas, como Céspedes, Maceo,
Martí, o pai da Revolução.
Ela é fruto da determinação e do empenhamento exemplares
do povo e da direcção política e ideológica da
Revolução, na construção de uma sociedade de
equidade e de justiça social, tendo, como horizonte, o socialismo.
Ela é fruto da própria ética da Revolução
desde o seu primeiro dia. Dirigindo-se aos amigos de Cuba, no passado dia 25 de
Abril, o Presidente Fidel Castro afirmou, com veemência:
Continuaremos a ser íntegros e consequentes, como temos sido desde
1959
até hoje. Jamais terão motivos para envergonhar-se do seu nobre
apoio.
Cuba, sofrendo um criminoso e cruel bloqueio, que prentendia reduzí-la
à rendição, pela fome, pela miséria, pela falta de
medicamentos, viu-se forçada, para, defender a Revolução e
o futuro, a adoptar medidas que não estavam no seu horizonte
revolucionário e que o contrariam.
Mas, Cuba, fiel aos princípios fundadores da Revolução
resiste. E pelo seu extraordinário exemplo de resistência, temos o
dever de afirmar a nossa gratidão. Cuba é credora da
gratidão e da solidariedade de todas as forças progressistas do
mundo.
Senhor Embaixador:
Solicito-lhe que transmita ao Presidente da República de Cuba, Fidel
Castro, ao Ministro das FAR, Raul Castro, aos membros do Conselho de Estado e
ao Povo Cubano a expressão da grande honra que sinto do mais fundo do
meu coração, e a minha gratidão por tão elevada
distinção.
Vasco Gonçalves
Este discurso encontra-se em
http://resistir.info
.