Produtividade, competitividade
|
EMPRESAS | SECTOR | VAB por Trabalhador em euros | Nº de vezes que o VAB mais elevado é superior ao menos elevado |
ECCO´LET- Fábrica de Sapatos
C&J. Clark-Fabrica de Calçado. |
Vestuário e Couro |
16.916
8.067 |
2 vezes |
A PENTEADORA Fiação Lãs
GRAÇAFIL-Fiação de Lãs |
Têxteis |
27.359
5.678 |
4,8 vezes |
TMN
OPTIMUS |
Telecomunicações |
542.639
186.577 |
2,9 vezes |
SELECT- Trabalho temporário
SECURITAS |
Serviços |
432.338
23.451 |
18,4 vezes |
ROCHE
Laboratórios VITÓRIA |
Produtos farmacêuticos |
116.522
55.845 |
2 vezes |
CIMPOR
SAINT GOBAIN PORTUGAL |
Minerais não metálicos |
246.954
60.722 |
4 vezes |
OTIS Elevadores
SCHINDLER -Ascensores |
Metalomecânica e metalurgia base |
48.713
19.135 |
2,5 vezes |
Electromecânica Portuguesa PREH
INFINEON Tecnologies |
Material eléctrico e de precisão |
19.693
103.947 |
5,3 vezes |
MOVELPARTES
JJ LOURO PEREIRA; SA |
Madeira, cortiça e móveis |
62.121
10.318 |
6 vezes |
SHELL
TOTAL |
Distribuição de combustiveis |
364.241
66.944 |
5,4 vezes |
Jerónimo Martins
Pingo Doce |
Distribuição alimentar |
59.050
18.269 |
3,2 vezes |
EPUL
CONTACTO- Soc.Construções |
Construção |
101.459
10.780 |
9,4 vezes |
IBM Portuguesa
TECNIDATA |
Comércio electrónico |
222.376
22.557 |
9,8 vezes |
Mercedes Benz Portugal
Honda Automóvel Portugal |
Comércio de automóveis |
192.415
18.594 |
10,3 v ezes |
LONGA VIDA
LACTICOOP |
Agro-indústria |
42.974
13.853 |
3,1 vezes |
Como os dados do quadro anterior mostram, a diferença de produtividade
é muito grande entre empresas a funcionar no mesmo país
Portugal sob as mesmas lei laborais as portuguesas e com
os mesmos trabalhadores os portugueses. Face a estes dados, a
conclusão que imediatamente é-se obrigado a tirar é que as
razões da baixa produtividade que se verifica ainda em muitas empresas
portuguesas não pode estar nem no facto delas funcionarem em Portugal,
nem por estarem subordinadas às leis laborais portuguesas, nem por
utilizarem trabalhadores portugueses, já que empresas em idênticas
situações (o mesmo país, as mesmas leis laborais, os
mesmos trabalhadores) apresentam diferenças de produtividade tão
grandes (a mais alta chega a ter um produtividade 10,3 superior à mais
baixa); consequentemente, as principais razões das grandes
diferenças verificadas na produtividade não podem estar naquelas
razões, como o governo e as entidades patronais pretendem fazer crer.
Como já se afirmou, a produtividade também poderá ser
calculada de outra forma, por exemplo dividindo a riqueza criada por cada
empresa pelo valor dos activos físicos (instalações,
máquinas, viaturas, dinheiro, etc.) utilizadas para obter aquela
riqueza. Esta forma de calcular a produtividade tem a vantagem de focar
imediata e directamente a atenção na gestão da empresa, ou
seja, de tornar clara a responsabilidade da entidade patronal, pois é da
sua exclusiva responsabilidade a forma como são utilizados os meios
físicos e monetários que empresa possui.
No quadro seguinte estão os valores referentes a algumas empresas que se
obtém calculando dessa forma a produtividade, ou seja, o valor da
riqueza criada (VAB) em euros por 1000 euros de ACTIVO da empresa.
EMPRESAS | SECTOR | Valor do VAB (em ) obtido por 1000 euros de ACTIVO | Nº de vezes que o valor de uma empresa é superior ao da outra |
C&Clark- Fabrica Calçado,Lda.
MARSIPEL Ind. Curtumes |
Vestuário e couro |
664
168 |
3,9 vezes |
TST- Transportes Sul do TejoSA
METRO |
Transportes e distribuição |
613
7 |
87,5 vezes |
A PENTEADORA
GRAÇAFIL-Fiação Lã e mistos |
Têxteis |
490
41 |
11,9 vezes |
VEDIOR- Trabalho Temporário
LUSOPONTE |
Serviços |
3308
33 |
100,2 vezes |
Tintas Robbialac, SA
QUIMIGAL |
Química |
509
132 |
3,8 vezes |
AVOM- Cosméticos
OCTAPHARMA |
Produtos Farmacêuticos |
944
100 |
9,4 vezes |
CIMPOR
SECIL |
Minerais não metálicos |
730
139 |
5,2 vezes |
HUF Portuguesa
LUSOSIDER-Aços Planos, SA |
Metalomecânica e Metalurgia |
661
100 |
6,6 vezes |
PREH, Lda.
Indústrias Cond. F. Cunha Barro |
Material Electrico |
519
150 |
3,5 vezes |
JJ LOURO PEREIRA, SA
SONAE TAFIBRA |
Madeira, Cortiça e Móveis |
443
35 |
12,6 vezes |
EUREST
ESTORIL SOL |
Hotelaria e restauração |
1155
221 |
5,2 vezes |
SHELL
BP |
Distribuição combustiveis |
336
68 |
4,9 vezes |
Pingo Doce
Jerónimo Martins |
Distribuição alimentar |
157
61 |
2,6 vezes |
Edificadora Luz Alves
CONTACTO-Soc. de Construções |
Construção |
426
45 |
9,5 vezes |
IBM Portuguesa
DLI-Distribuição Log. Informática |
Comércio Electrónico |
592
60 |
9,9 vezes |
ENTREPOSTO
Honda Automóvel |
Comércio de automóveis |
701
21 |
33,3 vezes |
Lacticínios VIGOR
PROLEITE |
Agro-Indústria |
194
21 |
9,2 vezes |
Portanto, o valor do VAB que se obtém com 1000 euros de Activo varia
também muito de empresa para empresa, atingindo mesmo no sector de
Serviços diferenças que atingem as 100 vezes ( o
valor em euros de VAB obtido com um activo de 1000 euros por uma empresa
é cerca de 100 vezes superior ao obtido por outra empresa com o mesmo
valor de activo).
Os dados do quadro anterior também mostram com clareza a
responsabilidade das entidades patronais nos resultados, em termos de riqueza
criada, obtidos pelos meios físicos à disposição
das empresas, bem como a forma como esses meios são geridos.
Num relatório da Comissão da União Europeia de 2002,
denominado European Competitiveness Report (Relatório sobre
a Competitividade Europeia), na pág. 30, e relativamente à
qualificação associada e necessária ao aumento da
competitividade, Portugal era o país da União Europeia que no ano
2000 o peso do emprego considerado neste estudo com de baixa
qualificação era mais elevado (76,7% do emprego total em
Portugal quando a média na UE15 era apenas 29,6%), e onde o peso do
emprego com qualificação média (o secundário) era
também mais baixo (13,1% em Portugal contra 46,3% na UE15). O peso do
grupo de qualificação mais elevada era em Portugal inferior, em
termos percentuais, a menos de um terço da média europeia (apenas
0,45% do emprego em Portugal, quando a média na UE15 atingia 1,57%).
Esta situação é um obstáculo importante ao aumento
quer da produtividade quer da competitividade das empresas e da economia
portuguesa, que urge alterar.
E isto torna-se ainda claro se se tiver presente que de acordo com o mesmo
relatório da Comissão o crescimento da empresas é
determinado pela sua capacidade para inovar, que depende da sua habilidade para
desenvolver e utilizar os avanços tecnológicos e para explorar as
oportunidades comerciais das suas inovações... O crescimento da
produtividade depende das actividades em Investigação e
Desenvolvimento (I&D).
E o relatório conclui que elevada intensidade em I&D nunca está
associada com baixa produtividade, enquanto reduzido esforço em I&D
está usualmente associado com baixa produtividade (pág. 17).
De acordo com um relatório elaborado pela OCDE sobre Investimento
global em Investigação, Desenvolvimento e Inovação-
1999, cujas conclusões foram transcritas no semanário
Expresso de 30 de Novembro de 2002, Portugal é o país onde
as empresas investem menos em investigação, Desenvolvimento e
Inovação (Portugal investe neste área menos de 1% do
seu PIB, enquanto a média na U. E. aproxima-se dos 2% do PIB, portanto o
dobro de Portugal).
Portanto, os empresários portugueses se quiserem entrar no verdadeiro
caminho de aumento da produtividade e da competitividade terão de
investir fundamentalmente e muito no campo da inovação seja ela ,
tecnológica, organização do trabalho, canais de
distribuição de distribuição, design, etc., e
qualidade, e não podem pensar que conseguem aumentar a produtividade e
competitividade reduzindo as já baixas remunerações e
direitos, e aumentando ainda mais precariedade que já é uma das
mais elevadas da UE15 ( Em Portugal, no 4T de 2001, 35,6% da
população activa já estava em situação de
precariedade de emprego, tendo os contratos a prazo aumentado, entre o
4ºT2000 e o 4T2001, em 12,8%).
E isto porque como afirmam também os especialistas da produtividade
Normain Gaither e Greg Fraiser o aumento da produtividade depende igualmente do
desempenho do trabalhador, o qual depende, por sua vez, não só
das suas capacidades mas também da sua motivação. E esta
última depende, como é fácil de compreender, da forma como
é respeitada a sua dignidade de ser humano e de trabalhador assim como
os seus direitos, das condições e ambiente de trabalho, da
organização de trabalho, das características da
liderança, da remuneração, etc..
Uma sociedade em que em primeiro lugar estão as empresas, a
competitividade e a produtividade e só depois as pessoas, como defendeu
já publicamente o presidente da CIP, é uma sociedade que
inevitavelmente perderá a batalha do desenvolvimento, da
competitividade, do progresso, e do bem estar, porque tudo isso é
só possível com as pessoas, e nomeadamente com a
participação empenhada e motivada dos trabalhadores, e nunca
contra eles, como está-se a procurar neste momento através da
Proposta de Lei de Código de Trabalho.
[*]
Economista. Representante da
CGTP-IN
no Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional (CEDEFOP).
Autor de numerosos livros acerca de problemas económicos. Email:
edr@mail.telepac.pt
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