PCP condena o Governo PS e a sua política
por Jerónimo de Sousa
[*]
São muitas as razões que justificam a apresentação
neste momento de uma moção de censura ao Governo e à
política do PS e de José Sócrates.
Nos últimos três anos, prosseguindo e acentuando
orientações anteriores, a política do Governo PS foi uma
política de empobrecimento, de injustiça e de desigualdade. Uma
política de claro benefício dos grandes interesses e de pesados
sacrifícios para a generalidade da população. Uma
sucessão de promessas não cumpridas!
A apresentação pelo Governo de um conjunto de propostas de
alteração do Código de Trabalho, em
articulação com a alteração da
legislação laboral na Administração Pública,
tornou imprescindível a apresentação de uma
moção de censura que agora anunciamos.
As propostas apresentadas, envolvidas numa mistificadora operação
de propaganda, constituem um ataque frontal aos direitos dos trabalhadores uma
formal declaração de guerra aos trabalhadores portugueses e, a
não ser derrotada, uma profunda regressão social.
Trata-se de facilitar os despedimentos individuais, tornando precários
todos os trabalhadores e aumentando a fragilidade dos que já o
são. Trata-se e de desregulamentar ainda mais o horário de
trabalho colocando a arbitrariedade patronal a decidir.
Trata-se de promover a redução dos salários e das
remunerações.
Trata-se de manter a eliminação do princípio do tratamento
mais favorável, aumentando as armas do patronato para a
compressão de direitos laborais.
Trata-se de tentar liquidar a contratação colectiva pela
caducidade, questionando direitos conquistados durante anos.
Trata-se de a pretexto de combater a precariedade conduzir à sua
legitimação e legalização.
Trata-se de comprometer a compatibilização entre a vida
profissional e a vida pessoal e familiar, de dificultar o apoio aos filhos ao
longo da sua vida de crianças e jovens, como se este apoio só
fosse necessário até aos 9 meses de idade.
Trata-se de fragilizar e enfraquecer a organização sindical
deixando campo livre aos patrões.
Trata-se de fazer o contrário do que o PS prometeu na
oposição e aprofundar o caminho iniciado por Bagão
Félix e pelo Governo PSD/CDS-PP.
E se estas razões, justificam por si só uma fortíssima
resposta política e social e uma não menos forte censura, existem
muitas outras razões que para o PCP tornam obrigatória e
incontornável esta moção de censura.
Ao longo destes três anos os salários da generalidade dos
trabalhadores diminuíram, com destaque para os da
administração pública. As pensões e reformas
mantiveram-se a um nível inaceitavelmente baixo, sendo que em
vários momentos sofreram diminuições reais face ao valor
da inflação.
Os jovens vêm a sua situação agravada e o futuro cheio de
incertezas com os baixos salários, a precariedade dos vínculos de
trabalho (contratos a prazo, recibos verdes, trabalho temporário, bolsas
de investigação e estágios) que comprometem a
organização e estabilidade de vida, dificultam o acesso à
habitação e ameaçam os direitos laborais.
Ao mesmo tempo que os lucros da banca e dos grandes grupos económicos
aumentaram sistematicamente.
Nestes três anos aumentaram os impostos directos e indirectos para os
trabalhadores e até para os reformados, enquanto se mantiveram amplos
benefícios fiscais para os sectores financeiros e escandalosas
possibilidades de planeamento fiscal para os grandes grupos económicos
em geral.
Ao mesmo tempo diminuíram os impostos pagos pelo sector financeiro,
mesmo com o aumento dos lucros.
Mantém-se um modelo de desenvolvimento assente em baixos salários
e na exploração dos trabalhadores, que se traduz igualmente no
abandono do sector produtivo nacional.
Os preços dos bens e serviços essenciais aumentaram.
O Governo determinou o encerramento de milhares de serviços
públicos por todo o país
A Administração Pública e os seus trabalhadores foram um
alvo preferencial das políticas do Governo, visando a
degradação dos direitos, do acesso e da qualidade do
serviço prestado e abrindo caminho à sua submissão a
interesses privados ou partidários.
A saúde está mais distante das populações e cada
vez mais cara. Enquanto o Serviço Nacional de Saúde é
sistematicamente sujeito a restrições financeiras e à
escassez de profissionais, o sector privado floresce à custa do
erário público e da redução da resposta dos
serviços públicos.
A escola pública está sujeita a um ataque cerrado, com a falta de
meios, a penalização dos professores e dos restantes
profissionais a fragilização dos direitos dos estudantes e a
degradação geral das condições de ensino e
aprendizagem.
O ensino superior é crescentemente subordinado a
orientações mercantis e elitistas, afastando-se dos objectivos de
formação e desenvolvimento que o deveriam marcar.
A política científica acentua a subordinação a
interesses externos em lugar dos interesses nacionais, transferindo crescentes
recursos para instituições estrangeiras, enquanto as nacionais
definham sem financiamento ou pessoal científico suficientes
O Estado está cada vez mais refém dos grandes interesses
económicos. A dança de ministros e outros responsáveis
entre funções no Estado e nos grupos económicos agrava-se.
A soberania nacional cede em favor dos ditames da União Europeia ou da
NATO.
Estamos conscientes da composição actual da Assembleia da
República. Sabemos que a apresentação de uma
moção de censura é uma iniciativa parlamentar que
não pode nem deve ser banalizada. Mas a situação para a
qual a política do Governo tem arrastado o País torna imperativa
a apresentação da Moção de Censura. Não
é possível ignorar nem a gravíssima situação
política, económica e social que o país vive, nem a
ofensiva do Governo contra os direitos e a dignidade dos trabalhadores e da
generalidade da população. Com esta Moção de
Censura queremos dar expressão a uma firme condenação de
políticas contrárias aos interesses dos trabalhadores e do povo.
Com esta Moção de Censura queremos dar expressão à
vasta frente de luta, protesto ao descontentamento à angústia e
revolta sentidos por centenas de milhar de portugueses.
Com esta Moção de Censura queremos afirmar a exigência de
ruptura com a política de direita e um rumo diferente para um
País mais justo!
Estamos certos de que esta moção de censura corresponde ao mais
profundo sentimento da maioria do povo português.
Assembleia da República, 30 de Abril de 2008
[*]
Intervenção na conferência de Imprensa do Grupo Parlamentar
do PCP.
O original encontra-se em
http://www.pcp.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=31833&Itemid=195
Este documento encontra-se em
http://resistir.info/
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