Fúria persecutória

   A fúria anti-comunista e persecutória do partido que se diz socialista manifestou-se mais uma vez na semana passada.    O PS — em aliança com o PPD/PSD no âmbito da Associação dos Municípios do Distrito de Beja — demitiu Carlos Lopes Pereira da direcção do Diário do Alentejo .

Lopes Pereira é um jornalista de alto nível cultural e intelectual. Ao longo de dez anos de actividade à frente do DA elevou o nível daquele outrora modesto jornal regional, tornando-o uma publicação digna, independente de partidarites e voltada para o interesses da sua região. Tanto em termos gráficos como de conteúdo Lopes Pereira soube conduzir o DA com firmeza, dedicação e isenção, tornando-o uma publicação séria e prestigiada. Tais qualidades tornaram-no insuportável para a reacção portuguesa, que só aprecia a mediocridade e o servilismo.

resistir.info envia um abraço de solidariedade fraterna a Carlos Lopes Pereira. Transcreve-se abaixo o seu último editorial, bem como a tomada de posição dos trabalhadores do DA relativamente à sua demissão.



Editorial
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Carlos Lopes Pereira A mudança de director é um acto normal na vida de um jornal.  No caso do "Diário do Alentejo", a substituição operada nos últimos dias reveste-se de aspectos escandalosos.  É, objectivamente, um saneamento político, prometido há muito por forças "democráticas" que nunca aceitaram – nem vão aceitar no futuro – que um jornal público possa ser dirigido de forma isenta e profissional, com princípios, sem que os seus responsáveis tenham de prestar vassalagem a ministros ou presidentes de câmara, nem obedecer a estratégias partidárias ou de grupos.  Para afastar o director do DA foram utilizados, ao longo de uma década, todos os meios: insultos, boicotes, chantagens, ameaças e, até, ilegalidades.  No Portugal de Abril, raramente um jornal terá sido tão pressionado e vilipendiado apenas por ter uma orientação democrática e progressista – de acordo com o seu estatuto editorial – e por ter cumprido o seu papel de agente de desenvolvimento de uma região deprimida.  O que dizer de gente que substitui o director de um jornal, em meados de Agosto, sem consultar jornalistas e outros trabalhadores?  O que dizer de gente que invoca um "pacto de silêncio" entre autarcas para não divulgar o andamento de um processo nebuloso que, pelo contrário, devia ser claro e transparente?  Que dizer de gente que tudo faz para que o responsável de um jornal prestigiado como o "Diário do Alentejo" tome conhecimento do seu afastamento pela comunicação social?  Que dizer de gente responsável que, com ambiguidades ou silêncios, é cúmplice de métodos destes?  Os trabalhadores, os colaboradores, os leitores deste jornal, os seus anunciantes, vão decerto continuar a contribuir para que o "Diário do Alentejo", que tem sido uma voz dos que não têm voz, seja cada vez melhor e mais independente.  Quanto a mim, agora noutras condições, continuarei, naturalmente, como cidadão e como jornalista, a dar o meu modesto contributo para uma comunicação social digna e de qualidade, e a lutar por um mundo mais fraterno e justo.

Carlos Lopes Pereira


Trabalhadores do DA tomam posição

Tendo tomado conhecimento, pela comunicação social, de que o Conselho de Administração da Associação de Municípios do Distrito de Beja pretende substituir o director do jornal, Carlos Lopes Pereira, os trabalhadores do "Diário do Alentejo" decidem, por unanimidade:

1. Repudiar a forma como todo o processo de afastamento do director do jornal se tem desenrolado, mantendo os trabalhadores do DA à margem, sem qualquer informação.

2. Exigir que os jornalistas, como determina a lei, e os trabalhadores em geral, como recomenda o bom senso, sejam consultados previamente a qualquer alteração na direcção ou estrutura do "Diário do Alentejo" e, sobretudo, sejam informados sobre o projecto pretendido para o jornal.

3. Manifestar solidariedade com o jornalista Carlos Lopes Pereira, que desde há uma década tem vindo a desempenhar no "Diário do Alentejo", com dedicação e competência, as funções de chefe de redacção e, mais tarde, de director.

Beja, 16 de Setembro de 2002
Os trabalhadores do "Diário do Alentejo":    Francisco Pratas, Carla Ferreira, Nélia Pedrosa, Margarida Leal, Sandra Serra, José Serrano, José Ferrolho, Aurora Correia, Antónia Bernardo, Cláudia Peneque, Leopoldo Santos, Mariana Spencer, Leonel Serafim.

Este documento encontra-se em http://resistir.info

23/Ago/02