As políticas neoliberais e a degradação da democracia
A subordinação do poder político ao poder económico
Para
conhecer
a realidade não basta a percepção sensorial. Não
basta olhar, ouvir, cheirar, apalpar. Há que localizar espacialmente e
dimensionar temporalmente a realidade apercebida a fim de que o conhecimento
seja minimamente humano.
Para
interpretar
a realidade não chega dispor dos ingredientes do conhecimento.
Não chega misturar o sentir, a localização, o
dimensionamento da realidade num todo aparentemente coerente. Há que
aplicar uma metodologia e confrontar esse conhecimento com uma perspectiva, com
ideias, com noções, com uma leitura da
História, com uma concepção.
Para
transformar
a realidade não é suficiente conhecê-la e
interpretá-la. Não basta conhecer aprofundadamente e interpretar
com o auxílio de um experimentado instrumental conceptual o que se passa
e o que se passou, ou até prever com pertinência e
pertinácia o que se irá passar. Há que agir!
Senão
a realidade social não se transformará, ou
não se transformará, decerto, segundo, e seguindo, o conhecimento
e a interpretação.
E todo este processo que é histórico e humano tem
uma tal complexidade que o conhecimento e a interpretação exigem,
e constroem, simplificações, e só assim se pode escorar a
acção com vista à transformação social. Essa
complexidade, sendo uma unidade dialéctica, sendo o resultado, sempre
precário, de uma luta de contrários, pode, por isso,
compartimentar-se metodologicamente, reflectindo a existência de
vertentes destacáveis sem prejuízo da unidade na sua complexidade.
Ora, sendo a realidade una e complexa, pode ser ambiental, cultural,
económica, política, social. Esta divisão da realidade, e
particularmente a sua compartimentação, tem sido utilizada
perversamente para contrariar a transformação da sociedade no
sentido da sua humanização e da sua socialização,
que serão dois vocábulos diferentes para dizer o mesmo.
Mas não se trata apenas dessa divisão.
-Ambientalmente, há alguns que beneficiam das agressões sobre a
natureza, as agressões que todos, sobretudo os vindouros, sofreremos;
-Culturalmente, há alguns que têm acesso aos ingredientes do
conhecimento, e manipulam-no em seu proveito egoísta. E há
aqueles para quem é inacessível a informação
ou são levados a julgar que a têm através de facultados e
bem manipulados ingredientes de conhecimento virtual como se isso fosse
informação;
-Na vertente económica multiplicam-se as divisões, como as que
começaram por seccionar, natural e biologicamente, o trabalho; como as
que vieram separar os produtores dos seus instrumentos de trabalho e meios de
produção; como as que separam os produtores dos consumidores, a
procura da oferta, as finanças das economias, a poupança do
investimento, como as que dividem os seres humanos entre os que se tornaram
proprietários e herdeiros de recursos naturais e adquiridos, para que
toda a humanidade contribuiu, e aqueles que apenas dispõem da sua
força de trabalho;
-No plano político, não haveria divisões
explícitas, ou elas iriam desaparecendo quando a dita democracia, a
formal, se vai instalando por vezes introduzida do exterior,
através de métodos anti-democráticos e impondo
abusivamente um modelo único pronto-a-servir: os homens e as mulheres
seriam cidadãos, todos iguais, cada homem um voto, cada mulher um voto,
direitos políticos iguais para todos
Mas será assim?;
-Socialmente não é assim, pois as diferenças
biológicas, ambientais, culturais, económicas, fazem os homens e
as mulheres socialmente diferentes, condicionados pelo grupo social a que
pertencem, e a igualdade política não é mais que
ilusória, sendo as divisões económicas as que, em
última instância, determinarão as diferenças nas
outras vertentes, e a partir do modo como os homens e as mulheres, enquanto
agrupados socialmente, estão posicionados perante a
produção, na sua acepção moderna e larga,
permanentemente a exigir actualização.
Qualquer aprendiz de sociologia diria melhor, ou talvez melhor: corrigiria!,
esta introdução, mas ela, assim formulada, é-me
indispensável para entrar no tema para que fui convidado, à minha
maneira e como meu contributo.
A separação entre o poder político e o poder
económico, que é questão prévia para que seja
aceitável a formulação de que um poder subordinaria outro,
é uma simplificação que se admite, metodologicamente,
desde que no quadro de uma abordagem unitária da realidade, mas nunca
como um entendimento de que a realidade é segmentável em
compartimentos autónomos, mesmo que não em compartimentos
estanques, com porta para a escada, casa de banho e cozinha privativas, e/ou
tão-só mutua e limitadamente dependentes e conviventes, com
entradas e serventias comuns.
Por outro lado, o facto de se ter a interpretação de que as
vertentes da realidade são intercondicionáveis não quer
dizer que se entenda que elas se possam confundir ou que não tenha
razão de ser a sua abordagem enquanto vertentes que, metodologicamente e
no quadro da unidade dialéctica integradora, devam ser encaradas com
alguma necessária, ou indispensável, especificidade.
A não ser assim, da estanquicidade cair-se-ia na promiscuidade. Que
são, aliás, os pólos entre que balançam, se
equilibram e saltitam os que ora defendem ser a realidade uma manta de retalhos
autónomos que a seu contento, ou que a bom grado dos seus interesses
ajustam (ou desajustam), ora defendem que todas as vertentes da sociedade se
apagam num pano de fundo, cinzento ou de outra cor que mais convenha.
Em Portugal, durante o fascismo, o chamado Estado Novo ilustrou como o poder
político aparentemente subordinou o poder
económico, particularmente o financeiro. Mas, é preciso ver um
pouco mais fundo, mais na essência da realidade, ao serviço dos
interesses económicos predominantes. No 28 de Maio de 1926, o general
ABC que desceu de Braga, vinha pôr ordem na política, vinha
instaurar um poder político forte, saneador das
finanças, cujo desequilíbrio traduziria o que seria o desnorte
político da novel república, com reflexos no poder
económico.
Numa certa leitura, é o poder económico,
o capital agrário, bancário, algum comércio e pouca
indústria, o sempre incipiente e mal organizado empresariado
português o incipientemente capitalista e mal organizado
empresariado português , que necessita desse poder
político forte, embora na aparência seja este
poder político que toma as rédeas da
condução social e que vem pôr ordem na economia,
subordinando-a. No entanto, essa subordinação vai no sentido do
poder político criar um poder económico,
ou de o estruturar por forma a que este exista como poder. Logo, não se
tratará de a subordinar, à economia, ou de o subordinar, ao
poder económico, mas de criar condições para
que exista, e forte, esse outro poder, entendido no quadro de
relações sociais prevalecentes e definidoras de um dado modo de
produção. Mais será a ilustração de uma
ligação muito forte, embora nada transparente, entre o
político e o económico, o que se pode
chamar uma salazarenta promiscuidade.
Durante o fascismo, o poder político caracterizou-se pelo
seu grau de intervenção e pelos seus níveis de
proteccionismo por via da repressão política, na esfera
estritamente política, mas também particularmente nos campos
sindical e social, por via da protecção relativamente à
concorrência, quer externa com o controlo das importações,
quer interna com essa máquina que foi o condicionamento industrial
e visava a criação de grupos económicos fortes para
o desmesurado espaço económico pluricontinental, isto é,
metrópole e colónias.
Poderá por isso dizer-se que esse recente período
histórico português exemplificará como um poder
político, aparentemente subordinador de um poder
económico, está ao serviço deste poder
económico, criando-lhe condições para se fortalecer,
enquanto expressão de um poder de classe multifacetado.
Estes processos são, evidentemente, contraditórios e nem sempre,
ou raramente, os poderes susceptíveis de se destacarem coexistem sem
tensões, ou até conflitos. Na estrutura do poder
político, entre o poder político e o
poder económico, no interior do poder
económico nas suas diversas dimensões entre peixe
miúdo e tubarões, também entre tubarões.
A exaustão do modelo corporativo-fascista, para o que a
guerra colonial, que foi extensão desse modelo, veio a
contribuir decisivamente, essa exaustão agravou as
contradições, tensões, conflitos, mas o seu
carácter ultra-conservador impossibilitou o encontro de saídas do
tipo da anunciada mudança na continuidade, pelo que a
mudança foi rotura e teve condições para iniciar um
processo com pendor revolucionário na sequência da
resistência e da sua organização.
Dir-se-á sempre simplificando e procurando motivar debate
que uma tarefa revolucionária, de transformação real da
sociedade nas condições criadas e construídas, seria a de
atacar o poder instalado, desde logo a promiscuidade entre o poder
político e o poder económico, o que
corresponderia a retirar, ao poder económico, nas
mãos de sete grandes grupos criados no/pelo fascismo, o domínio
do poder político a que, na aparência, estaria o
poder económico subordinado.
Assim, a democratização no imediato pós-fascismo teria de
passar pela assunção, ao menos transitória, de um papel
decisivo para a política no seu sentido restrito, pela
instauração de uma vertente institucional, ou seja, ao
nível dos direitos, liberdades e garantias, por um poder
político que se autonomizasse do anterior poder
económico, e que subordinasse este a novos objectivos para a
sociedade portuguesa, de cariz predominantemente sociais.
Foi um tempo de conquista de direitos, de instauração de
políticas de cariz social e de valorização da democracia.
Essas conquistas democráticas, só possíveis pela, se e
enquanto, libertação do poder político da sua
subordinante subordinação relativamente ao poder
económico.
Não se tratou, torne-se isto claro, da transformação
social revolucionária, mas de passos decisivos numa
democratização nacional, da vida social portuguesa. Tratou-se de
dar passos para uma democracia avançada. Não foi a tomada do
poder, ou dos poderes, mas sim a subordinação temporária
do poder económico a um poder político em
trânsito de democratização, com intervenção
determinante de partidos e de movimentos sociais, operários, de massas
populares.
Esse processo teria de ter, inevitavelmente, resistência
contra-revolucionária, com a utilização do forte
poder económico para impedir ou travar de todas as
formas, incluindo pelo terrorismo a democratização real do
poder político.
A Constituição de 1976 é documento significativo para esta
abordagem uma vez que define, com toda a clareza (e talvez utopia ou
irrealismo), o objectivo da transformação das
relações sociais de produção, o primado do
interesse colectivo sobre os interesses particulares e, a partir daí, a
subordinação dos sectores privados da economia, legítimos
e desejáveis, aos sectores cooperativo e público, este a integrar
os sectores-chave do poder económico a serem detidos pelo
poder político para que a definição e a
regulação da política económica, e as
políticas económicas, privilegiassem o primado do interesse da
colectividade.
Não está nos meus propósitos, naturalmente, aproveitar
este episódio por mais importante que ele
nos
seja para além da ilustração factual,
histórica, da questão da relação
subordinante/subordinado entre poderes, entre o poder
político e o poder económico, como
mudança decisiva estimulante ou condicionadora na
democratização da política e na
implementação de políticas sociais, em favor dos
trabalhadores e das populações.
Mas não foi só em Portugal. Os meados da década de 70 do
século XX são um marco num processo de dimensão mundial na
relativa libertação do poder político da sua
subordinação ao poder económico, isto
é, ao condicionamento quase total da evolução social a
partir das relações sociais de classe na esfera económica,
processo que, tendencialmente, viria do termo da segunda guerra e da derrota
dos fascismos e das fórmulas coloniais de ocupação e de
exploração de espaços continentais por
nações-metrópoles imperiais.
Depois, foi o regresso do poder económico, pela via do
primado do financeiro, dos instrumentos e dos critérios nominativos que
se foram instalando, aos poucos e, por vezes, aos saltos, como se fossem
receitas ou panaceias únicas e inevitáveis para o bem estar de
todos
que, depois, nunca chega, ou que chega só para alguns,
agravando enormemente as desigualdades sociais e as assimetrias regionais.
Foi o monetarismo, o neo-liberalismo, o desemprego como variável
estratégica em vez do emprego como centralidade do desenvolvimento. Foi
um regresso acompanhado e escorado numa intensa luta
política em que a mundialização das
relações económicas e as novas condições
materiais tiveram papel de relevo. A crescente mobilidade dos factores
produtivos, a 3ª revolução industrial com
particular incidência nas comunicações telefone,
televisão, informática , a criarem condições
objectivas nivas que foram aproveitadas pelo poder económico
ainda dominante que, assim, veio reforçando o seu domínio,
transnacionalizando-o, passando por sobre as fronteiras, globalizando-se.
As políticas neo-liberais, ao princípio escondidas atrás
de uma modernidade e de um tecnicismo insistentemente apresentados como
apolíticos, foram um cavalo de Tróia que foi
recuperando posições do poder económico nas
instâncias decisivas do poder
político
, a níveis nacionais e a níveis inter e transnacionais.
O que, por outro lado e igualmente, foi possível pelo acumular de
i)
ausência de ideologia de classe,
ii)
fragilidades ideológicas,
iii)
de desatenções, distracções, erros e facilitismos,
por parte de forças sociais e políticas que, tendo tido, ao cabo
de duras lutas, acesso a parcelas e instâncias do poder
político, a todos os níveis, estariam enredadas, ou se
teriam deixado enredar, na ilusão de uma neutralidade da
política, pairando esta acima da luta social, tida por arbitral.
Assim se teria permitido que a luta (de classes) fosse sendo escamoteada por
quem a praticava, incessantemente, levando-a a tomar formas que faziam o
curto-circuito entre o nível ideológico do fim das ideologias e o
constante reforço de relações sociais na base
económica, impondo o domínio tendencialmente desregulamentado de
um poder económico classista, explorador da força de
trabalho, especulativo, polarizador da riqueza acumulada e em crescimento pela
ininterrupta, embora não linear, actividade humana de
transformação e de criação.
As políticas neo-liberais são o resultado desse regresso em
força da economia enquanto mercado, enquanto finança, enquanto
negócio, enquanto aplicação de capital, desse regresso
à condução da política, à
subordinação do poder político, assim se
substituindo, ignorando, desprezando, a economia enquanto actividade social, de
organização do aproveitamento dos recursos, naturais e adquiridos
ou transformados para a satisfação das necessidades sociais.
A economia de mercado foi erigida em ideologia, e a política, o
poder político, passou a ter a missão de criar as
condições para pôr em prática, salvaguardar,
reforçar essa ideologia desideologizante, que nega as ideologias, e com
o apoio dela cumprir a missão reaccionária, conservadora do tipo
de relações sociais e do modo de produção contra o
processo histórico humanizador e socializante, potenciador da
individualidade inapagável nos colectivos.
Vive-se uma etapa histórica em que o capitalismo (a)parece
pletórico, ao mesmo tempo que assusta na força
incomensurável das suas fragilidades e contradições.
A dita globalização é uma fase neo/ultra liberal,
imperialista e imperial do capitalismo, global transversalmente, porque
estendido a todo o espaço planetário, e global verticalmente,
porque alastrando de alto a baixo de todas as actividades humanas, todas
susceptíveis de se mercadorizarem, de serem fautoras de lucro e de
acumulação, da venda da água ao comércio da
saúde e da educação e actividades correlativas ou efeitos
colaterais.
Por sua natureza, no capitalismo o poder político
está subordinado ao poder económico. Não por
uma perversão específica do modo de produção e do
sistema, mas porque, perversamente, isto é, contra a humanidade, se
serve da interconexão entre o político e o
económico e utiliza a superestrutura seja ela o
poder político, a comunicação social, a
cultura coca-colonizadora, e que, em última instância, é
determinada pela base económica para salvaguarda,
manutenção e reforço das relações sociais de
produção.
No entanto, se nos fixarmos em duas referências temporais de que me
servi, o fascismo em Portugal, onde essa subordinação parece
evidente embora muitas vezes escamoteada, e esta fase que vivemos, é
indispensável bem considerar e ponderar que a História não
se repete. Ou que não se repete da mesma maneira, ou que se repete de
maneiras diferentes.
Há trinta anos, a concentração e a
centralização do capital tinha expressão em pólos
nacionais e multinacionais, e o poder político a subordinar
no interesse das relações sociais de produção
prevalecentes tinha fronteiras que, hoje, ou não existem, ou são
ultrapassadas quando e como servir o poder económico.
Hoje, o capital financeirizou-se, desmesuradamente, e, colocando ao seu
serviço conquistas da Humanidade, circula por auto-estradas da
informação sem limites de velocidade e sem sinais de
trânsito a que deva obediência. Transnacionalizou-se.
A insubordinação do poder político, ou seja, a
libertação de instâncias políticas da
subordinação ao poder económico, ainda que
temporária e precária, para a conquista de posições
e de direitos, para o avanço da democratização e do
progresso social o que não é o mesmo que a
transformação social revolucionária não pode
repetir experiências que no passado resultaram
enquanto resultaram,
isto é, enquanto não houve recuperação
contra-revolucionária.
Até porque, vindo ao encontro do título genérico desta
conferência em que se insere a minha intervenção, as
condições em que se exerce o poder político,
por via da sua subordinação ao poder económico
transnacionalizado se alteraram, com evidente degradação da
democracia embora coincidente, contraditoriamente, com um massificado
acesso à comunicação cocial fazendo convergir, ou
devendo fazer convergir a luta pela democracia política,
susceptível de se arremedar ou remendar, com a luta pela democracia
económica, bem mais difícil de aceitar ou conquistar.
O que me traz a duas observações finais.
Primeiro
, as novas condições, sendo como são as
condições sempre novas, não anulam ou menos-validam a
dimensão dinâmica,
o processo
, pelo que, se as experiências são irrepetíveis, têm
ensinamentos indispensáveis para o confronto com as novas
condições em que se faz a mesma luta, a luta contra um modo de
produção e um sistema que, tendo mudado, se mantém o mesmo
na sua essência. E a luta, contra uma sociedade baseada na
exploração do homem pelo homem, só se pode fazer com
gente, com gente organizada, e só pode fazer-se, para ser eficaz, a
partir dos locais onde se estrutura o poder económico que
subordina o poder político.
Não que se menospreze ou desvalorize a luta ao nível do
poder político, dos direitos, liberdades e garantias
cidadãs, mas não pode essa luta substituir a que ataca o cerne da
estrutura social que se globaliza, a que não fica à porta das
fábricas, localizem-se elas na península de Setúbal ou na
América Latina, a que faz face a outras concretizações
materiais do poder económico, aí se devendo organizar
e actuar.
Segundo
, quer o poder económico, quer o poder
político, ou melhor: este por subordinação
àquele, ganharam dimensão planetária. A aparência
superficial que dissimula a luta de classes, de que falava Marx em
O 18-Brumário de Luís Bonaparte
, tornou-se mais larga e, por vezes, mais espessa. Ao nível da luta
política surge um grande reforço do uso demagógico dos
chamados direitos eternos do homem que, ainda como escrevia Marx em
1852, há século e meio, isto é, desde o século
XVII, eram defendidos por todos os partidos ditos populares (e tendo outras
designações), ao nível do poder
político. No entanto, se se observar mais de perto, se se estudar
o poder económico no que é e no que esconde, essa
aparência superficial desaparece e surge, em todo a sua brutalidade e em
toda a sua globalizada expressão, a luta de classes. Daqui, a
distinção fundamental entre as posições do que
Marx, ainda nesse texto, chama os
partidos da ordem
ou as
fracções do partido da ordem
, que podem até ter acções de grande mérito
social ao nível do poder político, e a luta
prosseguida pelos movimentos e organizações que têm um
conhecimento e uma interpretação da realidade que os leva a
procurar, sempre, o rumo e o caminho da transformação social. Nem
sempre bem, muitas vezes mal, mas incansavelmente buscando a convergência
das lutas no sentido da tomada de consciência e da acção
revolucionárias.
E tanto mais haveria para dizer neste fórum e sobre este tema
Termino com a esperança de ter sido capaz de suscitar debate.
[*]
Economista. Intervenção no Fórum Social Português,
07-09/Jun/2003.
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