O Povo está farto de quê e de quem?
por Cid Simões
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"O engano vestido de eloquência, e arte, atrai,
e a verdade mal polida nunca persuade".
Matias Aires
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É uma minúscula Freguesia de um pequeno Concelho; e este
microcosmo social e político absorve e cultiva toda a retórica e
esmiúça as subtilezas da arenga política, nascida e
levedada nos laboratórios das grandes urbes.
A campanha eleitoral vai demarcando o seu espaço ideológico,
delineando estratégias, marcando ritmos. Abertas e orgulhosamente
claras, ou vergonhosa e envergonhadamente encapotadas e obviamente torpes, as
mensagens aí estão.
Cada vocábulo é um projéctil concebido à medida do
alvo a atingir; a tortuosidade implícita nas frases ambíguas abre
espaço à lengalenga enfadonha de lugares-comuns e, pior ainda, o
não dito de raiz venenosa lança a dúvida contra a qual
não há defesa possível.
A trapaça, porque poluente, envolta em plásticos sujos de meias
verdades, ou como Óscar Lopes tão bem a observa e define:
"a consciência de que a intrujice ideológica, ou outra, actua
quase sempre, não pela mentira em estado puro mas por meios de
composição ou montagem, empolando pequenas coisas e minimizando
as realmente características",
espalha-se qual mancha de óleo.
E os tartufos, usando argumentos sinuosos, deliberadamente imprecisos, jogam
com subentendidos de difícil, se não impossível
descodificação; apresentam-se, normalmente, como ignorantes na
matéria que eles próprios chamam à liça; assumem-se
como não participativos, e para estes farsantes, todo o cidadão
que se disponibiliza para cooperar na vida democrática é de
imediato rotulado: "são todos iguais", intróito-escudo
à prova de toda ou qualquer tentativa de conversa ou discussão
coerentes.
Curioso é observar que epítetos como "são todos
iguais" ou "o que eles querem é tacho" surgem nos locais
onde é fraca a implantação das forças afectas a
quem utiliza este discurso e, dada a incapacidade de pugnar por propostas
justas, enveredam pelo trabalho de sapa, procurando minar o terreno alheio.
Estas calúnias, sem ponto de mira nomeado, mas de alvo bem definido,
têm raízes profundas que buscam o seu sustento nas fossas do
antigamente. Por curioso que pareça, não conheço
alguém que tivesse sido incomodado por achincalhar a política e
demonstrar desdém por esta actividade. Era furiosamente perseguido quem
ousasse criticar os governantes, mas nunca por denegrir os políticos e
muito menos a actividade política em geral.
Na impossibilidade de, abertamente, defender a política que sufragam nas
urnas, há quem enalteça os movimentos de cidadania. Descoberta
relativamente recente desta nossa qualidade de sermos cidadãos onde quer
que estejamos, ou tentativa grosseira para fomentar o individualismo e esvaziar
de conteúdo ideológico de quem quer que de boa fé os
acompanhe.
Em minúsculas Freguesias ou Concelhos, no País, as
populações desmobilizam. O terreno é propício
à abstenção. Depois, depois os mesmos que propagam a
confusão, ufanos, repetem a ladainha de que o povo está farto.
Farto de quê, e de quem?
01/Junho/2011
O original encontra-se em
http://aspalavrassaoarmas.blogspot.com/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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