Barreto e a universidade abécula
por Fernando Campos
A cidade alentejana de Castelo de Vide transforma-se, no Verão, numa
verdadeira escola de Atenas. Trata-se da "universidade de Verão do
PSD".
Contudo, não é bem bem como a escola de Atenas da antiguidade;
é mais como uma espécie de secundária da Atenas da
actualidade; ou seja, não há abécula que para lá
não vá leccionar nem grunho que de lá não venha
carregado de
cunhecimentos.
Um destes notáveis mestres do
cunhecimento
é
António Barreto
, o sociólogo que foi ministro da Agricultura e que achava que o
país não precisava de produzir o que consumia, que bastava
importá-lo. E que por isso, restituiu as propriedades agrícolas
aos seus "legítimos proprietários", que delas fizeram
belas segundas residências com piscina, campos de golfe, reservas de
caça ou estâncias (agora diz-se resorts) de turismo rural. O bom
homem pensava que o futuro seriam os "serviços": aviar copos e
fazer camas aos turistas seria o glorioso desígnio para um merecido
desenvolvimento.
Abandonada a agricultura, o país alegremente abandonou também a
indústria e as pescas, entrou de
carrinho
para o Mercado Comum Europeu e, logo a seguir, para a União Europeia.
Ou seja, depois de perder o império e descer ao inferno, em 1975,
Portugal depressa descobriu uma nova terra de Preste João, onde a
árvore das patacas está sempre em flor; o país não
precisaria enfim de fazer nada; compraria tudo feito. A Europa que lhe vendia
os produtos, emprestar-lhe-ia também o dinheiro para os pagar; enfim, o
paraíso na terra.
Barreto, o sociólogo, realizou mesmo um muito celebrado
documentário para a televisão onde pintava um retrato dourado e
amável do Portugal dos últimos trinta anos, por fim livre do
atraso da ruralidade.
Só que, entretanto, o país descobriu de repente que está
endividado. Que não faz a ponta de um corno e consome mais do produz. E
Barreto, eureka, descobriu a pólvora. E foi a correr anunciá-la
ao Alentejo, à "lusatenas" do PSD: que a culpa não
é toda da Constituição de 1976 (revista todos os
três quinze dias desde então) mas que ela
"é um horror"
. É
"barroca"
, disse ele. E disse mais: que
"urge fazer uma nova e aprová-la em referendo"
. Mais ou menos como se elegeu o maior português de todos os tempos..
A coisa promete.
Como Barreto acha que a justiça no anterior regime até era melhor
do que a actual, não me admira que proponha o regresso à
Constituição de 1933. Toda a gente sabe que depois do barroco
veio o classicismo. Seria um regresso, "rapidamente e em
força" claro, aos clássicos.
Faz sentido. Como
"maitre à penser"
de abéculas, Barreto deve pensar, naturalmente, que o regresso ao
passado é a única solução com futuro.
06/Setembro/2011
O original encontra-se em
ositiodosdesenhos.blogspot.com/2011/09/barreto-e-universidade-abecula.html
Este artigo encontra-se em
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