Aclamação para os verdadeiros vitoriosos da
revolução de Rupert
por John Pilger
Em 13 de Setembro é inaugurada em Londres uma das maiores feiras de
armas do mundo, com o apoio do governo britânico. Em 8 de Setembro, a
Câmara de Comércio e Indústria de Londres apresentou uma
antevisão intitulada "Médio Oriente: Um mercado vasto para
companhias britânicas de defesa e segurança". O patrocinador
foi o Royal Bank of Scotland, um grande investidor em bombas de
estilhaçamento
(cluster).
Segundo a Amnistia Internacional, as vítimas de bombas de
estilhaçamento são 98 por cento civis e 30 por cento
crianças. O Royal Bank of Scotland recebeu £20 milhões de
dinheiro público. No anúncio para a festa de armas do banco
lê-se: "O Médio Oriente é uma das regiões com o
maior número de oportunidades para companhias britânicas de defesa
e segurança. A Arábia Saudita... é o principal importador
de defesa do mundo, tendo gasto US$56 mil milhões em 2009... uma
região muito valiosa a visar".
Tais são as prioridades do governo de Cameron depois da grande
vitória "humanitária" na Líbia. Como declarou
outrora Margaret Thatcher: "Alegrem-se!" E como os banqueiros e
mercadores de armas aumentam a graduação dos seus óculos,
não vamos esquecer os heróicos pilotos da RAF que tornaram a
Líbia nossa outra vez pela incineração de
incontáveis "elementos pró Kadafi" nos seus lares,
camas e clínicas, nem os desconhecidos apoiantes da indústria
britânica de drones em
Menwith Hill
, Yorkshire
, que, antes e depois do almoço, providenciam a informação
de alvos dos drones de modo a que mísseis
Hellfire
possam arrasar lares e sugar o ar para fora de pulmões, uma
especialidade. E
aclamações para o sítio de teste de drones da
QuinetiQ
, em Aberporth, e para a UAV Engines Limited, em Lichfield.
A missão humanitária do ocidente não está
totalmente terminada. Cerca de seis meses depois de conseguir uma
resolução das Nações Unidas autorizando "a
[protecção] de civis e áreas populadas civis sob a
ameaça de ataque", a NATO está a despejar bombas de
fragmentação sobre Sirte populada por civis e outro "redutos
de Kadafi" onde, diz um repórter do Channel 4 New, "até
que cortem a cabeça da cobra, os líbios não se sentem
seguros". Cito isto não pela sua qualidade Orwelliana mas como um
exemplo do papel do jornalismo em justificar antecipadamente os
"nossos" banhos de sangue.
Isto é a Revolução de Rupert, afinal de contas. Nestes
dias a imprensa de Murdoch já não utiliza a palavra
"insurgentes" como pejorativa, como fazia antes. A
acção na Líbia, diz
The Times,
é "uma revolução... tal como as
revoluções costumavam ser". Que isto é um golpe de
uma ganga de ex-comparsas e espiões de Muammar Kadafi em conluio com a
NATO dificilmente é notícia. O auto-designado "líder
rebelde", Mustafa Abdul Jalil, era o temido ministro da Justiça de
Kadafi. A CIA dirige ou financia a maior parte do resto, incluindo velhos
amigos da América, os mujadeen islâmicos que desovaram a al-Qaeda.
Contam aos jornalistas só o que eles precisam saber: que Kadafi estava
prestes a cometer "genocídio", do que não há
evidência, ao contrário da abundante evidência de massacres
"rebeldes" de trabalhadores negros africanos falsamente acusados de
serem mercenários. A transferência secreta feita por banqueiros
europeus do Banco Central da Líbia de Tripoli para a Bengazi
"rebeldes" a fim de controlar os milhares de milhões do
petróleo do país foi um roubo gigantesco de pouco interesse.
A totalmente previsível acusação a Kadafi perante o
"tribunal internacional" em Haia evoca a charada do agonizante
"bombista de Lockerbie", Abdelbaset Ali Mohmed al-Megrahi, cujo
"crime odioso" foi posicionado para promover as
ambições do ocidente na Líbia. Em 2009, Al-Megrahi foi
devolvido à Líbia pela autoridades escocesas não por
razões misericordiosas, como foi relatado, mas porque o seu há
muito aguardado recurso teria confirmado a sua inocência e descrito como
ele foi tramado pelo governo Thatcher, como revelou o memorável
desmascaramento de Paul Foot. Como antídoto para a propaganda actual,
insto-o a ler uma demolidora perícia forense da "culpa" de
el-Melgrahi e seu significado político em
Dispatches from the Dark Side: on torture and the death of justice
(Verso) da eminente advogada de direitos humanos Gareth Peirce.
Não se deve minimizar a ditadura odiosa de Kadafi, um destino para as
"rendições" do MI6 como ficamos agora a saber. Mas o
seu ódio não tem relação com a
violação do seu país por caricaturas imperiais tais como
Nicholas Sarkozy, um islamófobo napoleónico cujos serviços
de inteligência quase certamente montaram o golpe contra Kadafi.
Telegramas diplomáticos dos EUA divulgados pelo WikiLeaks revelam o
pânico do ocidente sobre a recusa de Kadafi a entregar a maior fonte de
petróleo na África e as suas aberturas à China e à
Rússia.
A propaganda confia não só em Murdoch como também em vozes
aparentemente respeitáveis que induzem à amnésia
histórica.
The Observer,
o qual ainda tem de pedir desculpas pela sua catastrófica
promoção de não existentes armas de
destruição em massa no Iraque, está sob o domínio
da "honrosa intervenção" de Sarkozy e Cameron e dos
seus motivos "humanitários e emotivos". Seu colunista
político Andrew Rawnsley completa um impressionante feito duplo. Como
nos recorda o Media Lens, em 2003 Rawnsley escreveu acerca do Iraque: "A
portagem da morte não foi tão alta como fora amplamente
receado". Um milhão de iraquianos mortos depois, Rawnsley insiste
em que, na Líbia "a Grã-Bretanha actuou bem" e "o
número de baixas civis infligidas pelos ataques aéreos parece ter
sido misericordiosamente ligeiro". Conte isso aos líbios com seres
amados aniquilados pelos Hellfires amigos das corporações.
A NATO atacou a Líbia para conter e manipular um levantamento geral
árabe que apanhou os dominadores do mundo de surpresa. Ao
contrário dos seus vizinhos, Kadafi chegou ao poder pela
negação do controle ocidental das riquezas naturais do seu
país. Por isto, ele nunca foi esquecido e a oportunidade para o seu fim
foi agarrada da maneira habitual, como mostra a história. O historiador
americano
William Blum
tem mantido o registo. Desde a segunda guerra mundial, os Estados Unidos
esmagaram ou subverteram movimentos de libertação nacional em 20
países e tentaram derrubar mais de 50 governos, muitos deles
democráticos, e lançaram bombas sobre 30 países, e
tentaram assassinar mais de 50 líderes estrangeiros.
Alegrem-se!
O original encontra-se em
www.johnpilger.com/articles/hail-to-the-true-victors-of-rupert-s-revolution
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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