Preço do petróleo fecha acima dos US$100 por barril

  • Líderes mundiais ignoram este sinal de escassez iminente
  • A ignorância da realidade conduz a desastres energéticos
  • O governo português nada faz para minimizar o impacto da crise que se aproxima
  • É urgente substituir o consumo de petróleo por outros combustíveis
  • Dois têrços do petróleo consumido em Portugal é gasto nos transportes
  • por Gail o Actuário

    Produção de petróleo em 48 estados dos EUA, Alasca e Mar do Norte. O preço de fecho de US$100 por barril é um sinal de que os tempos nunca voltarão a ser os mesmos. "O mundo está a entrar numa nova era. Nesta nova era, a oferta de energia dominará a paisagem política de um modo que não está a ser reconhecido por qualquer dos candidatos presidenciais", segundo TheOilDrum.com.

    Nos últimos anos, jornais e revistas asseveraram aos cidadãos que não haveria problema quanto ao futuro abastecimento de petróleo. Alguns artigos sugeriram que os preços do petróleo seriam mais baixos no futuro, que eles poderiam até entrar em colapso devido ao excesso de oferta.

    Ultimamente, certos artigos publicados fizeram algumas ressalvas. Referiam-se à necessidade de aumentar o investimento, tanto na exploração como na melhoria das tecnologias de produção. No entanto, os media não diziam que as taxas de retorno sobre os novos investimentos provavelmente seriam muito baixas. Em algum momento tornar-se-á economicamente desinteressante continuar a pesquisar em busca de pequenas quantidades de petróleo e gás cuja extracção é dispendiosa.

    O problema com que as companhias de petróleo se deparam é que há um número finito de reservatórios de petróleo, e muitos deles tem estado a produzir durante mais de 50 anos. Em tempos, uma grande parte do petróleo que originalmente ali estava foi extraída. O petróleo que se extrai agora sai vagarosamente e muitas vezes vem misturado com uma alta proporção de água.

    A fim de manter a produção elevada, são feitos furos adicionais no reservatório. Mas em algum momento a estratégia de aumentar o número de furos para manter a produção deixa de funcionar. A produção de petróleo de um campo que produz há muito começa a declinar, não importa quantos novos furos sejam efectuados. Peak Oil Curriculum - Parte 1

    Segundo Gail Tverberg, em TheOilDrum.com, "Este problema de se atingir o declínio irreversível acontece para todas as regiões, tal como acontece para campos individuais". Exemplo: a produção de petróleo em 48 estados dos EUA atingiu o pico em 1970. A produção estado-unidense desde então declinou de um máximo de mais de 9,6 milhões de barris/dia para o nível actual em torno dos 5 milhões de barris/dia (1 barril = 185 litros). Mais recentemente, os campos de petróleo do Mar do Norte, do Alasca e do México também começaram a declinar.

    Quando cada vez mais áreas se esgotam, os campos mais pequenos são trazidos à produção. Porque eles principiam com menos petróleo, estes campos pequenos não perduram por tanto tempo. A actividade da perfuração deve ser aumentada a fim de encontrar campos ainda mais pequenos. Estes, por sua vez, esgotam-se ainda mais rapidamente, exacerbando a necessidade de novos furos.

    Segundo TheOilDrum.com, "O mundo está agora a atingir o ponto em que o agregado, todos os campos de petróleo do mundo, estão a chegar ao pico de produção". Quando o pico mundial da produção se aproxima, pode-se esperar que a taxa de aumento da produção de petróleo estagne devido ao constrangimento de recursos. Isto pode acontecer mesmo com procura em ascensão. Uma vez que a produção caia a menos do que é necessário, pode-se esperar que os preços do petróleo aumentem, de modo a que a procura seja ajustada à oferta disponível.

    As consequências da escassez da oferta de energia podem ser surpreendentemente grandes. A escassez de energia pode levar à inquietação pública, tal como se verificou recentemente em Myanmar. Em tempos de clima inclemente, a escassez de energia pode levar a uma perda de oferta exportadora se o fornecedor considerar que a procura interna está a consumir tudo o que está disponível. Os problemas para os países importadores tornam-se então, subitamente, piores.

    A escassez de energia pode perturbar indústrias básicas e levar a declínios da divisa, como mostrou a recente experiência da África do Sul. A crise de energia na África do Sul

    Segundo Gail Tverberg, "Preços mais altos da energia podem aumentar os preços dos alimentos e podem afectar a capacidade das pessoas para pagarem as suas hipotecas. Portanto, os preços da energia podem afectar o sector financeiro". Peak Oil Curriculum - Parte 2

    Há agora um frágil equilíbrio entre a procura e a oferta disponível. Todos aguardam o próximo anúncio da OPEP, a 5 de Março. Será que a OPEP reduzirá a produção? Será que a deixará na mesma? Mesmo neste país [EUA], qualquer incidente menor numa refinaria torna-se motivo de preocupação, e de um possível remoinho nos preços do petróleo.

    A produção mundial é agora cerca de 85 milhões de barris/dia. Embora algum aumento deste nível possa ser possível, é improvável que a produção diária alguma vez chegue aos 90 milhões de barris/dia. "Algumas grandes organizações previram uma futura produção mundial de 120 milhões de barris/dia ou mais, mas estas estimativas não são realistas", segundo TheOilDrum.com.

    Nos próximos meses, o fecho do preço de referência a US$100 será perdido no debate sobre outras questões. Mas a questão da oferta limitada de petróleo não é uma questão que virá a ser ultrapassada. Ela, ao contrário, aumentará firmemente de importância. Finalmente, haverá clamores por acção, e por bodes espiatórios a culpar – a maior parte deles provavelmente dentro do primeiro mandato dos candidatos presidenciais.

    "Os candidatos presidenciais actualmente pouca atenção prestam à política energética. Isto precisa mudar", segundo TheOilDrum.com. Seria melhor se os candidatos pudessem mudar o seu enfoque antes de os eventos os forçarem a mudá-lo. Até então, contudo, os sinais da aproximação de uma crise energética foram amplamente ignorados.

    Acerca de The Oil Drum

    The Oil Drum é uma comunidade baseada na web que discute todos os aspectos da energia – desde o científico e tecnológico até os seus impactos sociais e geopolíticos. Os seus editores e leitores provêm de muitos disciplinas na academia e na indústria. The Oil Drum tem uma equipe de mais de 20 pessoas, incluindo aqueles dos Estados Unidos, Canadá, Europa e Austrália.

    A organização superior de The Oil Drum é o Institute for the Study of Energy and Our Future. O Instituto é financiado unicamente por contribuições privadas e rendimento publicitário do sítio web The Oil Drum.

    Mais informação acerca do Pico Petrolífero e os seus impactos sobre a segurança energética está disponível no sítio web The Oil Drum ( www.theoildrum.com ).

    O original encontra-se em http://www.theoildrum.com/node/3649

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

    21/Fev/08