Uma breve explicação económica do Pico Petrolífero

por Chris Skrebowski [*]

Durante um certo número de anos houve um debate árido entre economistas e geólogos acerca do Pico Petrolífero (Peak Oil). Os geólogos sustentavam que o Pico Petrolífero (produção máxima) é um imperativo geológico imposto porque as reservas são finitas mesmo que a sua magnitude exacta não seja, e não possa ser, conhecida.

Em contrapartida muitos economistas sustentam que os preços resolverão quaisquer deficiências constantes da oferta ao proporcionar incentivos para desenvolver fontes mais caras ou substitutos. Os economistas mais optimistas concedem que a adaptação pode ser lenta, inconfortável e economicamente desordenada.

A realidade, acredito, é que ambos os grupos têm parte da resposta mas que o Pico Petrolífero é, de facto, um fenómeno complexo mas em grande medida economicamente conduzido pois verifica-se no momento em que: O custo da oferta incremental excede o preço que as economias podem pagar sem destruir o crescimento num dado momento do tempo. Se bem que difícil provar definitivamente, há considerável evidência circunstancial de que há um preço do petróleo que as economias não se podem permitir sem severos impactos negativos.

O actual fracasso da maior parte das economias ocidentais em atingir algo mais do que um crescimento mínimo este ano (2011) é mais provavelmente porque os preços do petróleo já estão a níveis que inibem severamente o crescimento. Na verdade, investigação dos consultores de energia Douglas-Westwood conclui que altas (spikes) dos preços do óleo da magnitude vista este ano correlacionam-se perfeitamente com recessões.

O corolário é que se os preços do petróleo regridem e mantêm-se a níveis que não inibem o crescimento, então o crescimento económico será retomado, com recuperações e baixas a atrasarem-se em relação a mudanças no preço do petróleo em 1-6 meses.

O exame de curvas convencionais de custo mostra custos de desenvolvimento que vão desde US$45/barril (saudita) a US$90/b (areias betuminosas canadianas e petróleo pesado Orenoco da Venezuela) com a maior parte das fontes incrementais em águas profundas nos US$70-US$80/b. Simplistamente a curva de custo histórica da produção, em ordem de aumento de custo, vai do Médio Oriente onshore, para outros OPEP onshore, não-OPEP onshore, OPEP e não OPEP águas profundas, areias betuminosas canadianas/petróleos pesados venezuelanos. Os custos incrementais seguem grosso modo a mesma ordem.

Deveria ser observado que há amplas divergências em estimativas dos custos de desenvolvimento do petróleo dependendo do que é incluído e do tratamento dos custos financeiros, lucros e encargos gerais. Aqueles aqui utilizados são estimativas dos preços necessários para justificar um novo e grande desenvolvimento.

Para a maior parte dos produtores da OPEP as receitas do petróleo e do gás são a principal fonte de rendimento e de receitas do governo. Há muita literatura a mostrar que quando os preços do petróleo sobem as despesas do governo produtor sobem e absorvem a maior parte se não a totalidade do ganho muito rapidamente.

A chamada "Primavera árabe" acrescentou uma nova faceta a este processo. Governos num certo número de países OPEP e alguns produtores não-OPEP aumentaram dramaticamente despesas governamentais para reduzir o risco de revoltas sociais que os derrubariam. Despesas militares e de segurança acrescidas vão a par de maiores benesses e benefícios para a população.

A Arábia Saudita demonstra dramaticamente este fenómeno. Nas projecções orçamentais mais recentes os sauditas precisam de um preço do petróleo de US$90-US$100/b para equilibrar suas receitas e despesas, do contrário incorrem em défices e consomem reservas financeiras. É provável que muitos, se não todos, membros da OPEP tenham como pontos de ruptura (breakeven) entre receitas e despesas preços do petróleo comparáveis àqueles dos sauditas.

Isto significa que, quaisquer que sejam as declarações públicas, a maior parte dos membros da OPEP agora exige preços do petróleo em torno dos US$100/barril para equilibrar sua contabilidade e procurarão assegurar preços mais elevados pela, se necessário, restrição da oferta. Contudo, sob suficiente pressão económica os preços do petróleo cairiam com graves impactos sobre os orçamentos da OPEP.

Como a Arábia Saudita é o único produtor de petróleo com significativa capacidade de reserva declarada, suas políticas efectivamente estabelecem o preço mundial de venda para o petróleo. Todos os outros fornecedores são efectivamente tomadores de preço (price-takers) e venderão ao mais alto preço disponível para eles. Outros produtores além da Arábia Saudita têm o poder negativo de levar a preços mais altos pela redução da produção mas há poucos, se é que algum, preparado para renunciar ao rendimento actual na esperança de maior rendimento numa data futura.

Como consequência a Curva de oferta incremental efectiva de petróleo (Effective Incremental Oil Supply Curve, EIOSC) é, na realidade, surpreendentemente plana e situada na amplitude dos US$80-US$110. No futuro imediato esta é a amplitude mais provável para os preços do petróleo. Uma recessão tem o potencial para levar os preços abaixo da amplitude US$40-US$60 mas isto é provável que seja por um prazo relativamente curto pois o reviver da actividade económica, disparada pelo preço mais baixo do petróleo, conduziria os preços do óleo outra vez para o alto.

Uma escalada dos custos de desenvolvimento do petróleo está a acontecer agora e continuará, porque a dotação mundial de petróleo "fácil" está ultrapassada. No 1º trimestre de 2011 o índice IHS/CERA Upstream Capital Costs Index ascendeu para 218 em relação ao ponto baixo de 200 em 2009 e agora está na tendência para ultrapassar o pico de 230 do 3º trimestre de 2008. O aumento de despesas de governos produtores, tanto em países da OPEP como não-OPEP, significa também que o EIOSC terá a ascender.

A ascensão está realmente a ser conduzida pelo esgotamento do petróleo de baixo custo, facilmente explorável, e a sua substituição (neste momento) pelo petróleo menos acessível e de custo mais elevado [NR 1] . As probabilidades de qualquer queda significativa e sustentada do preço parecem remotas, salvo uma grande depressão global.

A oferta incremental não-OPEP no período 2011-2016 no aumento da ordem de custos vai dos biocombustíveis (várias fontes), óleos de xisto (EUA agora, China mais tarde), líquidos do gás natural (NGLs, várias fontes), Brasil (águas profundas), EUA (offshore), Canadá (areias betuminosas) e com ganhos mais pequenos do petróleo geralmente de baixo custo da Colômbia (onshore) e Casaquistão (onshore e offshore).

Quanto à OPEP, a oferta incremental em 2011-2016 pode vir da sua actual capacidade de reserva, possuída predominantemente pela Arábia Saudita, ou de novas capacidades. Só três membros da OPEP têm planos realistas para expandir a capacidade. O maior incremento vem do Iraque, com incrementos um tanto mais pequenos de Angola e da UEA.

A tabela abaixo tenta mostrar a dimensão e os custos prováveis destas ofertas incrementais.

Os ganhos na produção do petróleo principal e dos NGLs antecipados para 2011-2016 e os seus custos prováveis de desenvolvimento.
País
Ganho de produção
(milhão b/d)
Custo incremental do petróleo
(US$/barril)
Comentário
Não OPEP
Canadá 1.0-1.2 70-90 Areias betuminosas
Brasil 0.9-1.1 60-80 Tudo em águas profundas
NGLs 0.5-0.7 50-80 Várias fontes
EUA offshore 0.2-0.3 70-80  
EUA óleo de xisto 1.2-1.5* 50-70 Bakken et al
Colômbia 0.2-0.4 40-60  
Casaquistão Offshore 0.1-0.2 70-80 Múltiplos atrasos
Casaquistão onshore 0.1-0.2 50-70 Atrasos
Outros não OPEP 0.2-0.3 40-70 Principalmente África
OPEP
Iraque 1.1-1.3 40-60 Preocupações de segurança
Angola 0.6-0.8 70-80 Águas profundas
UEA 0.4-0.5 50-70 Redesenvolvimentos
OPEP NGLs 1.4-1.6 40-60  
Outros OPEP 0.5-1.0 40-80 Aumentos & declínios
Bank of America/Merrill Lynch

Portanto os geólogos estão certos em que o esgotamento do petróleo de baixo custo produzirá o Pico Petrolífero mas ele não será causado por uma escassez de recursos petrolíferos.

Os economistas estão certos em que não há escassez de recursos petrolíferos ou substitutos para o petróleo mas até agora deixaram de reconhecer que há um preço do petróleo ao qual não pode aceder e este constrangimento criará e definirá um Pico Petrolífero económico a ser diferenciado do Pico Petrolífero geológico.


Idealmente precisamos identificar uma curva de preço para mostrar o ponto do crescimento económico em que este desaparece mas somos confrontados com a opacidade dos dados. Acreditamos que os US$147/barril em meados de 2008 ajudou a disparar a "Grande recessão" mas a economia global estava a enfraquecer desde o fim de 2007. Sabemos que o aumento nos preços para cerca de US$120/b no 2º trimestre de 2011 trouxe o crescimento para perto de uma paralisação num certo número de economias ocidentais e nomeadamente na Europa. Mas neste caso as economias não se recuperaram realmente da "Grande recessão". A análise de Douglas-Westwood também mostra que em economias maduras, tais como os EUA, há um impacto económico significativo a mais de US$90/barril. Em contraste, a China provavelmente pode aguentar preços do petróleo na amplitude dos US$100-110.

Também sabemos que os baixos preços do petróleo do fim de 2008 / princípio de 2009 ajudaram a estimular tanto a recuperação económica como também uma recuperação rápida da procura de petróleo. Em 2010 o consumo global de petróleo ascendeu 3,1% segundo da estatística da BP, Review of World Energy de Junho de 2011, o mais rápido crescimento na procura já visto desde 2004. Vários estudos têm mostrado uma correlação estreita entre subidas agudas do preço do petróleo e recessões económicas nos EUA, com a única excepção da recessão dotcom de 2001/02 que não foi afectada pelo preço do petróleo. Na verdade, um estudo do economista James Hamilton, da Universidade da Califórnia-San Diego, liga a altas do preço do petróleo as 10 das últimas 11 recessões.

Os EUA mostram mais claramente o padrão de elevação dos preços do petróleo a arrefecerem o crescimento económico, provavelmente porque a tributação dos produtos petrolíferos é baixa, o que significa que mudanças no preço do óleo repercutem quase linearmente na economia. Como se pode esperar, o efeito torna-se mais amortecido em economias europeias as quais oneram com altas taxas de impostos os produtos petrolíferos em geral e a gasolina e o gasóleo em particular.

Países produtores de petróleo que subsidiam a utilização do combustível podem aparentemente ser virtualmente imunes em termos do impacto sobre o crescimento económico no curto prazo, embora o impacto finalmente se apresente como um crescimento das despesas governamentais bem como a pródiga e ineficiente utilização de combustíveis. A Venezuela e grande parte do Médio Oriente são exemplos notáveis.

Em países consumidores com subsídios ao combustível, os programas de apoio ao preço são muitas vezes acompanhados por limites de preços (price caps). Face a aumentos rápidos do preço do óleo ou são atingidos os orçamentos nacionais ou surge escassez de combustível como tem sido o caso tanto no Irão como no Paquistão, dentre outros.

De acordo com a World Energy Outlook 2010, da Agência Internacional de Energia, em 2009 os maiores subsídios do governo ao consumo de petróleo, em percentagem do preço e em ordem descendente foram:   Irão (desde então reduziu), Arábia Saudita, Índia, Egipto, Venezuela, Indonésia, Iraque, China e Argélia.

Mas todos estes países são, em última análise, reféns da procura chinesa. Por si própria, a China representa cerca da metade do crescimento da procura para a maior parte das commodities num ano típico. O crescimento de economias do Médio Oriente e de fornecedores de commodities como o Brasil, vários países africanos, bem como a Austrália e Canadá são em grande medida derivativos do crescimento da China. Se a procura da China fosse zero, os sectores mineiro e petrolífero do Brasil enfraqueceriam e, com eles, a economia brasileira como um todo.

Que preço, então, pode a China suportar? O registo histórico mostra tremenda volatilidade mas, em geral, aparentemente o país pode permitir-se gastar 6,3%-6,7% do seu PIB em despesas com petróleo bruto, ou aproximadamente US$100-110/barril. Quando os preços estão acima deste nível, tanto o consumo de petróleo da China como o seu crescimento do PIB tendem a cair. Isto é um bom bocado mais alto do que os US$90/barril estimado como preço suportável para os EUA e Europa.

Por que a tolerância da China é mais alta? Porque o valor do petróleo ali é mais elevado. Por exemplo: é razoavelmente claro que o benefício económico do primeiro carro numa família é muito maior do que o do terceiro. Analogamente o ganho de produtividade do primeiro camião numa frota comercial é maior do que o do vigésimo. Esta observação sugere que economias em industrialização rápida tais como a da China e da Índia têm maior produtividade marginal de um barril incremental de petróleo do que em economias mais desenvolvidas.

Isto por sua vez coloca uma questão terrífica: Será que esta mais alta tolerância ao preço significa que economias em desenvolvimento poderiam manter economias desenvolvidas numa estagnação sem crescimento ao pagarem preços do petróleo bem acima daqueles que provocam uma travagem económica em economias desenvolvidas?

Os desafios são claros. Historicamente, os preços do petróleo utilizados pelas companhias para aprovação de projectos permaneciam bem abaixo da capacidade de carga da economia estado-unidense. Exemplo: em 2004 operadores estavam a aprovar projectos assumindo um preço do petróleo de US$20, embora a economia dos EUA fosse teoricamente capaz de manejar um preço próximo dos US$60. Contudo, no seu inquérito mais recente o Barclays Capital indica que as hipóteses orçamentais dos operadores ascenderam para US$87, literalmente a capacidade de carga máxima da economia dos EUA (e provavelmente da europeia).

Portanto, de acordo com as tendências actuais, as companhias de petróleo estarão a aprovar projectos que proporcionarão petróleo a preços literalmente incomportáveis para as economias avançadas (ver Gráfico 1).

Gráfico 1.

A realidade sem dúvida seria menos bem definida, pois crescimento económico em economias emergentes também estimula actividade. Exemplo: o rápido crescimento da China criou uma enorme concentração de capital; portanto os EUA viram um choque duplo em 2008, provocado por um lado pelo baixo custo de capital e, por outro, pelo alto preço do petróleo. Mas o crescimento de mercados emergentes deveria, em termos práticos, proporcionar mercados de exportação e capital a baixo custo para ajudar as economias avançadas a adaptarem-se para viver dentro de orçamentos de energia mais pequenos. [NR 2]

Como ocorrem respostas adaptativas em termos de veículos mais eficientes, mudanças sociais e organizacionais tais como mais trabalho doméstico e melhorias económicas de energias alternativas, as economias tornar-se-ão mais capazes de enfrentar preços mais altos de petróleo e sofrer menos economicamente.

Contudo, com base nas reacções após a primeira (1973) e segunda (1979) crises do petróleo, as respostas adaptativas são lentas (levam 10-20 anos) ao passo que os preços do óleo foram mais rápidos ao moverem-se de US$25 para US$100 em oito anos, entre 2003 e 2011.

Se respostas adaptativas forem bastante rápidas e suficientemente grandes, os preços do petróleo podem ser grosso modo estáveis. Elas evidentemente agora não o são.

Há uma medida da resposta adaptativa no ganho de eficiência para o petróleo utilizado. A resposta adaptativa é utilizar petróleo mais eficientemente ou recuar para utilizações com valor acrescentado mais baixo ou mudar para outros combustíveis. Qualquer destes caminhos aparece como eficiência melhorada na utilização (volume de petróleo por unidade de PIB). Durante muitos anos isto tem estado em torno de 2% ao ano (embora algumas fontes acreditem que 1,2% é um número mais preciso). A AIE agora utiliza um percentual de 3%, sugerindo que eles acreditam que o processo está a acelerar.

Entre 2003 e 2008 os preços do petróleo subiram a US$10/ano. Após a recessão esta tendência (US$10/ano) foi restabelecida (ver Gráfico 3). O gráfico 2 (ver abaixo) plota uma ascensão do preço de petróleo de US$10 por ano e um ganho de produtividade de 3% por ano (resposta adaptativa). O gráfico mostra os aumentos de preço, conduzidos para cima pelo esgotamento, ultrapassando as respostas adaptativas que os preços mais altos induzem, até chegar a um cruzamento em 2014. O cruzamento dá a temporização do Pico economicamente determinado porque é atingido um preço de petróleo economicamente destrutivo e que não pode ser pago durante qualquer espaço de tempo.

Gráfico 2.

Esta análise agora dá um método alternativo de determinar a provável temporização do Pico Petrolífero. O outro método é determinar os fluxos líquidos de capacidade incremental (nova capacidade menos esgotamento) e o saldo do mesmo contra a trajectória de crescimento mais provável.

A datação do Pico Petrolífero utilizando esta abordagem económica dá resultados quase idênticos ao cálculo baseado na oferta incremental líquida (nova capacidade menos esgotamento) com ambas as abordagens a mostrarem 2014/2015 como o ponto de esmagamento. Esta coincidência não é surpreendente pois a maior parte dos projectos de desenvolvimento petrolífero remanescentes são de alto custo (águas profundas, areias betuminosas, Árctico).

É provável que os preços do petróleo se reforcem no avanço para o Pico Petrolífero, quer isto seja atingido devido a constrangimentos geológicos quer por constrangimentos de acessibilidade dos preços. Isto pode ter o efeito de fazer com que o Pico avance pois mudar rapidamente os preços tende a inibir o investimento adequado, particularmente se houver uma volatilidade de preço significativa dentro da tendência de preço. Algumas das companhias maiores e financeiramente mais fortes podem ser capazes de manter o investimento ao longo do ciclo mas aquelas mais fracas descobrirão que isto é difícil.

A resposta adaptativa chave a altos preços do petróleo, pelo menos inicialmente, é substituição de combustível. Na década de 1970 cerca de 25% de todo o petróleo foi para produção de energia eléctrica como fuel oil pesado. Actualmente, no mundo da produção eléctrica, o petróleo está em 4% e em queda, tendo sido substituído por carvão, gás e nuclear. Analogamente a utilização de petróleo para aquecimento (gasóleo/óleo de fornalha) está em declínio e em grande parte deslocada pelo gás embora a eficiência na utilização e a melhoria de isolamentos tenham desempenhado a sua parte.

Gas to liquids (GTL), Coal to liquids (CTL), Biomass to liquids (BTLO) e Enhanced Oil Recovery (EOR) têm potencial para aumentar a oferta de óleos líquidos como faz o óleo de algas. No momento apenas os custos do GTL são economicamente robustos e só se houver uma oferta garantida de gás a baixo custo. Segundo a AIE, actualmente o custo mais baixo destas ofertas incrementais potenciais é CO2 EOR a seguir GTL, outros EOR, BTL e CTL.

O novo desafio é que, com 70-75% do petróleo indo globalmente para o sector do transporte, e 80-85% nos EUA, como poderá ou será substituído? A mudança radical – mudar para a energia eléctrica – ainda não é plenamente económica e está é realmente a única aplicável ao transporte de superfície [NR 3] . Os biocombustíveis estão a ser promovidos activamente mas são realmente apenas prolongamentos dos combustíveis convencionais. Além disso o desafio alimentos ou combustível não foi plenamente resolvido [NR 4] . Os chamados biocombustíveis de segunda e terceira geração resolvem o dilema alimentos/combustível mas ainda não são económicos. A utilização de gás natural para o transporte em lugares como Paquistão, Índia, Brasil, Irão e outras economias emergentes [NR 5] está a tornar-se razoavelmente generalizado. Contudo, em todas as economias, qualquer transição leva tempo significativo e requer investimento.

Em suma, a capacidade para substituir combustíveis derivados do petróleo no sector dos transportes, excepto a longo prazo, é bastante limitada [NR 6] enquanto a procura por transporte cresce fortemente, particularmente na Ásia, África e América do Sul. Além disso, há uma frota global já existente de mais de 800 milhões de veículos que andam a gasolina e gasóleo.

Utilizações de alto valor acrescentado do petróleo, tais como solventes e lubrificantes, quase certamente aguentarão preços do petróleo mais elevados e a eficiência na utilização será conduzida pelos preços mais altos. Matérias-primas petroquímicas constituem outra utilização de alto valor acrescentado mas mesmo aqui tem havido um movimento notável da utilização da nafta petroquímica para os Líquidos de Gás Natural (NGLs), etano, propano e butano.

Em suma, a substituição relativamente directa dos fuel óleos pesados e dos óleos de aquecimento já foi feita na maior parte ao passo que a tarefa difícil de substituir combustíveis dos transportes mal começou.

Todas as indicações são de que respostas adaptativas fracassaram tanto em termos de dimensão como de velocidade para restringir a firme ascensão dos preços do petróleo verificada a partir de 2003. A única quebra neste aumento firme do preço do petróleo verificou-se em resultado da crise económica de 2008 e da subsequente "Grande recessão".

Gráfico 3.

A conclusão parece ser que:

A menos e até que respostas adaptativas sejam grandes e suficientemente rápidas para constranger a tendência altista dos preços do petróleo, a resposta adaptativa primária serão crashes económicos periódicos de uma magnitude que deprima o consumo e os preços do petróleo. Isto tem o efeito de comutar o consumo dos consumidores estabelecidos – as economias avançadas – para os novos consumidores nas economias em desenvolvimento.

Isto foi exactamente o que aconteceu na última recessão quando entre o arranque da recessão em Janeiro de 2007 e o seu fim efectivo no primeiro trimestre de 2011 a procura ascendeu 4,4 milhões de b/d na área não-OCDE e caiu em 4 milhões de b/d na área OCDE.
[NR 7]

Agradecimento: Gostaria de agradecer a Steve Kopits e Robert Hirsch por toda a ajuda e apoio que deram e por valiosas contribuições para este artigo.

19/Agosto/2011

[NR 1] A Lei da Renda Diferencial é conhecida desde o tempo de David Ricardo. Foi retomada por Marx no Livro III de "O Capital".

[NR 2] A Suécia tem um plano para eliminar o petróleo da sua economia até o ano de 2020, substituindo-o em grande parte por gás natural convencional e gás natural produzido localmente a partir de resíduos (biometano).

[NR 3] A afirmação não é verdadeira e além disso os veículos eléctricos nunca poderão substituir generalizadamente os veículos actuais, por múltiplas razões. Nos transportes, o único substituto em escala maciça para a gasolina e o gasóleo é o gás natural (comprimido ou liquefeito). Já existem cerca de 14 milhões de veículos a gás natural em circulação no mundo e há países em que mais da metade do parque automóvel já funciona a gás natural. O autor, aparentemente, sabe muito de petróleo mas pouco de transportes.

[NR 4] O referido desafio apresenta-se apenas para os biocombustíveis líquidos, mas não é o caso do biometano cuja produção é feita a partir de resíduos e portanto não compete com alimentos.

[NR 5] Os veículos a gás natural não circulam apenas nos lugares mencionados pelo autor e sim em praticamente todos os países do mundo, inclusive os da Europa.

[NR 6] Não é limitada desde que haja governos lúcidos quanto à política energética e de transportes. Exemplo: o Irão – cujo governo determinou que toda a indústria automobilística do país passasse a produzir apenas veículos a gás natural – está a substituir rapidamente todos os veículos com combustíveis tradicionais do seu parque automóvel. A transformação (retrofitting) para o gás natural de motores com combustíveis tradicionais também é simples e pouco onerosa. Só existe limitação quando há incapacidade dos governos para contrariar os interesses estabelecidos da indústria petrolífera.

[NR 7] O sublinhado a vermelho é de resistir.info.


[*] Fundador e director da Peak Oil Consullting , Wikipedia

O original encontra-se na ODAC Newsletter , Setembro/2011. Tradução de JF.


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
04/Out/11