Vários grandes economistas avançaram teorias prevendo uma queda tendencial da taxa de lucro sob o capitalismo. Marx viu neste facto uma consciência da parte deles da transitoriedade essencial do sistema capitalista. Mas apesar de algumas destas teorias terem validade lógica, outras não têm. Dentre estas últimas está a teoria de Adam Smith.
Adam Smith atribuiu a queda tendencial da taxa de lucro à “excessiva” acumulação de capital. O seu argumento era que em qualquer indústria particular, se cada vez mais capital se acumular e cada vez mais for produzido, haverá então uma queda no preço em relação ao custo de produção. Portanto, a margem de lucro por unidade de produto cairia e, uma vez que o produto por unidade de stock de capital é um dado, isto significaria uma queda na taxa de lucro, ou seja, lucro por unidade de stock de capital. Exatamente o mesmo, pensava ele, valeria para a economia como um todo; quanto mais capital se acumulasse na economia, também nesse caso haveria um declínio análogo na taxa de lucro.
Contudo, este raciocínio obviamente está errado. O que é verdadeiro numa esfera individual de produção pode não ser verdadeiro para a economia como um todo: numa esfera individual de produção, quando o capital se acumula e mais trabalho é empregue, a procura adicional que é gerada para o produto extra vem apenas do interior desta esfera, pois por hipótese a produção e o rendimento noutras esferas não estão a mudar. E desde que um aumento unitário do rendimento em qualquer dada esfera não dá origem a um aumento unitário da despesa para o produto só daquela esfera, o aumento da procura pelo produto dessa esfera deve ser inferior ao aumento no valor da sua produção (ao preço de base) que ocorre devido à acumulação. É isto que provoca uma redução do preço em relação ao nível de base e, por conseguinte, da margem de lucro e da taxa de lucro.
Quando olhamos para a economia como um todo, contudo, este raciocínio deixa de se manter. A procura na economia como um todo é obviamente pela totalidade do produto produzido naquela economia (estamos a ignorar questões como comércio, as quais não são aqui pertinentes). Se ocorre acumulação na economia, então mais produtos de todos os bens são produzidos, assim como mais produtos de todos os bens são procurados. Poderia naturalmente haver excesso de procura por alguns bens e excesso de oferta de outros aos preços base, mas isso em si é inteiramente irrelevante para a questão da taxa de lucro na economia como um todo. Não há razão alguma para que a taxa de lucro na economia devesse cair por causa da acumulação de capital, pelas razões sugeridas por Adam Smith. O argumento de Smith é válido para uma única esfera de produção, mas a analogia entre a esfera única e a economia como um todo se desfaz.
Se bem que o argumento original de Smith fosse incorreto, ultimamente tem havido uma tentativa de alguns escritores da esquerda americana de ressuscitar um argumento smithiano no sentido de que a acumulação de capital, devido puramente ao facto da concorrência, cria uma tendência rumo a uma queda da taxa de lucro. Este argumento afirma que o progresso tecnológico que acompanha a acumulação de capital provoca um aumento da produtividade do trabalho e, portanto, para qualquer dado nível de salários monetários, uma queda dos preços que for suficientemente grande provoca uma redução da taxa de lucro.
Contudo, isto só aconteceria se a queda no preço fosse maior do que a queda na unidade média do custo do trabalho, ou seja, se a queda no preço a qualquer dada taxa de salário monetário, devido ao progresso tecnológico, fosse tal que a parte dos salários aumentasse, de modo que, para qualquer produção dada por unidade de capital social, a taxa de lucro caísse. Mas não há absolutamente nenhuma razão para que um tal aumento do peso dos salários devesse ocorrer, ou seja, para que a queda dos preços fosse maior do que a queda do custo médio unitário do trabalho. Dizer que a parte dos salários aumenta com o progresso tecnológico é apenas uma afirmação, com pouco apoio teórico ou empírico.
Deixando de lado este argumento neo-smithiano, há três argumentos básicos avançados em teoria económica para explicar porque deveria haver uma tendência da queda da taxa de lucro, cada um dos quais soa perfeitamente lógico e é teoricamente plausível. Alguém poderá contestar a validade empírica de um ou outro destes argumentos em qualquer determinado momento, mas não de todos eles.
O primeiro é o argumento de Ricardo, o qual assevera que à medida que a acumulação prossegue, a procura pelos bens salariais, como o milho, continua a aumentar. Uma vez que a terra disponível de qualquer dada qualidade é limitada, elevar a produção de milho envolve o cultivo de terras cada vez mais inferiores o que aumenta portanto a dificuldade de produzir milho, provocando uma queda na taxa de lucro. Isto habitualmente é chamado de modo errado como “retornos decrescentes à escala”; mais corretamente chama-se retornos decrescentes a um input variável com o montante dado de um input fixo (de uma dada qualidade).
O segundo é a teoria de Marx, de acordo com a qual, à medida que a acumulação prossegue, a composição orgânica do capital (o rácio entre capital constante e capital variável) aumenta. Alternativamente, ocorre um aumento do rácio capital-produto à medida que a acumulação prossegue e, com ele, o progresso tecnológico, elevando a produtividade do trabalho. Portanto, com um determinado rácio entre salários e lucros na produção líquida verifica-se uma queda da taxa de lucro.
É claro que se a relação entre lucros e salários aumentar ao longo do tempo (isto é, se os trabalhadores forem explorados mais intensamente ao longo do tempo), então esta queda na taxa de lucro pode ser mantida sob controlo, mas se a composição orgânica do capital continuar a aumentar, então esta tendência decrescente acabará por se afirmar (uma vez que existe um limite inferior para a parte dos salários, dado pelo facto de nunca poder tornar-se negativa).
O facto indubitável é que, com a acumulação, há um aumento da massa de matérias-primas e de capital fixo trabalhado por cada trabalhador, ou o que se pode chamar um aumento da composição técnica do capital. Mas isto se traduziria num aumento da composição orgânica (de valor) do capital apenas se o ritmo de introdução do progresso técnico gerador de aumento da produtividade do trabalho fosse maior no sector dos bens de consumo do que no sector dos bens de capital (tanto de matérias-primas como de bens de capital fixo). Isto pode, sem dúvida, acontecer em certos períodos, mas Marx é geralmente interpretado como defendendo o ponto de vista de que ocorre necessariamente de forma secular, como uma tendência imanente e espontânea do sistema. Para isto, no entanto, não há nenhuma razão convincente (tal como não há nenhuma razão convincente para que não aconteça). A teoria de Marx é também uma teoria logicamente sólida, ao contrário da teoria smithiana.
A terceira teoria logicamente sólida declara que existe uma tendência para a taxa de lucro cair devido a um crescimento insuficiente da procura agregada à medida que prossegue a acumulação. Este crescimento insuficiente da procura agregada traduzir-se-ia, mantendo-se os demais factores inalterados, num declínio ao longo do tempo do grau de utilização da capacidade produtiva e, portanto, a quaisquer dadas margens de lucro, da taxa de lucro. E se as margens de lucro forem deliberadamente elevadas, ou seja, se a distribuição entre salários e lucros for alterada a favor dos lucros, então isso, ao invés de eliminar a tendência rumo a uma queda da taxa de lucro, só a acentua ainda mais.
Qualquer tendência para uma queda da taxa de lucro, deve-se notar, é apenas uma tendência que não se manifesta efetivamente (os economistas chamam-lhe tendência ex ante). Ela força o sistema a adotar medidas compensatórias a fim de manter a tendência afastada. A tendência para a queda da taxa de lucro não é, portanto, uma previsão do que acontecerá ao longo do tempo numa economia capitalista, mas sim um instrumento analítico para investigar a sua dinâmica.
De facto, a partir da tendência decrescente da taxa de lucro, seja qual for a teoria que invoquemos para a explicar, é possível descobrir um motivo económico para o imperialismo. Qualquer tendência secular para um aumento da composição orgânica do capital pode ser mantida afastada através da obtenção de matérias-primas baratas ou gratuitas nas colónias e semi-colónias. Do mesmo modo, qualquer tendência para a superprodução devido a uma procura agregada insuficiente pode ser mantida afastada através do acesso aos mercados coloniais e semi-coloniais. E qualquer tendência ricardiana para dificuldades crescentes na produção de factores de produção essenciais pode ser mantida afastada pela obtenção dos mesmos através de uma redução da sua absorção interna nas colónias e semi-colónias.
Mesmo após a descolonização num sentido político, a dominação exercida indiretamente sobre as "regiões periféricas" (por exemplo, através da imposição sobre elas de políticas neoliberais) pode desempenhar o mesmo papel desempenhado anteriormente dominação política.