Estudo prometido sobre excesso de mortalidade entre 2020 e 2022 não foi apresentado

– Governo português cala-se

Nuno Machado [*]

Passou um ano sobre a promessa do governo de apresentar estudo sobre excesso de mortalidade inédita entre 2020 e 2022. Nesses anos ocorreram mais de 40.000 mortes em excesso, em relação à média dos cinco anos anteriores à covid. Apesar do grande interesse sobre a mortalidade covid, os principais media parecem desinteressados em relação ao excesso de mortalidade geral e à promessa para a estudar.

Em agosto do ano passado, o Ministério da Saúde, então liderado por Marta Temido, prometeu “um estudo aprofundado” sobre “os excessos de mortalidade”.

Mais de um ano depois, o Ministério da Saúde continua sem responder ao The Blind Spot sobre em que “estado está o estudo sobre as causas da mortalidade excessiva e sobre quem o está a realizar”, nem apresentar publicamente o estudo prometido.

Excesso de mortalidade em Portugal

De facto, o excesso de mortalidade foi uma constante nestes três anos, mesmo considerando a ligeira tendência de subida dos anos anteriores (justificada pelo envelhecimento da população).

Mortalidade geral em Portugal, 2009-22.
Fonte: SICO

A observação da evolução da mortalidade geral permite identificar períodos com grande excesso de mortalidade, mesmo com poucos casos e baixa mortalidade associada à covid, como no verão de 2020.

Permite igualmente verificar que essa mortalidade se manteve em excesso, mesmo após a vacinação em massa e de a generalidade da população ter sido infetada.

Mortalidade em 2020.
Fonte: Human Mortality Database- Portugal. Mortalidade em 2020. Comparação com anos 2015-2019.

Mortalidade em 2021.
Fonte: Human Mortality Database- Portugal. Mortalidade em 2021. Comparação com anos 2015-2019.

Mortalidade em 2022.
Fonte: Human Mortality Database- Portugal. Mortalidade em 2022. Comparação com anos 2015-2019.

Desde 2020, que inúmeras pessoas, entidades e media independentes, como o The Blind Spot e o Página Um, chamaram a atenção para os valores elevados de mortalidade geral e para a natureza do seu padrão. No entanto, esse fenómeno nunca foi alvo de grande atenção pelo poder político.

Em 2020, questionámos a DGS sobre os padrões de mortalidade “não covid” e fomos informados de que a análise detalhada das causas de morte por doença era feita apenas no ano seguinte. Deste modo, as equipas responsáveis estavam a estudar os números de 2019, sendo que alguns dos recursos haviam sido deslocados para a covid.

Apenas após o Expresso ter apresentado os números de óbitos de 2022, replicando uma análise feita no Página Um, o ministério comprometeu-se a realizar um estudo aprofundado sobre o fenómeno.

Mais de um ano depois, ainda estamos à espera desse estudo e o governo, para já, não responde às nossas questões sobre o tema.

Mortalidade em 2023

Em 2023 mortalidade geral parece finalmente ter atingido valores semelhantes aos anos pré-pandémicos. Temos de considerar, no entanto, que após três anos de mortalidade anormalmente alta, seria de supor uma quebra acentuada da mesma, nomeadamente pela drástica redução da população mais fragilizada.

Isto, apesar da tendência de aumento ligeiro da mortalidade nos anos precedentes à covid se poder acentuar quando se compara com a média de 2015 a 2019.

Mortalidade em 2023.
Fonte: Human Mortality Database- Portugal. Mortalidade em 2023. Comparação com anos 2015-2019.

06/Setembro/2023

Ver também:
  • Razões para dizer não ao Tratado Internacional de Pandemias, de Marta Domenech
  • El Aullido, canal de Fernando López-Mirones no Telegram.
  • Estudios publicados en revistas científicas sobre los efectos de las vacunas de ARNm y el exceso de mortalidad, livro com recopilação de artigos, para descarregamento (62 p.)
  • [*] Editor de The Blind Spot.

    O original encontra-se em theblindspot.pt/2023/09/06/estudo-prometido-sobre-excesso-de-mortalidade-entre-2020-e-2023-nao-foi-apresentado/.

    Este artigo encontra-se em resistir.info

    09/Set/23