Fazer atoleiros na Síria é um passo rumo à
"mudança de regime" em Washington DC
O governo dos EUA deixou de hesitar,
escreveu
David Ignatius em 30 de Agosto: agora insiste em que tem "interesses
duradouros" na Síria, para além de matar terroristas do
Estado Islâmico e "que não planeia retirar suas
forças de Operações Especiais do nordeste sírio em
qualquer momento próximo". "Neste momento", disse a
Ignatius um funcionário do governo, "nossa tarefa é ajudar a
criar atoleiros [para a Rússia e o regime sírio], até
conseguirmos o que queremos".
Os EUA, ao que parece, mudaram de política em meados de Agosto
(afastando-se dos entendimentos de Julho em Helsínquia,
alcançados entre os presidentes Trump e Putin), em favor de uma busca de
algo que recupere a sua influência máxima nas etapas finais da
guerra síria. Isto representa, aparentemente, uma última
tentativa desesperada de impor a vontade dos EUA no cenário da guerra
síria através da manutenção em jogo em Idlib
da "carta" jihadista, como alavanca sobre qualquer
transição política; e analogamente, mantendo o
"porrete do PKK" curdo no nordeste da Síria, como
influência sobre a Turquia e para conter o Irão.
Estamos, na verdade, a assistir a
uma viragem de 180º
: o novo enviado de Pompeo na Síria, James Jeffry, deixou isso bem
claro: "Agora", disse ele, "os Estados Unidos
não tolerarão um ataque Ponto".
(Referindo-se à ofensiva iminente no enclave jihadista, na
província de Idlib.)
"Qualquer ofensiva é para nós objectável como uma
escalada imprudente", disse ele. "Acrescenta-se a isso, se você
usar armas químicas, ou criar fluxos de refugiados ou atacar civis
inocentes
as consequências
são que mudaremos nossas
posições"
Perguntado sobre se a eventual
retaliação dos EUA a qualquer ofensiva em Idlib, com ou sem armas
químicas, incluiria ataques aéreos, Jeffrey disse, "pedimos
repetidamente permissão para operar" e "esse seria um
caminho" [para responder].
O objectivo é expulsar o Irão da Síria; infligir uma
humilhante bofetada estratégica à República Islâmica
a fim de agravar a 'dieta' económica imposta à sua economia;
alavancar uma transição política, na qual o presidente
Assad seja afastado e, acima de tudo, evitar admitir qualquer aparência
de fraqueza estratégica dos EUA.
A liderança da Rússia já desconfiava que os EUA pretendiam
descarrilar a última grande operação da
coligação para concluir o conflito sírio. Isso agora
está confirmado. Um alto responsável do Kremlin
disse ao Al-Monitor
, na condição de anonimato, que os responsáveis americanos
pretendem actuar como sabotadores, em grande estilo: "Eles estão
raivosos por termos obtido supremacia ao tratar desta crise e agora querem
colocar seus bastões em todas as rodas que tentamos mover".
Isto vai ainda mais além: com a linguagem Jeffrey de "não
ataques, ponto"; com a linguagem do Departamento de Estado a insinuar
novas sanções económicas, como a alavancagem; e as
ameaças contra o Irão, trata-se de provocações e
efectivamente de ultimatos contra a Rússia e o Irão.
Esta é uma grave "viragem" nos acontecimentos. Não
sabemos porque Trump virou as costas tão enfáticamente aos
"entendimentos" de Helsínquia excepto pelas
extraordinárias pressões políticas e psicológicas a
que está submetido: O funeral "apoteótico" de McCain
como a
essência das "virtudes americanas"
, o artigo sedicioso do
New York Times
atribuído a um membro sénior da equipe da
Resistência
na Casa Branca, que reivindicou especificamente êxito em sabotar a
política de Trump de
détente
com a Rússia; o livro de Woodward a ridicularizar o presidente; e agora
Obama a juntar-se a este coro na sexta-feira com uma insinuação
óbvia de que o Trumpismo de alguma forma está a alimentar o
nazismo.
Faltam agora 60 dias para as eleições intercalares. E, como
escreve
Tom Luongo, "o medo da derrota pelo Estado Profundo é
palpável
E agora o que está claro para mim, é que o
Estado Profundo é feito a chicotear a esquerda progressista para que se
torne frenética contra Donald Trump. Eles agora estão abertamente
a entregar-lhes forcados e a agrupá-los para uma tomada hostil do
Gabinete Oval".
Este é o ponto. "Não mais hesitação"
(como disse Ignatius). A chamada Resistência está a fazer todo o
possível
à outrance
tanto para desacreditar Trump politicamente antes das
eleições intercalares como para desacreditar e demonizar a
Rússia (com o Reino Unido como de costume a fazer o seu
papel de apoio acusando dois russos no caso Skripal).
A Europa movimentou-se politicamente em consequência das guerras
comerciais de Trump, do seu desdém pela NATO e do seu desprezo pela
elite globalista "liberal" da UE. A auto-denominada
"Resistência" está pronta para "arriscar tudo"
não só internamente contra Trump, mas contra a
Rússia, também, para assegurar e o seu enorme mercado
consumidor que não pode escapar para a esfera russo-chinesa. Assim, a
Rússia deve ser denegrida como o "inimigo" com o qual qualquer
aliança é impensável.
Estará "esta gente" realmente pronta a provocar a
Rússia e o Irão, até ao ponto da
confrontação directa contra eles, militarmente? Parece que sim:
James Jeffrey disse exactamente isso, ao
Washington Post
"Em alguns aspectos, estamos potencialmente a entrar numa nova fase, onde
há forças dos diferentes países a enfrentarem-se umas
às outras, ao invés de perseguir seus objectivos separados",
disse ele, listando a Rússia, os Estados Unidos, o Irão, a
Turquia e Israel. Por outras palavras, a "Resistência"
fará todo o possível no processo até Novembro, tanto
internamente contra Trump,
quanto externamente,
a tentar provocar, insultar a Rússia [para levá-la a] algum
acto que permita à "Resistência" retratar a
Rússia como "vinho novo numa velha garrafa da URSS"
James Jeffrey adverte a Rússia: "nenhuma ofensiva (em Idlib)
ponto" a fim de acabar com o último abcesso de jihadistas
extremados. Mas a ofensiva já começou. O que aconteceu
então na cimeira de sexta-feira em Teerão, entre Erdogan, Putin e
Ruhani? Comentaristas estão a dizer que nenhum acordo foi
alcançado sobre a ofensiva de Idlib que os EUA tiveram
êxito: sua posição dura contra o ataque aos jihadistas
levou a ofensiva para um matagal. Mas, de facto, o acordo chave já havia
sido alcançado antes da cimeira, e não na mesma a Turquia
colocou a HTS (também conhecida como an-Nusra ou al Qaeda) na sua lista
de terroristas. Esta foi o resultado chave o mais significativo.
Erdogan é um político, um político consumado. Ele tem sido
patrono destes insurgentes. Ele se considera como um líder sunita, um
otomano, o "guia" para a Irmandade Muçulmana global. Ele foi
vitalmente instrumental na insurgência síria a causa dela,
por assim dizer. Mas agora a presença contínua da jihad em Idlib
é insustentável (mesmo para a Turquia). No entanto, como pode ele
politicamente repudiar esses insurgentes, que a Turquia
tão cuidadosamente alimentou? Quais poderiam ser as consequências
em termos de segurança (bombardeios em Istambul?) de se aliar
publicamente à sua destruição? Qual seria o dano à
sua cultivada imagem como defensor do sunismo?
Era necessária uma plataforma na qual
as necessidades de um político
de atender as suas várias clientelas eleitorais fossem vistas
publicamente
e na televisão para serem conhecidas. E foi isso o que
aconteceu. Erdogan ergueu-se para eles. Argumentou a sua posição
como representante de um estado poderoso junto a outros estados
poderosos sublinhando o seu interesse (político). Sim, ele
"ergueu-se para uma ovação". Por que outro motivo Putin
e Rouhani teriam permitido um tal desempenho aparentemente medíocre dos
líderes principais aparentemente a discutirem entre si e perante
as câmaras a menos que se entendesse que Erdogan precisava
"fazer o seu show"?
A Turquia já classificou a an-Nusra como [organização]
terrorista. A ofensiva continuará (e baixas civis inevitavelmente
ocorrerão, pois os jihadistas estão fundidos na
população civil de Idlib como
na verdade aconteceu
quando os EUA, o Reino Unido e a França bombardearam Raqqa para derrotar
o ISIS em 2017 com "mais cartuchos de artilharia lançados em Raqqa
do que em qualquer outro lugar desde o fim da guerra do Vietname").
E os americanos provavelmente farão o seu próprio "show
off" para o público possivelmente com Tomahawks a fim
de mostrar a Rússia e a Síria como "monstros desumanos".
12/Setembro/2018
Ver também:
'Don't test us': Haley threatens US strikes over any attack on Syria's Idlib
White Helmets making films of 'chemical attacks' with orphans in Idlib
Syrian War Report September 12, 2018: Militants Filming Staged Chemical Attack in Idlib
[*]
Ex-diplomata britânico, fundador e director do Conflicts Forum com sede
em Beirute.
O original encontra-se em
www.strategic-culture.org/...
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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