Quando a oposição não se opõe...

O dilema da oposição

por Octavio Rodríguez Araujo [*]

Há partidos que perdem o Norte      Equivocam-se aqueles que pensam que os partidos da oposição perderam prestígio porque não tentam agradar os eleitores. Pelo contrário. Precisamente porque os partidos tendem, desde há algum tempo, a parecer-se entre si e a ficar bem com todos os eleitores é que perderam credibilidade. A outra razão, não menos importante, foi que uma vez no poder não cumprem com o prometido tanto em seus documentos fundamentais como em seus discursos de campanha.

        É verdade que muitos jovens, especialmente estudantes, não crêem na política e nos políticos, mas não se trata da totalidade, nem dos jovens nem dos cidadão. Alguns jovens foram influenciados pela correntes da moda em política, mas na realidade são muito poucos, pois a maioria não lê Deleuze, Foucault, Lyotard, Derrida ou Guattari, para mencionar alguns autores que alimentam o pensamento antipartido e antipolítica. Aquilo que a maioria dos jovens vê nos partidos e nos governos é que não são democráticos (em termos de promover ou permitir a democracia participativa), que são (no caso dos partidos) eleitoreiros , oportunistas e, no caso dos governos, demagogos, autoritários e indiferentes às exigências populares, ao mesmo tempo em que são servis aos grandes capitais, ao governo de Washington e ao Fundo Monetário Internacional. Se se trata de partidos de esquerda, pior, pois quando estão na oposição dizem uma coisa e no poder dizem e fazem outra muito diferente.

        O drama dos partidos de esquerda foi que, para poder competir eleitoralmente, abandonaram seus princípios e seus programas e, por isso mesmo, aproximaram-se dos partidos de direita e do chamado centro político. O ponto de partida dos organismos de esquerda, desde os tempo do eurocomunismo, foi que se a sociedade é plural as propostas dos partidos também deviam ser plurais. Aí assinaram sua sentença de morte: não aumentaram sua votação, não chegaram ao poder e perderam credibilidade inclusive para aqueles que antes votavam por eles (recorde-se o caso do Partido Comunista Francês, para citar um exemplo). Pensava-se então, em meados dos anos 70 do século passado e ainda nos anos 80, que se a socialdemocracia ganhava governos ou maiorias nos parlamentos, os comunistas poderiam conseguir o mesmo socialdemocratizando-se . Não foi isso que aconteceu. Eram os tempo em que as posições de centro, ou seja, sem compromisso explícito, eram mais convincentes para o eleitorado majoritários que é, geralmente, conservador.

        Nestes tempos, ou seja, nos primeiros anos do século XXI, as coisas mudaram. Agora já é claro que a socialdemocracia não resolveu aquilo que disse que resolveria em termos de emprego, salários, impostos, prestações sociais, soberania nacional, etc, e muitos cidadãos deram o seu voto à direita, mas neste ano estão a mudar de parecer e, pelo menos na Europa e ainda nuns poucos países da América Latina, iniciaram uma onda de protestos para deter as políticas dessa direita pelas quais ontem votaram. No México a situação não é muito diferente. Agora é claro que o governo da mudança não mudou nada, salvo de opiniões de um dia para o outro.

        Se há dois anos uma maioria de cidadãos votou contra o PRI e por aqueles que tinham maiores probabilidades de removê-lo de Los Pinos, agora não há dúvida de que tanto o PRI como o PAN não oferecem vantagens para essa maioria. O problema é que o PRD, se não se define como um partido de oposição, com uma proposta diferente das dos seus competidores, tão pouco será encarado como uma alternativa. Os tempos são, mais uma vez, de definição, neste caso de definição em favor dos pobres e daqueles que se viram seriamente afectados pelas políticas dos anteriores governos priístas e pelas do seu continuador Vicente Fox.

        Uma coisa é que a maioria da população seja basicamente conservadora e que, por isso mesmo, tenda a favorecer as posições partidárias de centro e até de direita, e outra que não se aperceba da situação em que vive nem dos riscos de subordinar os interesses nacionais às grandes potências ou às empresas que dominam a economia mundial. Esta maioria da população está à espera de um partido em que possa crer, pois ainda se acredita na política. Mas um partido de oposição que não se oponha não terá credibilidade. Ao contrário, os tempos em que os partidos podiam ganhar tentando agradar a todos os eleitores, já terminaram. As pessoas já aprenderam que um partido que pretende ficar bem com ricos e com pobres na realidade beneficia só os primeiros. Os pobres, que são a grande maioria da população, querem definições e não semelhanças. Passaram os tempos das coisas vagas, do não compromisso.

[*] Escritor e jornalista mexicano. Colaborador do diário "La Jornada".

O original deste artigo encontra-se em
http://www.jornada.unam.mx/2002/jun02/020627/021a1pol.php?origen=opinion.html

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30/Jun/02