O México e o governo de López Obrador
Desafios políticos e económicos
por José Valenzuela Feijóo
[*]
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"Aquele que quer agir correctamente,
deve servir-se da ferramenta apropriada".
Goethe, Fausto.
"Arrisquem-se! Esta palavra encerra toda a política da nossa
revolução".
Saint-Just
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I -
Objectivos
II -
A dimensão política: objectivo resumido
III -
O problema ideológico
IV -
A dimensão económica
1- Investimento e crescimento
2- Política fiscal
3 - Uma visão do sector externo
4- Emprego e produtividade
5- Distribuição do rendimento e da riqueza
V -
Decomposição social e moral
1- O grande problema. Breve menção
2- Políticas com o narcotráfico
I - Objectivos
O futuro governo de AMLO deveria impulsionar mudanças de ordem
superior, que
provoquem a transição do actual modelo neoliberal para outro
padrão de acumulação, com um
conteúdo democrático, nacional e popular. Isto, preservando a
matriz capitalista do sistema. Esta mudança implica aspectos
económicos, políticos e ideológicos, cuja trama é
bastante complexa. A seguir, abordaremos brevemente os aspectos
políticos e ideológicos que podem enquadrar o processo que
agora começa. A seguir, em termos muito resumidos, comentaremos alguns
aspectos económicos (nem todos eles) que supomos serem centrais.
Uma abordagem demasiado esquemática (especialmente numa matéria que
é muito complexa) é perigosa. Mas como o espaço é
limitado, assumimos o risco de possíveis mal-entendidos.
II - A dimensão política: objectivo resumido
O triunfo eleitoral de López Obrador foi descrito como um verdadeiro
maremoto. Por que aconteceu a derrota da direita neoliberal? Um: Essa direita
apresentou-se dividida, escolheu candidatos medíocres ("sem
garra") e discutiram, entre eles, com alguma rispidez. Dois: o
descontentamento da população pela corrupção,
violência e miséria atingiu níveis elevados. Três:
AMLO foi capaz de incorporar esse sentimento ou indignação e
mostrar-se como uma pessoa honesta, próxima aos "de baixo" e alheia
à "máfia do poder". Ao mesmo tempo, até certo
ponto, conseguiu neutralizar o impacto da ditadura da comunicação
mediática que prevalecia. Quanto às consequências do
maremoto, há um ponto a salientar: a classe dominante surge com
representações políticas quase inexistentes, derrubadas e
desfeitas. Muito provavelmente, as eleições de 1 de Julho marcam
o declínio definitivo do PRI como força política
significativa. Quanto ao PAN, está dividido em grupos
irreconciliáveis e, eleitoralmente, sofre de anemia aguda. Por esta
razão, o grande sector empresarial durante um curto
período de tempo deve intervir,
de maneira directa e visível,
no conflito político. Resumindo, as organizações
políticas que até agora o haviam representado tornaram-se doentes
terminais.
[2]
A tremenda votação (53%), obtida por AMLO, proporcionou-lhe uma
legitimidade inicial forte.
[3]
E até palavras de "boa educação". Mas a luta
pelo que está a chegar já começou. O desafio central
é claro: o novo governo será capaz de substituir o actual modelo
neoliberal por outro padrão de acumulação, capitalista,
demo(crático)-popular, impulsionador do desenvolvimento industrial e
mais voltado para os mercados internos?
Este conflito, entre as forças neoliberais e as que buscam um
padrão de acumulação de substituição (como
esboçado), resolver-se-á, como todos os conflitos, de acordo com
a correlação de forças, nacional e internacional, entre
ambos os lados. O bloco do poder neoliberal é constituído pela
grande burguesia financeira (nacional e estrangeira), pelo grande capital
exportador (estrangeiro e nacional) e pelos grandes monopólios que
operam no sector dos [bens] não transacionáveis. Este bloco,
formado por 400 famílias ou até menos, controla os grandes meios
de comunicação (exerce a "ditadura mediática") e
o aparelho estatal actual (sector judicial, militar, policial). Eles são
pouco numerosos, mas controlam um tremendo poder. E manobram sem respeito pelos
valores democráticos mais elementares.
Do lado do bloco popular, dever-se-ia assinalar: a tremenda
votação alcançada por López Obrador, exprime uma
grande indignação contra a corrupção, contra a
insegurança e a violência, contra a miséria generalizada.
E, claro, a grande capacidade de AMLO para captar e sintetizar tal estado de
espírito. Também é importante indicar: a
indignação, em grande medida, não é acompanhada de
uma elevada consciência política e de classe. Ou seja, o movimento
é bastante espontâneo, organicamente fraco e, portanto, com uma
força política que não condiz com a sua imensidão.
Resumindo, a força eleitoral não é sinónimo de
força política.
[4]
A primeira ajuda e justifica a segunda, mas não são
idênticas nem há conversão automática da primeira na
segunda. Força política significa
poder,
capacidade de determinar o comportamento de outros, mesmo contra a vontade
desses outros. E como o poder está concentrado no aparato estatal, esse
é o objectivo primordial da política: conseguir o controle
estatal, desalojando os que até hoje, o tinham controlado. Algo que
exige, por sua vez, uma grande força política:
organização sólida e elevada consciência de classe.
Atributos que estão muito subdesenvolvidos no movimento
'lopez-obradorista'. Vamos indicar dois défices que são
facilmente reconhecíveis: 1) os trabalhadores que operam nos grandes
centros industriais (petróleo, aço, etc) estão,
extremamente, sujeitos a sindicatos amarelos
(
charros
)
. E compreende-se que, sem essa força operária, o movimento
popular esteja gravemente incompleto. Além do mais, AMLO tem sido
tradicionalmente relutante em contactar a classe operária industrial; 2)
as camadas intermédias, hoje favoráveis a AMLO, são
tremendamente volúveis. Especialmente as camadas mais empobrecidas,
podem mover-se da extrema-esquerda (mais raivosa do que racional) para a
direita de cariz fascista.
Em termos muito genéricos, existe a impressão de que, durante a
sua campanha, AMLO foi reduzindo os componentes heterodoxos e de mudança
estrutural. E ao mesmo tempo foi ou assimilando alguns elementos-chave do credo
neoliberal. Poderia ser uma táctica de campanha para suavizar os ataques
mediáticos. Esta tendência, foi mantida depois das
eleições. Até mesmo os dirigentes da sua "equipa
económica" são indivíduos que, fundamentalmente,
partilham as teses neoliberais. Poder-se-ia pensar que, uma vez instalado
legalmente na presidência, será retomado o programa progressista.
Mas será possível esse redireccionamento? O que poderia ser mais
factível é que, durante a Presidência, após uma
curta "lua-de-mel", comecem a surgir fricções entre a
"equipa económica" (apoiada, seguramente, pelos grandes
empresários e pelos grandes meios de comunicação
mediática) e os grupos políticos mais ligados aos de baixo.
Grupos que, em geral, muitas vezes, estão destituídos de uma
teoria económica crítica e, em geral, desconhecem toda a teoria
radical. Em suma, o que poderia ser a "esquerda" do movimento,
funciona mais com o coração do que com o cérebro.
No início, viver-se-á, de certeza, um ambiente comovedor, de
festa, de bailes e canções, de grande alegria popular. Os que
constituem a camada mais desfavorecida da população,
sentir-se-ão após muitos e longos anos
considerados. Terão a sensação de terem recuperado a sua
dignidade. Ao mesmo tempo, a partir do primeiro minuto, começará
uma luta cruel, por vezes não visível e, outras vezes,
explícita. Por um lado, a cúpula do poder, com todas as suas
forças e meios, empurrará o eixo político para a direita.
O que implica que o novo governo se submeta, no que é fundamental, aos
critérios neoliberais. Por outro lado, os sectores populares, com a
responsabilidade de fazer cumprir as suas intuições e a sua
consciência política, forçará o eixo para o outro
lado, para a esquerda. Como no jogo dos "derrotados",
dependerá da força e da inteligência dos rivais, se se
mantém ou se expulsa o modelo neoliberal. Claro que esta será
a principal contradição do período.
Da direita, podemos esperar que procure assediar e encurralar o novo governo. A
estratégia presumida seria a denominada como "golpe brando ou
'soft coup'". Essa estratégia implica assediar sem pausas e colocar
o novo governo contra a parede, bloquear as suas iniciativas e
forçá-lo a assumir tarefas neoliberais. Aliás, até
se ameaça um possível golpe de Estado militar. Se o "golpe
brando" funcionar, desaparecem as políticas e as medidas
progressistas. E as que são executadas são políticas do
tipo neoliberal.
[5]
Com esta medida, a cúpula neoliberal faz com que outros efectuem o
trabalho sujo e fica livre de toda a culpa. O novo governo distancia-se e
desaponta os sectores populares. E desacredita-se o programa e os
políticos progressistas. No final, o povo pode ficar com um cepticismo
profundo que pode levá-lo a afastar-se da política. Ou seja,
deixa o campo livre para a extrema-direita. Em toda esta
situação, o papel do tráfico de estupefacientes (muito
ligado aos partidos políticos que serão agora, a
oposição) pode ser decisivo. Este problema é muito
complexo e não será fácil de resolver ou, pelo menos,
reduzir.
Claro que essa direcção a do "golpe brando"
não é inevitável. Perante a resistência da
direita neoliberal, a proposta em favor do despejo do estilo neoliberal
só pode ser bem sucedida se se conseguir desenvolver uma luta popular
constante. O que implica: a) expandir-se como uma organização
política sólida, enraizada na classe trabalhadora industrial e,
fundamentalmente, construída a nível dos grandes centros de
trabalho. Até agora, a direcção que tem sido privilegiada
é a eleitoral, o que, em seus termos, pode ser justo. Mas se se trata de
força política,
a luta deve deslocar-se para outras pistas, a
criar força nos locais de trabalho
(por exemplo, tentar várias formas de controlo operário,
incluindo o impulso de possíveis Conselhos de Operários, nas
fábricas). Nesta área, será fundamental a luta para
substituir completamente os dirigentes sindicais corruptos
("charros")
do controlo que exercem, hoje, nas indústrias-chave (como a
indústria petrolífera). Deste modo, os trabalhadores organizados
devem ser alertados para rejeitar qualquer tentativa de golpe; b) em estrita
concordância com a luta política a ser estabelecida, devem ser
impulsionados grandes saltos na consciência política dos sectores
populares. Deve ser salientado aqui: na luta de classe, a pura
indignação não basta. Claro que sem ela, não se
pode fazer nada. Mas a raiva (que às vezes se traduz em
"imaturidade da esquerda") deve avançar para a
clarividência, para um descontentamento canalizado racionalmente; c) deve
traduzir os grandes objectivos em lemas claros, sintéticos e
mobilizadores. Por exemplo: i) eliminar os dirigentes charros e suas
organizações ("Abaixo o charrismo"); livros de
contabilidade abertos aos trabalhadores; ii) aumentos significativos do
salário real ("os trabalhadores têm direito a uma vida
decente""); iii) impedir que os monopólios corporativos
respondam com o mecanismo inflacionário ("Não à
inflação capitalista").
[6]
Existe outro aspecto decisivo ao qual, pelo menos, é conveniente aludir.
Como já mencionado, o programa de AMLO é democrata-burguês:
não pretende ir além do capitalismo. O que procura é
passar de um tipo de capitalismo o neoliberal a outro tipo de
capitalismo:
com melhor distribuição do rendimento, com maior crescimento,
mais voltado para os mercados internos e para o desenvolvimento industrial. Por
isso, fala-se de uma trajectória
democrática e popular.
Deste modo, trata-se de, pelo menos, reduzir a extrema dependência,
económica e política, do país em relação aos
EUA e, portanto, fala-se de uma rota
nacionalista.
Portanto, deve operar com uma política económica heterodoxa e
muito activa
[7]
Entretanto, a classe operária, se recordarmos a sua
situação objectiva e os seus interesses, deve aspirar a superar o
capitalismo (em qualquer das suas modalidades) e, por isso mesmo, apontar para
o socialismo. Mas esse objectivo não se obtêm apenas com bons
desejos. E hoje, a classe operária mexicana está a anos-luz de
possuir as capacidades que esse objectivo exige. Consequentemente, procuram
promover a sua independência política (que hoje não possui)
e à obtenção de um mínimo de capacidade
crítica (que hoje tão pouco tem)
deve apoiar
o projecto democrata-burguês. E fazê-lo para avançar na
conquista dessa capacidade crítica e da sua independência
política, que são condições imprescindíveis
para o seu fortalecimento posterior. Em resumo: o avanço da classe
operária ver-se-ia beneficiado com um governo AMLO bem sucedido.
[8]
E deve salientar-se:
apoio não é submissão.
Neste contexto, deve apontar-se: no cumprimento das suas metas e objectivos
básicos, a experiência histórica conhecida indica muito
claramente que a burguesia nacional é hesitante e muito propensa a
curvar-se perante o poder estabelecido. Mas se houver um movimento
operário forte e lúcido, capaz de empurrá-la, é
provável que ela seja menos indecisa e menos propensa a acordos
vergonhosos com o poder estabelecido. Quer dizer, com a chamada
"máfia do poder". Tudo isto reafirma a urgência de
desenvolver uma frente sólida de trabalhadores, algo que hoje não
existe. Mas o triunfo do AMLO deveria criar condições que o
tornem muito mais factível. No acima mencionado, há um problema
clássico que deve ser destacado.
Em muitas ocasiões, a burguesia progressista chega a ter uma
consciência clara da importância de uma classe operária
forte e bem organizada. Isto, para os seus propósitos de derrotar
completamente o bloco de poder vigente.
[9]
Entretanto, não é capaz de apoiar o desenvolvimento
político da classe operária. Por que razão existe esta
atitude que, à primeira vista, parece irracional e inconsequente? A
resposta é bem conhecida: a burguesia progressista também percebe
que uma classe operária forte pode empurrar o movimento muito
além do que a burguesia deseja e pode permitir. Pior ainda, como o
interesse objectivo da classe trabalhadora reside na construção
de um regime socialista onde a burguesia não tem lugar ? a
percepção desta possibilidade torna a burguesia bastante
relutante a uma aliança que permita um forte desenvolvimento
político que poderia tornar-se o seu coveiro.
[10]
A primeira opção forte apoio ao desenvolvimento da classe
operária tem sido escassa na experiência histórica
conhecida. A segunda não fomentar o desenvolvimento
político do operariado aparentemente, tem sido a mais frequente.
[11]
Embora se pudesse falar de uma terceira opção: a de um
comportamento muito vacilante, que vai do apoio (forte ou muito hesitante)
à rejeição da possível aliança.
É, também, de salientar: as vacilações da burguesia
progressista a respeito da sua eventual aliança com a classe
operária industrial no limite sua rejeição total
geralmente provoca uma consequência que não é menor:
que essa fracção burguesa acaba, literalmente,
"engolida" pelo bloco de poder vigente.
No caso concreto que nos preocupa, podemos constatar: a) a classe
operária da grande indústria, em alta percentagem, está
sujeita ao controlo dos sindicatos
charros.
E não se sabe de nenhum projecto que procure forjar uma classe
operária independente; b) na chamada "equipa económica"
de AMLO, dominam economistas com formação neoclássica e
que são crentes do credo neoliberal. Têm, no máximo, alguma
preocupação moral pela pobreza generalizada.
Tudo parece indicar que o pêndulo começa a mover-se a favor da
direita neoliberal. Em todo o caso, poderia ser apenas um passo táctico.
No entanto, seria arriscado emitir, hoje, um parecer categórico.
(Novembro de 2018)
III - O problema ideológico
Certamente, o problema mais decisivo radica na "ditadura
mediática" que prevalece no país. Ao nível da
comunicação mediática como televisão, rádio,
imprensa e afins, observa-se um controlo da comunicação
mediática por parte das cúpulas dominantes, que é,
praticamente absoluto. Através deles, espalha-se e injecta-se na
população uma ideologia que não é apenas da
ultra-direita, também é alheia às normas mais elementares
de um pensamento racional e moderadamente esclarecido. Portanto, juntamente com
a promoção de uma gigantesca "falsa consciência
social", provoca um processo de nada menos do que a verdadeira
idiotização do povo mexicano. Os grupos progressistas, criticaram
fortemente, nos anos noventa, esta situação. Mas o protesto
foi-se diluindo e na campanha actual de AMLO, desapareceu completamente. Se o
novo governo não atacar este problema enfrentará sérias
dificuldades no futuro, especialmente se pretende promover programas de
interesse popular que afectam a alta liderança do poder.
[12]
Num nível mais específico, no campo da economia, verificamos que
a ideologia neoliberal se impôs quase sem contrapartidas. E tem penetrado
fortemente a equipa económica de AMLO. Essa postura, conhecida na
academia como neoclássica, além de falaciosa é
completamente disfuncional ao processo de transformação que foi
discutido. Daí dois requisitos básicos; i) criticar completamente
a ideologia neoliberal; ii) recuperar e desenvolver as teorias que, além
de confiáveis, são úteis (operacionais) para cumprir as
tarefas transformadoras.
Nisto pode-se notar facilmente: expõem-se, apenas, a necessidade de uma
mudança profunda, a prática teórica também deve
mudar: a) apontar os temas mais relevantes (não as ideias absurdas de
Walras) que giram em torno do desenvolvimento, da acumulação e da
distribuição; b) pelo que se devem retomar as
posições teóricas mais profundas e rigorosas (na linha de
Marx, Ricardo, Feldman, Novojilov, Lange, Kalecki, Domar, Dobb, Sweezy,
Hirschman, os clássicos da escola indiana e da Cepal,
os dependentistas e os radicais americanos (Weisskopf, Gordon, Bowles e
outros), os pós-keynesianos de hoje, etc. Não para fazer uma
cópia enganosa, mas sim, a sua assimilação inteligente.
Existem temas e ferramentas que foram esquecidas, como o a análise de
insumo-produto
(input-output),
os modelos de programação, global e por sectores, a curto e
médio prazo, o da política industrial, etc. Se realmente se
procura avançar para um novo padrão de acumulação,
essas e outras ferramentas, são imprescindíveis.
Neste campo, vale a pena insistir numa tarefa-chave: a desmontar a ideologia
neoliberal que penetrou com grande força na sociedade em geral e, muito
especialmente, nos economistas e afins. Por exemplo, num país totalmente
dominado pelos grandes monopólios (a maioria dos quais são
estrangeiros), a classe dirigente fala-nos dos "benefícios da livre
concorrência".
[13]
Se alguém puser em dúvida as "vantagens do comércio
livre" para países como Argentina, México e outros,
dir-se-á que é um tipo "antiquado". Passa-se algo
semelhante com a chamada "globalização": que os
países periféricos levantem todas as restrições
imagináveis à circulação de mercadorias e do
capital. Resumindo, a "globalização" é levantar
todas as barreiras aos fluxos de mercadorias e capitais, não à
mudança do comércio livre (algo que hoje é
impossível, porque vivemos na fase monopólica do capitalismo),
mas a favor dos grandes monopólios internacionais. Ou seja, a
"globalização" é a trajectória que
favorece o domínio dos grandes consórcios multinacionais. Basta
perguntar: como apoiar o desenvolvimento industrial do país sem colocar
tarifas aduaneiras protectoras (se até mesmo os EUA o fazem!)? Como
evitar o desperdício de divisas (que num modelo económico em
expansão, serão sempre muito escassas), sem fixação
de tarifas aduaneiras, controlo do câmbio ou proibições?
Resumindo: promover uma política de industrialização e
desenvolvimento económico que alcance resultados significativos, obriga
a romper com toda a panóplia da ideologia neoliberal.
Muito ligado ao acima mencionado, há outro aspecto que deve ser
destacado. Recentemente, surgiram movimentos populares que chegaram ao governo
(proclamando mesmo, o seu desejo de avançar para o socialismo) e que
terminaram num grande fracasso. Em termos gerais, estes governos salientaram a
progressiva redistribuição do rendimento e, ao mesmo tempo,
negligenciaram o investimento produtivo e o crescimento. Estes processos
resultaram numa inflação desenfreada, escassez de abastecimentos
e sérios problemas na balança dos pagamentos. No final, a
economia decompõe-se e o PIB diminui cada vez mais. Estas falhas
também foram amplamente divulgadas pela direita neoliberal. O novo
governo da AMLO-MORENA registou indubitavelmente essas falhas e é
bastante óbvio que tenha grande preocupação em não
repetir essas trajectórias. Isso é louvável, mas a maneira
de evitá-lo é muito criticável: admitir dogmas
neoliberais. Por que esta opção? Funciona aqui uma crença:
os neoliberais asseguram a estabilidade económica.
[14]
Ao mesmo tempo, funciona a ignorância: o nulo conhecimento das teorias
críticas.
Neste aspecto, o papel das universidades públicas (UNAM, UAM, etc.) tem
sido vergonhoso. Em vez de promover abordagens críticas (como fizeram
noutros tempos), elas têm-se dobrado cada vez mais à teologia
neoliberal. Em resumo, mais uma vez se verifica que "quem se entrega ao
poder, abandona a ética científica".
[15]
Outro aspecto a destacar aponta para a crença generalizada,
especialmente forte nos níveis de liderança, de que os conflitos
são algo prejudicial e repreensível. Esta abordagem,
típica de curas de aldeias e de beatas, está muito errada: i)
tenta suprimir com um simples passe mágico, uma
realidade objectiva:
"a contradição é universal, absoluta; existe nos
processos de desenvolvimento de todas as coisas e passa por todo processo desde
o começo até o fim"
[16]
. Em resumo, negar contradições é como negar as leis da
gravidade. Pode-se apagá-las da mente, mas nem por isso deixam de
funcionar; ii) rejeita também que as contradições sejam
fontes de desenvolvimento, mudanças e progresso. Hegel já
apontava: "a contradição teria que ser considerada como o
mais profundo e o mais essencial. De facto, perante ela, a identidade é
apenas a determinação do simples imediato, do ser morto; em vez
disso, a contradição é a raiz de todo movimento e
vitalidade, porque só ao conter uma contradição em si, uma
coisa se move, tem impulso e actividade"
[17]
No plano mais concreto da mudança social, a postura de encarar o
conflito como algo prejudicial leva, muitas vezes, a políticas
vacilantes e de "compreensão amorosa" para com os grandes
inimigos da de classe. Se nos fala de "unidade nacional" em
que se procura a "união" com o bloco do poder neoliberal
e se a considera como sendo "boa e necessária". A
resultante, já foi observado pelo grande Saint-Just, "os que fazem
revoluções pela metade, só acabam por cavar o seu
próprio túmulo".
IV - A dimensão económica
Passamos a examinar os desafios económicos do novo governo. Em termos
muito gerais, giram à volta de dois eixos: o crescimento e a
distribuição. Quanto ao crescimento, a economia deverá
crescer 4,0% ao ano. Quanto à distribuição, não
sabemos números precisos, mas tudo aponta a que, pelo menos, se procure
melhorar substancialmente a situação dos grupos em pobreza
extrema. Eventualmente, eliminá-los. Quanto aos salários,
nível real e participação no Rendimento Nacional,
não parece existir nenhuma meta explícita. Pelo menos, não
a conhecemos. Sim, falou-se de metas para o aumento do salário
mínimo.
Os problemas que surgem giram à volta de: 1) haverá capacidade
para cumprir as metas de crescimento e distribuição? 2)
Haverá capacidade (ou possibilidade) para compatibilizar estes dois
propósitos? 3) O que se pode esperar sobre a capacidade do governo para
investir? 4) Qual poderia ser a resposta do investimento privado? 5) Que
exigências coloca uma política de redistribuição do
rendimento, baseada na absorção produtiva dos segmentos marginais?
A seguir à guisa de preâmbulo tentamos discutir:
1 - Investimento e crescimento
Este é um ponto central e, ao mesmo tempo, bastante problemático.
Durante o governo AMLO, parece difícil esperar que o investimento
privado aumente substancialmente, como % do PIB, pelo menos nos primeiros anos.
Então, com igualdade de outras condições, a taxa de
crescimento do PIB permaneceria aproximadamente a mesma da neoliberal
histórica (média anual de 2,0-2,5%). Consequentemente, se se
pretende no mínimo duplicar a taxa de crescimento o investimento
público deveria elevar-se drasticamente. Mas esta exigência pode
deparar com problemas maiores se: i) a base tributária não for
modificada; ii) se se mantiver o dogma do equilíbrio orçamental e
do endividamento zero; iii) se se aumentarem fortemente os gastos sociais
redistributivos. Segundo AMLO, os ajustes que propõe nas despesas
(basicamente eliminar a corrupção) permitiriam elevar o
investimento público em cerca de 62%. No entanto, em 2015, o
Investimento Público teve um nível igual a 3,65% do PIB. E se se
elevar nos 62% propostos, chegaria a 5,9% se o PIB não crescer. E se
este crescer cerca de 4%,
[19]
a quota chega a 5,66%. E se o investimento privado mantiver o seu nível
absoluto (na verdade, poderia cair) e o PIB crescer 4,0%, a sua
participação no PIB cairia para 18,1%. Portanto, o investimento
fixo total como percentagem do PIB atingiria 23,8% (18,1 + 5,66). A taxa que em
2015 foi de 22,5%, passaria para 23,8%, um aumento que não é nada
espectacular.
[20]
Se o investimento privado crescer com o PIB, teríamos um coeficiente de
investimento fixo de 24,5% (= 18,9 + 5,66).
[21]
Neste caso, pode supor-se que num primeiro momento (digamos, nos dois primeiros
anos), o investimento privado responde pouco ou nada e não cresce em
percentagem do PIB. Mas se o governo, por meio de uma forte massa de
investimento público, for capaz de gerar um grande crescimento e uma
procura florescente, os empresários privados acabarão por se
entusiasmar. Neste processo, existem três eixos a serem tidos em
consideração: a) aumentar drasticamente o investimento
público; b) localizá-lo em sectores produtivos e com capacidade
de arrastamento; c) dentro do possível, em sectores com capacidade de
exportação ou de gerar um salto forte (para baixo) no componente
importado da oferta global (ou seja, recupera-se o tema da
substituição de importações). Em suma, ao investir,
deve ter-se muito cuidado com os impactos que são gerados no
balanço de pagamentos.
Veremos mais adiante que a taxa de crescimento procurada, de 4,0% ao ano,
é insuficiente.
[22]
Para aumentá-la, o esforço de investimento do sector
público deve subir, em termos de magnitude e de eficácia. Algo
que se choca com a intenção declarada de não elevar a
carga tributária. Ao mesmo tempo, como se pretende subir fortemente a
despesa social e redistributiva, surge o problema óbvio: não
há recursos suficientes e pode surgir um problema delicado: cortar o
investimento produtivo ou a despesa que procura redistribuir o rendimento a
favor dos mais pobres?
Do exposto podemos deduzir que surgem metas que se contrapõem e perante
elas é muito provável que o investimento público
não responda às necessidades do desenvolvimento. E se isso
não acontecer, as metas de crescimento não serão
cumpridas. E já se sabe que a redistribuição sem
crescimento produtivo equivale, mais cedo ou mais tarde, a afundar num
pântano fétido.
[23]
2 Política fiscal
Para o novo governo, este tema (que mereceria uma análise cuidadosa e
minuciosa, que aquí não é possível), poderia ser um
verdadeiro bumerangue. Em termos muito simples: pretende-se aplicar uma
política neoliberal ortodoxa para promover um padrão de
acumulação democrático e industrializante. Vamos indicar
quatro pontos que foram anunciados repetidas vezes: a) a carga
tributária não será modificada; b) trabalhar-se-á
com endividamento zero; c) também com equilíbrio
orçamental: não será gasto mais do que entra; d) a despesa
pública será deslocada da despesa corrente para o investimento.
Não modificar a carga tributária, que é baixíssima,
é como enfiar a corda no pescoço.
[24]
Recordemos: em 2017, a carga tributária média na América
Latina foi de 21,0%, na Argentina de 30,3%, no Brasil de 32,2%, no Chile de
20,1%, no Uruguai de 28,7% e no México de 16,0%.
[25]
Vale a pena observar: se se conseguisse equiparar a carga tributária do
país à média da América Latina (algo nada
espectacular), passando de 16% para 21%, esses 5 pontos adicionais poderiam ser
comprometidos exclusivamente em projectos industriais significativos. E o
coeficiente de investimento bruto passaria de 23% ou mais para uma subida de
28% ou mais.
O não à dívida é um absurdo: se for aplicado em
investimentos altamente produtivos (e não para cobrir despesas correntes
e subsídios), o governo pode pagar o principal e os juros e, além
disso, manteria um bom excedente para outras aplicações Vamos
supor que me endivido em 100 a uma taxa de juros de 6%. Que com este dinheiro
desenvolvo um
investimento produtivo
que me rende 125 (taxa de lucro de 25%). Pago o empréstimo e os juros
(= 100 + 6 = 106) e sobram-me 19. Algo semelhante pode valer para o
défice. Aqui, o problema subjacente é a
internalização dos dogmas neoliberais. Por este lado,
supõe-se que: a) o sector privado utiliza os recursos com mais
eficiência que o sector público; b) também se supõe
que a economia está com pleno emprego. Consequentemente, se os gastos
públicos aumentarem o sector privado deve ser cortado; c) a luta do
sector públicosector privado por recursos "escassos"
provocará um aumento na taxa de juros e pressões
inflacionárias. O facto de que os principais economistas do novo governo
adoptem estes critérios e até se declarem a favor de um Conselho
Fiscal autónomo, à semelhança do Banco Central, é
suicida: acrescenta-se ao do BC outro bunker de ultra-direita.
Também tem sido indicado que os preços dos bens e serviços
do sector público serão ajustados de acordo com a taxa de
inflação. O que levanta pelo menos duas
observações: a) se o ajuste é anual, com uma taxa de
inflação contínua ao longo do ano, o poder de compra dos
gastos públicos ir-se-á desvalorizando cada vez mais ao longo do
ano. Se a inflação anual for de 6%, a perda do poder de compra do
governo será igual a 3%; b) a indexação prometida costuma
a retro-alimentar a inflação. Suponhamos que a
inflação anual em 31 de Dezembro seja de 6%. Nesse momento,
reajustam-se em 6% os preços cobrados pelo governo pelos bens e
serviços que gera e vende. Ao fazê-lo, muito provavelmente (para
não dizer com certeza) o sector privado ajustará seus
preços em 6%. Ou seja, a inflação se retro-alimenta e
quando isto acontece, costuma haver inclusive uma tendência para o
aumento da taxa.
3 - Uma visão do sector externo
As políticas de relacionamento externo que foram seguidas nas
últimas décadas foram totalmente funcionais para o modelo
neoliberal. E os seus resultados em termos de crescimento e
distribuição são conhecidos. Se o país realmente
quiser avançar para um padrão de acumulação
diferente, não poderá reproduzir esse tipo de política. As
políticas tarifárias, cambiais, de investimento estrangeiro, etc
devem ser revistas e reajustadas. Trata-se de usar a política
económica para gerar uma hierarquia de rentabilidades que canalize o
investimento aos sectores económicos capazes de gerar maior crescimento
e coerente com os interesses do povo mexicano. Mencionemos uma dicotomia
clássica: vai-se privilegiar o investimento industrial ou o
investimento financeiro especulativo?
O caso do FTA é ilustrativo. O futuro governo declarou a sua
aprovação e desejo de que a renovação em curso seja
alcançada rapidamente. Com o que, de facto, nos diz que o TLC foi
benéfico para o país. Será, de facto, assim? Se os
números de exportação forem revistos, parece que sim:
cresceram a ritmos elevados. Mas o mesmo aconteceu, a velocidades ainda
maiores, com as importações. E hoje, se o país crescesse a
4% ao ano, o seu sector externo explodiria. Ou seja, o piso do crescimento que
determina o sector externo foi reduzido drasticamente: nos velhos tempos, o
tecto era alcançado em torno dos 6% ou mais do crescimento do PIB.
Fala-se em exportações industriais, mas a análise mostra
que os processos de produção envolvidos são mais do tipo
indústrias maquiladoras: são importados e depois exportados, com
um valor acrescentado baseado nos baixos salários mexicanos. Mas
há algo mais substantivo:
o efeito de arrastamento desse novo tipo de sector exportador tem sido
praticamente nulo.
E a quase estagnação económica das últimas
décadas da dominação neoliberal está estritamente
associada a esse tipo de relacionamento externo e ao contacto quase nulo entre
o sector exportador e o resto da economia nacional. Também convém
assinalar: o TLC, em artigos muto pouco publicitados, implica
restrições duríssimas à gestão da
política económica no México. De facto, há um
desejo claro de colocá-la num "colete de força" ou de
cimentá-la no dogma neoliberal.
[26]
Se o TLC fosse desactivado (mesmo Trump poderia fazê-lo), no curto prazo
haveria um terramoto económico. Em particular, o segmento monopolista de
exportação dominante sofreria um grande dano. Mas não
deveríamos confundir este pequeno segmento com a maior parte do
país. Assim como o auge exportador neoliberal tem sido associado
à miséria das maiorias, agora a sua derrocada teria poucos
efeitos realmente substantivos sobre o resto do país. E, acima de tudo,
abriria uma grande oportunidade, a de redefinir a estratégia de
desenvolvimento vigente.
4- Emprego e produtividade
Suponhamos que o PIB cresce a 2,6% ao ano. Se a produtividade crescer a 2,0% ao
ano, o emprego fá-lo-ia a quase 0,6%. Como a PEA tem crescido em torno
dos 1,8% ao ano, verificaríamos que o problema do emprego se agravaria
ainda mais. Se o PIB crescer a 4,0% ao ano e a produtividade a 2,0%, o emprego
cresceria quase a 2,0% ao ano, pouco acima do crescimento da PEA. Neste caso
deve-se assinalar: i) o crescimento do emprego não só deve ser
suficiente para absorver os novos ingressantes no mercado da força de
trabalho. Deve também absorver boa parte dos informais (que chegam a 58%
da força de trabalho); ii) um crescimento da produtividade de 2,0% ao
ano é muito baixo para as necessidades do país. Deveria subir
para os 3,0% ao ano.
O acima indicado leva-nos a deduzir: a economia mexicana deveria crescer a uma
taxa mínima de 5,0% ao ano. Para isso seria preciso: i) elevar o
rendimento do investimento, digamos de 0,20 para 0,25
[28]
; ii) ao mesmo tempo, redobrar o esforço de investimento. Se este chegar
a 27% do PIB (e 16% como investimento líquido) seria possível
alcançar uma taxa de crescimento de 5,0% ao ano. E como é de
esperar que num primeiro momento haja alguma relutância em investir por
parte do sector privado, a dedução é muito clara: deve ser
efectuado um aumento do investimento público muito forte.
A lição que se pode deduzir é clara: o esforço de
investimento por parte do sector público deverá ser muito
superior ao planeado. E para isso os recursos que se podem conseguir evitando
roubos e desperdícios, e sem alterar a presente carga tributária,
ficam muito abaixo do que se necessita para financiar o esforço de
investimento requerido.
5 Distribuição do rendimento e da riqueza
Quanto à distribuição da riqueza (activos produtivos e
financeiros), não há proposta de alterações. O
único movimento possível poderia verificar-se se algumas
concessões petrolíferas dadas ao sector privado fossem
consideradas ilegais ou dolosas.
Do lado dos rendimentos, anuncia-se um programa de fortes apoios ao campo, em
busca da "auto-suficiência alimentar". Com isso, deveria
melhorar significativamente o rendimento dos camponeses médios e
pequenos, que poderiam andar em torno dos 10-12% da ocupação
total.
No sector capitalista, o determinante principal da distribuição
do rendimento é a taxa de mais-valia.
[29]
Para 2018 podemos supor assumindo uma estimativa conservadora
igual a 6,0. Consequentemente, a relação da mais-valia com o
Rendimento Nacional seria igual a 6/7 = 0,86. Estas magnitudes, que são
brutalmente elevadas, em termos gerais podem ser qualificadas como
disfuncionais para o próprio desenvolvimento do capital. Por que? Porque
tende a provocar problemas sérios do lado da realização
(venda) do excedente. Para os trabalhadores assalariados, a alta taxa de
mais-valia costuma estar associadas a baixos níveis de vida. Em especial
quando se trata de países subdesenvolvidos, nos quais por
definição a produtividade do trabalho é baixa, uma
alta taxa de mais-valia está associada a um valor da força de
trabalho muito reduzido. Exemplo: se a taxa de mais-valia é igual a 6,0,
o valor hora da força de trabalho será igual a 0,143. Ou seja,
igual a 8 minutos e 34 segundos. E o que o operário produz neste tempo
(o que depende da produtividade) será o que consome por hora trabalhada.
Por outras palavras, seu salário real depende das horas que trabalha
para si (o valor-hora da força de trabalho) e da produtividade do
trabalho.
Com uma taxa de mais-valia igual a 6,0, a parte do Rendimento Nacional captada
pelos assalariados produtivos chega a uns escassos 14%. Se os assalariados
"gastam o que ganham" apenas poderão comprar 14% do Valor
Acrescentado.
[30]
Assim, compreende-se que o mercado de bens salariais fica deprimido e muito
pouco atraente para o investimento dos capitalistas. Ao acima mencionado
deve-se acrescentar:
o nível absoluto do salário real
associado ao valor da força de trabalho de 0,143 também é
muito baixo. Por isso, o
tamanho absoluto
do mercado de bens salariais vê-se muito afectado. E dessa forma teremos
um impacto negativo nos níveis de investimento e de crescimento. De
facto, durante o período neoliberal mexicano, temos um comportamento do
investimento que além de ser muito débil (o investimento
líquido anda em torno dos 14% do excedente) gera um impacto escasso no
nível de emprego. Em suma, a capacidade de absorção
ocupacional do regime é muito baixa e, por isso mesmo, foi-se gerando
uma população de marginalizados e pauperizados, que já se
aproxima da metade ou mais da população.
O indicado acima permite-nos avançar para o segundo grande factor que
incide na muito desigual distribuição do rendimento. Trata-se da
marginalidade,
um vasto sector onde impera o
trabalho informal,
o qual já se aproxima dos 60% da população ocupada total.
Neste sector, cerca de 3/4
dos ocupados não trabalham em empresas capitalistas e seus rendimentos
tendem a andar em torno de um salário-mínimo. A parte restante
opera em empresas capitalistas, em condições precárias e
incertas.
Isto posto, perguntamos: como conseguir uma melhoria substancial na
distribuição do rendimento?
Primeiro, deve conseguir-se uma redução substancial do
nível actual da taxa de mais-valia. E isto pela via de um forte
incremento dos salários reais. Poder-se-ia pensar, por exemplo, num novo
nível, da ordem de 4,0 ou menos, nos finais do sexénio. O assunto
não é simples e vamos discuti-lo mais adiante.
Segundo, deve-se atacar com muita força a marginalidade. Para isso,
deve-se impulsionar um esforço de investimento muito forte. E devemos
insistir: os programas de assistência (ou "esmola estatal")
não resolvem o problema estrutural. Mas conseguir o nível de
investimento requerido não será fácil.
Passemos a discutir o primeiro ponto: reduzir a taxa de mais-valia e elevar o
salário real.
A maior parte dos trabalhadores assalariados (a classe operária)
situa-se no intervalo de 2-3 salários mínimos. Suporemos que seus
salários se moverão no mesmo sentido que o salário
mínimo. Se este sobe em xis por cento, o salário operário
crescerá na mesma proporção. Segundo
informações da imprensa, o novo governo pretende que o
salário mínimo se eleve em 15,6% ao ano, em termos reais. A este
ritmo, em todo o sexénio subiria 138,6%. Em termos de índice
passaria de 100,0 para 238,6, ou seja, multiplicar-se-ia 2,39 vezes. Neste
caso, o que aconteceria com a taxa de mais-valia? Em igualdade de outras
condições, baixaria dos 6,0 iniciais até 1,94, uma descida
fortíssima e que o sistema não suportaria. As outras
condições são a jornada de trabalho e a produtividade.
Suponhamos que a jornada não se altera e que a produtividade cresce a
2,0% ao ano. Portanto, elevar-se-ia 12,6% no sexénio. Neste caso, a nova
taxa de mais-valia iria para 2,312.
Suponhamos agora uma terceira possibilidade. Nesta, o salário
mínimo real duplica-se no sexénio, crescendo para 12,2% ao ano.
Mantendo as metas de produtividade, teríamos que a taxa de mais-valia
chegaria a 2,94 no final do sexénio.
Avancemos uma quarta alternativa. Suponhamos agora que se propõe como
meta uma taxa de mais-valia igual a 4,0. Se a jornada de trabalho não se
altera e a produtividade cresce a 2,0% em média anual, teríamos
que o salário real anual deveria crescer a 7,88% anual. O que implica
uma elevação de 57,6% no sexénio.
Dito isto, não esqueçamos que é a taxa de lucro (mais
concretamente, a taxa de lucro empresarial) que regula a conduta dos
capitalistas. E a taxa de mais-valia, ainda que muito importante, não
é o único factor que determina o nível da taxa de lucro.
Nela também incidem: a) a composição de valor do capital:
quociente entre o capital constante e o capital variável
avançados; b) o nível da procura global, reflectido na taxa de
operação: quociente entre a produção efectiva e a
produção potencial; c) o coeficiente de gastos improdutivos; d) a
taxa tributária; e) o efeito de alavancamento, que reflecte o impacto
das variáveis financeiras: níveis de endividamento e da taxa de
juro; f) o grau de monopólio, entendido como quociente entre a taxa de
lucro efectiva da empresa (ou ramo) e a taxa média; g) etc. Muito
provavelmente, estes factores se se cumprissem requisitos mínimos
poderiam reduzir o impacto negativo da menor taxa de mais-valia na
rentabilidade do capital.
[31]
Por sua vez, não se deve esquecer: a função que conecta a
rentabilidade com níveis de investimento, sob determinadas
circunstâncias histórias, pode-se deslocar. Isto, no sentido de
que, para a mesma taxa de rentabilidade, o montante do investimento seja mais
elevado. Em termos muitos gerais, a ideia importante a manejar seria: a maior
dinâmica dos mercados e vendas pode contrapor-se ao impacto da menor taxa
de mais-valia.
O que acaba de ser indicado supõe que a maior procura provocada pelo
incremento salarial é satisfeita com produção interna. Mas
se se mantiverem os actuais padrões do comércio exterior, a
altíssima componente importada da oferta global deita abaixo tal
suposição.
[32]
Pela mesma razão, o crescimento salarial reflectir-se-ia num salto nas
importações e num défice crescente na balança de
pagamentos. Perante isto, não há senão duas alternativas:
a) aplicar uma política recessiva: baixar o Rendimento Nacional
até conseguir o equilíbrio da balança de pagamento; b)
proceder a um forte rápido processo de controle (tarifários, etc)
e de substituição de importações, o que obrigaria a
romper frontalmente com os dogmas neoliberais.
Há outro aspecto crucial. Suponhamos que se aplica a política de
aumentos salariais significativos e que, para além de alguns factores
contrapostos, ocorre um aumento nos custos capitalistas de
produção. Num regime de livre competição, a
resultante geral seria um aumento dos salários, menores lucros e um
nível de preços relativamente estável. Mas na economia
mexicana o que domina são as estruturas oligopólicas e,
consequentemente, os maiores custos salariais transferem-se aos preços.
Em consequência, seriam desencadeadas pressões
inflacionárias que poderiam ser significativas. Isto, por sua vez,
desencadeia fortes pressões sobre a taxa de câmbio e o
balanço de pagamentos. Pode-se evitar este tipo de consequências?
Na generalidade, parece que se poderia se o governo aplicasse um controle
estrito de preços. Com isso, o conflito governo-grandes
corporações se tornaria agudo.
[33]
Examinemos agora o problema da marginalidade e informalidade.
Até agora foi aplicada uma política assistencialista, por vezes
qualificada como de "esmola estatal". Esta pode ajudar pelo
menos momentaneamente os grupos de extrema pobreza (a antiga "sopa
dos pobres" também o fazia), mas como não aponta às
causas não pode resolver o problema básico. A chave radica na
dinamização do emprego produtivo, ao ponto de ser capaz de
absorver o exército de marginais. Devido à magnitude do problema,
isto não pode ser resolvido totalmente em poucos anos. Mas pode-se sim
esperar uma redução significativa.
A chave, vale a pena insistir, consiste em gerar um forte aumento de
ocupações produtivas e bem pagas. O que implica um forte
crescimento dos ramos pertinentes (da indústria em especial) e do
investimento capaz de assegurar esse crescimento.
Podemos manejar alguns números grossos para melhor dimensionar a
magnitude do problema. Se o PIB cresce a 4,0% ao ano (meta do governo) e a
produtividade a 2,0% ao ano, a ocupação cresceria quase a 2,0% ao
ano. Um número que chegaria para incorporar a nova
população que vai entrando no mercado (jovens) mas não
seria capaz de absorver os marginalizados. E já indicamos que um aumento
de 2,0% na produtividade seria insuficiente. Se se for aos 3,0%, o problema da
marginalidade mantém-se e agrave-se. Suponhamos agora que o PIB cresce a
5,0% ao ano. Se a produtividade sobe aos 2,5% e no limite a 2,0%, a
ocupação total subiria entre 2,5% e 3,0%. A qual poderia
começar a reduzir (pelo menos em termos percentuais) o peso da
marginalidade. Sem que houvesse qualquer avanço espectacular.
Em termos muito gerais, o problema dos marginais começar a reduzir-se a
partir de um crescimento da ocupação total da ordem dos 2,5%.
Neste contexto, fá-lo-ia com lentidão. Para uma
redução significativa, a ocupação formal e
produtiva exigiria um crescimento da ordem dos 3,0% ou mais. É
também de se advertir: estas metas, unidas à da produtividade,
indicam-nos que as exigências de crescimento se elevam (se pudesse
aproximar-se dos 6,0%) e, em consequência, o esforço de
investimento (investimento sobre PIB) também se deve elevar.
[34]
Neste ponto surge um dilema bem conhecido: o esforço de investimento
exigido começa a competir com as políticas redistributivas que
põem a ênfase nos subsídios (ex.: bilhetes do metro ou
contas da luz muito baixos) e nos programas de assistência social aos
mais pobres, aos idosos, etc. Poder-se-ia falar de um dilema entre a via
produtivista e a via dos subsídios e da despesa social. A médio e
longo prazo, só o investimento produtivo e o crescimento nela assente
pode resolver realmente o problema da distribuição regressiva do
rendimento e da riqueza.
[35]
Mas se isto vai ser assim, é preciso um aumento do investimento
(aproximá-lo de uns 27% a 30% do PIB) e dos ritmos de crescimento
(aproximá-los de uns 6%), muito acima do que até agora se
enunciaram. E para isso também é preciso romper frontalmente com
a ideologia neoliberal.
É preciso insistir reiteradamente no dilema ou contradição
que emerge entre o crescimento e a distribuição. Para ritmos de
expansão da ordem dos 4,0% ou menos, uma política de
redistribuição significativa provocará um sério
estrangulamento no investimento e no crescimento. Gerando, ao mesmo tempo,
problemas inflacionários e na balança de pagamentos muito agudos.
Se o investimento e o crescimento dispararem, o aspecto
distribuição melhorará pouco num prazo médio (2-3
anos). Mas ao longo (5 anos ou mais), conseguir-se-á melhorar
drasticamente a distribuição. E esta melhora será
permanente. Digamos também: a política que favorece o
investimento produtivo e o crescimento e que em certo sentido adia a melhoria
na distribuição do rendimento exige uma sólida
consciência de classe no seio do bloco popular. Ou seja, capacidade
popular parar operar com um horizonte de planeamento de médio e longo
prazo. Capaz de entender que algumas restrições no curto prazo
podem ser mais do que compensadas num período ou fase ulterior: hoje
não vou elevar meus rendimentos em 10, mas em contrapartida
amanhã chegarei a elevá-los em 30 ou mais. Na ausência
desta consciência, a política deveria ser imposto coercitivamente,
o que daria cabo do anseio democratizador do processo.
V - Decomposição social e moral
1- O grande problema. Breve menção.
[36]
No México de hoje existe um problema central, no qual confluem e
sintetizam-se todas as deformações e misérias que engendra
o estilo neoliberal. Falamos do processo de decomposição social e
moral que se vem expandindo no país. Este processo, a menos que
México opte pelo suicídio colectivo, deve ser superado tendo em
vista a emergência de uma nova ordem social e moral. Este processo deve
satisfazer no mínimo três requisitos básicos: a) ter
eficácia.
Ou seja, ser capaz de eliminar as causa da desintegração do
velho e, ao mesmo tempo, gerar uma nova ordem sócio-económica e
política que gere maiores ritmos de crescimento, menos desigualdade e
menor grau de dependência; b) que seja capaz de
gerar entusiasmo e compromisso emocional
na maior parte da população; c) que, em caso de necessidade,
não vacile em
aplicar a força
para impulsionar e consolidar a nova ordem social.
2 Políticas com o narcotráfico
Certamente este é um dos problemas mais complexos. O narcotráfico
mexicano obtém rendimentos estratosféricos e penetrou
profundamente nas organizações políticas e estatais.
Também no empresariado. Como enfrentar o problema? Em linhas gerais,
parece que se pretende: a) reduzir drasticamente a rentabilidade do
negócio pelas vias de não proibir o consumo e
produção de marijuana (dentro de certos limites) e também
pela via de atacar realmente os canais financeiros (banca, etc) utilizados para
lavar o dinheiro mal ganho; b) conseguir um alto crescimento de
ocupações produtivas e bem pagas e, por esta via, reduzir a
atracção do narcotráfico como fonte ocupacional; c) com um
objectivo semelhante, gerar uma boa oferta de trabalho (subsidiar o sector
privado que os contrate como aprendizes) e de educação (bolsas)
para os jovens.
Tais políticas são operacionais em prazos médios e longos.
No curto, provavelmente será procurado algo assim como uma trégua
delimitada: "não te metas nestes lugares nem armes tiroteios
assassinos". Em troca, por enquanto, também regulo a
opressão que te posso aplicar. Algo que parece haver ocorrido em outros
tempos (anos noventa ou antes do século passado) com bons resultados. Se
o novo governo, nos seus dois primeiros anos, conseguir reduzir drasticamente
as mortes e a violência terá obtido um triunfo enorme.
Notas
1 UAM-I.
2 Por enquanto, sugem como únicos porta-vozes da direita o
"opinólogos", jornalistas com alguma formação
universitária elementar, que posam como "académicos
neutros" e representantes da "sociedade civil". Também
andam engasgados e descompostos. Só sabem clamar por um "poder de
contrapeso". Ou seja, pedem o que nunca antes concederam. Na actualidade,
as pesquisas de opinião dão uma aprovação superior
a 70% para AMLO. Não obstante, a direita com homérica
desfaçatez já fala de "ditadura
López-obradorista". E cabe advertir: a esmagadora maioria da
população busca uma mudança radical. Mas o bloco no poder,
não mais de 400 famílias, assinala que se ele não aprovar
tais mudanças o país terá caído numa ditadura!
3 Observadores estado-unidenses assinalaram que a eleição
presidencial não esteve isenta das fraudes habituais. Consideram que 4 a
6% da votação em favor de AMLO foi-lhe escamoteada. Ou seja, AMLO
teria tido uma votação efectiva que se aproximaria dos 60%
4 É significativo que aquando das eleições, enquanto AMLO
desenvolvia uma grande actividade e conversava e discutia com os grandes
empresários (oferecendo concessões nada pequenas), não
teve nenhuma reunião com os grandes agrupamentos de trabalhadores.
Além disso, observa-se que o partido Morena entrou numa espécie
de silêncio sepulcral. Parece que, se não há
eleições, perde sua razão de ser.
5 A justificação repete-se sempre: "há que ser
realista", a "correlação de forças não
dava para mais", "não podíamos arriscar um golpe de
Estado". O que nunca se explica é porque não se tomaram
medidas para melhorar essa correlação.
6 Suponhamos que se decreta um aumento do salário (nominal) de 10%
anual, sob o prognóstico de uma inflação anual de 4%. O
suposto ou intenção é a de elevar o salário real em
6% ao ano. Mas as grandes empresas vão transferir os 10% para seus
preços. Com o que liquefazem completamente o aumento salarial. Mas
há algo mais. Se os salários equivalem a 20% dos custos
capitalistas totais, o impacto nos preços deveria chegar só a 2%
ao ano. E que isto aconteça ou não deve ser responsabilidade das
organizações operárias e, sobretudo, do Estado. Não
se deve esquecer uma velha hipótese: a inflação, em alto
grau, é a expressão da luta de classes.
7 Importa esclarecer: a avaliação política de um
ideólogo ou de um político faz-se em função dos
interesses
objectivos
que o seu programa e actividade privilegia. Um político
pequeno-burguês não precisa ser um mestre artesão que
produz móveis. Um democrata-burguês não significa,
necessariamente, que o político seja um capitalista que gere uma
fábrica com 50-100 operários. E avaliação
política não equivale a
qualificação-identificação pessoal. Neste
último espaço, a personalidade e capacidade de AMLO é
elevada e está muito acima de todos os demais políticos do
país.
8 Cabe recordar: no México, entre 2010 e 2017, o salário real
médio subiu 2,9%. No Chile (país bastante direitista) subiu 19%.
Números da Cepal.
9 Em diversos lugares e circunstâncias históricas, o bloco de
poder pode estar dominado pelos latifundiários feudais, pela
potência imperial dominante, pela burguesia intermediária, pela
grande burguesia financeira, etc.
10 Sobre as vacilações da burguesia em relação
à autocracia czarista e ao feudalismo subjacente, um texto
clássico e que deveria ser estudado a fundo é o de Lenine:
"Duas tácticas da social-democracia na revolução
democrática".
11 "A burguesia teme mais o movimento das massas que à
reacção", assinalava Lenine. Ver sua "Duas
utopias", em Obras Escolhidas em 12 tomos, Tomo III, pg. 447, Edit.
Progreso, Moscovo, 1976.
12 AMLO recentemente prometeu
interceder
junto a donos de rádios e TV em favor da reincorporação
de jornalistas antes expulsos (como Aristegui e Gutiérrez V.). A
pergunta óbvia que surge é: "não seria mais eficaz
que o Morena fosse dono de algum canal ou estação de
rádio? Ou seja, há ou não vocação pelo poder?
13 O Censo de 2014 assinala que no país existiam 5.654.014
estabelecimentos. Deles, apenas 1156 (0,0002%) controlavam 42,7% dos activos
fixos e 32% das vendas totais. Dados do INEGI.
14 Esta é uma crença muito errónea. No neoliberalismo e no
domínio do capital monopolista financeiro, a instabilidade
macroeconómica eleva-se. No México, em relação
à fase anterior, 1940-1980, as oscilações triplicaram.
15 A teoria neoclássica, que emerge em 1870 (ou pouco antes) na Europa,
sofreu críticas desde o seu próprio início. Já em
Marx encontram-se apontamentos muito agudos. Mais tarde, em Bukarin e Veblen
também encontramos críticas fortes. Nos fins dos anos trinta,
emergem as críticas de Keynes. A seguir, a partir da obra de Sraffa,
desenvolve-se a denominada "controvérsia sobre o capital", a
qual deixou muito mal parados os fundamentos da abordagem. No plano
empírico, todas as grandes crises (não apenas elas) evidenciaram
quão falsos são os seus teoremas. Na última grande crise,
de 2007-2009, uma vez mais "falsificaram-se" seus teoremas
básicos. No entanto, o grande gurús (Barros, Lucas, etc)
não se deram por achados e permanecem imutáveis. Como bem se
escreveu, "a assim chamada ciência económica é uma
mistura de mitos ao lado da qual a antiga visão ptolemaica do sistema
solar com a terra no centro parece positivamente sofisticada". Este mesmo
autor aponta: "se deixarmos o desenvolvimento da economia aos economistas
então é muito provável que a revolução
intelectual que a economia precisa tão desesperadamente não
chegue a ocorrer". Cf. Steve Keen, "La economía
desenmascarada", pág. 25. Capitán Swing edit., Madrid, 2015.
16 Mao Tsetung, "Sobre la contradicción", em "Textos
escogidos", pg. 97. Edic. en Lenguas Extranjeras, Pekín, 1976.
17 G. F. Hegel, "Ciencia de la lógica", pág. 386. Edic.
Solar-Hachette, Buenos Aires, 1976. O sublinhado é nossos.
18 Saint-Just, "Oeuvres completes", pág. 667. Gallimard,
Paris, 2004.
19 Podemos supor que este crescimento, num primeiro momento, assenta num maior
aproveitamento das capacidades instaladas.
20 Se supusermos que o investimento de reposição é igual a
11% do PIB e que o coeficiente produto capital fixo incremental é
igual a 0,20, obtemos uma taxa de crescimento do PIB igual a quase 2,6% anual.
Ou seja, um ritmos que poderia qualificar-se como "neoliberal".
21 Neste caso, bastante optimista, a taxa de crescimento poderia chegar a 2,7%
ao ano.
22 Ver, especialmente, os apéndices I e II.
23 O caso actual da Venezuela, é um exemplo dos problemas provocados por
esta dissociação.
24 A situação poderia ser pior. O novo governo anunciou a
criação de uma zona económica preferencial na fronteira
Norte. Na qual haveria uma redução tributária muito forte.
Segundo consideram alguns especialistas, a redução seria
equivalente a 1% ou mais do PIB.
25 Dados da Cepal.
26 Por exemplo, políticas que privilegiem o capital nacional vis a vis o
capital estrangeiro estão proibidas.
27 Aquí e mais adiante manejamos algumas relações muito
simples. A taxa de crescimento do produto (rg) é igualada à taxa
de variação da ocupação (I), mais a taxa de
variação da produtividade (f). Ou seja, rg = I + f. Também
se pode usar rg = (in) (á'), em que (in) = coeficiente de investimento
líquido (investimento líquido sobre Produto) e á',
relação produto activos fixos incremental. Suponhamos que
á' = 9,25 e que a taxa de crescimento buscada é de 6,0%. Neste
caso o coeficiente de investimento líquido seria igual a 24%. Como o
investimento de reposição é da ordem dos 11% sobre o
Produto, teríamos um coeficiente de investimento bruto da ordem dos 35%.
Pode-se desde já perceber o tamanho tremendo da exigência.
28 Esta suposição poderia ser excessiva: passar de 0,20 para 0,25
é elevar em 25% o rendimento dos activos fixos. E ainda que hoje exista
uma alta capacidade ociosa a meta não é nada simples. E
obviamente, quanto menos se possa elevar o coeficiente produto capital,
maior deverá ser o esforço de investimento que exige um
crescimento de 5% ou mais.
29 A taxa de mais-valia (p) define-se como igual ao quociente entre a
mais-valia total gerada pelo sistema em um ano (P), dividida pelo capital
variável gasto pelos capitalistas (V). Ou seja, p = P/V. Por capital
variável entende-se o gasto dos capitalistas na compra de força
de trabalho produtiva. A relação mais-valia Rendimento
Nacional (YN) costuma-se definir como "potencial de
reprodução ampliada" (pra) do sistema. Em que se tem que pra
= p / (1 + p).
30 Estamos a falar de trabalhadores produtivos. Também há uma
vasta gama de improdutivos, os quais tendem a obter uma massa salarial
semelhante ou algo maior que a dos assalariados produtivos.
31 Fazemos um exame analítico e pormenorizados das variáveis em
jogo em: a) J. Valenzuela Feijoo, "Ensayos de Economía
marxista", capítulos VI y VII, UAM-I, México, 2006; b) J.
Valenzuela Feijóo, "La gran crisis del capital"; UAM,
México, 2009 (2°edición).
32 O novo governo falou em alcançar a auto-suficiência alimentar,
o que aponta na direcção correcta.
33 Um governo de trabalhadores seguiria outra rota:
Considerando que jamais conseguireis
dar-nos bons salários
tomaremos conta das fábricas.
Sem vós, tudo irá melhor para nós."
Cf. Bertolt Brecht, "Los días de la Comuna", Nueva
Visión, Buenos Aires, 1981.
34 Nos tempos da industrialização substitutiva, esta taxa de
crescimento era o normal.
35 Neste âmbito reler e estudar o modelo de crescimento de Feldman pode
ser muito útil.
36 Este é um problema maior e muito complexo. Necessita de uma
análise separada e extensa. Aqui nos limitamos a mencioná-lo,
para chamar a atenção sobre o seu significado. Primeiras
aproximações ao tema em: José Valenzuela Feijóo,
"De la crisis neoliberal al nacionalismo fascistoide", Terceira
Parte, UAM-CEDA, México, 2017 (Segunda edição).
Ver também:
As 100 medidas anunciadas por López Obrador
Artigo raivoso de um economista neoliberal:
New president plots a course of economic suicide
Documento do PCM:
Nenhuma ilusão sobre o governo burguês de Obrador, lutemos para mudar a sociedade e construir o novo mundo dos trabalhadores
Bastiones del viejo régimen: La casta dorada durante los primeros días de gobierno de López Obrador
[*]
Economista, chileno radicado no México.
Este ensaio encontra-se em
http://resistir.info/
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