por Thierry Meyssan
Entrevistado por Silvia Cattori
Silvia Cattori: Aqui tem-se o sentimento de que Tripoli está em vias de
colapso. Qual é a vossa opinião?
Thierry Meyssan: Estamos encerrados no Hotel Rixos. Não se pode dizer se
tudo vai afundar ou não. Mas a situação é muito
tensa. Ontem à noite, no momento da oração, várias
mesquitas foram trancadas. De repente, alto-falantes lançaram o apelo
à insurreição. Neste momento grupos armados
começaram a percorrer a cidade e a atirar para todo lado. Soubemos que a
NATO trouxe um barco até as proximidades de Tripoli, do qual foram
desembarcadas armas e forças especiais. Desde então as coisas
vão cada vez pior.
Silvia Cattori: Trata-se de "forças especiais" estrangeiras?
Thierry Meyssan: Pode-se supor, mas não estou em condições
de verificar. Mesmo que estas "forças especiais" sejam
formadas por líbios todo o seu enquadramento é estrangeiro.
Silvia Cattori: Qual é a nacionalidade destas "forças
especiais"?
Thierry Meyssan: São franceses e britânicos! Desde o
princípio, são eles que fazem tudo.
Silvia Cattori: Como é que tudo ruiu subitamente?
Thierry Meyssan: Em 21 de Agosto, no fim do dia, um comboio de viaturas com
oficiais foi atacado subitamente. Para se porem ao abrigo dos bombardeamentos
os membros deste cortejo refugiaram-se no hotel Rixos, onde reside a imprensa
internacional e onde por acaso me encontro eu.
A partir deste momento o hotel Rixos está cercado. Toda a gente veste
colete anti-balas e capacetes. Ouve-se atirar em todos os sentido em torno do
hotel.
As forças entradas em Tripoli desde ontem não tomaram nenhum
edifício em particular; elas atacaram alvos em certos lugares ao
deslocarem-se. Neste momento não há nenhum edifício
ocupado. A NATO bombardeia de maneira aleatória para aterrorizar sempre
mais. É difícil dizer se o perigo é tão importante
quanto parece. As ruas da cidade estão vazias. Toda a gente permanece
encerrada na sua casa.
Estamos prisioneiros no hotel. Dito isto, há electricidade e
água, não nos estamos a queixar. Os líbios sim. Agora
há tiros em redor, uma batalha intensa; já há numerosos
mortos e feridos em algumas horas. Mas nós somos preservados. Estamos
todos reagrupados na mesquita do hotel. Você ouve tiros neste momento.
Silvia Cattori: Quantos assaltantes cercam vosso hotel neste momento?
Thierry Meyssan: Sou incapaz de dizer. É um perímetro bastante
grande porque há um parque em torno do hotel. Penso que se não
houvesse senão os assaltantes não seria tão simples tomar
Tripoli. Mas se há outras tropas da NATO com eles sim, isso muda tudo, o
perigo torna-se grande.
Silvia Cattori: Nas imagens difundidas pelas televisões daqui
vê-se que ao longo destes seis meses são excitados que atiram para
o ar e que não parecem profissionais...
Thierry Meyssan: Viu-se com efeito bandos que se agitam e que não
são formados militarmente. É pura encenação,
não é realidade. A realidade é que todos os combates
são travados pela NATO; e quando seu objectivo é atingido as
tropas da NATO retiram-se. Então chegam pequenos grupos
vê-se de cada vez uma vintena de pessoas mas na realidade nunca
são vistos em acção. A acção são as
forças da NATO.
Foi assim que se passou sempre nas cidades que foram tomadas, perdias,
retomadas, reperdidas, etc... E cada ocasião são as forças
da NATO que chegam em helicópteros Apaches e metralham todo o mundo.
Ninguém pode resistir, no terreno, face a helicópteros Apaches
que bombardeiam; é impossível. Portanto não são os
rebeldes que fazem o trabalho militar, isso é anedota! É a NATO
que faz tudo. Depois de eles se retirarem, então vêm "os
rebeldes" fazer a figuração. É isso que você
vê difundido nas cadeias de TV.
Silvia Cattori: Sabe-se quantos "rebeldes" em armas entraram em
Tripoli esta noite? E se células dormentes já estavam lá?
Thierry Meyssan: Sim, com certeza, há células dormentes em
Tripoli; é uma cidade com um milhão e meio de habitantes. Que
haja células combatentes no interior e perfeitamente provável.
Quanto aos assaltantes, mais uma vez, não sei qual é a
proporção do enquadramento pelas forças da NATO. A
verdadeira questão é saber quantas forças especiais
já foram colocadas.
Há agora forças militares do coronel Kadafi na cidade. Elas
chegaram bastante tardiamente do exterior. Os assaltantes cercam o hotel. Penso
que é impossível esta noite tentarem um assalto contra o hotel.
Silvia Cattori: Houve pânico entre as pessoas que residem no hotel?
Thierry Meyssan: Sim, jornalistas residentes aqui no hotel Rixos entraram
completamente em pânico. É um pânico geral.
Silvia Cattori: E você como se sente?
Thierry Meyssan: Eu tento permanecer zen nestas situações!
Silvia Cattori: Quantos jornalistas estrangeiros estão entrincheirados
no hotel?
Thierry Meyssan: Eu diria entre 40 e 50.
Silvia Cattori: As pessoas ignoram que onde há jornalistas que cobrem a
guerra há sempre um bom número deles que faz
informação, que são agentes duplos, espiões...
Thierry Meyssan: Há espiões por toda a parte; mas penso que eles
não sabem tudo.
Silvia Cattori: Diz-se aqui que o plano para evacuar os estrangeiros
está pronto. Eles vão poder sair...
Thierry Meyssan: A Organização de Emigração
Internacional tem um barco que está prestes a atracar no porto de
Tripoli para evacuar os estrangeiros, nomeadamente a imprensa,
prioritárias neste caso.
Silvia Cattori: E você o que pensa fazer?
Thierry Meyssan: Por enquanto o barco está ao largo; ele não
entrou no porto. É a NATO que o impede de atracar. Quando a NATO o
autorizar será feita a evacuação.
Silvia Cattori: Esta evolução vos surpreende?
Thierry Meyssan: As coisas aceleraram-se quando chegou o barco da NATO.
São combatentes pertencentes às forças especiais da NATO
que estão aqui no terreno e é evidente que tudo pode cair
rapidamente...
Silvia Cattori: Os citadinos estão todos munidos de fuzis se diz?
Thierry Meyssan: O governo distribuiu quase dois milhões de kalachnikovs
no país para assegurar a defesa frente a uma invasão estrangeira.
Em Tripoli, todos os cidadãos adultos receberam uma arma e
munições. Houve um treino nestes últimos meses.
Silvia Cattori: Os líbios que quisessem não estão em
condições de sair para manifestarem-se contra as forças da
NATO?
Thierry Meyssan: As pessoas estão paralisadas pelo medo; atira-se de
toda a parte; e além disso bombardeia-se.
Silvia Cattori: Vossa posição não é fácil.
Entre os jornalistas você deve ter inimigos que querem a vossa pelo por
ter contraditado suas versões dos factos!
Thierry Meyssan: Sim. Já fui ameaçado por jornalistas
estado-unidenses que disserem que querem matar-me. Mas a seguir apresentaram as
suas desculpas... Não tenho dúvida nenhuma sobre suas
intenções.
Silvia Cattori: Eles proferiram esta ameaça diante de testemunha?
Thierry Meyssan: Sim, na presença de (...)
Entrevista realizada a partir de Tripoli em 21/Agosto/2011/23h00.
Ver também:
TRIPOLI - Témoignage : les journalistes "non alignés" sont menacés de mort (Russia Today)
O original encontra-se em
http://www.silviacattori.net/article1829.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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