Sobre o resultado do referendo do Icesave

por Ólafur Ragnar Grímsson [*]

Ólafur Grínsson ao votar no referendo de 9 de Abril. A nação islandesa deu o seu veredicto e assumiu inequivocamente a responsabilidade que lhe é garantida pela Constituição. O comparecimento foi elevado pelos padrões ocidentais e isto, juntamente com o amplo e completo debate que antecedeu o referendo, mostra claramente quão importante o assunto para o país.

O povo falou claramente sobre este assunto em duas ocasiões de acordo com a tradição democrática, a qual é a mais importante contribuição da Europa para a história mundial. Os líderes de outros estados e instituições internacionais terão de respeitar esta expressão da vontade nacional.

As soluções para disputas decorrentes de crises financeiras e falências de bancos devem ter em conta os princípios democráticos os quais são o fundamento da estrutura constitucional do Ocidente.

A Islândia demonstrou a sua vontade de negociar acordos; nós demonstrámos razoabilidade, mas ao mesmo tempo aderimos firmemente aos nossos direitos democráticos e legais.

Embora a maioria do eleitorado neste referendo tenha dito "não" em relação às conclusões das negociações que tiveram lugar no ano passado, é necessário enfatizar que a natureza da questão do Icesave é tal que as autoridades britânicas e holandesas e as agências ainda assim, não obstante este resultado, receberão imensas somas do património do Landsbanki. Com toda a probabilidade, as quantias que lhes serão pagas chegarão ao equivalente a US$7 a 9 mil milhões, o primeiro pagamento verificando-se dentro de uns poucos meses.

Portanto não é correcto sustentar que o Reino Unido e a Holanda não receberão quaisquer pagamentos. A disputa do Icesave centrou-se sobre pagamentos de juros e a interpretação dos regulamentos da União Europeia. O povo islandês notou com satisfação que a nossa posição, durante 2010 e 2011, obteve vasta compreensão e apoio internacional. Um julgamento decisivo e negativo foi passado sobre as exigências às quais os governos da Grã-Bretanha e da Holanda se fixaram ao longo de 2009; faltava-lhes tanto razoabilidade como solidez lógica.

Influentes media internacionais, como por exemplo o Financial Times e o Wall Street Journal, deram voz ao seu apoio à posição da Islândia, e por isto nós estamos gratos.

O colapso bancário não resultou apenas em graves choques económicos e financeiros; ele também paralisou a vontade da nação e minou a coragem do nosso povo. Os dois referendos sobre a questão do Icesave permitiram à nação recuperar a sua auto-confiança democrática e exprimir autoridade soberana nos seus próprios assuntos e portanto determinar o resultado em questões difíceis. Isto é uma experiência valiosa a ampliar no futuro.

A força da Islândia repousa não só na expressão democrática da vontade nacional como também no vigor do povo e dos recursos naturais do próprio país. Apesar das dificuldades que se seguiram ao colapso bancário, foram alcançados bons resultados em muitos sectores ao longo dos últimos anos: na pesca, na turismo, na indústria energeticamente intensiva, na tecnologia de informação, na produção alimentar, no design e em muitos sectores de alta tecnologia e tecnologia da informação.

Nossos recursos naturais estão a tornar-se cada vez mais valiosos no contexto global. A posição da Islândia no Extremo Norte agora é o fundamento da cooperação com muitos países. Nossa perícia, cultura e qualificações estão a exprimir-se numa multidão de novas iniciativas.

Bessastaðir, 10 de Abril de 2011
Ólafur Ragnar Grímsson

Ver também:
  • Islândia, combata esta injustiça! , de Eva Joly
  • A crise económica na Islândia: o remédio do FMI não é a solução , de Michael Hudson
  • Islândia: a chantagem odiosa , de Jean Tosti

    [*] Presidente da República da Islândia

    O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2011/grimsson110411.html


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • 13/Abr/11