Sobre o resultado do referendo do Icesave
por Ólafur Ragnar Grímsson
[*]
A nação islandesa deu o seu veredicto e assumiu inequivocamente a
responsabilidade que lhe é garantida pela Constituição. O
comparecimento foi elevado pelos padrões ocidentais e isto, juntamente
com o amplo e completo debate que antecedeu o referendo, mostra claramente
quão importante o assunto para o país.
O povo falou claramente sobre este assunto em duas ocasiões de acordo
com a tradição democrática, a qual é a mais
importante contribuição da Europa para a história mundial.
Os líderes de outros estados e instituições internacionais
terão de respeitar esta expressão da vontade nacional.
As soluções para disputas decorrentes de crises financeiras e
falências de bancos devem ter em conta os princípios
democráticos os quais são o fundamento da estrutura
constitucional do Ocidente.
A Islândia demonstrou a sua vontade de negociar acordos; nós
demonstrámos razoabilidade, mas ao mesmo tempo aderimos firmemente aos
nossos direitos democráticos e legais.
Embora a maioria do eleitorado neste referendo tenha dito
"não" em relação às conclusões das
negociações que tiveram lugar no ano passado, é
necessário enfatizar que a natureza da questão do Icesave
é tal que as autoridades britânicas e holandesas e as
agências ainda assim, não obstante este resultado,
receberão imensas somas do património do Landsbanki. Com toda a
probabilidade, as quantias que lhes serão pagas chegarão ao
equivalente a US$7 a 9 mil milhões, o primeiro pagamento verificando-se
dentro de uns poucos meses.
Portanto não é correcto sustentar que o Reino Unido e a Holanda
não receberão quaisquer pagamentos. A disputa do Icesave
centrou-se sobre pagamentos de juros e a interpretação dos
regulamentos da União Europeia. O povo islandês notou com
satisfação que a nossa posição, durante 2010 e
2011, obteve vasta compreensão e apoio internacional. Um julgamento
decisivo e negativo foi passado sobre as exigências às quais os
governos da Grã-Bretanha e da Holanda se fixaram ao longo de 2009;
faltava-lhes tanto razoabilidade como solidez lógica.
Influentes media internacionais, como por exemplo o
Financial Times
e o
Wall Street Journal,
deram voz ao seu apoio à posição da Islândia, e por
isto nós estamos gratos.
O colapso bancário não resultou apenas em graves choques
económicos e financeiros; ele também paralisou a vontade da
nação e minou a coragem do nosso povo. Os dois referendos sobre a
questão do Icesave permitiram à nação recuperar a
sua auto-confiança democrática e exprimir autoridade soberana nos
seus próprios assuntos e portanto determinar o resultado em
questões difíceis. Isto é uma experiência valiosa a
ampliar no futuro.
A força da Islândia repousa não só na
expressão democrática da vontade nacional como também no
vigor do povo e dos recursos naturais do próprio país. Apesar das
dificuldades que se seguiram ao colapso bancário, foram
alcançados bons resultados em muitos sectores ao longo dos
últimos anos: na pesca, na turismo, na indústria energeticamente
intensiva, na tecnologia de informação, na produção
alimentar, no design e em muitos sectores de alta tecnologia e tecnologia da
informação.
Nossos recursos naturais estão a tornar-se cada vez mais valiosos no
contexto global. A posição da Islândia no Extremo Norte
agora é o fundamento da cooperação com muitos
países. Nossa perícia, cultura e qualificações
estão a exprimir-se numa multidão de novas iniciativas.
Bessastaðir, 10 de Abril de 2011
Ólafur Ragnar Grímsson
Ver também:
Islândia, combata esta injustiça!
, de Eva Joly
A crise económica na Islândia: o remédio do FMI não é a solução
, de Michael Hudson
Islândia: a chantagem odiosa
, de Jean Tosti
[*]
Presidente da República da Islândia
O original encontra-se em
http://mrzine.monthlyreview.org/2011/grimsson110411.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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