Pelo fim da ocupação colonial do Iraque

Construir solidariedade para resistir à ofensiva imperialista USA-GB

por John Catalinotto

Manifestação em Nova York dia 30 de Março. A horrível carnificina da máquina de guerra do Pentágono contra civis e soldados iraquianos, e a heróica resistência da povo do Iraque, colocaram novas questões diante do movimento anti-guerra mundial.

Pode este movimento, que mobilizou dezenas de milhões de pessoas, tornar-se realmente um contra-peso ao poder militar do Pentágono? Pode ele tornar-se, como um redactor do New York Times o caracterizou em 16 de Fevereiro, "a outra super-potência do mundo?"

A direcção que este movimento tomar e o seu potencial de desenvolvimento futuro serão determinados pela forma como reagir aos graves acontecimentos que agora estão a ter lugar no Iraque.

Mesmo sem um centro reconhecida ou uma ideologia clara, reconhecida por todos, milhares de grupos em países de todo o mundo começaram, no decorrer dos últimos seis meses, a actuar como um movimento mundial de solidariedade mútua. Ele ganhou mais consciência do seu papel semana a semana. Seus organizadores têm grande cuidado em coordenar acções com o máximo impacto. Eles são conduzidos de forma a unificar diante dos crimes ultrajantes e da arrogância dominadora de Washington.

Com o pretexto de reunir acerca de um acordo respeitante aos seis condados irlandeses ainda sob domínio colonial britânico, George W. Bush e Tony Blair tiveram aquilo que foi realmente uma "cimeira de guerra" em 7 de Abril na cidade de Belfast, Irlanda do Norte. Eles assumiram que haveria pouca ou nenhuma oposição.

Mas este novo movimento mundial também está representado na área de Belfast. "Ter o presidente Bush e Tony Blair a falar de paz para políticos da Irlanda do Norte enquanto tramam a destruição de Bagdad e a ocupação do Iraque é a hipocrisia final", afirmou a Irish Stop the War Coalition no comunicado em que anunciava um protesto em massa dia 7 de Abril.

Este comunicado difundiu-se imediatamente pela Internet e fortaleceu a resolução de milhões de activistas anti-guerra por todo o mundo. Na manhã de 7 de Abril em Nova York, manifestantes a caminho da prisão, num furgão da polícia, mencionaram a demonstração de Belfast numa entrevista à radio como se fosse a sua própria.

12 DE ABRIL:
QUARTO DIA INTERNACIONAL DE PROTESTO


A resposta ao apelo for um dia internacional de protesto em 12 de Abril foi outro sinal da consciência crescente deste movimento mundial. ANSWER nos EUA e Stop the War Coalition na Grã-Bretanha, mais representantes do movimento anti-guerra alemão, haviam emitido um apelo conjunto em 28 de Março em favor do quarto dia de protesto mundial. Em 5 de Abril movimentos de 40 países de todos os continentes concordaram em apoiar o apelo, de Seul a São Paulo, de Sidney a Copenhagen, de Madrid a Manilha.

Tornar o 12 de Abril um dia internacional fortalece as acções globais. Ajuda especialmente a mobilizar em centros de guerra como os EUA e a Grã-Bretanha, onde a propaganda imperialista ainda tem poder sobre grandes segmentos da população.

As forças anti-guerra em vários países fizeram um esforço extra pelo bem comum. Exemplo: a International League of Peoples' Struggle, nas Filipinas, emitira anteriormente uma apelo por acções em 9 de Abril na região da Ásia-Pacífico. Mas quando a sua liderança soube do dia internacional, adoptou a acção exemplar de mudar a data do seu protesto para o dia internacional em 12 de Abril. Num certo número de países onde os grupos têm alguma flexibilidade, eles também ajustaram seus calendários a fim de fortalecer o dia internacional.

SOLIDARIEDADE COM A RESISTÊNCIA IRAQUIANA

Antes de os EUA e a Grã-Bretanha lançarem sua agressão contra o Iraque, os movimentos populares na maior parte dos países imperialistas tinham como slogan principal das suas demonstrações: "Parar a guerra ao Iraque antes que ela comece". Este slogan permitiu ao movimento colocar o maior número de pessoas em acção numa base progressista.

Também havia uma oposição pró-imperialista à guerra americana, especialmente dos rivais de Washington em Paris e Berlim. Estes governos e os governantes imperialistas que eles representam nada têm a ganhar e muito a perder com o domínio americano do Médio Oriente. Além disso, eles enfrentam resistência em massa à guerra nos seus próprios países.

Assim, os governos francês e alemão, com algum apoio da Rússia, opuseram-se aos EUA no interior do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O seu slogan, com efeito, era "Inspecções, não guerra". Eles eram pelo roubo da soberania do Iraque, mas estavam contra a actual carnificina. Sua recusa em endossar a guerra tornou-a ainda mais obviamente ilegal de acordo com o direito internacional.

No entanto, Washington arrancou com a sua tentativa de ocupar o Iraque e devolve-lo ao status colonial. Os iraquianos responderam a este assalto militar esmagador com uma resistência heroica sob as mais difíceis condições.

Agora a situação mudou. A resposta do ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Joschka Fischer, à nova situação foi de que "a guerra deveria acabar tão logo quanto possível" – o que significa que os iraquianos deveriam render à opressão colonial. Os regimes da Alemanha e da França estão a pedir que as Nações Unidas administre um protectorado iraquiano, de modo que as suas empresas obtenham uma fatia das acções de reconstrução do país.

Por outro lado, secções importantes do movimento anti-guerra mundial estão a enfrentar a nova situação. Como exemplo, o organizador anti-guerra Angeles Maestro, de Madrid, escreveu um documento em 5 de Abril encorajando o movimento anti-guerra e anti-globalização a começar a utilizar um slogan apelando à solidariedade com a heróica resistência iraquiana.

TRABALHADORES E NAÇÕES OPRIMIDAS

Este ponto está longe de ser uma questão retórica para um debate no movimento. Ele está no cerne do desenvolvimento real da solidariedade entre a classe operária nos países imperialistas – Europa, América do Norte, Austrália e Japão – e as massas de povos e nações daquilo que foi chamado o Terceiro Mundo.

Os oprimidos querem que o Iraque vença e expulse os invasores. Quando centenas de milhares de pessoas manifestaram-se em Multan, Paquistão, em 4 de Abril, eles apoiavam a resistência armada dos iraquianos e apelavam a julgamentos de Bush e Blair por crimes de guerra. Quando 50 mil sindicalistas, de esquerda, muçulmanos e organizações de mulheres protestavam em Istambul, Turquia, em 6 de Abril, eles gritavam: "Parem esta guerra sangrenta" e "EUA imperialista fora do Médio Oriente".

Voluntários de países árabes e muçulmanos foram aos milhares a Bagda para combater lado a lado com os iraquianos. Outros do ocidente foram como "escudos humanos" ou como "brigadas" para observar e relatar acerca dos assaltos brutais ao povo iraquiano e sua determinação em defender o seu país. Em 7 de Abril mais dois médicos do Medicine for the People, na Bélgica, juntaram-se aos seus colegas em Bagda para ajudar a cuidar dos muitos feridos.

Recentemente um progressista paquistanês escreveu um importante artigo que salientava o seguinte ponto: "O movimento anti-guerra também ajudou as massas muçulmanas a distinguir entre o povo do ocidente e alguns dos governos agressivamente nacionalistas (jingoists). Analogamente, estreitou o espaço para o racismo no ocidente". Por outras palavras, aumentou a probabilidade de uma real solidariedade anti-imperialista entre os povos.

Sem dúvida o movimento anti-guerra deveria permanecer aberto àqueles que, horrorizados com os crimes de guerra americanos e britânicos contra os civis iraquianos, querem apenas parar a carnificina.

Mas se o movimento tornar claro que se recusa a aceitar que o Iraque seja ocupado pelos EUA, Grã-Bretanha ou qualquer outro, e se reconhecer o direito dos iraquianos a resistir à ocupação, ele poderá aprofundar a solidariedade a que se referiu o camarada do Paquistão. Isto seria um tremendo avanço num tempo de grande crise.


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11/Abr/03