O Iraque e a produção/consumo mundiais de petróleo

O Iraque e a OPEP

por ASPO Newsletter [*]

Petróleo convencional. A invasão anglo-americana do Iraque foi alcançada com relativa pouca resistência, mas ainda não há sinais das ditas armas de destruição maciça que alegadamente ameaçavam o mundo e justificariam essa acção. Alguns dizem que essa ausência transforma a invasão em grosseira agressão. A evidência pode ainda lá ser colocada, a menos que os inspectores da ONU sejam autorizados a verificarem a real situação. Quanto aos iraquianos, após tanto sofrimento, dão pouco sinal de agradecerem a sua "libertação" que causou mutilações, mortes e ruínas, bem como a destruição de manuscritos, artefactos e jóias arquitectónicas sem preço. Os assaltos e o colapso da ordem civil assinalaram os primeiros dias de "paz", talvez proporcionando uma bonança para as casas de leilão de raras obras de arte por esse mundo.

Um antigo administrador da Shell foi encarregado de reconstruir a indústria petrolífera mas não há notícia de muito progresso por enquanto. A situação do Iraque enquanto membro da OPEP é uma questão importante, que até à data não foi objecto de comentários relevantes. O papel muito necessário que a OPEP desempenha na gestão da produção marginal de petróleo, acautelando a sua exaustão, tornar-se-á muito mais difícil se o Iraque não continuar a participar. A continuação da presença do Iraque na OPEP seria seguramente do melhor interesse para o mundo considerado na sua totalidade, mas dificilmente será bem vista pelas potências ocupantes, desejosas de acederem ao petróleo. A OPEP incrementou agora a sua quota de produção, como se mostra no quadro, presumivelmente para colmatar a quebra de produção do Iraque. Essa quota deve agora estar próxima do limite da capacidade e ela será cada vez mais pressionada para manter este nível de produção, não obstante o esgotamento dos seus envelhecidos depósitos gigantes.

Argélia 0.8 Mb/d Líbia 1.4 Venezuela 2.9
Indonésia 1.3 Nigéria 2.1 OPEP10 25.4
Irão 3.7 Qatar 0.7 Iraque 2.0
Kuwait 2.0 Arábia Saudita 8.3 OPEP11 27.4
Mb/d - milhões de barris de petróleo por dia

A BP que realizou a assembleia anual dos seus accionistas enquanto enfrentava uma manifestação lá fora, afirma que não tem planos para voltar ao Iraque a menos que seja desejada por um governo iraquiano, reconhecido quer pela comunidade internacional quer pelo povo iraquiano. Poderá ter de esperar. Tais pruridos não impedem os contratantes norte-americanos: a Bechtel já recebeu uma encomenda no montante de 680 milhões de dólares para reconstruir as infra-estruturas fornecedoras de electricidade e água.

Os povos britânico e norte-americano mostraram lealdade às respectivas bandeiras, enquanto decorreram as hostilidades, porém estarão agora inclinados a colocar perguntas incisivas aos seus governos para que estes expliquem quais eram afinal os reais propósitos destas acções e aonde se pretende que elas conduzam. Entretanto, a dimensão do sentimento anti-americano cresce por esse mundo fora e atinge um novo máximo, enquanto o papel da Grã-Bretanha é provavelmente olhado sobretudo com um sentimento de perplexidade e desdém, as pessoas a questionarem como é que o seu governo foi levado a apoiar a invasão com argumentos que se revelaram evidentemente falsos.

Consumo e produção de petróleo per capita

O quadro junto regista o consumo per capita de alguns países representativos (população em 1998 e consumo em 2002). Os Estados Unidos lideram a lista dos consumidores esbanjadores, mas é curioso que a Irlanda, um pequeno país europeu, seja quase tão mau. Provavelmente este facto reflecte a sua recente prosperidade, que levou as cidades e as estradas a saturarem de tráfego. A densidade populacional pode também ser uma causa: as pessoas dispersas em áreas rurais estarão mais dependentes do transporte sobre distâncias mais longas. Os indianos aprenderam a viver com muito pouco petróleo, pelo que estão mais bem preparados para o futuro. Seria interessante conceber um indicador de felicidade e inquirir se há motivo para pensar que os indianos na sua vida quotidiana serão menos felizes que os cidadãos dos Estados Unidos. Pelo contrário, talvez a mudança seja o desafio difícil: o esbanjador poderá achar duro tornar-se parcimonioso, e recorrer à violência por força da frustração. 

A produção per capita mostra quais os países que actualmente vivem com os meios de que dispõem, embora a produção esteja destinada a declinar no futuro em todos eles. As discrepâncias entre produção e consumo mundiais presumivelmente reflecte variações de stocks (armazenamento), ganhos na refinação e a habitual confusão resultante do recurso a estatísticas diversas (as produções foram extraídas de Oil & Gas Journal e os consumos de BP Statistical Review).


País População
M
Consumo
Mb/a
Consumo per capita
b/a
Produção
Mb/a
Produção per capita
b/a
EUA 263 7154 27 2817 11
Canadá 31 708 22 1016 33
Irlanda 3.6 66 18 0 0
Noruega 4.4 78 18 1246 283
Japão 126 1980 16 4.4 0.04
França 59 742 13 9.5 0.16
Alemanha 82 1023 13 26 0.32
RU 59 602 10 821 14
Irão 62 413 6.7 1259 20
Rússia 145 896 6.2 2695 19
Brasil 162 681 4.2 543 3.35
Egipto 63 201 3.2 274 4.3
China 1242 1840 1.5 1241 1
Índia 984 757 0.8 245 0.25
Mundo 5926 27481 4.6 24105 4.1
M - milhões ; Mb/a - milhões de barris por ano ; b/a - barris por ano




Antes da invasão do Iraque, em Dezembro de 2002, a "ASPO Newsletter" (nº 186) publicou uma avaliação mais extensa dos recursos petrolíferos do Iraque (ver http://www.asponews.org/ASPO.newsletter.024.php ). Os gráficos ao lado mostram os cenários então previstos para as situações de guerra e de paz.




[*] The Association for the Study of Peak Oil.

O original encontra-se no nº de Maio de 2003 da "ASPO Newsletter", editada por Colin Campbell. Os gráficos dos cenários e a tabela com dados estatísticos encontram-se no nº de Dezembro de 2002 do mesmo boletim. Os boletins da ASPO encontram-se em
http://www.asponews.org e
http://www.energiekrise.de




Esta análise encontra-se em http://resistir.info .
05/Mai/03