Iraque:
Porque os EUA precisam de uma guerra
(e a Rússia não)

por Valeri Asreian [*]

Só falta a razão O desejo dos EUA de desencadear uma guerra contra o Iraque deve-se à opção pelo estabelecimento da sua hegemonia mundial, declarou o tenente general Leonid Ivachov, vice-presidente da Academia de Problemas Geopolíticos, numa conferência de imprensa realizada na sede da RIA "Novosti", em 11 de Outubro. Na opinião de Ivachov, os EUA querem uma guerra a fim de poder ultrapassar a crise estrutural da sua economia por meio da ocupação das principais regiões petrolíferas do mundo.

"Com o início da agressão contra o Iraque, poder-se-á afirmar que a guerra pela partilha dos recursos de petróleo e de outras fontes de energia terá entrado na sua fase definitiva", afirmou Ivachov. Na sua opinião, existem várias factores que ainda detêm a agressão dos EUA contra o Iraque. O primeiro é o isolamento político em que Washington se encontra. Nesta conjuntura, os EUA procuram obter qualquer apoio ao seu ataque da parte dos seus aliados na NATO, da Rússia e dos países árabes. É uma tarefa muito difícil visto que nunca foram encontradas quaisquer provas de contactos entre Bagdade e os terroristas da "Al-Qaeda", assim como não existe confirmação de que o Iraque esteja a produzir armas de extermínio em massa, inclusive nucleares.

Segundo, o exército americano ainda não está pronto, do ponto de vista técnico, para lançar uma operação contra o Iraque. Na zona do eventual teatro de operações militares ainda não foram concentrados, em quantidades suficientes, efectivos, aviação e mísseis de alta precisão. Há também problemas com o financiamento da guerra. Além disso a sociedade americana também não está moralmente preparada para a hipótese de baixas numerosas entre os militares americanos, que são inevitáveis no caso de operações sobre o terreno. Mas sem tais operações não será possível alcançar a mudança do regime no Iraque e a retirada de Saddam Hussein, tão odiado pela América.

Ao prever o possível desenrolar dos acontecimentos, Ivachov considerou que, provavelmente, os americanos utilizarão toda a sua máquina militar para tentar, em duas ou três semanas, no máximo um mês, quebrar a resistência do Iraque e conseguir a mudança da administração iraquiana. Contudo, a guerra poderá adquirir um carácter prolongado, considera Ivachov, porque muita coisa depende da moral do povo e do exército iraquianos e da sua determinação de lutar contra o agressor, assim como de toda a comunidade internacional, sobretudo, dos países árabes vizinhos, de apoiar a vítima da agressão.

ARMAS NUCLEARES

Ivachov não exclui a hipótese da utilização pelos americanos de armas nucleares tácticas na guerra contra o Iraque , sobretudo se a situação tornar-se desfavorável para Washington e a operação americana correr o risco de fiasco. O general russo considera que os EUA são capazes de recorrer ao emprego de armas nucleares, supostamente com os fins defensivos, em resposta a uma alegada utilização pelos iraquianos das armas químicas.

Ao referir-se aos efeitos da agressão americana, Ivachov sublinhou que o seu resultado será o desmantelamento do sistema de segurança internacional, de detenções e contrapesos que se constituiu no pós-guerra. O general insistiu que os EUA usurparam o direito de decidir o destino de países e povos inteiros, procuram erradicar civilizações inteiras, implantar os seus valores e roubar os recursos naturais a outros países. "O mundo corre o perigo de entrar em caos, o que provocará uma guerra civil mundial", declarou Ivachov. O general acrescentou que qualquer pessoa do mundo obteria assim o direito moral e legal de travar uma guerra contra os Estados Unidos, porque este país destrói as instituições da ONU e viola as normas das relações internacionais.

O desejo de fazer frente à expansão global dos EUA pode, na opinião do general, dar origem a alianças de Estados e forças políticas, que combaterão a hegemonia americana através de ataques terroristas. Na esfera económica, as tentativas de Washington de se apoderar dos principais recursos energéticos do mundo e de se transformar numa espécie de distribuidor mundial da energia terão como consequência um colapso da economia mundial, afirmou Ivachov.

Ao referir-se à posição da Rússia face à agressão preparada por Washington, Ivachov assinalou que Moscovo pronuncia-se contra a guerra no Iraque e apoia o regresso a este país dos observadores internacionais. Foram também os EUA que, através do seu representante, chumbaram a missão dos inspectores militares no Iraque. A Rússia não está interessada em crises no Médio Oriente. A guerra na região poderá prejudicar grandemente a economia russa, porque os preços de petróleo se tornarão imprevisíveis. Dado que as receitas orçamentais da Federação Russa dependem sobretudo dos preços de petróleo, as suas oscilações transformar-se-ão num pesadelo económico para a Rússia.

Os prejuízos da Rússia, devido às sanções que têm sido aplicadas ao Iraque ao longo dos últimos onze anos, já atingiram 100 mil milhões de dólares. Neste momento, estão a ser examinados projectos económicos russo-iraquianos cujo valor total ascende a 60-80 mil milhões de dólares. A guerra na região, como é evidente, impossibilitará a realização destes projectos. Há também outras razões pelas quais a Rússia não quer guerra na região. A guerra desestabilizará a situação em todo o Médio Oriente. A hipótese do surgimento no mapa-mundi de um Curdistão independente alterará toda a situação estratégica na região acarretando a mudança das fronteiras actuais e a desestabilização dos regimes no poder.

Na visão de Ivachov, Moscovo está interessada em consolidar a cooperação com Washington mas não vai estragar as suas relações com a América por causa do Iraque, e é pouco provável que altere a sua posição de princípio nesta matéria. A Rússia considera que não se pode actuar contornando a ONU e uma operação militar só pode ser lançada com o consentimento do Conselho de Segurança da ONU.

"A Humanidade tem de pensar muito bem por que caminho deverá optar", concluiu Ivachov. Na sua ideia, é preciso elaborar uma nova filosofia do desenvolvimento da humanidade e de toda a organização mundial.


[*] da Agência RIA-Novosti.

O original deste artigo encontra-se em http://pg.rian.ru/rian/index

Este artigo encontra-se em http://resistir.info

12/Out/02