Petróleo e dados da inteligência iraquiana,
as únicas coisas que os EUA protegem
Os saqueadores de Bagdad roubaram e destruíram tudo o que os
norte-americanos lhes permitiram tomar e incendiar, e um percurso de duas horas
pela cidade em automóvel mostrou claramente o que é que os
Estados Unidos têm interesse em proteger, presumivelmente para o seu
próprio uso.
Depois de dias de incêndios premeditados e pilhagem, eis aqui um
balanço breve mas revelador. As tropas norte-americanas recuaram e
permitiram àquelas hordas arrasar e a seguir queimar os
Ministérios da Planificação, Educação,
Irrigação, Comércio, Indústria, Assuntos
Exteriores, Cultura e Informação. Mas não fizeram nada
para evitar que os saqueadores destruíssem os tesouros sem preço
da história iraquiana contidos no Museu Arqueológico de Bagdad e
no da cidade de Mossul, e despojassem três hospitais.
Em contra-partida, dois ministérios iraquianos permanece intactos
e intocáveis porque por dentro e por fora postaram-se tanques,
veículos blindados e jipes, bem como centenas de homens armados. E
quais são esses ministérios tão importantes para os
norte-americanos? Bem, o do Interior, naturalmente com sua vasta
riqueza de informação de inteligência sobre o Iraque
e o do Petróleo. Os arquivos relativos ao bem mais apreciado do Iraque
seus campos de petróleo e, ainda mais importante, suas vastas
reservas, talvez as maiores do mundo estão a salvo da turbas e
dos saqueadores, prontos para serem compartilhados, como é certamente a
intenção de Washington, com as companhias petrolíferas
norte-americanas.
Isto lança luz para uma reflexão interessante acerca dos supostos
objectivos da guerra norte-americana. Na sua ansiedade para
"libertar" o Iraque, permite que a população destrua a
infraestrutura do governo e a propriedade privada dos esbirros de Saddam. Os
norte-americanos insistem em que o Ministério do Petróleo
é parte vital da herança iraquiana, que os campos
petrolíferos serão colocados num fideicomisso "para o povo
do Iraque". Mas por acaso o Ministério do Comércio
que foi novamente iluminado este domingo por um incendiário
empreendedora não é vital para o futuro do povo iraquiano?
Os Ministérios da Educação e da Informação
que ainda ardiam hoje não são de importância
crucial para o novo govêrno do país?
Os estadunidenses, segundo sabemos agora, puderam enviar 2 mil soldados para
cuidar dos campos petrolíferos de Kirkurk, que contem as reservas
provavelmente maiores do mundo, mas não puderam destinar nem sequer 200
homens para proteger de ataques o Museu de Mossul.
Hoje falou-se muito da "nova postura" dos estadunidenses.
Imediatamente apareceram patrulhas de infantaria e blindadas nas ruas dos
bairros de classe média da capital, ordenando aos jovens que
transportavam refrigeradores, móveis e televisores que depositassem no
pavimento os objectos cuja propriedade não pudessem comprovar. Era de
dar pena. Depois de milhares de milhões de dólares de
edifícios governamentais, computadores e arquivos terem sido
destruídos, os norte-americanos detêm adolescentes que levam
carroças puxadas por mulas carregadas com cadeiras de segunda
mão, sem valor algum.
Este dia houve uma indignação especial entre a multidão
que agora se manifesta todas as tardes diante dos militares norte-americanos,
do lado de fora do Hotel Palestina. No sábado cantavam "Paz, paz,
paz, queremos um novo governo iraquiano que nos dê
segurança". Hoje alguns manifestantes gritavam "Bush-Saddam,
os dois são a mesma coisa".
14/Abr/2003
[*]
Correspondente em Bagdad de
The Independent
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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