O capitalismo e a guerra

por João Pedro Stedile [*]

Manifestação anti-guerra em S. Francisco. Esses dias estive lendo um relatório do prof. Arturo Valenzuela, diretor do Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade Georgetown de Washington. As informações que ele nos dá a partir do centro do Império são por si só reveladoras. Vejam:

  1. O Congresso dos EUA já está debatendo o orçamento para 2004. Estão previstos gastos totais de US$2,23 milhões de milhões. Destes, serão destinados nada menos do que US$390,4 mil milhões para gastos militares! (quase 20% de todos os gastos públicos dos Estados Unidos).

  2. Ao mesmo tempo, previu-se um défice fiscal, ou seja gastos acima do valor arrecadado de US$304 mil milhões. Como o governo estadunidense vai cobrir os custos deste défice? Com a emissão de dólares e arrecadação de capital nos países periféricos. Conclusão: a economia estadunidense vai tentar reerguer-se da crise gastando em armamentos, e como não tem dinheiro vai arrecadar do terceiro mundo. Ou seja nós estamos pagando os custos da guerra!

  3. No orçamento estão previstos também, US$57 mil milhões, além dos US$390 mil milhões em pesquisa cientifica voltada para novos armamentos. Enquanto na Europa, em média se gasta US$7 mil por soldado em pesquisa cientifica militar, nos EUA alcança a US$28 mil por soldado, por ano! Ou seja, preparem-se que vem aí novas armas, novas encomendas às industrias, e nós do terceiro mundo seremos apenas a cobaias!

  4. O Governo dos EUA está estimando que a mobilização para a guerra do Iraque vai custar esse ano aos cofres públicos de US$50 a 200 mil milhões, dependendo do seu desenrolar.

  5. Força militar: os Estados Unidos mantém hoje uma força armada de 1,4 milhão de soldados. Destes nada menos do que 250 mil soldados encontram-se em bases militares fora do território estadunidense!

  6. Atualmente o Governo dos Estados Unidos mantém 725 instalações militares no exterior, e 17 delas são bases de uso multidimensional, ou seja nela operam todas as três forças armadas em conjunto, Exército, Marinha e Aeronáutica.

  7. Défice acumulado. Segundo os analistas do Pentágono durante os quatro anos do governo Bush-filho, a previsão é de que se acumule um défice fiscal de US$1,08 milhão de milhões. Segundo essa mesma fonte, ao final do governo Bush, o total de gastos militares dos Estados Unidos será superior à soma de todos os gastos militares de todos os demais países do mundo em conjunto. Sem contar que muitos gastos militares de outros países, são computados em dólares, mas gastos nas indústrias estadunidenses, como é o caso das máquinas de guerra de Israel, que gasta US$5 mil milhões por ano em compras nos Estados Unidos, e da Colômbia que compra US$2 mil milhões/ano.

  8. Recentemente o analista econômico Luis Nassif denunciou em sua coluna um estudo realizado também nos Estados Unidos revelando que durante os vinte anos do neoliberalismo, os países do terceiro mundo enviaram para os Estados Unidos, nada menos do que um milhão de milhões de dólares, em remessas líquidas de capital. Ou seja, o neoliberalismo provocou um excepcional mecanismo de espoliação financeira do terceiro mundo transformando esses países em exportadores de capital. E esse milhão de milhões é gasto exatamente nos Estados Unidos para manter seu poder militar, que é usado para manter os mesmos países sob a égide do império, e assim se fecha o circulo vicioso de dominação econômico-politica e militar dos Estados Unidos sobre o mundo!

Está cada vez mais claro o prognóstico do velho Marx: o capitalismo usa sistematicamente a máquina da guerra e da morte como forma de superar suas crises cíclicas, manter mercados cativos e se impor como império do capital. As armas são construídas para aumentar taxas de lucro, não importa quantas vidas cobrem!

As Guerras são apenas extensões lógicas da disputa de mercado e de territórios econômicos.

Até quando a humanidade agüentará esse novo império financeiro e militar? Ninguém saberá dar a resposta, mas o certo é que sua dominação representa um atraso para a humanidade e não o progresso ou avanço para os valores da igualdade, fraternidade e justiça social.

Vamos todos lutar contra a guerra e o império!

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[*] Dirigente do MST brasileiro.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info

14/Fev/03