Em Portugal fala-se grosso… Diz o Presidente da AR, de um país que nem os impostos pode alterar, o Dr. Santos Silva, qualquer coisa como: “ou a República Popular da China se comporta, ou leva com sanções”! Faz lembrar aqueles bullies da escola, tão agressivos quanto pequenos, mas que falam com voz grossa, no pressuposto de que têm as costas protegidas por quem julgam poder fazê-lo.
Todos sabemos quem SS julga possuir dimensão para tal! Todos sabemos em quem depositam, os micro-poderosos europeus, as suas expectativas de segurança. Todos sabemos também, por conta de quem operam e como chegam onde chegam. Vejamos um caso paradigmático e na ordem do dia. A Excelentíssima Presidente da Geórgia, de seu nome Salomé Zourabishvili, nasceu em França, e tem ampla experiência governativa… Em França! Passou por todos os sítios que davam jeito à… França! Um deles, como embaixadora, na Geórgia, a cargo da… França! Agora comparem esta situação com a dos suspeitos do costume, em cujo país só pode concorrer ao cargo quem lá nasceu! Estão a ver a coincidência?
Mas, se o currículo vitae nos aponta aos interesses que representa, por decorrência, entendemos qual foi a utilidade da “revolução das Rosas”, levada a cabo em 2003, mais uma das “coloridas”, encetadas pela CIA e UE. Este, infelizmente não é caso desabitual. Que tal o caso de Natalie Jaresko? Nascida nos EUA, ministra das Finanças de nos pós Maidan, tendo estando apontada ao cargo de primeira ministra do país? Não acreditam? É tão escandaloso que a BBC o noticiou… Em 2014! Agora, nunca o fariam.
Mas também não era caso único. A eminente economista Aivaras Abromavicius, nacional da… Lituânia, foi ministra da economia e Aleksandre Kvitashvili, nacional da Geórgia, serviu, no mesmo executivo, como ministro da saúde. Todos com cidadania atribuída por Poroshenko. Que tal a “soberania” da Ucrânia?
Não se pense é que, por serem da nacionalidade respectiva, alguma coisa muda. Há gente que não tem pátria e a nação que representam não é a sua. Temos cá disso a dar com um pau, já desde a revolução de 1383-85. E a falarem “grosso”.
Estes breves exemplos, repercutidos por todas as dependências imperiais, desde tempos imemoriais, demonstram bem, de que fintas “democráticas” tanto se fala, e que “soberania” cabe a tais países, para decidirem o seu futuro. Esta factualidade demonstra, também, porque razão, tantos são atacados por não aceitarem tais regras “democráticas” e de defesa da “liberdade” e “direitos humanos”.
Por outro lado, percebendo para quem e por conta de quem operam, também entendemos porque razão, tão subdimensionados pigmeus políticos, se dão ao luxo de falar grosso com gente de porte. Afinal, não é na soberania do seu país que se suportam – porque sabem não o poder fazer –, mas na de outro.
Enquanto, por cá, queremos perseguir navios, com barcos que metem água e sem manutenção, os outros querem ganhar uma guerra sem possuírem uma base industrial capaz, sem munições armazenadas e usando um exército mandatado, formado por uma espinha dorsal, que mais não é, que uma bafienta iteração das SS. A este respeito, o que dizer da condecoração, pelo comediante que “serve” como presidente, de uma brigada militar, com o título honorífico “Edelweiss”, em memória de uma outra do IIIº Reich?
Se os factos – apenas factos – relatados anteriormente, constituem parte importante desta guerra, apelidada de “híbrida” (tenho dúvidas quanto a este conceito), em que uns vencem na propaganda e na mentira; outros, vão transformando, irremediavelmente, a substância, todos os dias, percorrendo novos passos, no sentido de uma mudança, cuja invisibilidade não poderá ser mantida, por muito mais tempo.
Enquanto uns falam de guerra fria, contenção deste e daquele país, derrota daquele e do outro, embargo do próximo, bloqueio de mais um e “pacotes” de sanções, atiradas contra as “autocracias”, normalizando a violência … Outros, os “autocratas”, tentam construir um mundo onde todos caibam, aproximando as partes mais imprevisíveis, ultrapassando o centenário e bem ocidental esquema do dividir para reinar, normalizando o diálogo.
Claro que, para o comum dos cidadãos europeus, não cabe na cabeça que, outros países que não os “seus” (mas nos quais não mandam), possam estar a construir um mundo diferente, mais livre, porque mais soberano, mais inclusivo, porque baseado na igualdade e potencialmente mais democrático, porque constituído por países livres para fazerem as suas escolhas.
Afinal, o complexo de superioridade, lavrado ao longo de centenas de anos, é de tal forma profundo – enraizado nas velhinhas cruzadas –, que é impensável qualquer problema por mais remoto que seja o local, não seja causado por outros e não tenha de ser resolvido por estes. Só que, o mundo funciona ao contrário!
Daí que, nos dias que correm, pela importância do facto e se jornalismo houvesse, no nosso éter comunicacional, estar-se-ia, não apenas a noticiar, como a celebrar, a aproximação entre o Irão e a Arábia Saudita, promovida… pela China! E veremos como ficará a guerra do Iémen, patrocinada e fomentada pelos EUA contra o Irão.
Há uns meses escrevi que o fio condutor da RPC aproximava os países, entre os quais estes dois, uma vez que, o Irão entrou na Organização de Cooperação de Xangai, quer entrar nos BRIC+, tal como a Arábia Saudita e, ambos, estão envolvidos na BRI. Os negócios potenciais, com a RPC, são de tal forma vantajosos que, não deixariam de constituir um importante vector de aproximação. E com esta aproximação, conseguida após quatro dias de conversações, resolvem-se grande parte dos problemas no Médio Oriente, para desagrado dos promotores do dividir para reinar.
Convém lembrar que, já a Federação Russa havia aproximado Turquia, Irão e Síria. Este facto, ajuda a demonstrar que os que são apresentados como agressores, afinal, têm funcionado como agentes de conciliação de interesses, ao invés de utilizarem os jogos da chantagem e da opressão, típicos do ocidente. Nos jogos do ocidente, liderado pelos EUA, para um ganhar, o outro tem de perder. Foi sempre assim em tudo.
É a guerra na Ucrânia que só acaba com a “derrota total da Rússia”; só há acordo com o Irão se este prescindir do seu programa de mísseis; só há acordo na Síria se Assad sair; só acaba o bloqueio a Cuba se a revolução socialista acabar; só se retiram as sanções à Venezuela se a revolução Bolivariana acabar; só retiramos a pressão sobre a RPC se o PCC for desmantelado… E por aí afora, num desfile interminável de exigências que só acaba com a submissão mais absoluta, bem acompanhada dos ministros, corporações, ONGs, comunicação social e organizações ocidentais, as quais visam garantir que aquele país nunca mais se levanta pelos seus pés. Tudo isto devidamente disfarçado de “democracia” e “liberdade”.
Entretanto, John Kirby não podia dar um sorriso mais amarelo, quando se referiu a esta aproximação das partes, dizendo que “tudo o que possa servir a paz na região…” Só que… Isto vem de quem, há uns anos, tinha como projecto de paz, para o Médio Oriente, a tomada de sete países muçulmanos em cinco anos. Tudo para a anular o antagonismo à única ameaça de paz na região, que se chama: entidade sionista do apartheid israelita.
Mas o sorriso amarelo de Kirby tinha, ainda, outro motivo: a afirmação da RPC como agente liderante das relações internacionais, pela via da paz e da diplomacia, ao invés da auto-apregoada “guerra fria” ocidental. Eu pergunto-me quantas doses de soporífero mediático são necessárias para um espectador ocidental considerar aceitáveis termos como “conter a RPC”, “bloquear o acesso da RPC ao Pacífico”, “guerra comercial à RPC”, “derrotar no campo de batalha” … Tudo linguagem belicista em relação a países que não atacaram nenhum país ocidental.
E se o soporífero funciona por cá, lá por fora já está tudo bem acordado. Este mundo alternativo que começa a surgir, e que deixa o ocidente cada vez mais enfraquecido e isolado – entretanto entrado em autofagia –, olha para os EUA, não como líderes do que quer que seja, mas como o que realmente são, uma entidade opressora.
Mas, se na aparência da comunicação social dominante e funcionários políticos arregimentados, a liderança mundial dos EUA e da sua “ordem baseada em regras”, constitui um facto incontestável; lá, onde as decisões tomadas, já não é bem assim! Afinal, o relatório anual de inteligência dos EUA já assume muitas destas realidades, o que não deixará de fazer muitos entrarem em estado de pânico.Este estado de pânico é semelhante ao que sucede quando uma criança mimada ouve a palavra “não”! Primeiro entra em histeria, depois em pânico, por fim, em hiperventilação. Nessa altura desata a disparar para todo o lado, com “revoluções coloridas”, 10 pacotes de sanções, abertura de dependências de ONGs da CIA e frentes de guerra por encomenda.
Passada a fase do pânico, mas mantendo a histeria, estes adolescentes mimados iniciam um processo de açambarcamento, traduzido em ciclos de acumulação que visam pilhar internamente o que ainda há a pilhar. Eis o que nos está a acontecer agora, primeiro com o “subprime”, depois a dívida soberana, o Covid, a guerra, a “guerra fria” e agora um “subprime” tecnológico, em que o dinheiro é tão virtual como no primeiro. Uma dolorosa autofagia.
Alguma coisa os outros hão-de estar a fazer bem, comportando-se como adultos. Conversando em vez do bullying, comerciando em vez de pilhando. É uma espécie de aplicação harmónica do Yin e do Yang à sociedade das nações não beligerantes, tornando-se, talvez, a base do que serão as nações unidas do futuro. Sem conselhos de segurança com uns que são mais iguais que outros.
É interessante observar que as opressão imposta pelos EUA (e suas dependências) às restantes nações, produz uma realidade tão difícil e contraditória, capaz de forjar os melhores quadros políticos de que o mundo hoje usufrui. Ao invés, a realidade normalizada, estereotipada, em que vive a população ocidental, com os seus filtros e máscaras, em relação aos antagonismos – cada vez mais profundos –, tem produzido os mais tristes, irresponsáveis e incompetentes quadros de que há memória. Julgo que desta armadilha qualitativa, este sistema de pilhagem já não sairá. Quem tem qualidade não governa, nem pode governar; quem pode governar, não governa, porque não tem qualidade. Resta o seguidismo, a cópia e a mimetização dos seus fúteis ídolos corporativos.
E para os que acusam, os outros, de serem – ou quererem ser – impérios… Eu deixo a questão: quantos países foram embargados, invadidos, sancionados, chantageados, ingeridos ou “revolucionados” por não aceitarem as propostas negociais em causa? Quantos foram obrigados, à revelia da sua vontade, a entrarem neste processo transformador?
Porque razão, a maioria das nações mundiais tende a querer negociar, com uns, e, a fugir dos outros? Burrice? Medo? Cobardia? Seguidismo? Sabujice? Ganância? Futilidade?
O que nos escondem, nas sociedades da “democracia” e dos “direitos humanos”, já para os outros se tornou evidente, há muito. Os EUA, e suas dependências ocidentais, já não podem “falar grosso” com ninguém!
Os povos mundiais estão a perder o medo, e ai de quem oprime quando os povos perdem o medo!