Os desenvolvimentos no Movimento Comunista Internacional, a estratégia e
as tácticas dos Partidos Comunistas (PCs), a aliança
política que eles seguem, sua posição em
relação aos partidos burgueses, à social-democracia e ao
oportunismo, às organizações imperialistas e às
questões básicas da luta de classe é uma fonte de
experiência, as quais somos obrigados a examinar, avaliar, rejeitar ou
utilizar a fim de reforçar a seguinte direcção
básica:
Que os partidos comunistas se tornem mais fortes, mais capazes de cumprir suas
obrigações revolucionárias como a vanguarda da classe
trabalhadora, a qual devem adquirir na prática, através da
confrontação de classe, no esforço para fortalecer a
unidade de classe da classe trabalhadora, a aliança social com os
estratos populares oprimidos, na luta para o derrube do capitalismo, pelo poder
da classe trabalhadora, pelo socialismo.
Os intercâmbios de pontos de vista quanto a assuntos
político-ideológicos, nos quais a aliança política
tem uma posição importante, é uma ferramenta crucial e
gostaríamos de partilhar com os PCs nossas preocupações
decorrentes da recente reunião mantida em Lisboa entre o Partido
Comunista Português e o "Bloco de Esquerda" bem como a
exploração desta reunião pelas forças oportunistas
na Grécia. Na reunião dos dois partidos, de acordo com a
declaração do PCP
, houve "uma troca de opiniões e pontos de vista quanto à
avaliação de cada um dos partidos sobre a
situação económica e social do país (...) Uma
avaliação que permitiu identificar aspectos onde há
apreciações convergentes. Convergência de pontos de vista
que não iludem ao mesmo tempo diferenças de opinião e
até posicionamentos divergentes sobre matérias várias
questões, em si mesmo um facto natural em partidos com percursos e
projectos distintos". Na mesma
declaração é mencionado que "Neste quadro, em que
cada um dos partidos se apresentar-á às próximas
eleições com as sua propostas e projecto próprio, o PCP
com a firme convicção e confiança da importância do
reforço da CDU para impor uma ruptura com a política de
direita e para abrir um caminho a uma política patriótica e de
esquerda, prosseguirá a ampliaráa a sua intervenção
política e social. Facto que não obsta a que converjam, como tem
acontecido designadamente no plano parlamentar, dando expressão à
defesa de interesses nacionais seja pela rejeição de
políticas e medidas gravosas seja pela
aprovação de outras que promovam o crescimento económico,
a justiça social e a defesa de direitos".
Além disso, o sítio web do jornal
Esquerda
, do "Bloco", menciona que:
O Bloco e o PCP estão a convergir num caminho político de
saída. Após uma reunião de uma hora, o PCP e o Bloco
anunciaram a convergência das suas posições contra a
intervenção do FMI e por uma política de esquerda contra a
bancarrota. O diálogo continuará.
Estes são os factos. E sobre esta base o SYN/SYRIZA e outros grupos
oportunistas na Grécia estão a tentar explorar a
situação e trazer de volta a sua posição referente
à "unidade da esquerda".
Podemos honestamente dizer que isto é da natureza do oportunismo.
Políticas sem princípios, as quais tentam mecanicamente
transferir para a Grécia um acontecimento que se verificou em Portugal a
fim de apoiar as suas próprias opções.
No entanto, isto não é suficiente. A questão é mais
complexa. Preocupa a tentativa de enredar forças populares numa
política de alianças em bancarrota a qual tem na sua base a
estratégia social-democrata do SYN e de outras forças
oportunistas, as quais adoptam e promovem propostas de gestão
semelhantes àquelas dos partidos burgueses, sobre a crise e a
saída dela, a dívida e o défice.
Por esta razão é positivo que esta questão seja tratada.
O KKE construiu relações duradouras e de camaradagem com o PCP,
aprecia a sua importante contribuição para o desenvolvimento da
luta de classe em Portugal, para a defesa da classe trabalhadora e dos
interesses populares. Aprecia o seu apoio às organizações
anti-imperialistas, a sua contribuição no enfrentar o
anti-comunismo e as grandes dificuldades que foram criadas pela
contra-revolução e o derrube do socialismo.
Nosso partido, como secção do movimento comunista internacional,
estuda cuidadosamente as posições e decisões dos PCs e
toma posição sobre as questões centrais tendo em vista se
as várias opções ajudam ou prejudicam a luta de classe,
fortalecem ou enfraquecem a luta geral contra o imperialismo e os
monopólios, se ajudam ou não ajudam as forças populares a
ser libertadas das ideologias e políticas burguesas e oportunistas.
E, ao mesmo tempo, o KKE sistematicamente informa o PCs acerca da sua
própria actividade e experiências.
Foi deste ponto de vista que examinámos a reunião entre o PCP e o
"Bloco" e considerámos necessário transmitir
resumidamente a experiência que o nosso partido adquiriu quanto à
postura do oportunismo na Grécia, a qual historicamente empregou
tácticas corrosivas e liquidacionistas através de formas de
cooperação tais como a "Esquerda Unida
Democrática" (EDA) nas décadas de 1950 e 1960, a
"Esquerda Unida" em 1974 e o "Synaspismos"
("Aliança" em grego) no fim da década de 1980.
A prática básica que marca tal posição é a
sua assimilação dentro das ideologias e políticas
burguesa, a negação dos princípios que caracterizam um
partido leninista de novo tipo, a abolição da independência
do PC e sua dissolução.
PAPEL DO "BLOCO DE ESQUERDA" EM PORTUGAL
A experiência é muito útil a fim de estudar o papel que o
"Bloco de Esquerda" desempenha em Portugal.
Este é um partido oportunista, o qual foi suprido por quadros que se
separaram do PCP em anos anteriores. Trata-se de um partido com uma
estratégia social-democrata, com teses que apoiam o poder dos
monopólios, a propriedade capitalista dos meios de
produção, a União Europeia, um partido que apoiou durante
um longo período de tempo as políticas anti-povo do governo do
socialista Sócrates.
Este partido é activo dentro da conhecida construção da
UE, o Partido de Esquerda Europeu (European Left Party, ELP), onde tem a
vice-presidência, juntamente com o SYN, participa na campanha
anti-comunista, na tentativa de social-democratizar os PCs, apoia as
decisões anti-povo para o abate da classe trabalhador e dos direitos
populares e recentemente apoiou, com o seu voto, a decisão do Parlamento
Europeu em favor da participação da UE na guerra imperialista
contra a Líbia.
É óbvio que o seu carácter não muda porque ele teve
uma discussão com o PCP e porque possivelmente foi criada a base para a
cooperação entre eles. O seu carácter social-democrata
permanece, a sua actividade causa danos ao movimento popular e dos
trabalhadores. E independentemente das intenções do PCP, o
"Bloco" utilizará esta cooperação para promover
confusão, corromper consciências, flanquear os partidos comunistas
ou as forças anti-imperialistas.
O SYN saudou a reunião do PCP com o "Bloco" desde o primeiro
momento. O SYN está a tentar oportunistamente explorar os
desenvolvimentos que estão a ter lugar a nível europeu ou
internacional a fim de promover as suas posições e actuar nos
seus bem conhecidos jogos de enganos.
Ele fez o mesmo com Jospin em França. Saudou a cooperação
do Partido Socialista com o Partido Comunista Francês e várias
outras formações oportunistas. Falou num "raio de
esperança" e posteriormente, quando esta solução
provocou intensos protestos populares e tornou-se politicamente uma bancarrota,
o SYN tentou voltar atrás utilizando montes de desculpas.
Ele fez o mesmo na Itália, quando saudou o "centro-esquerda",
a "coligação da oliveira", falando acerca de um
"raio de esperança" na Europa. E quando o povo trabalhador
condenou as políticas anti-povo da "oliveira" ele tentou
justificar o injustificável.
A MISSÃO DO OPORTUNISMO
Naturalmente, a lógica da "unidade da esquerda", a
lógica das chamadas "frente anti-neoliberais", recebeu uma
pancada mas o oportunismo insiste porque a sua missão é manipular
as forças populares, atrasar a radicalização da
consciência do povo: uma radicalização que ocorre ao
utilizar o conhecimento e a experiência da luta de classe.
O KKE, que analisa os acontecimentos de acordo com um critério de classe
a partir do ponto de vista dos interesses dos trabalhadores e dos povos e
adverte quanto às armadilhas que as forças da submissão
armam para o povo, afirma claramente para a classe trabalhadora, os estratos
populares e a juventude que:
Não confiem de modo algum no SYN/SYRIZA e nas outras forças do
oportunismo. A sua estratégia serve para a perpetuação do
capitalismo, do sistema de exploração independentemente das
manobras verbais que efectuam a fim de turvar as águas. A principal
direcção que caracteriza a sua política é a
manutenção do poder dos monopólios, da propriedade
capitalista dos meios de produção e do desenvolvimento na base do
lucro.
Um elemento importante desta estratégia é o anticomunismo
sistemático que proporciona um álibi para o anticomunismo
burguês. Este factor tem assinalado o seu curso desde 1990 até os
dias actuais.
As posições e as práticas do SYN, que apoia a UE, a
estratégia da reestruturação capitalista, que ataca e
abole os direitos dos trabalhadores e do povo exprimem esta
direcção estratégica. Esta direcção é
evidente no esforço para promover ilusões quanto ao papel do
governo do PASOK: eles zombam do povo ao argumentarem que o que saiu errado foi
o facto de que o PASOK abandonou o seu programa, embora seja bem sabido que
este programa implicava um ataque anti-povo em todos os domínios.
Esta direcção conduz a uma posição hostil em
relação ao PAME e aos outros agrupamentos militantes, ao apoio ao
sindicalismo conduzido pelo patronato e pelo governo, da maioria do GSEE e do
ADEDY que sempre quiseram por todos os meios a corrosão e o desarmamento
do movimento dos trabalhadores a fim de serem assimilados nas instâncias
do capital.
As manobras oportunistas não terão êxito. Os
"pecados" políticos do SYN não são lavados com o
seu esforço para utilizarem a discussão entre o PCP e o Bloco de
Esquerda.
ENGANAR O POVO COM PEDIDOS DE RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA
Hoje, quando a crise capitalista mostra nitidamente que o sistema explorador
ultrapassou os seus limites históricos; hoje quando a efectividade da
luta de classe está obviamente conectada à solução
do problema do poder, o SYN/SYRIZA e as outras formações
estão a enganar o povo com pedidos concernentes à
renegociação da dívida, o que para o povo significa novos
impostos, condições duras e novo governo conforme o memorando
UE-FMI.
Eles estão a enganar o povo com a utopia da redistribuição
justa da riqueza sob as condições do poder dos monopólios
e outros pedidos semelhantes os quais também são amplamente
utilizados pelos partidos burgueses, pelos economistas burgueses e pelos
apologistas do sistema.
As mudanças constantes nas suas posições e
exigências a fim de turvar as águas demonstram a falta de
confiabilidade e a deslealdade dos partidos e grupos oportunistas.
Nosso povo deve tornar-se muito severo e perceber que a aliança
política do SYN e seus apelos oportunistas para o objectivo da
"unidade da esquerda" atrasam a mobilização do povo
numa base anti-imperialista e anti-monopolista, numa direcção
anti-capitalista.
O seu objectivo é descobrir cúmplices para a
perpetuação do poder dos monopólios. Ao mesmo tempo eles
revelam a miséria que caracteriza a tentativa do SYRIZA, as
controvérsias e os becos sem saída da Babel oportunista.
O KKE trata a política de alianças com um grande sentido de
responsabilidade, como uma ferramenta de importância estratégica
que fortalece a luta dos trabalhadores e do movimento popular e a
concentração de forças contra a plutocracia, contra as
políticas anti-povo e as uniões imperialistas.
O nosso partido excluiu a cooperação com os partidos e os grupos
do oportunismo que conscientemente procuram dissolver o KKE e celebrar o
derrube do socialismo, promover a submissão e contaminar a
consciência do povo.
Ele excluiu a ocasional junção de lideranças e insiste na
aliança de forças sociais e políticas que tenham interesse
em combater contra a estratégia dos monopólios e do imperialismo,
levando em conta que a alianças não constitui uma matéria
apenas para o KKE mas preocupa um vasto conjunto de forças que
permanecem presas nos enredos ideológicos burgueses ou hesitam em dar o
grande passo.
O KKE insiste na acção coordenada conjunta da classe
trabalhadora, dos pequenos e médios agricultores, dos auto-empregados e
o relevante com estas forças sociais com base na
orientação militante de classe é que desempenham um papel
principal na luta do nosso povo quanto a todos os seus problemas.
Estas mobilizações constituem o núcleo do esforço
para construir a frente de luta anti-monopólio e anti-imperialista que
batalha para o poder e a economia do povo, nomeadamente para o socialismo o
qual é um pré-requisito para a abolição da
exploração, para a garantia do direito ao trabalho para todos e
para a satisfação das necessidades contemporâneas do povo.
Esta é a resposta que os próprios desenvolvimentos introduziram
na agenda. Porque a luta quanto aos problemas agudos das famílias dos
trabalhadores, a luta contra as consequências da crise, a luta contra o
governo do memorando UE-FMI e as cruéis medidas anti-povo, pelos
direitos soberanos, adquire dinâmica na medida em que se desenvolve
dentro de uma luta contra o poder dos monopólios, pelo derrube da
barbárie capitalista.
17/Abril/2011
[*]
Membro da Comissão Política do CC do KKE.
O original encontra-se em
http://inter.kke.gr/News/news2011/2011-04-20-marinos-portu
Os inter-títulos são da responsabilidade de resistir.info.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.