Refundação reformista
ou renascimento comunista?

por Georges Gastaud [*]

 
INTRODUÇÃO:
O RENASCIMENTO COMUNISTA, DESAFIO PARA A REPÚBLICA

Vivemos numa situação altamente paradoxal. Nunca foi tão forte a contradição entre, por um lado , o açambarcamento privado dos meios de produção por uma casta de milionários monstruosamente egoístas e, por outro lado , a socialização crescente da economia provocada pela "mundialização" do capital financeiro; nunca, face à degradação engendrada pela procura do máximo lucro, a apropriação colectiva dos trabalhos humanos, das investigações científicas e dos recursos naturais, nunca como agora o planeamento democrático do desenvolvimento económico constituiu a este ponto condição decisiva, não somente de progresso humano, mas da simples sobrevivência da espécie humana. Nunca, também, o sistema capitalista e a sua transmutação moderna, o imperialismo, foram tão gravemente portadores de desigualdades explosivas, de "cruzadas sem limites" pela hegemonia mundial, de corrida às armas de extermínio, de saques ambientais, de desvio do progresso técnico e de sujeição ideológica de milhares de seres pensantes.

E no nosso próprio país nunca se fez sentir a este ponto a necessidade de um verdadeiro partido comunista capaz de resistir à lobotomia totalitária dos media, prestando testemunho, pelo seu projecto político e o seu quotidiano, de que uma outra vida, uma outra humanidade, são possíveis ; nunca o povo precisou tanto de um partido comunista combativo e com solidez política para quebrar a tenaz na qual a França se arrisca a ficar entalada, entre os partidários "liberais" ou "socialistas" da Europa de Maastricht e a alternativa mortal do fascismo de Le Pen.

E no entanto , apesar desta necessidade objectiva do comunismo, apesar da surda aspiração de milhares de humanos à ultrapassagem da antiga divisão das sociedades em classes antagónicas, o Movimento Comunista internacional está em ruínas; as campanhas de criminalização das experiências emanadas da Revolução de Outubro sucedem-se sem trégua, para ancorar nos espíritos a ideia que a dominação planetária do capitalismo é irreversível. E no entanto , o "novo PC" de R. Hue e de Marie-Georges Buffet está às portas da auto-dissolução [1] . E no entanto , a nível mundial como a nível nacional assistimos a uma deriva reaccionária generalizada que leva por quase toda a parte o "cravo vermelho" a rosar, a "rosa" a empalidecer e os lírios a tomar pouco a pouco as sombrias cores do extremismo de direita ... As coisas estão num ponto em que aqueles que continuam a reivindicar-se da revolução, da classe operária, de Outubro de 17 ou da Comuna de Paris são imediatamente taxados de arcaísmo e de conservadorismo, quando não são sem rodeios postos no índex pelo seu apego ao "regime mais criminoso da história" (sic) segundo o sr. Stéphane Courtois:   o regime soviético!

Se nos contentarmos em registar em acta esta "situação de facto" de forma servilmente empirista, se não procurarmos ultrapassar a pretensa constatação pela análise, se aceitarmos, a pretexto de falar uma linguagem "moderna" imediatamente compreensível por todos, de colarmos à "novalíngua" imposta pela ideologia dominante, então estamos inevitavelmente condenados a aceitar o "capitalismo real" como exclusivo horizonte de futuro. A partir daí, quer nos reclamemos da socialdemocracia, da "extrema esquerda" ou do "novo comunismo", só podemos adaptar-nos à ordem dominante e adoptar as suas perspectivas pan-destrutivas, nem que seja pintando este suicídio com as cores da "utopia" e da "inovação". Precisamos, pelo contrário, de meditar na frase de Georges Politzer, o grande filósofo comunista fuzilado pelos nazis:   " o espírito crítico, a independência intelectual, não consistem em ceder à reacção mas em não lhe ceder".

Assim, será forçoso admitir sem exame que aquilo que "falhou" no Leste foi o "marxismo" ou o "leninismo"? Será evidente, além disso, que o "socialismo real" tenha "falido", como ensinam actualmente às jovens gerações em todos os bons manuais de história da nossa escola "republicana"? E mesmo em França, o que se desmoronou em solavancos sucessivos nas eleições europeias, municipais, presidenciais e legislativas será mesmo o partido "comunista", como insistem os media em uníssono? Não será antes a caricatura reformista do comunismo forjada pelos senhores Hue, Brazouézec e outros Gayssot em golpes de abandonos reivindicativos, de alianças "euroconstrutivas", de renegações ideológicas e de participação ministerial sem princípios?. Segundo a resposta que queiram dar a estas questões que nunca foram postas, os que se questionam sobre o futuro do Partido Comunista no nosso país vêem abrir-se duas vias políticas opostas:

Ou se afirmam, como o autor deste artigo e os militantes da Fédération nationale des Associations pour la Renaissance Communiste (FNARC), pela continuidade política e o renascimento revolucionário do Partido Comunista fundado em Tours em 1920, e isso significa que procuram novos caminhos da revolução mas que rejeitam sem equívoco as pretensas "refundações", "mutações" e outros remédios piores que a doença cujo único objectivo é privar o povo de França do partido revolucionário que necessita para retomar a iniciativa histórica.

Ou então consideram que o comunismo, ou mais exactamente o leninismo , falhou, que é preciso de uma maneira ou de outra refundar o PCF, quer dizer, rejeitar os seus fundamentos marxistas e leninistas, cortar o fio vermelho que liga este partido ao Outubro de 17 e ao Congresso de Tours através de sete décadas de história, condenar sem apelo a primeira experiência socialista da história e aliar-se finalmente, seja qual for o tempo de uns e dos outros, à esquerda social democrata e/ou às diversas micro-bandeiras da esquerdinha "anti-liberal"; e, a exemplo daqueles que, no movimento comunista internacional já têm no seu "activo" a liquidação de dezenas de partidos revolucionários, os nossos modernos "mutantes" e outros "refundadores" são condenados contra vontade a ajudar a classe dominante a erradicar por décadas toda a alternativa progressista no nosso país.

        Refundação reformista duma "coisa" à francesa ou de um "objecto" sem conteúdo de classe, ou então renascimento de um verdadeiro partido comunista, não há terceira via possível. O alcance político desta questão ultrapassa de longe os aderentes e ex-aderentes do PCF :  porque, sem um verdadeiro partido comunista, é o arrasamento seguro da "excepção francesa", esse resultado complexo de dois séculos de lutas operárias e democráticas, esse ponto de apoio não negligenciável para as resistências internacionais à mundialização capitalista; é isto que efectivamente foi programado pelas nossas "elites" maastrichianas, ávidas de abrir um lugar desimpedido à Europa supranacional do capital desmantelando o Estado-nação republicano, a cultura nacional e o conjunto das aquisições sociais, laicas e democráticas do mundo do trabalho.

        O objectivo deste artigo é pois pleitear pelo renascimento de um verdadeiro partido comunista em França . Ninguém ignora a necessidade de renovar em profundidade as práticas militantes do futuro partido comunista, de lhe democratizar o funcionamento, de lhe reconstruir a organização hoje deliquescente, de reactualizar a análise marxista do movimento da sociedade, de formular de uma maneira justa e atraente uma estratégia revolucionária para o nosso tempo [2] , de ligar a reconstituição do partido às lutas da classe trabalhadora na sua moderna diversidade. Mas esta aspiração ao renovamento e à modernidade não deve em caso algum servir de pretexto para "baixar a barra" da definição do partido comunista , às suas concepções teóricas e aos seus objectivos históricos:  porque abaixo de um certo nível ideológico e político, não haverá renascimento comunista nem relance de combate anticapitalista, mas somente o prosseguimento da mutação até à liquidação total da herança sem igual do PCF. E, a seguir ao PCF, não nos enganemos, são todas as conquistas democráticas legadas por dois séculos de história progressista que estão ameaçadas.

I- PARA UMA ANÁLISE REVOLUCIONÁRIA DA CONTRA-REVOLUÇÃO

É impossível apresentar em algumas páginas uma análise séria do processo complexo que pôs fim à primeira experiência histórica de construção de uma sociedade socialista. Em "Mundialização capitalista e projecto comunista" [3] , propus elementos de metodologia materialista e dialéctica para estudar numa perspectiva revolucionária o que constitui a meus olhos uma verdadeira contra -revolução mundial.

Não faltam comunistas que hesitam em qualificar de contra-revolucionárias as pretendidas "comoções democráticas" iniciadas por Gorbatchev, os que se recusam a analisá-las a partir dos dados da luta de classe e que procuram num "vício de concepção" do pretendido "modelo soviético" os motivos para liquidar toda a ideia de partido de vanguarda e de revolução socialista; esses tiveram um mau começo para resistir à guerra ideológica conduzida mundialmente pelas forças anticomunistas contra as ideias revolucionárias. Quando se aceita serenamente deixar criminalizar o país de Outubro e de Stalingrado, quando, a pretexto de "anti-totalitarismo", se deixa sem resposta o escandaloso amálgama mediático-universitário entre fascismo hitleriano e "socialismo real", pode-se seriamente ficar indignado com a reentrada em cena dos partidos de extrema direita, esses melhores alunos do curso anti-soviético? Aqueles marxistas que se demitem frente à criminalização das sociedades despontadas do Outubro de 17 podem admirar-se sem má-fé do triunfo das velhas utopias reformistas sobre os conceitos experimentados do marxismo revolucionário?

Constata-se no entanto que a satanização do comunismo e da sua história permite hoje criminalizar progressivamente toda a resistência a esta "nova ordem mundial" estadunidense que é precisamente o fruto venenoso da contra-revolução! não chegou então a hora para aqueles que querem continuar a via revolucionária de denunciar em conjunto esta revisão da história que suja as revoluções de ontem para melhor "vacinar" a geração jovem contra as revoluções de amanhã? Como esses insurrectos republicanos que souberam defender Robespierre contra as calúnias durante os anos negros da Restauração monárquica, as novas gerações revolucionárias deverão aprender a assumir orgulhosamente, embora com espírito crítico, a herança de Lenine e Thorez, se querem ter a mínima hipótese de ir amanhã mais longe que os seus históricos predecessores no caminho ainda mal conhecido que leva da exploração capitalista à sociedade comunista.

É tão verdade que o antisovietismo e o antileninismo ao retardador constituem hoje o principal cimento ideológico dos defensores da "mutação" e outros refundadores reformistas do PCF. Nada mais actual, por consequência, que combater esta forma tão pouco denunciada do revisionismo histórico que, sob pretexto de condenar os crimes e desvios bem reais cometidos em nome do comunismo, tem como único efeito político criminalizar globalmente as revoluções passadas para justificar o que o filósofo italiano Domenico Losurdo denomina a "autofobia comunista". É no entanto esta revisão anticomunista da história que alimenta permanentemente o revisionismo ideológico e o oportunismo político da "mutação". Longe de ser um caso de "nostalgia", este combate pela história é pois central para reconstituir no presente as defesas imunitárias dos comunistas contra as pressões da ideologia dominante:  porque é primeiro no terreno ideológico que se forjam as armas políticas que permitirão aos militantes operários e revolucionários fazer face com honra aos duros confrontos de classe que se anunciam.

Isto não significa de maneira nenhuma que seja forçoso idealizar a história comunista do século 20. Denunciar juntos a tentativa de criminalização do passado comunista não significa negar a priori que há também sombras trágicas na nossa história, mesmo se isso não constitui, longe disso, o seu conteúdo principal. Recusar deixar reduzir a URSS a Stalin e Stalin ao "goulag", fazer o cômputo objectivo, como comunistas, dos avanços e dos bloqueios do "socialismo real", partir para isso dos nossos próprios critérios de avaliação sobre as nossas bases de classe, recusar alinhar-nos nos pretendidos "valores universais" da hipócrita democracia burguesa, eis o que a decência e a eficácia reclamam dos comunistas, recusando enfim autoflagelar-se na esperança vã de dar garantias de respeitabilidade pequeno-burguesa aos mestres-pensadores da socialdemocracia e do esquerdismo de mãos brancas. Porque todas as capelas do anticomunismo só censuraram, a bem dizer, a Lenine uma única tara:   a sua vitória ; e uma única falta à ditadura do proletariado:   a expropriação durante várias décadas das classes possuidoras desapossadas pela "populaça".

O mesmo procedimento crítico e respeitoso em relação à história do PCF, não se tratando de negar os seus erros, incluindo algumas vezes na época da sua grandeza. Basta aqui constatar que diferentemente do "novo PC" mutante, cujos dirigentes privatizadores e "eurocontrutivos" passaram para o lado da ordem estabelecida, o PCF " histórico" manteve-se globalmente do lado bom da barreira, do lado dos explorados ; tão bem que, mesmo quando por vezes "pisou o risco" (por exemplo, concedendo "poderes especiais" a Guy Mollet que pretendia querer a paz na Argélia), o PCF "histórico" soube sempre corrigir o tiro a tempo, o que lhe valeu durante décadas a adesão afectuosa das pessoas ("o Partido"), as perseguições dos seus inimigos de classe e o respeito dos seus adversários mais lúcidos.

Quanto à actual contra-revolução, é preciso aplicar-lhe o preceito materialista do Evangelho:   "Reconhecerás a árvore pelos frutos" . Já passou o tempo em que alguns kremlinocratas de honra perdida aproveitavam a desmobilização popular provocada pela orientação oportunista de "Gorby" para dissolver a URSS violando a vontade majoritária dos soviéticos [4] . Hoje, os povos de Leste podem comparar de experiência feita , as aquisições bem reais do socialismo (pleno emprego, medicina gratuita, habitação barata, vasto acesso à cultura e à Universidade, equipamentos colectivos para as mulheres assalariadas, defesa dos valores humanistas e racionalistas...) com o recuo de civilização provocado pela restauração capitalista. Se nomenclaturistas mafiosos ganharam com a mudança saldando as riquezas nacionais às multinacionais, os operários, camponeses, empregados, docentes, reformados, não acabam de pagar na carne o preço da destruição do socialismo.

Hoje, a mortalidade infantil e a SIDA galopam do outro lado da linha Oder-Neisse; a longevidade média recua; desemprego, sobre-exploração, desregulamentação e precariedade fustigam o mundo do trabalho; a desnutrição afecta largamente as crianças russas, das quais milhares erram sem abrigo na antiga Leninegrado, rebaptizada São Petersburgo. Droga, prostituição, tráfico de armas e violência urbana atingiram os padrões desumanos do terceiro mundo. A investigação e a cultura não têm realmente que temer a censura das novas autoridades anticomunistas:   porque como se censura o que deixou de existir? Guerras civis sob influência estrangeira desarticularam Estados multinacionais noutros tempos pacíficos, senão fraternais. Quanto às liberdades individuais, há que falar! Milhares de docentes suspeitos de simpatia comunista foram "berufsverboten" (interditos de exercer a profissão) na ex-RDA; a guerra colonial e a tortura desenvolvem-se sem complexo na Tchetchénia; depois do bombardeamento do Soviete da Rússia por Eltsine em outubro de 93, os comunistas, majoritários na "Duma", acabam de ser excluídos por Putin de todas as comissões parlamentares; perseguições anticomunistas e xenófobas visando os russófonos subsistem, na total indiferença das organizações "humanitárias" nos Estados bálticos; e, enquanto os partidos comunistas são objecto de mil tropelias de Berlim a Varsóvia, a extrema direita racista e anti-semita reergue por toda a parte a cabeça. No entanto, desde que lhes permitam votar, os eleitores dão resultados invejáveis aos antigos PC (Mongólia, Moldávia, República Checa, etc.) enquanto que os "demolidores do comunismo", os Gorbatchev e outros Walesa recolhem percentagens inferiores (tem de ser dito!) às de Robert Hue, quando têm a imprudência de disputar os sufrágios dos seus compatriotas nas eleições presidenciais!

A nível mundial, que sindicalista, que antifascista, que feminista, que internacionalista dignos desse nome poderia seriamente contestar o balanço globalmente negativo da destruição do "socialismo real", cuja queda arrastou um desmoronamento catastrófico da relação de forças mundial entre o capital e o trabalho, entre as forças progressistas e as forças reaccionárias (penso na situação mundial das mulheres, de que o Afeganistão pós-comunista é tristemente emblemático), entre as forças de paz e as forças de dominação imperialista, entre o movimento de libertação nacional (infelizes Palestinianos, privados do seu aliado natural, o campo socialista!) e o rolo compressor dos Impérios rivais da América e da Europa Ocidental? Em particular, como não ver que as grandes conquistas obtidas pelos trabalhadores franceses na Libertação, na época em que a URSS gozava de grande prestígio pela sua contribuição para a derrota de Hitler e quando os ministros comunistas vindos da Resistência tiveram assento no governo da França (nacionalizações, estatutos, convenções colectivas, comités de empresa, legislação de 1945 sobre a juventude, segurança social), estão hoje sob a mira da União Europeia, esta Santa Aliança que é na Europa pós-comunista o que a Europa de Matternich foi na Europa dinástica da Restauração...

Reconhecer honestamente estes factos não significa de forma alguma demitir-se de toda a análise crítica dos factores "internos" e "externos" que conduziram ao derrube do "socialismo existente". A esse nível, o essencial é não dar provas de simplismo histórico . Simplismo por exemplo de ignorar a luta de classes internacional que manteve em confronto durante sete décadas o capitalismo e o socialismo em formação; simplismo de uivar com os lobos contra o "modelo soviético" (sic) ignorando o facto de que, por razões múltiplas, a revolução socialista, à falta de "furar" nos países dominantes, acantonou-se em países da periferia capitalista em que o desenvolvimento económico e cultural eram inicialmente muito baixos; simplismo de ignorar soberbamente os efeitos militares, económicos, ideológicos e políticos desta segunda guerra fria que, como réplica à humilhante derrota americana no Vietname, viu o conjunto das forças anticomunistas do planeta convergir sob a égide de Reagan nos intensos preparativos militares contra o "império do mal" bolchevique. Recordemos simplesmente que a palavra de ordem claramente exterminadora "antes mortos que vermelhos" era então legitimada por ideólogos como A. Glucksmann no momento em que os Estados Unidos implantavam na RFA os seus mísseis "Pershing". Nessa época, os nossos belicistas explicavam friamente, com o inteiro apoio de Mitterrand, que na defesa dos "valores ocidentais" valia a pena arriscar a "desaparição da humanidade na sua exaustividade" (sic) numa guerra nuclear contra Moscovo! A implantação dos euro-mísseis EUA data de 84; um ano mais tarde, Gorbatchev acedia ao secretariado geral do PCUS; ele ali levava o se "novo pensamento" capitulacionista e néo-muniquense, consistente em trocar o "apaziguamento" com o ocidente pelo abandono por Moscovo da via revolucionária:   em suma, Gorbatchev fazia eco ao "antes mortos que vermelhos" da reacção por um slogan inverso, que levava à avalização pela URSS da chantagem exterminadora do Ocidente:  " antes não vermelhos que mortos "!

Mas seria evidentemente dar prova de um simplismo simétrico procurar exclusivamente nos factores externos a causa da derrocada. Tentei no meu ensaio de 1997 [5] mostrar a origem dos desvios stalineanos, a propósito dos quais recomendo a leitura do artigo escrito para a revista "Etincelles" por V. Flament [6] ; Expliquei igualmente porque razões uma crítica leninista deste desvio não poderia de forma alguma convergir com o que se convencionou designar por "anti-stalinismo", e nomeadamente com a crítica enviesada do estalinismo que Trotsky desenvolveu nos anos 25/30 a partir de postulados comuns ao menchevismo sobre a impossibilidade de empreender a construção do socialismo na ausência duma revolução mundial que não chegava. É nas condições concretas do desenvolvimento do socialismo que convém procurar as causas do bloqueio da transição do socialismo ao comunismo mostrando que, se a "desígnio comunista" é apenas utopia idealista sem a transformação socialista das relações de produção, o próprio socialismo está votado à estagnação quando não se propõe empreender para além disso, como outras tantas tarefas concretas , a superação do assalariamento e das relações mercantis, a extensão mundial da revolução e a dissipação do Estado . Uma análise detalhada dos anos 75/85 mostraria igualmente a progressiva paralisia burocrática dos Estados socialistas, provando que a natureza destes regimes não tinha sido ainda qualitativamente modificada por essa lenta degenerescência:   foi necessário o salto qualitativo contra-revolucionário dos anos 89/91 que destruiu os aparelhos de Estado originados no socialismo e estabeleceu as bases da privatização da economia planificada.

No inter-relacionamento dialéctico dos factores de contra-revolução, é preciso assinalar o papel decisivo do oportunismo , inicialmente no seio do movimento comunista internacional (eurocomunismo...), depois no seio do próprio PCUS. Este oportunismo tomou nomeadamente a forma do "novo pensamento político" de Gorbatchev que pretendia dar "prioridade aos valores universais da humanidade sobre os interesses de classe do proletariado" . O desmoronamento interno foi pois preparado por uma longa e constante pressão externa. A derrota final das primeiras sociedades socialistas é assim na realidade a resultante de um confronto de classes externo e interno que conduziu a " pôr em xeque" a primeira experiência socialista da história pelas forças conjuntas do imperialismo, da burocracia e do oportunismo. É impossível ir mais longe aqui, e peço ao leitor para não julgar sobre a validade destas teses antes de tomar conhecimento das análises mais aprofundadas que publiquei em "Temps des Cerises" sobre esta questão decisiva:   como podemos projectar-nos no futuro sem caracterizar a situação actual, numa apreciação diferente da adesão às falsas constatações antisoviéticas estabelecidas pela ideologia dominante?

Finalmente, esta análise permite mostrar que não somente os principais conceitos do marxismo e do leninismo não foram invalidados pela contra-revolução, mas que eles são mesmo indispensáveis para fazer a sua análise. Sem apreensão conceptual do carácter contra-revolucionário do "momento actual" (não significando isso que resistência e contra-ataque sejam impensáveis), é impossível reconquistar a iniciativa histórica; impossível apreender a necessidade de reconstituir, prolongando o melhor das experiências revolucionárias anteriores, uma força de vanguarda marxista ligada ao mundo do trabalho; impossível compreender a necessidade de fazer renascer um verdadeiro partido comunista, e não uma "coisa" rosa vivo, despojada de todo o conteúdo de classe.

II- UM PROJECTO, UMA ESTRATÉGIA, UM PARTIDO COMUNISTA PARA O NOSSO TEMPO

Na aparência, a luta de classes ficou para trás. Na aparência, a classe operária minguou e não está mais em condições de dirigir a resistência ao capitalismo. Na aparência, o confronto capital-trabalho perde o seu protagonismo em prol dos problemas "societais". Na aparência, a "forma partido" perde a pertinência em prol do "movimento associativo", da acção humanitária e da "sociedade civil". Mas a função do marxismo é precisamente ajudar a penetrar para além das aparências, discernindo os processos históricos invisíveis a olho nu.

Assim é com a classe operária. Certamente, se a definirmos como o conjunto dos trabalhadores manuais assalariados e activos, quer dizer, a partir de características mais empíricas que científicas, ela parece derreter-se sob o sol negro das deslocalizações e da informatização da produção. Mas, se incluirmos na classe dos trabalhadores assalariados todos os que contribuem directamente para a produção de mais-valia capitalista, quer seja de facto ou em potência, se se reconhecer o carácter simultaneamente nacional e internacional dessa classe, se se tiver em conta a diversificação do trabalho produtivo moderno (que atravessa os serviços e abrange uma parte crescente do trabalho intelectual), se não se esquecerem nem os operários reformados, nem os jovens das escolas técnicas, nem os operários imigrados legais ou clandestinos, nem a massa dos que procuram emprego e dos "precários" candidatos a tarefas de circunstância, se não se esquecer ingénuamente o número muito importante de operários da indústria e dos estaleiros, dos transportes, da energia e das telecomunicações, então a classe proletária no sentido marxista do termo continua politicamente decisiva na população dos países industrializados, e isso é sem dúvida ainda mais verdadeiro à escala do planeta [7] .

Assim é com a luta de classes . Mesmo se a consciência da classe explorada regrediu, mesmo se a "mutação" do PCF privou milhões de trabalhadores de referências essenciais, a luta de classes não cessou, simplesmente porque se trata de um fenómeno objectivo resultante da exploração cada vez mais forte dos trabalhadores pelos proprietários de empresas capitalistas. Como verdadeiros psicanalistas materialistas do movimento social , precisamos de aprender a reconhecer a luta de classes sob formas por vezes desfiguradas que toma em período contra-revolucionário. Assim, o que é a refundação social do MEDEF senão o programa reivindicativo dos capitalistas contra a classe operária e o conjunto das categorias populares? Na luta de classes, é hoje o grande patronato que "segura as rédeas" e retomou a iniciativa histórica com a ajuda activa dos sindicatos de colaboração de classe. E, bem entendido, contrariamente aos explorados, a classe dominante não tem nenhum interesse em confessar que pratica, ela própria, o combate de classe não para eliminar a exploração, mas para a agravar numa absurda e suicida corrida ao lucro máximo!

Da mesma forma, os pretensos "confrontos inter-étnicos" e outras "guerras religiosas" que põem periodicamente em contenda os explorados entre si para melhor proveito dos possuidores, deverão ser lidos como outras tantas formas de diversão à explosiva conflitualidade de classe das sociedades modernas ou de desviar a resistência expontânea das massas populares às manobras do imperialismo. É este, por exemplo, o papel do face a face mortal que opõe actualmente, para maior benefício do primeiro, o imperialismo americano à sua criatura mórbida, o terrorismo integrista, inicialmente criado pela CIA para combater os comunistas afegãos.

O verdadeiro problema consiste então menos em "relançar a luta de classes" que permitir que ela se expresse de maneira justa e adequada , unindo todos os explorados (de um país, de um continente, do mundo inteiro) contra a minoria cada vez mais restrita dos multimilionários exploradores. Aliás, acontece por vezes, particularmente quando a classe capitalista e o seu Estado são constrangidos pela pressão internacional a afrontar a classe trabalhadora no seu conjunto, que todos os trabalhadores, ou pelo menos um número significativo deles, entrem "todos juntos" na luta:  foi o que se passou em França em Maio de 68 ou, em menor grau, em Dezembro de 95 quando Jupé, forçado por Helmut Kohl e os ayatolahs da moeda única a intervir contra os défices da Segurança Social, golpeou em simultâneo as conquistas dos ferroviários e a Segurança Social. É também o que poderá acontecer com o governo Raffarin, intimado já por Bruxelas a "tomar medidas" contra o serviço público da energia e as reformas por contingente. Tudo isto só reforça a necessidade de uma verdadeira vanguarda capaz de federar as lutas "visando" o inimigo principal, o grande capital. É este défice de vanguarda que vivemos hoje quando os partidos de esquerda plural e os seus micro-satélites erráticos do trotskismo se revelam incapazes de abrir uma perspectiva aos trabalhadores dos sectores privado e público, sejam eles activos, reformados ou privados de emprego, franceses ou emigrados.

Para aí chegar, é preciso primeiro reconstruir a perspectiva histórica. Para isso, o instrumental materialista e dialéctico forjado pela filosofia marxista é de importância primordial. Com efeito, como se assinalou acima, o "novo pensamento político" de Gorbatchev baseia-se na oposição facciosa dos "valores universais" aos "interesses de classe do proletariado". No mesmo espírito, a "mutação" do PCF privilegiou a abordagem "societal" em prejuízo duma abordagem marxista baseada na luta de classe [8] , considerada como um aspecto entre outros da acção para a transformação social. Se bem que profundamente anti-leninista, este posicionamento da "mutação" que nega o papel dirigente do combate do proletariado contra o capital, parte de uma realidade que deforma e não reconhece :   trata-se da dimensão humanamente universal do combate de classe contemporâneo. A mundialização capitalista cria objectivamente para a humanidade uma solidariedade de destino. O exterminismo que constitui uma tendência marcante do imperialismo contemporâneo, com as suas dimensões múltiplas que extravasam de longe o aspecto militar, faz do capital financeiro, que actualmente parasita o conjunto das actividades humanas, o inimigo comum de toda a humanidade. Longe de reduzir o papel do combate de classe, confere-lhe, pelo contrário, um alcance universal sem precedente. O comunismo não é apenas necessário para emancipar a classe trabalhadora:   se a irresponsabilidade do capital conduz às piores loucuras militares, sanitárias, alimentares, ecológicas, o combate anticapitalista está no âmago de todo o compromisso consequente contra a morte e a desumanização da humanidade.

Uma nova abordagem marxista-leninista torna-se então insubstituível para trazer à luz o conteúdo de classe do universalismo contemporâneo. Assim, não há de um lado "o" mundialismo e de outro "o" patriotismo como se esforçam por fazer crer intimando-nos a escolher entre a euro-complacência de Arlette e o soberanismo burguês de Chevènement; se partirmos pelo contrário duma abordagem materialista, se não nos esquecermos o princípio dialéctico da unidade dos contrários , então veremos reagruparem-se de um e de outro lado da barreira de classe, de um lado a mundialização imperialista e os seus subprodutos reaccionários, os nacionalismos, racismos e outros integrismos, e do outro o patriotismo dos povos defendendo a sua soberania e um internacionalismo proletário de nova geração solidarizando contra o adversário comum os assalariados da Europa e do mundo.

Assim, se a perspectiva do comunismo é indiscutivelmente mundial [9] , ela articula-se naturalmente com a defesa das soberanias populares, concebendo-se a nação, como ensinava Politzer, não como um conjunto racial e "natural", mas como uma comunidade humana constituída historicamente. Porque a transição socialista ao comunismo continua indissociável do quadro nacional. Mesmo sem ser possível desenvolvê-lo aqui, qualquer pessoa vê facilmente que o quadro político de uma eventual socialização dos meios de produção, prelúdio mínimo do comunismo, passa sempre pela sua nacionalização . A linguagem é aqui um indicador seguro das relações de forças entre as classes nas suas relações com os territórios :   porque, se qualquer pessoa vê bem que mundializar ou europeanizar uma empresa só pode significar hoje privatizá-la e submetê-la estritamente aos mercados financeiros (ver a France Telecom), "nacionalizar" continua em toda a parte sinónimo de apropriação pública , mesmo que seja dentro dos limites de um Estado burguês!

Desenha-se então o projecto de um autêntico renascimento do Movimento Comunista Internacional , o único capaz de dar ao magnífico movimento anti-globalização da juventude uma orientação anti-capitalista e anti-imperialista; não há nisto nada de utópico, porque da Grécia ao Brasil, passando por Cuba e pela República Checa, partidos que continuaram fiéis ao combate de classe retomam terreno marcando a vida política do seu país. Este renascimento comunista internacional deveria articular-se com as resistências nacionais dos povos ao imperialismo (da Palestina às FARC da Colômbia). Porque mesmo se nas condições da mundialização, as inevitáveis tentativas imperialistas de sufocar uma eventual revolução rivalizarão rapidamente com a propagação internacional da onda de choque revolucionária, toda a nova revolução socialista explodirá os elos fracos da dominação imperialista sem excluir a priori nenhuma região do mundo.

Em França, uma autêntica estratégia anticapitalista deve apoiar-se nesta tripla inspiração internacionalista, antifascista e patriótica, mesmo se para os marxistas a nação se concebe como uma etapa histórica para a República universal do trabalho. Com efeito, a política do capital passa hoje pela integração europeia, quer dizer, por um duplo processo federalista de dissolução do Estado nacional, entalado entre a Europa supranacional e as aspirações particularistas das regiões e outras "etnias". Daí a classe operária, primeira vítima com o campesinato, os intelectuais dedicados à cultura nacional e os agentes dos serviços públicos desta desnacionalização da França , é levada a encabeçar (como começou a fazer em dezembro de 95) a unidade popular majoritária contra a Europa de Maastricht , não para "reorientar a Europa num sentido progressista", como aspiram os seguidores da "mutação" e numerosos ideólogos do trotskismo, mas para romper com os tratados de Maastricht, Nice e Amesterdão, com a moeda única gerida pelo Banco de Frankfort, assim como com o exército profissional pilotado pela NATO. Sair de Maastrich pela esquerda , será designadamente restaurar o carácter laico da escola e do Estado, renacionalizar as empresas privatizadas alargando os direitos dos assalariados, reconquistar o emprego industrial e agrícola, proibir as deslocalizações, nacionalizar sem indemnização as empresas que fazem despedimentos depois de ter encaixado fundos públicos a título da criação de emprego, fazer participar o conjunto dos cidadãos no debate sobre o orçamento de estado, quebrar o plano Juppé e entregar aos assalariados a gestão plena da Segurança Social, acabar com as leis racistas francesas e europeias e dar o direito de voto aos trabalhadores estrangeiros, defender as culturas nacionais dos povos da Europa contra a americanização das línguas, dos estômagos, dos corações e dos cérebros...

Enfrentando ao mesmo tempo e numa base de classe o nacionalismo de Le Pen e a integração europeia que constitui o verdadeiro programa comum da direita e da social-eurocracia, um partido de renascimento comunista poderia assumir um papel central no confronto entre forças populares e grande capital. Levada a seu termo, e sob a condição expressa de o movimento popular se organizar "na base" nos bairros e empresas, que ele se articule no momento próprio num governo popular antifascista e anti-Maastricht combatendo sem mercê a oligarquia financeira, um tal confronto reporia na ordem do dia a ruptura com o capitalismo e a revolução socialista no nosso país. Se hoje isto parece pecar por antecipação, a grande burguesia sabe bem que pela sua parte o poder é mais precário do que aparenta. Quando milhões de cidadãos boicotam as eleições, quando a direita parlamentar e social-democrata são forçadas a rebuscar os fundos da gaveta do voto útil para salvar a face (em detrimento, quer da UDF e da FN, quer do PCF e dos esquerdistas), é porque a crise política não está longe :  e todos se recordam da observação de Lenine:   "Quando os de baixo não querem ser governados como antes, quando os de cima não podem mais governar como antes, então abre-se uma época de revolução social..." . Então a grande burguesia prepara-se para todas as eventualidades. Não somente tem de reserva, para uma guerra civil contra o povo, os pitbulls [raça canina - NT] da F.N., não somente se presta à fascisação da democracia burguesa "missionando" Sarkozy para reforçar o aparelho repressivo, mas ela difunde ao seu exército profissional um "manual de guerrilha urbana" indicando como reprimir eventuais insurreições nos bairros desfavorecidos... Prova de força ou testemunho de isolamento social crescente?

Porque é o único em condições de seguir com espírito consequente o fio vermelho do combate anticapitalista, um verdadeiro partido comunista poderia desenvolver uma estratégia de classe e de massas contra o grande capital. Enquanto os militantes da alternativa progressista estão hoje dispersos por várias zonas vividas como concorrentes, a tarefa de um partido do renascimento comunista seria fundir numa só frente de batalha para as reivindicações populares, o combate antifascista da juventude, o empenho republicano pela soberania nacional e a construção de uma Europa de lutas abertas e democráticas. Unificar estes combates, abrir a perspectiva de um novo bloco histórico de progresso , duma nova hegemonia cultural conjugando patriotismo republicano, solidariedade e anti-imperialismo, combate antifascista, Europa de lutas, tudo sob a direcção da classe trabalhadora e numa perspectiva abertamente revolucionária, não é manifestamente empreendimento para um partido "super-mutante" satélite do PS, nem para um "polo de radicalismo" pilotado por movimentos trotskistas, que consideram como "burguesa" toda a defesa da nação, e ainda menos pelos Verdes, que ignoram toda a vida do "povinho". É igualmente duvidoso que possa ser tarefa para uma "convergência anticapitalista" visando a mundialização capitalista mas poupando a Europa supranacional; uma tal convergência isolaria a classe operária das camadas médias negligenciando o inimigo principal de hoje, a força mais reaccionária que se trata de isolar e vencer:   o grande capital de Maastricht. Pelo contrário, um partido comunista unindo a bandeira vermelha dos trabalhadores com a bandeira tricolor da nação, revisitando os ensinamentos de Thorez e Duclos, pode dar corpo ao princípio leninista do papel dirigente da classe trabalhadora construindo em simultâneo uma alargada aliança anti-monopolista sobre bases internacionalistas, republicanas, patriotas e anti-fascistas.

Para aí chegar, os militantes do renascimento comunista devem aprender desde já a desempenhar de uma forma nova a sua função de vanguarda popular. É falso que não existe outra escolha, para um partido comunista, excepto entre o papel de "partido-guia" à antiga e o papel, incompreensível e supérfluo, de apêndice eleitoral do "movimento social". A função de vanguarda não se auto-proclama. Constrói-se a partir da análise, o mais científica possível, da realidade, da construção duma hegemonia cultural no sentido que Gramsci dava a esse termo:   e isto implica uma intervenção permanente nas frentes de investigação teórica, de criação cultural e de luta ideológica; a nova vanguarda construir-se-á igualmente num diálogo permanente com os trabalhadores e a juventude em luta, levando a debate as propostas políticas, defendendo a independência dos sindicatos de luta contra a ingerência das forças de colaboração das classes, promovendo tudo o que favoreça a auto-organização das massas e a sua capacidade de decisão, ajudando as lutas a centralizar-se democraticamente até pôr em causa o poder político da burguesia. E construir um verdadeiro partido de vanguarda implica então tornar-se o partido da vanguarda aproximando-se sempre mais das frentes pioneiras da resistência ao capital e á reacção, incluindo no terreno "societal" (ataques contra os direitos das mulheres e contra a juventude, destruição da laicidade, retorno à "ordem moral"...). Longe de confiscar o poder (o que é contrário à abordagem leninista das "Teses de Abril"), trata-se pelo contrário de procurar em todas as circunstâncias colocar a classe dominada em posição de tomar e exercer ela própria esse poder dando-lhe os meios de se organizar por si própria e de se apropriar da inteligência teórica da sua situação.

Mesmo se isto implica uma intensa actividade democrática, cujo centralismo dirigista de outrora não é mais possível do que o actual domínio dos eleitos e das "personalidades mediáticas" em que descambou a "mutação", isto necessita sempre de um verdadeiro partido unindo a força de elaboração teórica, a organização democrática e centralizada (tanto pior se este termo, assim como o de "disciplina" choca alguns "liberais-libertários" que se crêem comunistas...) e uma estratégia democraticamente definida mas aplicada por todos com abnegação. Que plataformas distintas possam rivalizar em igualdade nos congressos em caso de desacordo substancial, nenhum leninista refutará. Em contrapartida, que um partido comunista possa resultar da soma de "tendências" heteróclitas e, inevitavelmente, de compromissos de cúpula entre os seus chefes (como é o caso do PS), é na melhor das hipóteses uma utopia angélica, e na pior uma nova forma de transformar o partido de combate dos trabalhadores em "casa comum" de todas as discórdias. Também não há nada de comum entre um verdadeiro partido comunista e o albergue espanhol do "polo de radicalismo" ou do "polo republicano" igualmente estranhos ao mundo do trabalho. Uma tal perspectiva pode sem dúvida atrair alguns notáveis que desejem "aproveitar-se" nas eleições, mas não pode interessar os militantes operários sérios que sabem por instinto que o capital não dá presentes, que o próximo período será impiedoso e que o combate de classe de amanhã não se acomodará a uma regressão política repetindo as taras paralisantes das duas primeiras Internacionais ou os sonhos intelectualistas de alguns nostálgicos do Maio de 68.

Isto não obsta de forma alguma, e que não haja nenhum mal entendido neste ponto, o cultivo do diálogo político e a unidade de acção de base com os Ecologistas, Alternativos, soberanistas de esquerda, anti-globalização, e porque não, em questões pontuais, com os militantes trotskistas, sem perder de vista o cuidado de cativar os jovens para o marxismo revolucionário. Mas a reorganização de um verdadeiro partido comunista no meio popular não poderia subordinar-se a construções bizantinas pondo em primeiro plano os micro-aparelhos da auto-denominada extrema esquerda, cujo único título de glória em cinquenta anos terá sido "tomar à esquerda" os comunistas, os países socialistas e a CGT para melhor contribuir para a sua destruição. Os que prometem o futuro apagando esse passado pouco glorioso mentem ao povo e aos comunistas. Sem se dar conta, eles acompanham "pela esquerda" a liquidação do PCF abandonando as chaves da casa a forças exteriores cujos dirigentes são por natureza hostís ao comunismo.

O renascimento do partido comunista tem de ser obra dos próprios comunistas, sem mentor exterior e em estreita comunhão com as lutas do povo trabalhador. Só o renascimento de um partido comunista, de um partido comunista do povo de França , por mais modestos que sejam os meios no arranque, poderá reabrir em França a porta à esquerda para uma verdadeira mudança.

III- OS CAMINHOS DO RENASCIMENTO

Renascimento é aos meus olhos a palavra de ordem que corresponde melhor às aspirações dos que querem reconstruir um verdadeiro partido revolucionário sobre as ruínas do novo PCF mutante.

Deixemos às fracções reformistas, principais instigadoras da ruína do PCF, a duvidosa palavra de ordem de "refundação comunista". Como alguns "cabritos" que saltavam antigamente nas cadeiras gritando "a Europa! a Europa! a Europa!" , os dirigentes refundadores e mutantes cantam hoje em coro " fundemos, fundemos e refundemos ", sem precisar se se trata do imperativo do verbo "fundar", ou, mais plausivelmente, o do verbo "fundir" (que se aplica mais à evolução dos efectivos organizados do actual PCF) [*] Ora nós estamos em França e não em Itália:  e em França, o projecto refundador, mesmo que tenha sido provisoriamente acompanhado mezzo voice do epíteto "comunista" está marcado há quinze anos com o selo reformista (a estrela renovadora dos anos 80, Ch. Fiterman, satisfaz-se agora a brincar às plantas com o PS...). A noção de "refundação" é além disso politicamente falsa já que esse termo diz objectivamente que o PCF precisa de outras fundações em vez daquelas sobre as quais se edificou desde 1920:   sejamos claros, o que reclamam os "refundadores comunistas" de todas as obediências, são novas fundações antileninistas , quer dizer, argúcias à parte, um novo menchevismo à francesa [10] .

A expressão "renovação revolucionária" do PCF não é mais adequada. Não somente porque os "renovadores" conduzidos por P. Juquin a desacreditaram, mas porque esta expressão não dá a medida da ruptura que é preciso efectuar com as tendências revisionistas que irreversivelmente comprometeram e ressequiram o "novo PC". Uma meia-saída da "mutação", uma simples "travagem", um regresso às ambiguidades e às derivas anunciadoras do período de Marchais também não bastarão para restaurar a confiança. A ruptura com a mutação será total, ou não existirá e os grandes confrontos que se anunciam com o governo de Raffarin, e atrás dele com a Europa de Super-Maastricht, encarregar-se-ão de reduzir o espaço político das correntes "conciliatórias". E daí, não haverá terceira via entre um renascimento comunista na sua acepção plena e o "congresso de Tours ao contrário" a que aspiram, de uma maneira ou de outra, as tendências liquidadoras.

De maneira simétrica, alguns camaradas confundem o "novo PC" actual e o PCF "histórico" que continua a viver no coração do nosso povo; deitando fora o menino com a água do banho, falando unilateralmente de "ruptura", esses camaradas repudiam toda a ideia de continuidade política e encaram um movimento completamente novo não referenciado à história do PCF. Mas apesar do aparente radicalismo desta postura, é grande o risco de "deixar sossegados" os dirigentes do PCF confrontados com uma grave crise política, de lhes abandonar a legitimidade histórica e com ela milhares de militantes e centenas de milhares de eleitores que os seguem ainda, mais por falta de perspectivas que por convicção. Na realidade, não se trata somente de romper com as forças liquidatárias, trata-se também de prolongar a via revolucionária, reivindicando a legitimidade histórica e a herança política (e porque não, material...) do Partido fundado em Tours ao apelo do Komitern. Todos os que recusam o suicídio mutante devem pois rotular-se como verdadeiros continuadores do Partido Comunista Francês . Quanto aos que se auto-proclamaram "partido" comunista excomungando os outros movimentos opositores, arriscam-se muito a facilitar, a contragosto, a tarefa dos liquidacionistas que não sabem o que fazer com a presença nas margens do novo PC em decomposição de uma meia dúzia de grupos que se auto-proclamam "partidos" sem se incomodar em serem reconhecidos pelos militantes, pela classe operária e pelos outros componentes do Movimento comunista internacional.

É preciso ainda que se entenda a continuidade política que reivindicamos:  milhares de comunistas deixaram o PCF por causa das traições da sua direcção; não voltarão sob nenhum pretexto e ninguém os deve forçar. Mas se a crise do PCF se tornou explosiva, é porque o confronto entre mutantes e revolucionários não é uma simples oposição ideológica que leva à disputa entre "sensibilidades comunistas" de igual legitimidade. Em última instância, trata-se de uma luta política entre interesses de classe inconciliáveis, de uma "contradição antagónica" para retomar um conceito caro a Mao. Politicamente, chegou a hora em que o reformismo (que, em última análise, defende o capitalismo ) e o comunismo (que o quer abolir) não poderão mais, ainda que quisessem, coabitar sob o mesmo tecto. A decisão de continuar o partido comunista não coincide de forma alguma no seu princípio com a de continuar no PC mutante quando este último está às portas da dissolução na socialdemocracia ou em grupos herdeiros, igualmente sem fôlego, do esquerdismo de 68. A separação organizacional é objectivamente inelutável entre reformistas e revolucionários, e a repressão que atinge os revolucionários no seio do PC mutante ("despejados" das suas sedes de secção de maneira antidemocrática:  Avion, Liévin, Aubervilliers...) lá está para recordar que o reformista e a revolução são como a água e o fogo , e que a sua coexistência no seio duma mesma organização é de natureza transitória, explosiva e altamente conflituosa [11] . À beira de um congresso que se anuncia sem surpresa, sob a condução de uma direcção incapaz de autocrítica, chegou a hora, como dizia Lenine, de "tirar a camisa" suja do reformismo falhado para vestir a camisa limpa dos combates do futuro.

É isto que exprime com rigor a noção de renascimento comunista. Re -nascimento, quer dizer continuação da via e da herança revolucionária do PCF, ele mesmo fundado em Tours na continuidade das lutas revolucionárias dos Sans-coulotte, da Conspiration des Egaux, da Comuna e do contributo, decisivo entre todos, da Revolução de Outubro. E combate interno conduzido à luz do dia em toda a parte onde é possível ainda ganhar comunistas, células, sectores, federações, para uma luta consequente por um congresso de saída da mutação reformista.

Mas também re- nascimento, porque a continuação do comunismo implica a ruptura total com a obra de liquidação que está a concluir-se. Não estamos assim em altura de súplicas ao Pai Natal mutante para nos trazer em Maio de 2003 uma improvável "saída da mutação". Plagiando a interpelação de André Tollet, hoje falecido, aos dirigentes mutantes do PCF, dizemos aqui claramente, como foi proclamado nas contribuições à tribuna de discussão de l'Humanité de 18 de junho, sob a assinatura de Jean-Pierre Hemmen, H. Alleg, Frédérique Houseaux, Christiane Combe, Françoise Douchin, L. Landini, G. Hage, J. Lacaze, J. Leclercq, G. Gastaud, H. Martin:  - Qualquer coisa nova, clara, francamente comunista , está a nascer dentro , e cada vez mais, ao lado do partido transmutado, com milhares de militantes, membros do PCF, antigos membros, jovens e sindicalistas ainda nunca filiados, e isto em ligação estreita com as lutas populares. É para dar uma forma estruturada a esse movimento, ao mesmo tempo diverso e uno, que se formam as Associations pour la Renaissance Communiste, federadas nacionalmente pela FNARC. Esta não é um partido mas um movimento unitário. Mas a FNARC não faz fétiche da "forma-movimento" nem se engoda nos méritos do fluído e do informal, e não diz, ao estilo de Bernstein, o inventor do revisionismo:   "o objectivo final é nada, o movimento é tudo". Como a Coordenação dos militantes comunistas que lhe dá todo o seu apoio, a FNARC é um utensílio transitório e "descartável", um movimento comunista que desaparecerá com entusiasmo quando forem criadas condições para dar lugar a um verdadeiro PARTIDO comunista .

Para o autor destas linhas é o desfecho de um comprometimento quase tri-decenal contra uma mutação que seguramente não caiu do céu. Desde 1976, alguns militantes isolados opuseram-se ao abandono da ditadura do proletariado , esse conceito construído por Marx para exprimir o conteúdo de classe de todo o Estado e de toda a democracia, essa rede de segurança teórica essencial, sem a qual todo o partido operário acaba a prazo por ser dissolvido na democracia burguesa como já aconteceu historicamente à social democracia e à maior parte dos partidos saídos da IIIª Internacional. Depois vieram no início dos anos 90 a fundação da Coordenação comunista, por iniciativa de uma célula do Pas-de-Calais, assim como do comité Honecker de solidariedade internacionalista que reagrupa na sua diversidade comunistas e antifascistas opositores à caça às bruxas anticomunista nos ex-países socialistas. Tudo isto se fez sob uma dupla palavra de ordem:   espírito de princípio e reunião de comunistas. Se este combate conheceu deploráveis tropeções, como a divisão provocada em 99 na Coordenação comunista por uma orientação sectária e dogmática que se revelou subsequentemente duma total esterilidade, rearrancou em bases sadias com a criação da Coordenação dos Militantes Comunistas, presidida por Georges Hage, depois com a criação da FNARC, actualmente presidida por um colectivo comportando nomeadamente H. Alleg, L. Landini, G. Hage, J. -P. Hemmen e J. Coignard.

Hoje, o cuidado maior deve ser, dialecticamente, reunir os comunistas sobre bases de princípio mínimas, abaixo das quais a oposição à mutação não daria à luz um verdadeiro partido comunista mas uma clonagem esquerdizante do partido mutante. Afirmar-se pelo relançamento de uma verdadeira análise marxista , na vez e no lugar do seguidismo actual dos dirigentes mutantes para com as ideias em voga da esquerda antiliberal, reivindicar uma nova estratégia independente da socialdemocracia e tendo como cerne o papel motor da classe trabalhadora , no primado do movimento popular, na união contra Maastricht e a globalização capitalista, defender a soberania nacional trabalhando para fazer viver um internacionalismo proletário de segunda geração, desenvolver a batalha antifascista e o combate anti-imperialista , caminhar concretamente para o comunismo sem iludir a socialização dos grandes meios de produção , combater toda a criminalização da história comunista abrindo o debate sobre essa história, reivindicar a continuidade política do PCF e pôr a tónica no conteúdo de classe de um partido ligado ao mundo do trabalho, aqui estão "fundamentos" que não deviam assustar nenhum comunista digno desse nome. É sobre estas bases mínimas que os militantes da CMC e da FNARC assumiram com outras forças militantes a construção de uma " convergência comunista " que adoptou um texto fundador retomando os princípios acima enumerados. É preciso ainda, para federar solidamente todas as correntes empenhadas nesta convergência e alargá-la a todos os militantes e grupos de boa vontade que cada um afaste à partida e sem retrocesso toda a aliança com os lideres refundadores e trotskistas que não constituem uma ameaça menor de "mutação genética" que os seus irmãos mais velhos do PS ao qual tantas práticas, pressupostos ideológicos e de proximidade sociológica os ligam desde sempre. Porque a questão central é ajudar a classe operária a reconstitui um partido seu , independente da burguesia e da pequena burguesia. Para dialogar com outros, é preciso primeiro existirmos e organizarmo-nos nós próprios.

Federar todos os comunistas opostos à corrente liquidadora? S im, três vezes sim! Pôr-se á partida sob a tutela de grupos exteriores, fazendo crescer a confusão política e a divisão entre comunistas opostos à mudança? Não, três vezes não!

Pois o partido comunista não é um "nicho" comercial à esquerda do PS que se trataria de ocupar para evitar a crise do sistema institucional e "posicionar-se" na "recomposição política". Não é também um "organismo Geneticamente Modificado" no património do qual os manipuladores em câmara introduziriam ora genes da mutação reformista ora genes da mutação soberanista, ora os da mutação trotskista. Para sobreviver, erguer-se, evoluir, mexer e desenvolver-se e sobretudo para vencer no momento adequado, ele precisa antes de tudo de tornar a ser ele próprio:   nada mais móvel, nada mais dinâmico, nada mais aberto, que uma verdadeira identidade comunista ! Porque na sua essência, o partido comunista não tem outra utilidade senão ajudar o mundo do trabalho a emancipar-se por si próprio de toda a tutela estranha para construir uma sociedade sem classes.

CONCLUSÃO

Se soubessem unir-se por si próprios afastando a ingerência de falsos amigos do comunismo, se soubessem reencontrar-se sem sectarismo sobre os princípios que fundamentam hoje como ontem o compromisso comunista, se soubessem romper com os que provocam naufrágios reivindicando a herança sem igual do PCF, se soubessem exigir juntos e, se necessário organizar eles próprios um grande congresso de ruptura com a mutação reformista e o renascimento do verdadeiro partido comunista, se soubessem ligar-se ao povo preparando-o para os duros confrontos de classe que se anunciam, então os comunistas de França saberiam seguramente fazer renascer um grande partido revolucionário no nosso país. Senão, uma dolorosa travessia do túnel abre-se para as forças progressistas deste país. Quem duvidará que os comunistas de França que inscreveram o seu partido na história da nação, quem duvidará que o povo de França, que trouxe tanto ao progresso humano, encontrarão em si mesmos os recursos de energia e de lucidez que lhes permitam reabrir enfim a "porta à esquerda", a da esperança reencontrada, para o seu partido, o seu país e para os seus grandes ideais?

Lens, 6 de Julho de 2002


[*] Filósofo. Trabalho escrito para a Editorial "Le Temps des Cerises", Paris, Verão de 2002. Tradução de Luisa Tovar
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NOTAS

(1) No "le Populaire du Centre" Dominique Grador, presidente do conselho nacional do PCF, exprime-se assim:   " o debate no seio do Partido pode encarar até à dissolução do PCF. Deverá auto-dissolver-se? Apagar o nosso nome e a nossa história para o deixar lugar a jovens que não têm que carregar esta história e que podem encarar um novo futuro? O nosso debate é aberto até aí" (retomado em "la Montagne" de 27.5.2002) Haverá depois disto leitores tão cegos que julguem demasiado "polémico" o epíteto de liquidacionistas dirigido aos actuais dirigentes do PCF?

(2) Sob este ponto de vista, o autor deste artigo, filósofo militante e não "comunicador" profissional, não é o mais bem colocado para formular as coisas de uma maneira atractiva e "em voga". Solicita ainda mais por essa razão uma verdadeira atenção ao conteúdo da sua exposição, à real modernidade das propostas da Coordenação dos militantes comunistas e da FNARC, quer dizer, o seu ajuste aos dados reais da situação e não a sua concordância com o vocabulário da "novalíngua" em uso na "esquerdinha" que se diz radical e anti-capitalista.

(3) Le Temps des cerises, 1997, cf 3ª parte, "Pour une analyse revolutionaire de la contre-revolution"

(4) Em 1991, 76% dos soviéticos pronunciaram-se em referendo pela manutenção da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Menos de um ano mais tarde, a URSS era dissolvida por um decreto inconstitucional dos presidentes russo, bielorusso e ucraniano. Assinalemos que a URSS comportava oficialmente 15 repúblicas.

(5) " Mondialisation capitaliste et project communiste ", II parte "Para uma análise revolucionária da contra-revolução"; ver também a minha contribuição para o colóquio do IRM de Actuel Marx "Octobre, causes, impacts prolongements"" sob a direcção de Bruno Drweski. Ver igualmente revista "EtincelleS" nº 2, dezembro 2000, "notre heritage n'est précédé d'aucun testament" com anotação dos artigos de Henri Martin sobre M. Terez e de Vincent Flament sobre "stalinisme et anti-stalinisme". Ver igualmente "EtincelleS" nº3, Actes du colloque de Malakoff sobre le 80º aniversário do PCF et 100º aniversário de M. Thorez, com as intervenções de G.Gastaud, H.Martin, H. Alleg, A. Prenant, Lacroiax-Riz, F.Arzalier, E. Fabrol, V. Flament, P. Thorez, etc. "EtinceleS" , revista teórica e política, 199, rue Emile Zola, 62800 Liévin.

(6) Ver nota precedente

(7) «EtincelleS» n 0 5, «Actualité de la critique marxiste de l'économie politique », Julho de 2002, Artigos de G.Gastaud, J.-F. Dejours, M. Korssakissok, O. Rubens, J.-C. Gandiglio, etc.

(8) Sobre este ponto, ler o artigo de G. Gastaud em «Initiative communiste » n 0 13, Abril de 2002:  «les problèmes sociétaux sont aussi des problèmes de classe ».

(9) Ideologia Alemã, Marx-Engels, (tradução francesa) Messidor-Essentiel , pag. 95. Comentei este texto complexo e decisivo, muito frequentemente entendido em contra-senso, na «Mondialisation capitaliste et projet communiste », p. 99 e sequentes.

(10) É preciso compreender o que dizem as palavras, como bons "psicanalistas materialistas"; "mutação" contráriamente a "renovação", significa alteração da essência por modificação da identidade genética duma espécie. "Refundação", que é um termo ainda mais global, vai ainda mais longe nessa direcção mutante. Quanto ao "bolchevismo" e ao "menchevismo", opuseram-se inicialmente (no segundo congresso do Partido Operário Social Democrático da Rússia) a propósito da organização do Partido:  enquanto que os mencheviques, conduzidos por Martov, queriam um partido-movimento, uma espécie de "guarda-tudo" informal sem contornos nem disciplina, os bolcheviques de Lenine queriam um verdadeiro partido político em simultâneo democrático e centralisado delimitado por um acordo sobre o programa, a pertença de cada um a uma célula, a aceitação da disciplina maioritária e o pagamento de uma cota. Trotski navegava entre as duas concepções e, até 1917, esteve mais próximo dos mencheviques.

(11) Assim os mencheviques e os bolcheviques coabitaram de uma maneira extremamente conflituosa no início do partido operário russo, mas a sua separação organizativa estava concluída de facto bem antes da revolução de Outubro de 1917 em que os mencheviques passaram muito maioritariamente para o lado dos "Brancos"

(*) NT - no original "fondons, fondons et refondons", que corresponde simultaneamente ao imperativo dos verbos "fonder" (fundar) e "fondre" (fundir). O verbo "fondre" tem uma amplitude diferente de "fundir":  inclui o "derreter" da culinária e, em sentido figurado, "dissolver" e "desaparecer". O trocadilho é intraduzível.

16/Ago/02