Greve em todas as frentes
por Rémy Herrera
Nestes últimos meses, desde a intensificação dos conflitos
sociais em França, os media dominantes do país cumprem o seu
papel na perfeição: eles difundem de modo permanente uma
propaganda destinada a minar a moral dos trabalhadores em luta e transmitem
servilmente os discursos mentirosos do governo do presidente Emmanuel Macron
mantido pela alta finança e ocultando sob a palavra de
"reformas" uma vontade de destruição sistemática
dos serviços públicos.
Depois de ter pretendido que o número de grevistas e manifestantes
opostos às medidas neoliberais efectuadas em todas as
direcções para diminuí-las, agora estes media anunciam
"o fim próximo da greve dos ferroviários"... No
entanto, os sindicatos mais combativos do sector ferroviário (CGD,
SUD...) discutem actualmente a possibilidade de prosseguir o movimento na SCNF
para além do calendário de greves intermitentes previsto
inicialmente (28 de Junho).
É verdade que a simples leitura da lista das múltiplas greves que
decorreram recentemente ou continuam a decorrer em França esgotaria o
tempo de antena dos jornais televisivos! Os comentadores subordinados ao poder
falam, a propósito destes conflitos, num "mal francês"
que seria preciso erradicar. Um deputado da maioria presidencial chegou mesmo a
falar em "grevicultura" (ou cultura da greve).
Quanto a nós, devemos ver nesta multiplicação das lutas
sociais um motivo de optimismo. São nestes movimentos que os
trabalhadores, sobretudo os mais jovens, se formam, reaprendem a construir os
laços indispensáveis de solidariedade, estruturam as formas
locais de organização, fazem surgir os líderes do futuro.
Apesar das numerosas dificuldades encontradas, estas lutas serão
ampliadas pouco a pouco e darão os seus frutos. É preciso ser
paciente. A consciência de classe progride e, com ela, a coragem de
trabalhadores cada vez mais numerosos que saem da inércia e da
resignação.
Em certa medida alguns destes movimentos sociais são insólitos,
ou mesmo históricos. Exemplos:
O número de sindicalizados entre os empregados das lojas
fast food
aumenta fortemente. No McDonalds, grevistas alguns deles lutaram mais de
seis meses reivindicam melhores condições de trabalho e de
salários, mas denunciam também a evasão fiscal e a
captação dos lucros praticada pelos proprietários do
grupo. Empregados de outras cadeias não hesitam mais em revelar casos de
exploração e de maus-tratos no trabalho. No rastro da
mobilização de empregados dos supermercados franceses do
Carrefour, o movimento estendeu-se à Bélgica, onde uma centena de
lojas Lidl têve de fechar por causa de uma greve espontânea.
Desde há vários meses, os empregados dos estabelecimentos para
pessoas idosas dependentes manifestaram-se para denunciar os salários
irrisórios, as cadências de trabalho, o pessoal insuficiente, mas
também as más condições de vida provocadas aos
pensionistas e as despesas exorbitantes que lhes são exigidas.
Em Maio, os turistas puderam observar que os trabalhadores do lixo e dos
esgotos de Paris estão mobilizados. Eles pretendiam que se reconhecesse
a dureza das suas profissões e obter reformas antecipadas.
Em meados de Junho, agricultores bloquearam 14 refinarias de petróleo do
país para protestar contra a decisão governamental de autorizar a
importação de óleo de palma (da Indonésia,
nomeadamente) destinado a alimentar as fábricas de bio-carburante, mas
ameaçando a linha da colza francesa.
Sob a nova pressão neoliberal, o mal-estar social é tão
profundo que atinge até mesmo profissões que, na memória
dos observadores, jamais se manifestaram. Em Maio, um milhar de revisores
oficiais de contas desceram à rua contra um projecto de lei que
prevê a anulação da obrigação às
pequenas e médias empresas de certificarem as suas contas por gabinetes
de peritos em contabilidade (daí um deixar de ganhar para eles).
Um mês antes, magistrados e advogados estavam em greve para protestar
contra o anúncio feito pelo Ministério da Justiça de
"fundir" (na realidade, de encerrar) os tribunais habilitados a
julgar os pequenos litígios (cujo pedido de indemnização
não ultrapasse 5000 euros) com as jurisdições superiores,
o que implicaria, além das reduções de orçamentos e
de postos de trabalho, um justiça desumanizada e privatizada,
dissuadindo os pobres de se empenharem em procedimentos judiciais para
defenderem seus direitos.
Em Maio, foi a vez dos trabalhadores das
Catacumbas
(ossuário subterrâneo da praça Denfert-Rochereau), depois
da Cripta arqueológica, de efectuar a mais longa greve jamais efectuada
nos Museus de Paris. Os empregados reclamam condições de trabalho
"dignas e equitativas", segurança para os agentes e para
este sítio turístico, assim como um prémio por trabalhar
no subsolo em condições difíceis.
17/Junho/2018
Este artigo encontra-se em
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