Discurso de encerramento pronunciado
no encontro internacional consagrado ao
85º aniversário da Revolução de Outubro,
em Malakoff (França), 9-10/Nov/2002

por Georges Gastaud [*]

Caros amigos e camaradas:
poster da Revolução de Outubro Já que me foi concedida a hora de encerrar esta comemoração militante, quero mais uma vez agradecer calorosamente em vosso nome nossos convidados estrangeiros, nossos camaradas alemães, poloneses, portugueses, gregos, turcos, camaroneses, argelinos, checo, búlgaros, colombianos, chilenos, etc. Quero igualmente reiterar toda nossa gratidão a Léo Figuères, a Jean Clavel e à municipalidade de Malakoff, felicitar nossos camaradas do Parti algérien de la démocratie et du socialisme , saudar fraternalmente todos os intervenientes que puseram todo o seu empenho e toda a sua inteligência na animação dos nossos debates e no enriquecimento dos nossos trabalhos. Um piscar de olho amistoso também a Désiré Marle, presidente-fundador do Comité Honecker, a Vincent Flament seu secretário, Madeleine Dupont sua incansável organizadora, a todos os camaradas de Pas-de-Calais que se dedicaram sem descanso ao êxito desta reunião. Obrigado ao pintor comunista americano Ken Larson, que nos permitiu renovar as tradições culturais do movimento comunista ao apresentar-nos seu trabalho de vanguarda acerca das condições da queda da RDA. Um muito obrigado também a René Lefort, que acaba de representar o CHSI em Filadelfia, nas manifestações pela libertação de Mumia Abu Jamal, que aceitou corajosamente ser membro do comité de apoio do CHSI, bem como a Henri Alleg, que não se contentou com o papel de presidente de honra e pôs concretamente mãos à obra para o êxito do nosso encontro.


1º) Breve olhar sobre os debates (parte não redigida e reconstituída de memória)

Nossos debates foram ricos, produtivos e fraternos.

Eles mostraram nomeadamente que a Revolução de Outubro, mesmo que se tenha desenrolado num contexto histórico muito particular (como acontece com todo acontecimento histórico), inclui lições universais que merecem inspirar nossa acção presente. É impossível falar de revolução, e menos ainda de socialismo, sem um impetuoso desenvolvimento e uma grande iniciativa democrática do movimento popular , sem a intervenção incansável de um partido de vanguarda ligado aos trabalhadores, sem a conquista do poder político pela classe laboriosa, sem a socialização dos grandes meios de produção. Todos aqueles que, desde 1917, pretenderam ignorar estas condições elementares da mudança da sociedade não fizeram outra coisa senão gerir lealmente a crise da sociedade capitalista enganando o mundo do trabalho, como acabámos de verificar em França com o lamentável fiasco da "esquerda plural".

        Como mostrou nosso camarada português Miguel Urbano Rodrigues, não existe terceira via entre este reformismo tradicional e a via revolucionária que conduz à conquista do poder político pelos trabalhadores. Aqueles que procuram libertar-se dos "excessos" do liberalismo e da globalização financeira contornando o enfrentamento entre as classes populares e o poder capitalista não podem na realidade, apesar dos seus discursos aparentemente "radicais", senão levar água ao moinho de uma socialdemocracia cada vez mais abertamente aliada ao neoliberalismo económico e ao imperialismo político.

        Por outro lado, como o fez Lenine na sua época e como o nosso camarada do Partido Comunista da Grécia o recordou com muita lucidez, os revolucionários devem enfrentar não só o capitalismo, o imperialismo e a socialdemocracia como também as forças de liquidação que, tais como os "vírus informáticos", destruem a partir de dentro o movimento comunista e os países socialistas que não se previnem a tempo contra as suas malfeitorias. Manifestamente, o vírus liquidador foi "internacionalizado" pela contra-revolução: mas ao invés de tirar conclusões derrotistas, convém pelo contrário compreender que a luta contra o oportunismo e a liquidação implica em si mesma uma dimensão internacional .

        Significa isto dizer que, como perguntou nosso camarada de Dresden e vários intervenientes franceses, nossa tarefa actual é reconstruir o mais cedo possível uma Internacional comunista e revolucionária? Se se concebe esta tarefa como um objectivo estratégico , então o CHSI pronuncia-se resolutamente em favor de um tal objectivo. Entretanto nossa tarefa actual , no momento em que em vários países, inclusive a França, o partido comunista está em via de liquidação, é antes de tudo para os comunistas reconstruir laços sólidos com o seu povo em cada país , para ali fazer nascer ou renascer uma verdadeira vanguarda revolucionária ligada aos trabalhadores. Não ponhamos a carroça antes dos bois e perguntemo-nos seriamente como e sob quais formas construir, por exemplo, uma rede internacional de luta contra a criminalização do comunismo . "Todo passo real para a frente vale mais do que cem programas", declarava Marx, que não era entretanto partidário do pragmatismo. Que pode o mais pode o menos": quando a nova "ordem" mundial e europeia do capital significa o esmagamento brutal do movimento popular, e em primeiro lugar dos partidos comunistas e dos países socialistas ou de orientação socialista, não será tempo de organizar à escala internacional a acção contra a criminalização do comunismo? Isto é urgente no momento em que toda uma série de partidos comunistas e de movimentos revolucionários é inscrita na lista das "organizações terroristas" pelos Estados Unidos e pela União Europeia!

        Dentre estes "trabalhos práticos de internacionalismo" figura evidentemente a participação de comunistas de um máximo de países na contra-cimeira de Salónica onde nossos camaradas do PC da Grécia estarão na primeira linha para dar às manifestações populares um conteúdo anti-maastrichtiano, anti-capitalista e anti-imperialista. O comité Honecker responderá presente, na medida das suas forças, por ocasião desta contra-cimeira.

        Permitam-me também, em nome do CHSI, lembrar algumas conclusões essenciais dos nossos trabalhos.


2º) Sermos ofensivos acerca do balanço da contra-revolução

        Antes de mais nada, é preciso que sejamos ofensivos acerca do balanço da Revolução de Outubro , sobretudo quando se a compara com o balanço globalmente catastrófico da contra -revolução conduzida pelas forças anticomunistas aliadas ao imperialismo ocidental no decorrer dos anos 1989/91.

        Entrados em pânico pela infernal campanha anti-soviética que se seguiu à queda da URSS, numerosos progressistas baixaram então a cabeça considerando que o socialismo havia "fracassado". Isto significava não compreender que na realidade o socialismo havia sofrido uma derrota , perfeitamente explicável a partir de uma análise das contradições de classes à escala internacional e da luta entre marxismo tanto ao nível mundial como no interior de cada país socialista. Honra aos militantes corajosos que tiveram então o mérito de resistir contra ventos e marés à contra-revolução ideológica e ao anti-sovietismo com retardador.

        Mas hoje existem as condições para uma contra-ofensiva ideológica de grande amplitude . Rejeitando as calúnias estúpidas do fascizante Courtois, historiadores sérios retomam os trabalhos de Hobsbawn, o qual, apesar dos seus limites burgueses, sublinhou a enorme contribuição de Outubro de 1917 para a emancipação social dos explorados do mundo inteiro, para a luta das mulheres pela igualdade, pelo despertar políticos dos povos do terceiro mundo, pela defesa da paz mundial contra as artimanhas imperialistas. Da mesma forma não está ao alcance de ninguém ocultar o papel central da União Soviética na derrota de Hitler, depois nas concessões sociais que o capitalismo foi obrigado a fazer aos trabalhadores ocidentais durante décadas para evitar o contágio comunista.

        Inversamente, cada um verifica os pesados desgastes humanos que a contra-revolução causou nos ex-países socialistas. Os saltimbancos da restauração capitalista haviam prometido aos povos do Leste a paz, o pluralismo, a prosperidade, a ajuda desinteressada do Ocidente, o acesso de todos às pretensas delícias da sociedade de consumo, e assim por diante. Na realidade, estes povos não obtiveram, como "prémio" pela restauração capitalista, senão a guerra civil, a hegemonia americana, o reino da mafia, o desemprego e a miséria em massa, a infância sem abrigo, as redes de prostituição, a ruína cultural, o desmembramento da poderosa investigação científica soviética, a repressão brutal dos partidos comunistas, o bombardeamento com canhões do Parlamento russo por Eltsine, a caça às feiticeiras na ex-RDA, o encerramento dos estaleiros navais Lenine de Gdansk, e proximamente, com a entrada da Polónia na União Europeia, a ruína programada de milhões de pequenos camponeses polacos.

        Se outrora, na época do socialismo, o nome "Kursk" evocava a resistência heróica do Exército Vermelho contra a Wehrmacht, hoje esta palavra não evoca, na Rússia capitalista de Putine, senão a destruição conscientemente provocada da ex-segunda potência mundial e da sua marinha de guerra.

        Ontem, as forças anticomunistas juravam pelo pluralismo e pelo anti-totalitarismo : na realidade dos factos, a destruição do socialismo libertou a nível planetário os diabos do fascismo, do integrismo, do militarismo e a vaga mundial do neoliberalismo, o sistema que tende a reenviar a humanidade para a lei da selva!

        Na realidade dos factos, apesar do massacre anti-comunista de que são vítimas, os povos do Leste manifestam cada vez mais a sua rejeição do capitalismo e a sua saudade do socialismo, aquilo que muitos dos media ocidentais chamam com desprezo a sua "nostalgia". Poderíamos evocar aqui o grande salto para a frente do Partido Comunista da Boemia-Morávia, o voto majoritário dos moldavos em favor do PCM e muitos outros factos que testemunham o renascimento dos partidos comunistas nos ex-países socialistas.

        Do lado contrário, basta-nos aqui evocar os resultados ridículos obtidos nas eleições presidenciais pelos dois indivíduos que personificavam a destruição do socialismo. Os srs. Lech Walesa e Mikhail Gorbartchov obtiveram, cada um, menos de 2% dos votos nas eleições presidenciais dos seus respectivos países, e parece confirmar-se por toda a parte, dos Urais ao Val-d'Oise, que aqueles que seguem tais anti- modelos renegando os princípios do comunismo, estão destinados a ter os mesmos resultados humilhantes.

        Portanto, nós comunistas temos nas mãos o melhor dos testes experimentais para demonstrar na prática que, mesmo sendo vítima de certas deformações, o socialismo permaneceu até ao fim humanamente superior ao capitalismo , sistema de morte e exploração. Compreende-se melhor a razão porque, impossibilitados de poder defender o seu lamentável balanço actual, os cantores do capitalismo estão reduzidos a criminalizar e a difamar grosseiramente a história do comunismo.


3º) Passar à ofensiva contra a criminalização do comunismo

        Amigos e camaradas: Desde a queda da URSS, substituindo a obcecante guerra ideológica anti-soviética dos anos Reagan, uma perigosa tentativa de criminalização do comunismo e da sua história desenvolve-se em França e na Europa. Trata-se de "provar" que a Revolução de Outubro foi um putsch criminoso, que Lenine não era senão um aventureiro doutrinário e que Stalin foi um tirano pior do Hitler, quando Stalingrado ficará gravada na história como uma batalha pela liberdade de um porte humano que não pode ser igualado senão pela batalha das Termópilas ou pela de Valmy .

        Não se trata para nós de negar que tenha podido haver em tal ou tal época da construção do socialismo comportamentos graves, inadmissíveis em relação aos nossos ideais. Mas a criminalização do comunismo é uma coisa inteiramente diferente do que admitir que o socialismo, cuja edificação se fez nas condições de hostilidade encarniçada do mundo capitalista dominante, tenha podido experimentar falhas, tal como em todo empreendimento humano inédito.

         Criminalisar o comunismo é negar as imensas aquisições sociais, os consideráveis avanços políticos e civilizacionais que permitiram, no mundo inteiro, a vitória do socialismo.

         Criminalizar o comunismo é recusar compreender a história a partir das suas condições materiais e das suas contradições de classe, substituindo a investigação científica pela procura pueril de bodes expiatórios: "o Dow Jones está de rastos, a culpa é de Robespierre, a Argentina entra em colapso, a culpa é de Lenine"!

         Criminalizar o comunismo é enegrecer o passado comunista para melhor excluir as perspectivas do futuro da humanidade ao destruir a perspectiva revolucionária do socialismo, de uma sociedade finalmente liberta da arcaica exploração do homem pelo homem.

         Deixar criminalizar a história do comunismo é, para os comunistas, destruir a memória sem a qual não há identidade, nem projecto, nem organização comunista que valha.

         Deixar criminalizar o comunismo é por fim, indirectamente, legitimar os crimes do imperialismo e reabilitar o fascismo, a eterna raiz da classe antisoviética. Àqueles que difamam sem tréguas Lenine e o comunismo mais que choramingam acerca do avanço da extrema-direita em França e na Europa, dizemos: é do ventre fecundo do capitalismo, que vocês abençoam, e do anti-sovietismo, que vocês cultivam com uma perseverança maligna, que ressurge sem cessar a besta imunda do fascismo, do integrismo e do neo-nazismo.

        É ainda este anticomunismo obsessivo, que exprime na realidade o temor recorrente que a burguesia experimenta em relação à classe operária, este temor que leva os nossos bem-pensantes de hoje a difamar a contribuição decisiva dos comunistas da França à Resistência antifascista, a minimizar a contribuição da Resistência armada, a rever em baixa os crimes inigualados do Reich e colocar um Papon em liberdade quando corajosos militantes CGT como Alain Hébert (que saúda nossa reunião!) são lançados na prisão e quando na Alemanha o último chefe de Estado da RDA antifascista, Egon Krenz, é mantido escandalosamente na prisão.

         Criminalizar o comunismo é também, como se viu no Afeganistão, preferir conscientemente à República laica, à reforma agrária, à alfabetização das massas, à Universidade mista, ao desenvolvimento da saúde pública, o retorno à Idade Média, à escravidão das mulheres, a dominação dos clãs feudais e dos semeadores de papoula, a guerra civil perpétua, o desenvolvimento do terrorismo integrista, este monstro de mil cabeça no qual a CIA investiu conscientemente a fim de abater a qualquer custo o Partido Popular Afegão e desestabilizar o poder político na própria União Soviética.

        Anteontem os anticomunistas diziam cinicamente: "antes Hitler que a Frente Popular". Em 1984, na época da implantação dos euromísseis americanos na Alemanha, eles exclamavam: "lieber tot, als rot" ("antes mortos que vermelhos"); no Afeganistão, a palavra de ordem real do Ocidente foi claramente: "antes Ben Laden que os comunistas em Kabul". O que dirão amanhã estes senhores a fim de salvar da bancarrota o seu sistema decrépito, dilacerado por cracks cada vez maiores, pelas recessões recorrentes, pelas falências transnacionais e continentais?

         Criminalizar Lenine e a Revolução de Outubro é atacar indirectamente todas as revoluções anteriores que tentaram, antes da revolução bolchevique, libertar os povos quebrando pela força a resistência dos opressores. Ainda ontem podia-se ler em Le Monde uma longa tirada contra Robespierre, qualificado de "paranóico perigoso". Este mesmo jornal choramingava acerca das infelicidades de Louis Capet, anteriormente Luís XVI, e da sua prole ao denunciar o odioso "jacobinismo" que a Europa de Maastricht e as leis de descentralização Raffarin se propõem doravante a romper ao desossar a República francesa una e indivisível e ao desmantelar as conquistas sociais da Libertação (segurança, estatutos, nacionalizações, convenções-colectivas), obra dos ministros comunistas de 1945.

        Ao relançar a caça ao "Vermelhos", a burguesia tornada reaccionária quer atingir igualmente os soldados "azuis" do Ano Dois, os Sans-culotte que em 1793 construíram a França nova sob a divisa, cada vez mais incomoda nestes tempos maastrichtianos, de liberdade, de igualdade, de soberania nacional e de laicidade. Num país como a França pode-se dizer sem exagero que a criminalização do comunismo não tem outro fim, ao partir as organizações de classes e as referências revolucionárias, senão destruir a nação , este fermento de resistência aos Impérios rivais europeus e norte-americano, de maneira a impedir toda resistência organizada do movimento popular.

        Eis porque os verdadeiros comunistas, os verdadeiros antifascistas, devem interpelar sem complexos os democratas sinceros, os amigos da paz, os patriotas republicanos, os sindicalistas fieis ao mundo do trabalho, todos aqueles que querem combater a quebra da República, todos aqueles que rejeitam a sarko-fascização da França (pilotada pelo digno herdeiro de um guarda branco húngaro!), dizendo a todos os democratas: recusem a criminalização do comunismo que não tem outra finalidade senão ajudar a reacção a estrangular a democracia e provocando um enorme recuo da civilização em proveito exclusivo de uma oligarquia de miliardários insaciáveis.

3º) Acusar o balanço catastrófico do capitalismo

        Caros camaradas: Tal como na época do processo Dimitrov, quando o pirómano Goering acusava os comunistas de terem incendiado o Reichstag, precisamos reaprender a acusar os acusadores , estes incendiários do capital que se apresentam como procuradores dos ideais mais avançados que a humanidade já alcançou.

        Quem são vocês, Senhores anticomunistas, para ousar condenar os revolucionários, os antifascistas, resistentes comunistas como Léon Landini, Henri Martin, Pierre Pranchère e Henri Alleg, presentes hoje entre nós? Quem são vocês para lançar o opróbrio sobre o compromisso da minha camarada e amiga Maria Delvaux, membro do CHSI falecida há dias, que fez dezenas de vezes a viagem de bicicleta entre Lens e Paris em plena ocupação alemã a fim de permitir a ligação entre o estado-maior das FTP e os combatentes comunistas da bacia mineira de Lens?

         Vosso balanço histórico , Senhores capitalistas, é constituído pelo tráfico de escravos, pelo saque da África e pelo genocídio das populações indígenas da América. Vosso balanço histórico é a colonização e o seu cortejo de horrores. É a repressão sangrenta da Comuna de Pris. É o linchamento de 500 mil comunistas indonésios e de milhares de militantes chilenos da Unidade Popular. Vosso balanço histórico , são duas guerras imperialistas, seguidas de Hiroshima, da guerra fria, da corrida armamentista, das inumeráveis intervenções armadas do imperialismo americano, do holocausto do Vietname, do bloqueio de Cuba e do Iraque, da invasão do Panamá e da Jugoslávia, da primeira guerra do Golfo e, dentro em breve, de um novo massacre programado do povo iraquiano em benefício exclusivo dos miliardários de Dallas! Vosso balanço histórico é o martírio quotidiano do povo e das crianças palestinas sob as balas do criminoso de guerra Sharon!

        Vosso balanço histórico é também o nazismo, é Auschwitz, Lidice, Oradour-sur-Glane, pois face ao movimento revolucionário saído de Outubro, vossos antepassados do grande patronato não hesitaram em soltar os camisas pardas hitlerianos sem qualquer preocupação quanto às odiosas consequências para a humanidade!

        E o vosso balanço actual não é melhor, muito pelo contrário. Nunca desde Hitler se havia visto por em prática um tal projecto imperialista e inumano, tão bem descrito por Miguel Urbano Rodrigues e por René Lefort, um projecto que, sob o nome de código de "mundialização", esfaima continentes inteiros, semeia o desemprego, a insegurança e a precariedade, multiplica as guerras, relança a corrida às piores armas de extermínio, sacrifica o ambiente à busca desenfreada do lucro, comercializa o genoma do ser humano (este património da humanidade comum por definição a todos os humanos!) e submete a saúde pública, a escola, a cultura e a investigação científica àquilo que Marx chamava "as águas geladas do cálculo egoísta", sem receio de instrumentalizar o terrorismo cego, o fanatismo integrista e a extrema-direita fascista!

        Analista subtil do inconsciente reaccionário, o pintor espanhol Francisco Goya havia intitulado uma série de telas como "o sono da razão engendra monstros". Pois bem, hoje, a suposta diminuição de actividade do comunismo, a contenção violenta do leninismo, gera terríveis monstros históricos . Na primeira linha deles há que colocar aquilo a que chamamos o exterminismo , esta tendência criminal do imperialismo, que conduz à irresponsabilidade máxima em todos os planos, militar, ecológico, económico, social e chega até a arriscar a sobrevivência da espécie a fim de assegurar o desenvolvimento incessante dos lucros.

        Sim, confiar ao capitalismo o futuro da humanismo equivale a encarregar o sinistro Marc Dutrou de assumir a responsabilidade por uma escola maternal!

        Mas esta orientação ultra-reaccionária do capitalismo contemporâneo não deve intimidar-nos: ela testemunha antes de tudo a senilidade social deste sistema , de que Lenine dizia já em 1915 que é sinónimo de "reacção em toda a linha". Sob um tal sistema, como já assinalava Marx, a humanidade está condenada a escolher, com os seus mestres burgueses, entre "um fim cheio de medo" ou um "medo sem fim".

         Socialismo ou barbárie: ou o capitalismo destruirá a humanidade, ou a humanidade se desembaraçará do capitalismo, este é o significado profundo da altiva divisa dos comunistas cubanos, "socialismo o muerte" , o que significa que o socialismo é chamado a reagrupar sob a bandeira vermelha da classe operária todas as forças anti-exterministas, todas as forças vivas da humanidade.

4º) Defendermo-nos com o leninismo!

        Será preciso que nos espantemos se todas as forças da morte e do ódio, todas as forças do suicídio, da renúncia, do ressentimento e da liquidação, todas as forças niilistas que vão da extrema direita à socialdemocracia maastrichtiana passando pelos liquidadores do comunismo, se encarnicem hoje contra Marx e contra Lenine que os desmascararam tão bem e antecipadamente? Aquilo que estes pequenos personagens não perdoam aos gigantes do pensamento e da acção que foram Marx, Engels e Lenine é ter ensinado que a libertação universal do género humano passava não pelos abraços entre o Mestre e o Escravo, não pela colaboração entre o explorador e o explorado, mas pela luta de classe levada até ao fim, até à revolução, até à sociedade sem classe, até ao comunismo!

        O que eles não perdoam a Lenine é que, pela primeira na história, um homem, um partido, um grande movimento popular nacional e mundial, haja acedido à categoria de sujeitos conscientes da sua própria história apoiando-se numa classe revolucionária e tornando o sentido do devir histórico inteligível e luminoso para milhões de homens. E isto é, certamente, um pecado mortal inexpiável aos olhos da reacção. Mas ao mesmo tempo, camaradas, saibamos ver para além destes tempos de contra-revolução. Quando a humanidade trabalhadora experimentou uma vez a liberdade real do socialismo ela pode, sem dúvida provisoriamente, recalcar suas aspirações à justiça sob a pressão desencadeada pela reacção. Mas a revolução guarda um ressaibo de retorno à mesma e exactamente por isso que a burguesia é obrigada, dia após dia, hora após hora, a matar e re-matar este comunismo que até à véspera ela declarava morto e enterrado.

        Mantenhamos então confiança na força do povo, tal como Buonarotti que levava outrora a mensagem comunista de Gracchus Babeuf (decapitado pelo Termidor) até à Comuna de Paris atravessando o terrível período da Restauração monárquica ou como o velho communard Camélinat que passa o testemunho da Revolução proletária para as mãos do jovem Partido Comunista Francês no fim do Congresso de Tours.

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        Caros amigos e camaradas:

        No momento de concluir esta intervenção proponho-vos pistas de acção e de trabalho comum. Na Polónia, um artigo celerado da constituição, que assimila o marxismo ao nazismo, ameaça permanentemente a legalidade do Partido Comunista. O PC Filipino, as FARC da Colômbia são inscritos na lista das organizações terroristas pela União Europeia. Na Turquia, o poeta e patriota comunista Nazim Hikmet continua escandalosamente privado da sua nacionalidade turca anos após a sua morte. Na Tunísia, o Partido Comunista é perseguido, bem como nossos camaradas dos países bálticos, e assim por diante. Recentemente o jornal "Le Monde" ousou apelar a que se trouxessem os dirigentes chineses, ou seja, os líderes do país mais populoso do mundo, diante do Tribunal Penal Internacional! O fascizante Bush Júnior foi a Miami para exigir o afastamento de Fidel Castro. Na Pennsylvania, os candidatos "democrata" (sic) e "republicano" (sic) ao cargo de governador rivalizam em selvajaria ao prometerem obter mais cedo a execução imediata de Mumia em caso de eleição! A realidade é que a mundialização capitalista exige a "solução final" contra os comunistas e tudo aquilo que, de perto ou de longe, se oponha à nova "ordem" bárbara do grande capital, sindicalistas, antifascistas, militantes antimundialistas.

        Quanto não seríamos mais fortes para resistir se pudéssemos agir não só à escala nacional mas à escala internacional pela liberdade dos nossos camaradas? Quem não vê que uma internacionalização da luta contra a criminalização do comunismo poderia concretamente e praticamente contribuir, a partir de um domínio limitado mas essencial, aquele da solidariedade de classe face à repressão , para o renascimento do movimento comunista internacional? Cabe a cada um meditar acerca desta necessidade de internacionalizar o internacionalismo. Reiteremos que o comité Honecker, apesar de não ter nem a pretensão nem os meios de dirigir semelhante empreendimento, pode se necessário desempenhar no assunto um papel de facilitador, e se uma organização mais prestigiosa puder aproveitar o exemplo e desempenhar um papel motor no assunto, o CHSI terá prazer em ajudar na medida dos seus modestos meios.

        Da mesma forma, não podemos unir nossos esforços à escala internacional para responder em conjunto ao pretenso "livro negro do comunismo" do Courtois trabalhando para escrever, mesmo que seja precisos vários tomos, até uma biblioteca!, o "livro negro do anti comunismo"?

        Seja o que for que decorra destas poucas sugestões, que faço a título puramente exploratório, este colóquio não ficará sem sequência: tal como em 1994, aquando do anterior colóquio de Malakoff, as actas dos nossos trabalhos serão publicadas pelo CHSI em colaboração com a revista EtincelleS.

Viva a Revolução de Outubro de 1917!

Viva a solidariedade de classe internacional dos trabalhadores

Honra aos pioneiros do socialismo e vergonha aos seus liquidadores

Abaixo a repressão anticomunista na Europa e no mundo

Abaixo o imperialismo americano! Não à guerra no Iraque!

O imperialismo é o inimigo principal de todos os povos!

Solidariedade total com a Revolução Cubana!

Viva a única Europa que vale
aquela das lutas democráticas contra Maastricht, aquela dos povos lutando contra a União Europeia imperialista pela sua soberania e seu direito de construir o socialismo

Caros amigos,
podemos agora concluir esta reunião de luta e de esperança
entoando, cada um na sua língua, o imortal canto de luta de Eugène Pottier e de Pierre Degeyter!

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[*] Filósofo.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info
22/Nov/02