Discurso de encerramento pronunciado
no encontro internacional consagrado ao
85º aniversário da Revolução de Outubro,
em Malakoff (França), 9-10/Nov/2002
Caros amigos e camaradas:
Já que me foi concedida a hora de encerrar esta
comemoração militante, quero mais uma vez agradecer calorosamente
em vosso nome nossos convidados estrangeiros, nossos camaradas alemães,
poloneses, portugueses, gregos, turcos, camaroneses, argelinos, checo,
búlgaros, colombianos, chilenos, etc. Quero igualmente reiterar toda
nossa gratidão a Léo Figuères, a Jean Clavel e à
municipalidade de Malakoff, felicitar nossos camaradas do
Parti algérien de la démocratie et du socialisme
, saudar fraternalmente todos os intervenientes que puseram todo o seu empenho
e toda a sua inteligência na animação dos nossos debates e
no enriquecimento dos nossos trabalhos. Um piscar de olho amistoso
também a Désiré Marle, presidente-fundador do
Comité Honecker, a Vincent Flament seu secretário, Madeleine
Dupont sua incansável organizadora, a todos os camaradas de
Pas-de-Calais que se dedicaram sem descanso ao êxito desta
reunião. Obrigado ao pintor comunista americano Ken Larson, que nos
permitiu renovar as tradições culturais do movimento comunista ao
apresentar-nos seu trabalho de vanguarda acerca das condições da
queda da RDA. Um muito obrigado também a René Lefort, que acaba
de representar o CHSI em Filadelfia, nas manifestações pela
libertação de Mumia Abu Jamal, que aceitou corajosamente ser
membro do comité de apoio do CHSI, bem como a Henri Alleg, que
não se contentou com o papel de presidente de honra e pôs
concretamente mãos à obra para o êxito do nosso encontro.
1º) Breve olhar sobre os debates (parte não redigida e
reconstituída de memória)
Nossos debates foram ricos, produtivos e fraternos.
Eles mostraram nomeadamente que a Revolução de Outubro, mesmo que
se tenha desenrolado num contexto histórico muito particular (como
acontece com
todo
acontecimento histórico), inclui lições
universais
que merecem inspirar nossa acção presente. É
impossível falar de revolução, e menos ainda de
socialismo, sem um
impetuoso desenvolvimento e uma grande iniciativa democrática do
movimento popular
, sem a intervenção incansável de um
partido de vanguarda
ligado aos trabalhadores, sem a
conquista do poder político
pela classe laboriosa, sem a
socialização
dos grandes meios de produção. Todos aqueles que, desde 1917,
pretenderam ignorar estas condições elementares da mudança
da sociedade não fizeram outra coisa senão gerir lealmente a
crise da sociedade capitalista enganando o mundo do trabalho, como
acabámos de verificar em França com o lamentável fiasco da
"esquerda plural".
Como mostrou nosso camarada
português Miguel Urbano Rodrigues,
não existe terceira via
entre este reformismo tradicional e a via revolucionária que conduz
à conquista do poder político pelos trabalhadores. Aqueles que
procuram libertar-se dos "excessos" do liberalismo e da
globalização financeira contornando o enfrentamento entre as
classes populares e o poder capitalista não podem na realidade, apesar
dos seus discursos aparentemente "radicais", senão levar
água ao moinho de uma socialdemocracia cada vez mais abertamente aliada
ao neoliberalismo económico e ao imperialismo político.
Por outro lado, como o fez
Lenine na sua época e como o nosso camarada do Partido Comunista da
Grécia o recordou com muita lucidez, os revolucionários devem
enfrentar não só o capitalismo, o imperialismo e a
socialdemocracia como também as forças de
liquidação que, tais como os "vírus
informáticos", destruem a partir de dentro o movimento comunista e
os países socialistas que não se previnem a tempo contra as suas
malfeitorias. Manifestamente, o vírus liquidador foi
"internacionalizado" pela contra-revolução: mas ao
invés de tirar conclusões derrotistas, convém pelo
contrário compreender que
a luta contra o oportunismo e a liquidação implica em si mesma
uma dimensão internacional
.
Significa isto dizer que, como
perguntou nosso camarada de Dresden e vários intervenientes franceses,
nossa tarefa actual é reconstruir o mais cedo possível uma
Internacional comunista e revolucionária? Se se concebe esta tarefa
como um
objectivo estratégico
, então o CHSI pronuncia-se resolutamente em favor de um tal objectivo.
Entretanto nossa tarefa
actual
, no momento em que em vários países, inclusive a França,
o partido comunista está em via de liquidação, é
antes de tudo para os comunistas reconstruir
laços sólidos com o seu povo em cada país
, para ali fazer nascer ou renascer uma verdadeira vanguarda
revolucionária ligada aos trabalhadores. Não ponhamos a
carroça antes dos bois e perguntemo-nos seriamente como e sob quais
formas construir, por exemplo, uma
rede internacional de luta contra a criminalização do comunismo
. "Todo passo real para a frente vale mais do que cem programas",
declarava Marx, que não era entretanto partidário do pragmatismo.
Que pode o mais pode o menos": quando a nova "ordem" mundial e
europeia do capital significa o esmagamento brutal do movimento popular, e em
primeiro lugar dos partidos comunistas e dos países socialistas ou de
orientação socialista, não será tempo de organizar
à escala internacional a acção contra a
criminalização do comunismo? Isto é urgente no momento em
que toda uma série de partidos comunistas e de movimentos
revolucionários é inscrita na lista das
"organizações terroristas" pelos Estados Unidos e pela
União Europeia!
Dentre estes "trabalhos
práticos de internacionalismo" figura evidentemente a
participação de comunistas de um máximo de países
na
contra-cimeira de Salónica
onde nossos camaradas do PC da Grécia estarão na primeira linha
para dar às manifestações populares um conteúdo
anti-maastrichtiano, anti-capitalista e anti-imperialista. O comité
Honecker responderá presente, na medida das suas forças, por
ocasião desta contra-cimeira.
Permitam-me também, em
nome do CHSI, lembrar algumas conclusões essenciais dos nossos trabalhos.
2º) Sermos ofensivos acerca do balanço da
contra-revolução
Antes de mais nada,
é preciso que sejamos ofensivos acerca do balanço da
Revolução de Outubro
, sobretudo quando se a compara com o balanço
globalmente catastrófico
da
contra
-revolução conduzida pelas forças anticomunistas aliadas
ao imperialismo ocidental no decorrer dos anos 1989/91.
Entrados em pânico pela
infernal campanha anti-soviética que se seguiu à queda da URSS,
numerosos progressistas baixaram então a cabeça considerando que
o socialismo havia "fracassado". Isto significava não
compreender que na realidade o socialismo havia sofrido uma
derrota
, perfeitamente explicável a partir de uma análise das
contradições de classes à escala internacional e da luta
entre marxismo tanto ao nível mundial como no interior de cada
país socialista. Honra aos militantes corajosos que tiveram
então o mérito de resistir contra ventos e marés à
contra-revolução ideológica e ao anti-sovietismo com
retardador.
Mas hoje
existem as condições para uma contra-ofensiva ideológica
de grande amplitude
. Rejeitando as calúnias estúpidas do fascizante Courtois,
historiadores sérios retomam os trabalhos de Hobsbawn, o qual, apesar
dos seus limites burgueses, sublinhou a enorme contribuição de
Outubro de 1917 para a emancipação social dos explorados do mundo
inteiro, para a luta das mulheres pela igualdade, pelo despertar
políticos dos povos do terceiro mundo, pela defesa da paz mundial contra
as artimanhas imperialistas. Da mesma forma não está ao alcance
de ninguém ocultar o papel central da União Soviética na
derrota de Hitler, depois nas concessões sociais que o capitalismo foi
obrigado a fazer aos trabalhadores ocidentais durante décadas para
evitar o contágio comunista.
Inversamente, cada um verifica
os pesados desgastes humanos que a contra-revolução causou nos
ex-países socialistas. Os saltimbancos da restauração
capitalista haviam prometido aos povos do Leste a paz, o pluralismo, a
prosperidade, a ajuda desinteressada do Ocidente, o acesso de todos às
pretensas delícias da sociedade de consumo, e assim por diante. Na
realidade, estes povos não obtiveram, como "prémio"
pela restauração capitalista, senão a guerra civil, a
hegemonia americana, o reino da mafia, o desemprego e a miséria em
massa, a infância sem abrigo, as redes de prostituição, a
ruína cultural, o desmembramento da poderosa investigação
científica soviética, a repressão brutal dos partidos
comunistas, o bombardeamento com canhões do Parlamento russo por
Eltsine, a caça às feiticeiras na ex-RDA, o encerramento dos
estaleiros navais Lenine de Gdansk, e proximamente, com a entrada da
Polónia na União Europeia, a ruína programada de
milhões de pequenos camponeses polacos.
Se outrora, na época do
socialismo, o nome "Kursk" evocava a resistência heróica
do Exército Vermelho contra a Wehrmacht, hoje esta palavra não
evoca, na Rússia capitalista de Putine, senão a
destruição conscientemente provocada da ex-segunda potência
mundial e da sua marinha de guerra.
Ontem, as forças
anticomunistas juravam pelo
pluralismo
e pelo
anti-totalitarismo
: na realidade dos factos, a destruição do socialismo libertou a
nível planetário os diabos do fascismo, do integrismo, do
militarismo e a vaga mundial do neoliberalismo, o sistema que tende a reenviar
a humanidade para a lei da selva!
Na realidade dos factos, apesar
do massacre anti-comunista de que são vítimas, os povos do Leste
manifestam cada vez mais a sua
rejeição
do capitalismo e a sua
saudade
do socialismo, aquilo que muitos dos media ocidentais chamam com desprezo a
sua "nostalgia". Poderíamos evocar aqui o grande salto para a
frente do Partido Comunista da Boemia-Morávia, o voto majoritário
dos moldavos em favor do PCM e muitos outros factos que testemunham o
renascimento dos partidos comunistas nos ex-países socialistas.
Do lado contrário,
basta-nos aqui evocar os resultados ridículos obtidos nas
eleições presidenciais pelos dois indivíduos que
personificavam a destruição do socialismo. Os srs. Lech Walesa e
Mikhail Gorbartchov obtiveram, cada um,
menos de 2% dos votos
nas eleições presidenciais dos seus respectivos países, e
parece confirmar-se por toda a parte, dos Urais ao Val-d'Oise, que aqueles que
seguem tais
anti-
modelos renegando os princípios do comunismo, estão destinados a
ter os mesmos resultados humilhantes.
Portanto, nós comunistas
temos nas mãos o melhor dos testes experimentais para demonstrar na
prática que, mesmo sendo vítima de certas
deformações,
o socialismo permaneceu até ao fim humanamente superior ao capitalismo
, sistema de morte e exploração. Compreende-se melhor a
razão porque, impossibilitados de poder defender o seu lamentável
balanço actual, os cantores do capitalismo estão reduzidos a
criminalizar e a difamar grosseiramente a história do comunismo.
3º) Passar à ofensiva contra a criminalização do
comunismo
Amigos e camaradas: Desde a
queda da URSS, substituindo a obcecante guerra ideológica
anti-soviética dos anos Reagan, uma perigosa tentativa de
criminalização do comunismo e da sua história
desenvolve-se em França e na Europa. Trata-se de "provar" que
a Revolução de Outubro foi um putsch criminoso, que Lenine
não era senão um aventureiro doutrinário e que Stalin foi
um tirano pior do Hitler, quando
Stalingrado ficará gravada na história como uma batalha pela
liberdade de um porte humano que não pode ser igualado senão pela
batalha das Termópilas ou pela de Valmy
.
Não se trata para
nós de negar que tenha podido haver em tal ou tal época da
construção do socialismo comportamentos graves,
inadmissíveis em relação aos nossos ideais. Mas a
criminalização do comunismo é uma coisa inteiramente
diferente do que admitir que o socialismo, cuja edificação se fez
nas condições de hostilidade encarniçada do mundo
capitalista dominante, tenha podido experimentar falhas, tal como em todo
empreendimento humano inédito.
Criminalisar o comunismo
é negar as imensas aquisições sociais, os
consideráveis avanços políticos e civilizacionais que
permitiram, no mundo inteiro, a vitória do socialismo.
Criminalizar o comunismo
é recusar compreender a história a partir das suas
condições materiais e das suas contradições de
classe, substituindo a investigação científica pela
procura pueril de bodes expiatórios: "o Dow Jones está de
rastos, a culpa é de Robespierre, a Argentina entra em colapso, a culpa
é de Lenine"!
Criminalizar o comunismo
é enegrecer o passado comunista para melhor excluir as perspectivas do
futuro da humanidade ao destruir a perspectiva revolucionária do
socialismo, de uma sociedade finalmente liberta da arcaica
exploração do homem pelo homem.
Deixar criminalizar a história do comunismo
é, para os comunistas, destruir a memória sem a qual não
há identidade, nem projecto, nem organização comunista que
valha.
Deixar criminalizar o comunismo
é por fim, indirectamente, legitimar os crimes do imperialismo e
reabilitar o fascismo, a eterna raiz da classe antisoviética.
Àqueles que difamam sem tréguas Lenine e o comunismo mais que
choramingam acerca do avanço da extrema-direita em França e na
Europa, dizemos: é do ventre fecundo do capitalismo, que vocês
abençoam, e do anti-sovietismo, que vocês cultivam com uma
perseverança maligna, que ressurge sem cessar a besta imunda do
fascismo, do integrismo e do neo-nazismo.
É ainda este
anticomunismo obsessivo, que exprime na realidade o temor recorrente que a
burguesia experimenta em relação à classe operária,
este temor que leva os nossos bem-pensantes de hoje a difamar a
contribuição decisiva dos comunistas da França à
Resistência antifascista, a minimizar a contribuição da
Resistência armada, a rever em baixa os crimes inigualados do Reich e
colocar um Papon em liberdade quando corajosos militantes CGT como Alain
Hébert (que saúda nossa reunião!) são
lançados na prisão e quando na Alemanha o último chefe de
Estado da RDA antifascista, Egon Krenz, é mantido escandalosamente na
prisão.
Criminalizar o comunismo
é também, como se viu no Afeganistão, preferir
conscientemente à República laica, à reforma
agrária, à alfabetização das massas, à
Universidade mista, ao desenvolvimento da saúde pública, o
retorno à Idade Média, à escravidão das mulheres, a
dominação dos clãs feudais e dos semeadores de papoula, a
guerra civil perpétua, o desenvolvimento do terrorismo integrista, este
monstro de mil cabeça no qual a CIA investiu conscientemente a fim de
abater a qualquer custo o Partido Popular Afegão e desestabilizar o
poder político na própria União Soviética.
Anteontem os anticomunistas
diziam cinicamente: "antes Hitler que a Frente Popular". Em 1984,
na época da implantação dos euromísseis americanos
na Alemanha, eles exclamavam: "lieber tot, als rot" ("antes
mortos que vermelhos"); no Afeganistão, a palavra de ordem
real
do Ocidente foi claramente: "antes Ben Laden que os comunistas em
Kabul". O que dirão amanhã estes senhores a fim de salvar
da bancarrota o seu sistema decrépito, dilacerado por cracks cada vez
maiores, pelas recessões recorrentes, pelas falências
transnacionais e continentais?
Criminalizar Lenine e a Revolução de Outubro
é atacar indirectamente todas as revoluções anteriores
que tentaram, antes da revolução bolchevique, libertar os povos
quebrando pela força a resistência dos opressores. Ainda ontem
podia-se ler em
Le Monde
uma longa tirada contra Robespierre, qualificado de "paranóico
perigoso". Este mesmo jornal choramingava acerca das infelicidades de
Louis Capet, anteriormente Luís XVI, e da sua prole ao denunciar o
odioso "jacobinismo" que a Europa de Maastricht e as leis de
descentralização Raffarin se propõem doravante a romper ao
desossar a República francesa una e indivisível e ao desmantelar
as conquistas sociais da Libertação (segurança, estatutos,
nacionalizações, convenções-colectivas), obra dos
ministros comunistas de 1945.
Ao relançar a
caça ao "Vermelhos", a burguesia tornada reaccionária
quer atingir igualmente os soldados "azuis" do Ano Dois, os
Sans-culotte que em 1793 construíram a França nova sob a divisa,
cada vez mais incomoda nestes tempos maastrichtianos, de liberdade, de
igualdade, de soberania nacional e de laicidade. Num país como a
França pode-se dizer sem exagero que a criminalização do
comunismo não tem outro fim, ao partir as organizações de
classes e as referências revolucionárias, senão
destruir a nação
, este fermento de resistência aos Impérios rivais europeus e
norte-americano, de maneira a impedir toda resistência organizada do
movimento popular.
Eis porque os verdadeiros
comunistas, os verdadeiros antifascistas, devem interpelar sem complexos os
democratas sinceros, os amigos da paz, os patriotas republicanos, os
sindicalistas fieis ao mundo do trabalho, todos aqueles que querem combater a
quebra da República, todos aqueles que rejeitam a
sarko-fascização
da França (pilotada pelo digno herdeiro de um guarda branco
húngaro!), dizendo a todos os democratas: recusem a
criminalização do comunismo que não tem outra finalidade
senão ajudar a reacção a estrangular a democracia e
provocando um enorme recuo da civilização em proveito exclusivo
de uma oligarquia de miliardários insaciáveis.
3º) Acusar o balanço catastrófico do capitalismo
Caros camaradas: Tal como na
época do processo Dimitrov, quando o pirómano Goering acusava os
comunistas de terem incendiado o Reichstag, precisamos reaprender a
acusar os acusadores
, estes incendiários do capital que se apresentam como procuradores dos
ideais mais avançados que a humanidade já alcançou.
Quem são vocês,
Senhores anticomunistas, para ousar condenar os revolucionários, os
antifascistas, resistentes comunistas como Léon Landini, Henri Martin,
Pierre Pranchère e Henri Alleg, presentes hoje entre nós? Quem
são vocês para lançar o opróbrio sobre o compromisso
da minha camarada e amiga Maria Delvaux, membro do CHSI falecida há
dias, que fez dezenas de vezes a viagem de bicicleta entre Lens e Paris em
plena ocupação alemã a fim de permitir a
ligação entre o estado-maior das FTP e os combatentes comunistas
da bacia mineira de Lens?
Vosso balanço histórico
, Senhores capitalistas, é constituído pelo tráfico de
escravos, pelo saque da África e pelo genocídio das
populações indígenas da América.
Vosso balanço histórico
é a colonização e o seu cortejo de horrores. É a
repressão sangrenta da Comuna de Pris. É o linchamento de 500
mil comunistas indonésios e de milhares de militantes chilenos da
Unidade Popular.
Vosso balanço histórico
, são duas guerras imperialistas, seguidas de Hiroshima, da guerra fria,
da corrida armamentista, das inumeráveis intervenções
armadas do imperialismo americano, do holocausto do Vietname, do bloqueio de
Cuba e do Iraque, da invasão do Panamá e da Jugoslávia, da
primeira guerra do Golfo e, dentro em breve, de um novo massacre programado do
povo iraquiano em benefício exclusivo dos miliardários de Dallas!
Vosso balanço histórico
é o martírio quotidiano do povo e das crianças palestinas
sob as balas do criminoso de guerra Sharon!
Vosso balanço
histórico é também o nazismo, é Auschwitz, Lidice,
Oradour-sur-Glane, pois face ao movimento revolucionário saído de
Outubro, vossos antepassados do grande patronato não hesitaram em soltar
os camisas pardas hitlerianos sem qualquer preocupação quanto
às odiosas consequências para a humanidade!
E o vosso balanço actual
não é melhor, muito pelo contrário. Nunca desde Hitler se
havia visto por em prática um tal projecto imperialista e inumano,
tão bem descrito por Miguel Urbano Rodrigues e por René Lefort,
um projecto que, sob o nome de código de
"mundialização", esfaima continentes inteiros, semeia o
desemprego, a insegurança e a precariedade, multiplica as guerras,
relança a corrida às piores armas de extermínio, sacrifica
o ambiente à busca desenfreada do lucro, comercializa o genoma do ser
humano (este património da humanidade
comum
por definição a todos os humanos!) e submete a saúde
pública, a escola, a cultura e a investigação
científica àquilo que Marx chamava "as águas geladas
do cálculo egoísta", sem receio de instrumentalizar o
terrorismo cego, o fanatismo integrista e a extrema-direita fascista!
Analista subtil do inconsciente
reaccionário, o pintor espanhol Francisco Goya havia intitulado uma
série de telas como "o sono da razão engendra
monstros". Pois bem, hoje, a suposta diminuição de
actividade do comunismo, a contenção violenta do leninismo, gera
terríveis
monstros históricos
. Na primeira linha deles há que colocar aquilo a que chamamos o
exterminismo
, esta tendência criminal do imperialismo, que conduz à
irresponsabilidade máxima em todos os planos, militar, ecológico,
económico, social e chega até a
arriscar a sobrevivência da espécie a fim de assegurar o
desenvolvimento incessante dos lucros.
Sim, confiar ao capitalismo o
futuro da humanismo equivale a encarregar o sinistro Marc Dutrou de assumir a
responsabilidade por uma escola maternal!
Mas esta
orientação ultra-reaccionária do capitalismo
contemporâneo não deve intimidar-nos: ela testemunha antes de
tudo a
senilidade social deste sistema
, de que Lenine dizia já em 1915 que é sinónimo de
"reacção em toda a linha". Sob um tal sistema, como
já assinalava Marx, a humanidade está condenada a escolher, com
os seus mestres burgueses, entre "um fim cheio de medo" ou um
"medo sem fim".
Socialismo ou barbárie:
ou o capitalismo destruirá a humanidade, ou a humanidade se
desembaraçará do capitalismo, este é o significado
profundo da altiva divisa dos comunistas cubanos,
"socialismo o muerte"
, o que significa que o socialismo é chamado a reagrupar sob a bandeira
vermelha da classe operária
todas as forças anti-exterministas,
todas as forças vivas da humanidade.
4º) Defendermo-nos com o leninismo!
Será preciso que nos
espantemos se todas as forças da morte e do ódio, todas as
forças do suicídio, da renúncia, do ressentimento e da
liquidação, todas as forças niilistas que vão da
extrema direita à socialdemocracia maastrichtiana passando pelos
liquidadores do comunismo, se encarnicem hoje contra Marx e contra Lenine que
os desmascararam tão bem e antecipadamente? Aquilo que estes pequenos
personagens não perdoam aos gigantes do pensamento e da
acção que foram Marx, Engels e Lenine é ter ensinado que a
libertação universal do género humano passava não
pelos abraços entre o Mestre e o Escravo, não pela
colaboração entre o explorador e o explorado, mas pela luta de
classe levada até ao fim, até à revolução,
até à sociedade sem classe, até ao comunismo!
O que eles não perdoam a
Lenine é que, pela primeira na história, um homem, um partido, um
grande movimento popular nacional e mundial, haja acedido à categoria de
sujeitos conscientes da sua própria história
apoiando-se numa classe revolucionária e tornando o sentido do devir
histórico inteligível e luminoso para milhões de homens.
E isto é, certamente, um pecado mortal inexpiável aos olhos da
reacção. Mas ao mesmo tempo, camaradas, saibamos ver para
além destes tempos de contra-revolução. Quando a
humanidade trabalhadora experimentou uma vez a liberdade real do socialismo ela
pode, sem dúvida provisoriamente, recalcar suas aspirações
à justiça sob a pressão desencadeada pela
reacção. Mas
a revolução guarda um ressaibo de retorno à mesma
e exactamente por isso que a burguesia é obrigada, dia após dia,
hora após hora, a matar e re-matar este comunismo que até
à véspera ela declarava morto e enterrado.
Mantenhamos então
confiança na força do povo, tal como
Buonarotti
que levava outrora a mensagem comunista de Gracchus Babeuf (decapitado pelo
Termidor) até à Comuna de Paris atravessando o terrível
período da Restauração monárquica ou como o velho
communard
Camélinat
que passa o testemunho da Revolução proletária para as
mãos do jovem Partido Comunista Francês no fim do Congresso de
Tours.
- x -
Caros amigos e camaradas:
No momento de concluir esta
intervenção proponho-vos pistas de acção e de
trabalho comum. Na Polónia, um artigo celerado da
constituição, que assimila o marxismo ao nazismo, ameaça
permanentemente a legalidade do Partido Comunista. O PC Filipino, as FARC da
Colômbia são inscritos na lista das organizações
terroristas pela União Europeia. Na Turquia, o poeta e patriota
comunista Nazim Hikmet continua escandalosamente privado da sua nacionalidade
turca anos após a sua morte. Na Tunísia, o Partido Comunista
é perseguido, bem como nossos camaradas dos países
bálticos, e assim por diante. Recentemente o jornal "Le
Monde" ousou apelar a que se trouxessem os dirigentes chineses, ou seja,
os líderes do país mais populoso do mundo, diante do Tribunal
Penal Internacional! O fascizante Bush Júnior foi a Miami para exigir o
afastamento de Fidel Castro. Na Pennsylvania, os candidatos
"democrata" (sic) e "republicano" (sic) ao cargo de
governador rivalizam em selvajaria ao prometerem obter mais cedo a
execução imediata de Mumia em caso de eleição! A
realidade é que
a mundialização capitalista exige a "solução
final" contra os comunistas
e tudo aquilo que, de perto ou de longe, se oponha à nova
"ordem" bárbara do grande capital, sindicalistas,
antifascistas, militantes antimundialistas.
Quanto não
seríamos mais fortes para resistir se pudéssemos agir não
só à escala nacional mas à escala internacional pela
liberdade dos nossos camaradas? Quem não vê que
uma internacionalização da luta contra a
criminalização do comunismo
poderia concretamente e praticamente contribuir, a partir de um domínio
limitado mas essencial, aquele da
solidariedade de classe face à repressão
, para o renascimento do movimento comunista internacional? Cabe a cada um
meditar acerca desta necessidade de
internacionalizar o internacionalismo.
Reiteremos que o comité Honecker, apesar de não ter nem a
pretensão nem os meios de dirigir semelhante empreendimento, pode se
necessário desempenhar no assunto um papel de facilitador, e se uma
organização mais prestigiosa puder aproveitar o exemplo e
desempenhar um papel motor no assunto, o CHSI terá prazer em ajudar na
medida dos seus modestos meios.
Da mesma forma, não
podemos unir nossos esforços à escala internacional para
responder em conjunto ao pretenso "livro negro do comunismo" do
Courtois trabalhando para escrever, mesmo que seja precisos vários
tomos, até uma biblioteca!, o "livro negro do
anti
comunismo"?
Seja o que for que decorra
destas poucas sugestões, que faço a título puramente
exploratório, este colóquio não ficará sem
sequência: tal como em 1994, aquando do anterior colóquio de
Malakoff, as actas dos nossos trabalhos serão publicadas pelo CHSI em
colaboração com a revista
EtincelleS.
Viva a Revolução de Outubro de 1917!
Viva a solidariedade de classe internacional dos trabalhadores
Honra aos pioneiros do socialismo e vergonha aos seus liquidadores
Abaixo a repressão anticomunista na Europa e no mundo
Abaixo o imperialismo americano! Não à guerra no Iraque!
O imperialismo é o inimigo principal de todos os povos!
Solidariedade total com a Revolução Cubana!
Viva a única Europa que vale
aquela das lutas democráticas contra Maastricht, aquela dos povos
lutando contra a União Europeia imperialista pela sua soberania e seu
direito de construir o socialismo
Caros amigos,
podemos agora concluir esta reunião de luta e de esperança
entoando, cada um na sua língua, o imortal canto de luta de
Eugène Pottier e de Pierre Degeyter!
___________
[*]
Filósofo.
Este artigo encontra-se em
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