Desmascarar o partido "progressista" europeu
A "Força Progressista Europeia", de Marie-Georges Buffet e
Francis Wurtz, vira as costas ao verdadeiro internacionalismo comunista e
à defesa da soberania nacional dos povos da Europa!
A direcção do PCF acaba de anunciar ao som de trombetas a
criação de uma "Força
Progressista Europeia" (FPE), que deverá incluir diversos
partidos ou movimentos da Europe Ocidental. Entre os participantes anunciados
não figuram nem o PC da Grécia nem o PC Português. Em
contrapartida, figura ali o grupo «Synaspismos», herdeiro do grupo
fraccionista que cindiu o PC da Grécia nos anos 70 na base do
eurocomunismo, do anti-léninismo e do anti-sovietismo. O
Humanité faz também saber que a "esquerda
nórdica" (?) deverá juntar-se proximamente à FPE.
Ora, segundo sabemos, esta esquerda nórdica é composta
principalmente de partidos de tradição social-democrata ou de
partidos ex-comunistas, como é o caso da Suécia. Por fim, o
artigo de Maurice Ulrich saído em l'Humanité anuncia de forma
sibilina que numerosos partidos inquietos quanto à sua
"soberania" não participarão na FPE. De modo
não menos sibilino, este artigo explica que a direcção
"mutante" do PCF deseja "acelerar", ou mesmo
"precipitar", o processo de criação desta Força
europeia, decidida no 32º Congresso.
Apesar da apresentação sedutora que é feita deste
novo partido europeu
, apesar da adesão a esta iniciativa por parte de certos partidos
comunistas exteriores à França, cuja orientação a
FNARC se recusa a apreciar, há razões para grandes
desconfianças em relação ao que aparenta ser um
relançamento do "eurocomunismo" e da "euro-esquerda"
dos anos 70
. Recorde-se que, nessa época, os dirigentes do PC Italiano, do PC de
Espanha (conduzidos pelo liquidacionista Santiago Carrillo), a que depressa se
juntaria o PCF, dividiram o Movimento Comunista Internacional, pondo em
prática orientações oportunistas, anti-soviéticas e
revisionistas comuns. No final, esta operação fez um grande
estrago, e o seu único impacto real foi o de isolar a
Revolução dos Cravos em Portugal e de quebrar a solidariedade com
o PC Português.
Agora a operação apresenta-se num contexto muito diferente: em
França, os dirigentes mutantes e liquidacionistas do PCF
esforçam-se por liquidar totalmente o que subsiste do partido. No
32º
Congresso, reafirmaram as opções suicidas da
mutação reformista, validaram a desastrosa
participação no governo Jospin, retomaram todas as
orientações "euro-construtivas" de Francis Wurtz e
anunciaram o lançamento da "força europeia"
progressista aberta às forças de "esquerda". Numerosos
comentadores viram nesta iniciativa o meio de contornar a vontade dos
militantes comunistas e de contornar, estendendo-a à Europa, a recusa
obstinada dos membros do PCF em realizar um "Congresso de Tours ao
contrário" (reunificação do PC e do Partido
Socialista sob o domínio deste último).
Quanto à Europa supranacional do grande capital, esta está
lançada numa fuga para a frente em direcção ao
federalismo. Depois do euro e do exército europeu, trata-se agora de
pôr em marcha uma "constituição" que dará
a preponderância às instituições supranacionais e
permitirá aos grandes capitalistas contornar, com aínda maior
facilidade que no presente, a soberania das nações, destruindo o
emprego e as conquistas dos trabalhadores.
É aliás sob a tutela directa da Europa supranacional que o
governo, pressionado pelos dirigentes anti-nacionais do MEDEF, está a
pôr em prática uma política de demolição da
República, das conquistas sociais, dos serviços públicos,
da escola laica, do emprego industrial e agrícola, sem paralelo desde
1940.
Nestas condições,
esta não é hora de validar o quadro supranacional europeu,
construindo um novo partido europeu «euro-'comunista'» e largamente
tingido de supranacionalismo, de federalismo e de social-democracia
. Não é hora para fazer crer numa
"reorientação progressista da construção
europeia" do capital, semeando a ilusão de que o quadro europeu
é moldável a gosto, em função da
correlação de forças. Não é hora para
acreditar na utopia que uma "outra" Europa, uma "outra"
mundialização capitalista, uma "outra"
Constituição europeia, uma "outra" supranacionalidade,
poderíam constituir "avanços" para os povos ou para os
trabalhadores de França, cruelmente atingidos pelas decisões
europeias.
Enquanto em França, o confronto de classe de Dezembro de 95 ressurgiu en
Maio passado e continua latente, face aos imensos estragos do poder
chiraquiano, é sim a hora de
reconstruir uma larga frente de resistência dos trabalhadores da Europa
e dos povos soberanos CONTRA a Europa supra-nacional de Maastricht, CONTRA toda
a Constituição supra-nacional, CONTRA a
mundialização capitalista, para a recuperação das
soberanias, das conquistas populares, para sacudir a canga dos tratados
supra-nacionais e neoliberais, para a união popular maioritária
em cada país contra o grande capital, sem recear pôr em causa de
alto a baixo uma integração europeia sinónimo de
desintegração das nações e das conquistas sociais.
Numa palavra, para os comunistas, não é hora de reformar,
corrigir, reorientar ou renovar a construção desse novo bloco
imperialista que é a Europa de Maastricht, mas de
se opor firmemente ao próprio quadro maastrichtiano,
sem ter medo de afrontar a dominação do grande capital, na
perspectiva de um combate de fundo contra o capitalismo e pelo socialismo.
Longe de se opor ao renascimento do internacionalismo comunista e
revolucionário,
a defesa progressista das soberanias nacionais e populares é
objectivamente solidária com a necessária
construção da Europa das lutas
, hoje travada de mil maneiras pelas direcções sindicais
enfeudadas à Europa de Maastricht. E sobretudo, a
resistência ao imperialismo europeu em gestação
, tal como a resistência ao perigoso unilateralismo do imperialismo
norte-americano, implica a
reconstrução de um grande Movimento comunista e
revolucionário internacional, reencontrando os seus fundamentos
marxistas, leninistas, anti-capitalistas e anti-imperialistas
. Aínda que devam ser empreendidas acções comuns entre os
comunistas dos paises da UE, nomeadamente para, em conjunto, fazer fracassar a
Constituição europeia, a formação do
exército europeu e o catastrófico alargamento a leste (em
condições neocoloniais) da UE,
é mais que nunca à escala mundial que o Movimento comunista e
revolucionário internacional deve renascer, e não no quadro
estreito e necessáriamente imperialista da Europa capitalista
. As maiores tarefas, totalmente contornadas pelos dirigentes mutantes do PCF,
são, deste ponto de vista, a
defesa de Cuba socialista
, a
solidariedade com a resistência popular do povo iraquiano e do povo
palestino
, o
apoio político aos revolucionários da Colômbia
e do mundo inteiro, sobretudo aos que lutam no terceiro mundo em
condições particularmente corajosas.
É neste sentido que se movimenta a FNARC, por modestos que possam ser os
seus meios: para suscitar em França uma convergência de
acção dos verdadeiros comunistas contra a
constituição europeia, para apoiar, a nível mundial, todo
o esforço que vise reconstituir uma real unidade do Movimento comunista
e revolucionário. Em particular
os comunistas de França e da Europa ocidental não devem abandonar
os verdadeiros comunistas da ex-URSS e dos ex-países socialistas,
dos quais muitos
são hoje perseguidos por não haverem renegado o ideal
revolucionário, nem esquecer
os comunistas, progressistas e revolucionários da África e do
Mahgreb,
em relação aos quais os internacionalistas franceses,
cidadãos de um país que pratica e praticou o colonialismo e o
neocolonialismo, têm o dever prioritário de solidariedade.
Ora, não é de modo nenhum nesta direcção que se
constroi a FPE
. Podemos mesmo perguntar-nos seriamente se, a prazo, esta força, cuja
ideologia principal parece ser o altermundialismo e o anti-liberalismo mole,
não servirá de "passerelle" entre certos "novos
comunistas" e a social-democracia: Esta não faz nenhum segredo da
sua vontade de "reintegrar" as forças influenciadas pelos
comunistas no regaço maastrichtiano e social-imperialista da
Internacional "socialista" dos Blair, Fabius e outros Schröder.
Não nos esqueçamos que foi através da Europa,
aproximando-se da Internacional Socialista, que o PC italiano de Achille
Occhetto, Walter Veltroni e D'Alema, preparou a sua
auto-dissolução na própria Itália!
É por essa razão que a FNARC, também ela, precipitou a
iniciativa de
divulgar o seu "Apelo ao Movimento Comunista Internacional",
que está actualmente em discussão nas associações
de base da FNARC, tendo em vista a Convenção Nacional do
Renascimento Comunista, programada para Janeiro de 2004. Este texto
sofrerá, sem dúvida, modificações num ou noutro
ponto, mas nas condições actuais, é importante que os
comunistas dos outros países saibam em que direcção
realmente internacionalista trabalham os comunistas de França que
continuam fieis ao marxismo-léninismo, à solidariedade de classe
internacionalista, à defesa da soberania da França e dos outros
países, à luta anti-imperialista.
Para reconstruir um internacionalismo proletário de segunda
geração, é impossível confiar nos dirigentes
franceses que conduziram o PCF ao descrédito popular e à beira da
liquidação
abandonando o campo da soberania nacional ao fascista Le Pen e o da
radicalidade anticapitalista à pseudo "extrema esquerda"
trotskista. É necessário reconstruir, na base provada do
marxismo-leninismo, rejeitando tanto o dogmatismo como o espírito de
derrotista; é necessário recomeçar a partir da luta de
classe entre capital e trabalho, da solidariedade efectiva com todos os que
efectivamente resistem, e às vezes de armas na mão, ao
imperialismo mais selvagem que nos é dado ver desde 1933 e que Fidel
Castro qualifica de "nazi-fascista".
No imediato,
a FNARC chama os comunistas da Europe a agir em conjunto contra o projeto de
Constituição supranacional
e também para
construir a solidariedade preventiva com Cuba socialista
. A FNARC assumirá todas as suas responsabilidades para favorecer todos
os avanços nesta direcção a do patriotismo popular
e do verdadeiro internacionalismo comunista.
______________
[*]
A Federation Nationale des Associations pour la Renaissance Communiste (FNARC)
é composta por membros actuais e antigos do PCF que se opõem
à deriva
social-democrata da direcção. Ela tem por objectivo o
renascimento
revolucionário de um verdadeiro Partido Comunista em França e actua em
prol da
solidariedade internacional dos comunistas, para
enfrentar a globalização capitalista e as ameaças
agressivas do imperialismo.
Sua presidência colectiva é composta por:
Henri ALLEG: Antigo director do jornal
Alger Républicain
, escritor, militante anticolonialista.
Georges HAGE: Deputado comunista do Departamento do Norte.
Jacques COIGNARD: ex-secretário da federação Côtes du Nord
( Bretagne ) du PCF.
Léon LANDINI: Antigo Resistente, veterano do PCF
Pierre PRANCHERE: Antigo deputado, ex-secretário da
federação de Correze du PCF
Seu porta-voz é Georges GASTAUD, filósofo e director do jornal mensal
"Initiative Communiste".
Seu presidente da Comissão Internacional é Daniel ANTONINI,
d.antonini@voila.fr
O original encontra-se em
http://www.chez.com/initiativecommuniste/ensemble.html
. Tradução de Carlos Coutinho.
Este comunicado encontra-se em
http://resistir.info
.
|