Bem-vindo a França, Orwell mais uma vez!
por Finian Cunningham
A França está em vias de uma "guerra secreta" na
Líbia em insolente violação do direito
internacional. Mas relatar este ato criminoso é considerado uma ofensa!
Bem-vindo ao mundo orwelliano de pensamento dúplice em que o Estado
francês entrou.
Uma
reportagem
do jornal
Le Monde
desvendou as operações clandestinas da França naquele
país do Norte de África. O jornal informou que forças
especiais francesas estavam a realizar missões secretas para cobrir
ataques aéreos contra o grupo terrorista do Estado Islâmico.
De acordo com
Le Monde
a missão foi autorizada pelo presidente francês François
Hollande e forças especiais estão a ser posicionadas para
"ações discretas" de preparação dos
ataques a alvos islâmicos. Imediatamente, o ministro da Defesa Jean-Yves
Le Drian atacou violentamente o jornal, alegando que pode ter
"comprometido" a segurança nacional.
O canal estatal France 24, porta-voz de Le Drian é
citado
como tendo dito:
"Quando operações secretas estão
ocorrendo, o objetivo é não serem reveladas para a
segurança dos homens e das operações".
Colocando a questão mais precisamente: quando ações
criminosas, ilegais, violações contra a soberania de um
país e o direito internacional estão ocorrendo, o objetivo
é não poderem ser reveladas ao público, caso
contrário os autores de tais crimes serão vistos pelo que
são: culpados de crimes de Estado. Não admira que o Sr. Le Drian
tenha depois sido fotografado aparentando um ar mais irritado do que o habitual.
As consequências podem ser grave para o jornal
Le Monde
ou quaisquer outras fontes noticiosas que abordem este assunto. O governo
francês afirma estar a investigar se houve "fuga de
informação secreta". A violação das
"regras de sigilo de defesa" francesas acarreta uma pena até
três anos de prisão e uma multa de 45.000 .
Então esclareçamos. Forças militares de elite francesas e
agentes pertencentes ao serviço de informações do Estado,
DGSE, estão presentes na Líbia e a coordenar ataques
aéreos contra alvos da Jihad, de acordo com
Le Monde.
Contudo, informar sobre esta ilegalidade patrocinada pelo Estado é
potencialmente "crime", de acordo com aqueles que são
responsáveis pelo crime, maior, de violar a soberania de um país.
Esta ameaça procura sem dúvida intimidar o jornalismo
independente. O Governo comete crimes, não relatá-lo, parece ser
a palavra de ordem.
Le Monde
não é a única fonte noticiosa a divulgar a nova guerra do
ocidente na Líbia. Na semana passada, o
New York Times
informou
que forças especiais americanas, britânicas, francesas e
italianas estavam a operar na Líbia. Entende-se que estas forças
não têm qualquer mandato legal para a realização
dessa atividade. Não há nenhum mandato da ONU para tais
operações, e não há nenhuma autoridade
líbia, capaz de dar a sua aprovação. Trata-se simplesmente
de uma absoluta ilegalidade.
Desde que em 2011 os EUA e outras forças da NATO transformaram a
Líbia num inferno de bombardeamentos durante sete meses, do qual
resultaram 30 mil mortes, o derrube do governo de Muammar Gaddafi e seu
assassinato pelos jihadistas suportados pela NATO, o país tem estado num
absoluto estado caótico destroçado por milícias rivais.
Qualquer autoridade central que existisse na Líbia foi pulverizada pela
NATO. O governo francês, em particular sob a anterior presidência
de Nicolas Sarkozy, tem responsabilidades pesadas tornando a Líbia,
outrora próspera, num abjeto estado falhado.
Desde então, os americanos e seus aliados ocidentais puderam bombardear
a Líbia à vontade. Em novembro passado, um ataque aéreo
dos EUA alegadamente matou Nabil Abu, um comandante do estado islâmico no
leste do país. Na semana passada, outro ataque aéreo dos EUA a
uma alegado campo de treino em Sabathra, a oeste de Trípoli, teria feito
mais de 40 mortes.
Após o ataque mais recente, o chamado "governo de unidade" da
Líbia, no exílio, com base em Tunes, que as potências
ocidentais têm tentado remendar junto,
condenou
essa ação como uma violação da soberania da
Líbia. As
potências da NATO destruíram a soberania da Líbia, e
até mesmo uma semelhança de governo que o ocidente patrocina, tem
objeções à interferência militar ocidental.
Isto é orwelliano para além das palavras. Um Estado bombardeado,
um Estado falhado que permanece no caos jihadista, então o ocidente
volta a bombardear para alegadamente derrotar os grupos terroristas que ajudou
a instalar neste estado falhado, não havendo nenhuma autoridade nacional
para adequadamente objetar a estas ações porque a NATO destruiu
essas autoridades. Então quando um jornal informa sobre esta
última reviravolta da criminalidade patrocinada pelo Estado, fica
ameaçada de "comprometer" a segurança do Estado.
Não há nenhuma outra maneira de avaliar isto. A França,
como os seus outros cúmplices ocidentais liderados pelos EUA,
está caindo em pleno no fascismo. Anarquia é a norma. Bombardear
outros países tornou-se como que um direito dado por Deus. E se esta
situação for relatada segue-se uma acusação.
E por que nos deveríamos nos surpreender? A França abraçou
o fascismo há 75 anos quando o estado de Vichy se tornou um colaborador
zeloso da Alemanha nazi e do seu programa de genocídio. Dezenas de
milhares de cidadãos franceses foram postos em comboios pelos seus
governantes para serem exterminados nos campos de morte fascistas.
Hoje, sob a rubrica de "combate ao terrorismo" terrorismo que
Paris fomentou na Líbia e na Síria, as autoridades francesas
impuseram um estado de emergência aos seus cidadãos. O presidente
francês Hollande e o seu estridente primeiro-ministro Manuel Valls
declaram que "a França está em guerra" contra o grupo
terrorista de Estado Islâmico uma rede que nasceu graças ao
ilegal patrocínio francês aos jihadistas para derrubar os governos
da Líbia e a Síria.
Os "poderes de emergência" do Estado francês permitiram
que milhares de lares franceses fossem invadidos sem mandatos nos
últimos meses, desde os ataques de terror em Paris em 13 de novembro. Os
governantes franceses dão-se poderes fascistas contra cidadãos
num caso de ataque ao terrorismo terrorismo que eles criaram em grande
parte através de ilegalidade internacional.
Agora o estado patrocinador do terrorismo que destruiu a Líbia dá
a si próprio carta branca para voltar à Líbia sob o
pretexto do "combate ao terrorismo" para pilhar e bombardear
aquele país com forças especiais.
Voltemos atrás para ver o que se passa. Estamos num caminho de absoluta
ilegalidade, fascismo e perdição. As mesmas pessoas no governo
que deveriam ser responsabilizadas e processadas por crimes internacionais
estão a cometer ainda mais de tais crimes sob o critério de
criminalidade por eles próprios definido. E quando o público
deveria ser informado acerca disto, os patifes no governo debitam suas
auto-justificações espúrias com base na
"segurança nacional" e ameaçam encarcerar os
"violadores".
As orgulhosas noções francesas sobre "liberdade de
expressão" e "direitos humanos" são demasiado
pretensiosas. Muito, muito pretensiosas. Enquanto isto, a desprezível
história da participação real da França em crimes
fascistas é passada por alto e empurrada para o buraco da
memória. Bem, podemos saber o porque disto. Porque o mesmo establishment
dominante francês está mais uma vez a abraçar a vil
escuridão do passado.
29/Fevereiro/2016
O original encontra-se em
www.informationclearinghouse.info/article44337.htm
. Tradução de DVC.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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