por Paul Craig Roberts
[*]
e Dave Kranzler
[**]
O Federal Reserve e os seus agentes bancários para o ouro (JP Morgan,
Scotia e HSBC) desde Setembro de 2011 têm utilizado vendas a descoberto
(naked short-selling)
para deitar abaixo o preço do ouro. O mais recente esforço de
contenção começou em meados de Julho deste ano, depois de
o ouro se ter movido para preços mais altos em relação ao
princípio de Junho e estar a ameaçar subir para níveis
técnicos decisivos, o que teria disparado uma inundação de
compras por parte dos hedge funds.
O Fed e seus agentes manipulam o preço do ouro no mercado do New York
Comex futures (ouro-papel). Os bancos do ouro têm a capacidade para
imprimir uma oferta ilimitada de contratos-ouro, os quais são vendidos
em grandes volumes nas ocasiões em que a actividade do Comex está
fraca.
Geralmente, do outro lado da transacção, os compradores de
contratos são grandes hedge funds e outros especuladores, os quais
utilizam os contratos para especular sobre a direcção do
preço do ouro. Os hedge funds e os especuladores não têm
interesse em adquirir ouro físico e acertam as suas apostas em cash, o
que torna possível para os bancos do ouro venderem direitos ao mesmo que
eles não podem suportar com o metal físico. Contratos vendidos
sem ouro subjacente para apoiá-los são chamados "contratos
descobertos" ou
"naked shorts".
É ilegal o envolvimento em vendas a descoberto nos mercados de
acções e de títulos, mas isso é permitido no
mercado a termo de ouro
(gold futures market).
O facto de que o preço do ouro é determinado num mercado de
futuros no qual papeis com direitos a ouro são comerciados meramente
para especular sobre o preço significa que o Fed e seus agentes
bancários pode conter o preço do ouro muito embora a procura por
ouro físico esteja a ascender. Se houvesse exigências estritas de
que vendas de ouro não poderiam ser a descoberto e teriam de ser
apoiadas pela posse de ouro físico por parte do vendedor representado
nos contratos futuros, o Federal Reserve e seus agentes seriam incapazes de
controlar o preço do ouro e este seria muito mais alto do que é
agora.
A manipulação do preço do ouro é utilizada quando a
procura pela entrega de ouro físico
(gold bullion)
começa a fazer pressão ascendente sobre o preço do ouro e
os hedge funds especulam sobre a ascensão do preço do ouro
através da compra de grandes quantidades de contratos Comex futures
(ouro-papel). Esta especulação acelera o movimento ascendente no
preço do ouro. O
TF Metals Report
proporciona uma boa
descrição desta manipulação ilegal do mercado de
ouro:
Ao longo de um período de 10 semanas, no princípio do ano, os
bancos do Comex ouro foram capazes de limitar a corrida para apenas 15%
através do fornecimento ao "mercado" de 95 mil novos contratos
de venda a descoberto. Isto equivale a 9,5 milhões de onças de
pretenso ouro-papel, ou cerca de 295 toneladas métricas.
Ao longo de um período de apenas 5 semanas em Junho e Julho, os bancos
do Comex ouro foram capazes de limitar a corrida a apenas 7% através do
abastecimento ao "mercado" de 79 mil novos contratos de venda a
descoberto. Isto equivale a 7,9 milhões de onças de pretenso
ouro-papel, ou cerca de 246 toneladas métricas.
Em artigos anteriores documentámos a forte venda a descoberto em
períodos de mercado fraco. Ver por exemplo
aqui
.
Os bancos do ouro não têm suficiente metal na sua posse para
entregar aos compradores se estes decidirem optar pela entrega nos termos do
contrato ouro-papel. A razão porque este esquema funciona é que a
maioria dos compradores dos contratos são especuladores, não
compradores de ouro, e nunca pedem a entrega do metal. Ao invés, eles
liquidam os contratos em cash. Estão à procura de lucros no
comércio a curto prazo, não de um ouro que os defenda contra a
inflação da divisa. Se uma maioria dos que têm
títulos longos (os compradores dos contratos) exigisse a entrega do
ouro, os reguladores não tolerariam a extensão na qual o ouro
é tomado a short com contratos a descoberto.
Na nossa opinião, a manipulação é ilegal porque se
trata de comércio de iniciados
(insider trading).
Os bancos do ouro que vendem no mercado são membros da câmara de
compensação do Comex/NYMEX/CME. Nesse papel, os bancos do ouro
têm acesso ao sistema computacional utilizado para ajustar e acertar
transacções, o que significa que os bancos do ouro têm
acesso a todas as informações comerciais
(trading positions),
incluindo aquelas dos hedge funds. Quando os hedge funds estão na
[posição] mais funda, os bancos do ouro despejam contratos a
descoberto no Comex, reduzindo os preços futuros, os quais disparam
vendas com ordens para travar perdas e pedidos de cobertura
(margin calls)
que conduzem o preço mais uma vez para baixo. Então os bancos do
ouro compram os contratos a um preço mais baixo do que aquele a que
venderam e embolsam a diferença, servindo simultaneamente o Fed ao
proteger o dólar da sua política monetária frouxa
através da redução do preço do ouro e prevenindo a
preocupação que um preço do ouro em ascensão traria
ao dólar.
Desde meados de Julho, quase toda noite nos EUA o preço do ouro
permanece firme ou deriva para cima. Isto acontece quando os mercados do
hemisfério oriental estão abertos e os participantes do mercado
estão ocupados a comprar ouro físico para o qual a entrega
é obrigatória. Mas tão regularmente quanto o mecanismo de
um relógio, a seguir ao fecho dos mercados asiáticos abrem os
mercados de ouro-papel de Londres e Nova York e o preço do ouro é
imediatamente puxado para baixo quando contratos em ouro-papel inundam o
mercado estabelecendo um tom negativo para a compra e venda no fim do dia.
O ouro serve como uma advertência às pessoas conscientes de que
estão a fermentar perturbações financeiras e
económicas.
Exemplo: a partir do período de tempo imediatamente anterior o colapso
da bolha tech (Janeiro 2000) até pouco antes de o colapso do Bear
Stearns ter disparado a Grande Crise Financeira (Março 2008), o ouro
ascendeu em valor de US$250 para US$1020 por onça, ou simplesmente mais
de 400%. Além disso, no período a partir do Grande Colapso
Financeiro o ouro subiu 61% apesar das afirmações de que o
sistema financeiro fora reparado. O aumento foi de até 225% (Setembro
2011) até que o Fed começou a sistemática
redução e contenção do ouro a fim de proteger o
dólar da criação maciça de novos dólares
exigida pela Facilidade quantitativa
(Quantitative Easing).
A economia e o sistema financeiro dos EUA estão em pior
condição do que afirmam o Fed e o Tesouro e do que informam os
media financeiros. Os fardos da divida, tanto pública como privada,
são altos. Corporações estão a tomar emprestado de
bancos a fim de comprar de volta suas próprias acções.
Isto deixa as corporações com nova dívida mas sem fluxos
de rendimento de novos investimentos com os quais possam servir a
dívida. Lojas de retalho estão em perturbação,
incluindo cadeias de lojas a dólar. O mercado habitacional está a
mostrar sinais de retracção renovada. A divulgação
em 16 de Setembro do relatório "Rendimento e pobreza em 2013"
mostra que o rendimento familiar mediano real declinou para o nível de
1994, duas décadas atrás, e está realmente mais baixo do
que no fim da década de 1960 e princípios da de 1970. A
combinação de alto endividamento e declínio no rendimento
real significa que não há motor para impelir a economia.
O dólar também está em perturbação porque o
seu papel como divisa de reserva do mundo está ameaçado devido ao
abuso deste papel a fim de ganhar hegemonia financeira sobre outros e punir com
sanções aqueles países que não cumprem os
objectivos a política externa dos EUA. A Doutrina Wolfowitz, que
é a base da política externa estado-unidense, diz que é
imperativo para Washington impedir a ascensão de outros países,
tais como a Rússia e a China, que podem limitar o exercício do
poder dos EUA.
As sanções e as ameaças de sanções encorajam
outros países a abandonarem o sistema de pagamentos em dólar e a
abandonar o petrodólar. Os BRICS (Brasil, Rússia, Índia,
China, África do Sul) formaram-se precisamente para fazer isso. A
Rússia e a China organizaram um maciço acordo energético a
longo prazo que evita a utilização do US dólar. Ambos os
países estão a liquidar as contas comerciais entre si nas suas
próprias divisas e esta prática está a propagar-se. A
China está a considerar o yuan apoiado por ouro, o que tornaria a divisa
chinesa altamente desejável como activo de reserva. É
possível que o ataque do Fed ao ouro seja destinado a tornar a
acumulação chinesa e russa de ouro menos apoiante das suas
divisas. Uma divisa ligada a um ouro com preço cadente não
é o mesmo que uma divisa ligada a um ouro com preço ascendente.
Não esta claro se a nova bolsa do ouro chinesa em Shangai
substituirá os mercados de futuros em Londres e Nova York. A venda a
descoberto não é permitida na bolsa chinesa de ouro. O mundo
poderia acabar com dois mercados futuros de ouro: um baseado na
avaliação da realidade e o outro baseado no jogo e na
manipulação de preços
(price-rigging).
O futuro também determinará se o papel de divisa de reserva foi
superado pelo tempo. O US dólar assumiu esse papel no rescaldo da II
Guerra Mundial, um tempo em que os EUA tinham a única economia
industrial que não fora destruída na guerra. Era
necessário um meio estável para estabelecer contas
internacionais. Hoje há muitas economias que têm divisas
comerciáveis e podem ser estabelecidas contas entre países nas
suas próprias divisas.
Já não há mais necessidade de uma única divisa de
reserva. Quando esta percepção se difundir, a pressão
sobre o valor do dólar intensificar-se-á.
Durante algum tempo o Federal Reserve pode suportar o valor cambial do
dólar pressionando o Japão e o Banco Central Europeu a imprimir
suas divisas com que suportar o dólar através de compras no
mercado de câmbios externo. Outros países, tais como a
Suíça, imprimirão suas próprias divisas de modo a
não por em perigo suas exportações devido a uma
ascensão no preço em dólar das mesmas. Mas finalmente os
grandes défices comerciais dos EUA, provocados pela
deslocalização da produção de bens e
serviços vendidos dentro dos mercados estado-unidenses e pelo colapso da
classe média e da base fiscal causada pela deslocalização
de empregos destruirá o valor do US dólar.
Quando chegar esse dia, os padrões de vida nos EUA, já em perigo,
afundarão a pique. O poder americano terá sido destruído
pela cobiça corporativa e a política do Fed de sacrificar a
economia dos EUA a fim de salvar quatro ou cinco mega-bancos cujos antigos
executivos controlam o Fed, o Tesouro e as agências regulatórias
financeiras federais.
22/Setembro/2014
Ver também:
O assalto ao ouro
O assalto do Fed ao ouro
A fazer o trabalho de deus
O ouro e o "fim do mundo"
Furor no mercado do ouro
[*]
Antigo secretário assistente do Tesouro dos EUA e editor associado
do
Wall Street Journal,
autor de
How the Economy Was Lost
e de
How America Was Lost
.
[* *] Passou muitos anos a trabalhar em tarefas analíticas
e de trading na Wall Street.
O original encontra-se em
www.counterpunch.org/2014/09/22/the-gold-riggers/
e em
www.paulcraigroberts.org/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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