"Os gregos seriam sábios se saíssem da Eurozona"
"Isto é verdade também para Portugal e Irlanda"
por Joachim Starbatty
[*]
entrevistado por Yasmin El-Sharif
O supremo tribunal da Alemanha principiou terça-feira as audiências
de uma contestação legal ao pacote de ajuda de 110 mil
milhões de euros proporcionado à Grécia açoitada
pela dívida. O professor de ciências económicas Joachim
Starbatty é um dos que estão por trás deste processo e
espera provar em tribunal que está correcto.
SPIEGEL ONLINE: Sr. Starbatty, o parlamento grego aprovou na semana passada um
pacote de 78 mil milhões de medidas de austeridade em troca de
mais milhares de milhões de ajuda da União Europeia.
Starbatty: Ao aprovar o pacote, o parlamento decidiu contra a vontade do povo.
Mas só porque foi chantageado pelos parceiros da Grécia na zona
euro.
SPIEGEL ONLINE: Não será legítimo para governos na zona de
divisa comum da Europa quererem ver uma contribuição grega par a
resolução do problema antes de libertar milhares de
milhões em ajuda?
Starbatty: A assistência financeira é só para salvar a
indústria bancária europeia. A UE está a lançar
montantes maciços de bom dinheiro em cima do mau. Mas é o povo
grego que deve aguentar as medidas brutais de aperto de cinto. Não
considero ser legítimo.
SPIEGEL ONLINE: Se o supremo tribunal alemão alinhasse com a sua
visão e não mais permitisse à Alemanha participar em
assistência financeira a países da zona euro assolados pela
dívida, a Grécia provavelmente tornar-se-ia insolvente de
imediato. A união monetária como um todo também ficaria em
perigo.
Starbatty: A Grécia já está falida. É preciso dar
uma oportunidade ao país para voltar a ficar sobre os seus pés
economicamente. Espero que o tribunal estabeleça parâmetros a fim
de limitar a insensatez económica.
SPIEGEL ONLINE: O que quer dizer com isso exactamente?
Starbatty: A ajuda permanecerá, mas no futuro o parlamento alemão
terá de aprovar cada nova fatia de crédito.
SPIEGEL ONLINE: Alguns representantes dos conservadores
democrata-cristãos da chanceler Merkel e dos seus parceiros de
coligação, os Democratas Livres favoráveis aos
negócios, estão a pedir a mesma coisa. Mas será que a
ideia é de todo praticável? Tal exigência certamente
não fortaleceria a fé na zona euro no interior dos mercados
financeiros.
Starbatty: É muito mais importante que os cidadãos recuperem sua
fé no processo político e na divisa comum. Se o processo
político é confiável, os mercados financeiros
também reagirão positivamente.
SPIEGEL ONLINE: Haverá uma alternativa a proporcionar assistência
financeira à Grécia, Portugal e Irlanda?
Starbatty: A protecção do euro apenas compra tempo tempo
que não está a ser utilizado. Os gregos seriam sábios se
saíssem da divisa comum por sua própria vontade e desvalorizassem
a sua divisa nacional, o dracma. Deste modo, eles podiam forçosamente
reduzir a sua dívida. Se continuarmos no caminho em que estamos,
milhares de milhões e milhares de milhões mais
tornar-se-ão necessários. Isso também é verdadeiro
para Portugal e Irlanda e talvez mesmo para a Espanha.
SPIEGEL ONLINE: Se a Grécia saísse da zona euro, será que
os mercados financeiros não tomariam como objectivo outros países
profundamente endividados e desencadeariam um colapso de toda a união
monetária?
Starbatty: Esta "teoria do dominó" só existe para
enganar pessoas. Será que a Finlândi ou a Holanda cairiam
também? Só aqueles países que já estão
profundamente em dívida são afectados. Qualquer novo adiamento
simplesmente agravará os custos.
[*]
Professor emérito de ciências económicas na Universidade de
Tübingen, 71. É considerado um dos mais eloquentes críticos
da divisa comum europeia, o euro. Em 1998 Starbatty iniciou processo legal
contra a introdução euro, mas não teve êxito. Dez
anos depois, ele quer que um tribunal constitucional da Alemanha rejeite o
Tratado de Lisboa, parte do fundamento legal da União Europeia.
O original encontra-se em
http://www.spiegel.de/international/europe/0,1518,772443,00.html#ref=nlint
Esta entrevista encontra-se em
http://resistir.info/
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