Por uma Europa sem patentes de software


Ao votar proposta de directiva emanada da Comissão Europeia, em 24 de Setembro, o Parlamento Europeu aceitou emendas que limitam a patenteabilidade do software. Assim, numa votação histórica, o PE disse não às patentes de software .

Sectores progressistas, no entanto, consideram que não deveria ter sido aprovada qualquer directiva (ver abaixo declaração de voto da deputada Ilda Figueiredo). Estes sectores percebem que o documento aprovado representa um retrocesso em relação ao que estava estabelecido no Relatório do PE de 13 de Março de 2000 (66 kB), cujo ponto 48 afirma:
"Saudando a recente iniciativa da Comissão sobre software livre e open source, a qual será uma prioridade importante no programa de trabalho IST pede à Comissão para promover — assim como ao plano Internet do Governo Francês — a utilização de plataformas open source na sua estratégia de internet e a considerar novas iniciativas a favor de PMEs inovativas, universidades, etc a fim de desenvolver software amistoso para os utilizadores baseado em open source,"


Clique para ampliar. Na manhã de 24 de Setembro, em sessão plenária do Parlamento Europeu, verificou-se a votação da proposta de directiva sobre patentes de software. Foram votadas mais de 50 emendas ao texto proposto pela Comissão Europeia. Dentre as emendas aprovadas pelos eurodeputados estão aquelas necessárias para definir limites claro ao patenteável no que respeita aos programas de computadores, deixando bem claro que o software não é patenteável. A proposta de directiva assim emendada foi aprovada por de dois terços do plenário, e muitos daqueles que não a votaram fizeram-no aparentemente por desejarem limites ainda mais claros à patenteabilidade do software.

Com esta decisão o Parlamento Europeu demarca-se claramente dos esforços da Comissão Europeia no sentido de introduzir as patentes de software na Europa, e envia um sinal claro ao Gabinete Europeu de Patentes (GEP). Caso a directiva venha a ser aprovada finalmente com o texto votado pelo Parlamento Europeu, as mais de 20 mil patentes de software que o GEP aceitou ficarão ainda mais claramente fora do âmbito do que é definido legalmente como patenteável na Europa.

O resultado da votação do Parlamento Europeu pode ser considerado como histórico, pois é a primeira vez que uma coligação ampla (que inclui partidos de todo o arco parlamentar) vota contra a (até agora) permanente extensão do âmbito das patentes e outras formas de restrição ao conhecimento livre e aberto.

A votação não tem o efeito de concluir a tramitação da proposta de directiva, que ainda continuará no processo de codecisão entre o Parlamento Europeu, o Conselho Europeu e a Comissão Europeia, e provavelmente tornará a ser votada mais adiante em segunda leitura. O próximo passo será no Conselho Europeu (composto pelos governos dos países membros da União), onde é de esperar que vários governos tentem eliminar as emendas introduzidas pelo Parlamento Europeu, cedendo às pressões dos grupos que tentam introduzir a patenteabilidade na Europa.

A ProInnova , tal como outros grupos europeus como EuroLinux ou FFII , felicitam os deputados que tornaram possível este resultado, e congratulam-se por não terem cedido às tentativas de apresentar este assunto como uma mera harmonização sem grande importância política. Como cidadãos europeus, sentimo-nos orgulhosos pelo facto de os nossos políticos terem dedicado a este tema a atenção que merece, tenham entendido os problemas que implica e tenham votado corajosamente a opção mais conveniente para a sociedade.

A ProInnova convida ainda os governos nacionais e a Comissão Europeia a considerar esta votação em profundidade, e a estudar os problemas que a patenteabilidade do software acarretaria à indústria do software e ao desenvolvimento da sociedade da informação na Europa, tal como o fez a maioria dos eurodeputados.

O original encontra-se em http://www.rebelion.org/otromundo/031001software.htm .


Declaração de voto de Ilda Figueiredo

A eurodeputada Ilda Figueiredo, do PCP, emitiu em 24 de Setembro a seguinte declaração de voto acerca do "Relatório McCarthy - Sobre a patenteabilidade dos inventos que implicam programas de computador":

"Lamento que o Parlamento Europeu não tenha aprovado a nossa proposta de rejeição desta proposta de directiva que abre caminho à patenteabilidade dos programas de computadores, independentemente do resultado final das inúmeras propostas de alteração à actual directiva. O Parlamento Europeu presta, assim, um mau serviço à inovação e ao desenvolvimento tecnológico.

"Parece que vivemos num tempo em que tudo é passível de ser mercantilizado, de ser propriedade privada de alguém para rentabilidade própria. Querem que a mercantilização vá do produto do trabalho ao saber, à própria vida. Vivemos numa época em que se confunde o que é uma descoberta, que é património comum de todos nós, do que é uma invenção. A presente directiva abre o caminho à patenteabilidade do saber humano, o que recusamos.

"Embora tenham sido aprovadas algumas propostas positivas na votação final, a maioria das que apresentámos foi rejeitada, o que lamentamos. Continuaremos a lutar contra esta proposta de directiva e os interesses das grandes multinacionais que visa satisfazer".

Estes documentos encontram-se em http://resistir.info .

02/Out/03