Dez teses sobre o processo de acesso à UE dos países do Leste europeu

por Francisco Brown Infante

. 1- A discussão acerca das possibilidades de conseguir ou não a ampliação para Leste da União Europeia perdeu virtualidade no debate académico e nem sequer é uma questão retórica na medida em que este processo possui todos os requisitos para ser posto em prática — pelo menos na sua primeira etapa — a partir de 1º de Maio de 2004.

2- Entretanto, a inevitabilidade histórica deste processo não implica que o mesmo esteja isento de contradições, dificuldades e de custos sociais significativos, estes últimos atingindo basicamente os países candidatos a membros. Isto se exprime nas seguintes particularidades que o caracterizarão:

3- A ampliação da UE em direcção ao Leste constitui uma nova forma de colonialismo. Neste sentido, avança-se a seguinte hipótese: as relações entre a União Europeia e os seus novos membros haverão de reproduzir em escala regional a polarização que existe em escala global entre um centro dominante e uma periferia dependente.

4- Os países do Leste europeu que acedem à UE fazem-no na qualidade de membros de segunda classe, com significativa limitações nas esferas do livre trânsito de pessoas e de força de trabalho, com subsídios agrícolas que constituem apenas uns 25% das que recebem os actuais membros, e a aplicação de severas pressões da parte da UE para a redução da sua produção agrícola, o que provocará transtornos e tensões sociais neste sector da economia. Neste sentido, as condições que a UE impõe e matéria agrícola aos países que pretendem ser admitidos constituem um obstáculo adicional ao andamento da transição para o capitalismo.

5- Em consequência do naufrágio virtual do Tratado de Nice, que em princípio prometia aos novos membros uma certa repartição vantajosa de peso ou influência nos destinos ulteriores da Europa ampliada, existe a possibilidade de que em ambos os aspectos aquilo que realmente se alcance venha a estar muito abaixo da expectativas dos governos dos países do Leste.

6- Os países da Europa ocidental iniciaram um processo de desmontagem do Estado Previdência em consequência dos actuais problemas enfrentados por suas economias e da ideologia neoliberal que inspira a gestão dos seus governos. Sua eventual "exportação" para o Leste europeu, juntamente com os encargos financeiros que o acesso à UE impõe aos países dessa região, na prática já está a determinar a aplicação de severos programas de ajuste nas economias do leste europeu, com projecções negativas na saúde, educação e outras áreas sociais, o que criará importantes elementos de instabilidade política e social nos países dessa região.

7- A ampliação europeia criará maior corrupção, tanto em cada um dos países que entram como nas instituições da UE. O Instituto Open Society, uma fundação na Hungria financiada pelo milionário estadunidense George Soros, considera que os efeitos do crescimento da UE com outros 10 países membros a partir de 2004 fará com que aumentem também os duplos padrões, a hipocrisia política e a incoerência na tomada de decisões. O nepotismo, os subornos e a violência política, que são prática corrente nos países bálticos e balcânicos, reflectir-se-ão no andamento das instituições comunitárias.

8- Os novos membros pretendem a adopção do Euro antes do fim desta década, inclusive avançando com datas para a sua concretização: 2006 para a Estónia, 2007 para a Lituânia, Letónia e República Checa, 2008 para a Eslováquia, Hungria e Eslovénia, e 2009 para a Polónia. Ainda que isto pareça realizável, corre-se o risco de travar o crescimento económico em consequência do cumprimento dos critérios de adesão que tal adopção implica.

9- A ampliação em direcção ao Leste terá uma importante projecção na Política Externa e de Segurança Comum. Com este processo aumentará a segurança, mas ao mesmo tempo aproximará a UE de zonas conflituosas. Isto coloca o desafio de estender uma zona de segurança em torno da Europa, evitando ao mesmo tempo que a ampliação crie novas linhas divisórias no continente. Do que se trata, em essência, é da necessidade de formular um novo conceito de fronteira, alheio a qualquer lembrança de conflito ou divisão, o que concerne de modo particular e mais premente aos casos de Bielorússia, Moldova e Ucrânia.

10- A ampliação da UE não poderá impedir o futuro aumento do significado periférico dos países do Leste europeu. As perspectivas são o estabelecimento de um "capitalismo pobre", mais parecido com o existente nos países da América Latina, por exemplo, do que com o do rico e desenvolvido Ocidente europeu. A ampliação não será, não poderá ser, assim como nunca o foi, uma associação entre iguais. O preocupante é que a Europa dos 25 será caracterizada por uma maior diferenciação entre os seus associados.

O original encontra-se em http://www.rebelion.org/internacional/031226fbi.htm.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info .

28/Dez/03