Seis anos e meio em Guantánamo
Testemunho de Sami El Haj, jornalista da Al-Jazira
Sami El-Haj, jornalista sudanês da cadeia Al-Jazira, foi libertado
após seis anos e meio de detenção na Baía de
Guantanamo. Silvia Cattori entrevistou-o aquando da sua passagem por Genebra,
onde veio encontrar-se com organismos de direitos humanos das
Nações Unidas. Ela não se contentou em transcrever os
seus depoimentos pois não saiu indemne desta entrevista. Acompanhou
portanto as palavras do entrevistado com os seus comentários. No fim,
ninguém pode permanecer insensível a isto não se
trata apenas de uma história individual, mas de um testemunho vivo sobre
o sistema de terror dos Estados Unidos.
Erecto, grande, impressionante, a emanar o sentimento de uma interioridade
intensa, Sami El Haj avança a claudicar, apoiado numa bengala. Os risos
e sorrisos já não animam o rosto fino deste homem, desgastado
antes de velho. Habita-o uma profunda tristeza. Ele tinha 32 anos quando, em
Dezembro de 2001, sua vida, tal como aquelas de dezenas de milhares de outras
pessoas de confissão muçulmana, caíram no horror.
Ele sofreu enormemente. Enfraquecido por uma greve de fome que durou 438 dias,
libertado dia 1º de Maio de 2008, ele vos recebe com
atenção, com doçura. Fala-vos, sem insistir, de um
universo cujo horror vos ultrapassa, vos tetaniza, vos sufoca.
Este é o primeiro sobrevivente dos campos, construídos pela
administração Bush na base naval da Baía de
Guantánamos, a ser autorizado a viajar.
"Vim a Genebra, à cidade da ONU e das liberdades,
[1]
para pedir que se faça respeitar o direito, exigir o encerramento do
campo de Guantánamo e das prisões secretas, e acabar com esta
situação ilegal", diz ele calmamente. A palavra está
desgastada. Tudo é "ilegal", tudo é falso, manipulado,
absurdo, kafkiano, nesta guerra, dirigida essencialmente contra pessoas de
religião muçulmana.
Sabemos hoje muitas coisas. Nomeadamente, que numerosos atentados que desde
1996 tem sido atribuídos aos muçulmanos foram financiados e
manipulados pelos agentes secretos do MI6, da CIA, do Mossad. Foram
testemunhos corajosos, como o do antigo ministro alemão Andreas Von
Bülow
[2]
, que desvelaram e denunciaram este género de actividades criminosas,
praticadas pelas grandes potências. Excepto nos novos media, qual
jornalista alguma vez falou das revelações feitas por este grande
senhor que é Andreas Von Bülow?
Em Guantánamo, sustentado pela sua paixão pela justiça,
por sua convicção de que todo jornalista tem por missão
testemunhar aquilo que vê, Sami El Haj teve a força
psíquica de aguentar, de resistir aos piores abusos, pondo de lado os
seus próprios sofrimentos. Ele experimentou sentimentos de grande dor
mas soube, nos piores momentos, manter a esperança de que sairia de
lá vivo. E de dizer a si próprio que devia observar tudo, que
poderia amanhã testemunhar, isso o ajudou a suportar o indizível.
É, de resto, pelo olhar do jornalista observando com recuo este
universos assustador, desejado pelo sr. Bush, e que teria podido ser a sua
tumba, que Sami El Haj pôde sobreviver e manter a sua razão.
Outros, que tiveram menos sorte que ele, estão mortos ou tornaram-se
loucos; portanto incapazes de transmitir seu testemunho.
Sem lápis nem papel, Sami El Haj esforçou-se por tudo memorizar
para continuar, mesmo na cela, seu trabalho de "jornalista da Al-Jazira em
reportagem", como ele diz.
Hoje ele está concentrado na ideia de chamar a atenção do
mundo para estas dezenas de milhares de prisioneiros que continuam, nas
masmorras de Guantánamo, Bagram, Kandahar, a sofrer um tratamento
desumano. Responde incansavelmente, e com gentileza, a todos os jornalistas
que o interrogam, esperando que a sua palavra permitirá fazer ouvir a
voz daqueles que não a têm.
Seu depoimento é essencial. Ao invés de outros cativos,
abusivamente qualificado como ele de "terroristas", Sami El Haj
jamais foi julgado e jamais soube do que era acusado. O que demonstra que os
"terroristas islamistas" do sr. Bush, e dos jornalistas que apoiaram
a sua tese, tiveram de ser fabricados. Seres como Sami El Haj jamais teriam
podido ser presos, nem permanecer tão longo tempo reféns desta
barbárie, porque muçulmanos, sem a cumplicidade dos governos
europeus e destes propagandistas islamófobos subservientes a Tel Aviv e
Washington que, depois há décadas, desinformam a opinião
pública e influenciam as elites com base em mentiras.
Silvia Cattori:
Como se sente, a apenas algumas semanas após a vossa
libertação?
Sami El Haj:
Sinto-me bem, obrigado. Quando vejo que pessoas se empenham em salvar seres
humanos e lutam pela defesa dos seus direitos, isso me conforta. Naturalmente,
na minha saída de Guantánamo, há dois meses, eu não
estava inteiramente bem. Mas agora sinto-me melhor, descobrindo que as
pessoas, aqui fora, lutam e não esquecem o objectivo principal: obter a
paz e a liberdade para todo o mundo.
Silvia Cattori:
Após estes anos dolorosos, passados nos campos, quais são os
vossos sentimentos e os vossos desejos mais ansiados?
Sami El Haj:
Bem, evidentemente sinto-me feliz por ter recuperado a minha liberdade.
Reencontrei minha família, minha esposa e meu filho. Durante seis anos
e meio ele não me viu, teve de ir à escola sem mim. Esperou-me e
disse-me: "Papá, tu me faltaste por muito tempo! Eu sofri,
sobretudo quando via meus colegas na escola, acompanhados pelo seu pai, que me
perguntavam: Onde está o teu pai? Eu não tinha resposta para
lhes dar. Foi por isso que pedi à mamã para me levar à
escola de carro, porque eu não queria que me colocassem sempre esta
pergunta".
Disse ao meu filho: "Agora estou em condições de te levar
à escola, mas tu deves compreender que tenho uma mensagem a transmitir,
uma causa justa a defender. Quero lutar pela causa dos direitos do homem,
pelas pessoas que foram privadas da sua liberdade. Não vou lutar
só. Há milhares de pessoas que se empenham em toda a parte onde
se atenta contra a dignidade dos humanos. Não esqueça que
lutamos pela paz, para defender os direitos onde eles são espezinhados,
para um melhor futuro para ti. Talvez um dia cheguemos a isso e, então,
vou poder ficar ao teu lado e levar-te à escola".
Não sei se ele compreendeu, pois ainda é pequeno, mas sorriu-me.
Minha esposa, ela tão pouco, não desejava que eu partisse outra
vez. Mas quando lhe lembrei a situação dolorosa em que se
encontram as pessoas encerradas em Guantánamos, que também
têm família, filhos, filhas, esposa, que lhes faltam, e que, se eu
permanecesse sem lutar, estas pessoas iriam ficar encerradas ainda mais tempo,
ela compreendeu que eu devia continuar a viajar, a somar a minha voz a todas as
outras vozes, para que os detidos possam voltar para as suas casas o mais
rapidamente possível. Ela deu-me todo apoio. Ao acompanhar-me ao
aeroporto disse-me: Vou rezar por ti.
Silvia Cattori:
Assim, ao ir ao Afeganistão para filmar os massacres de civis,
vítimas da guerra do sr. Bush, tornou-se uma das suas vítimas?
Não tem medo do que possa vos acontecer?
Sami El Haj:
Para mim, não há nenhuma dúvida, vou continuar meu
trabalho de jornalista. Devo continuar a levar uma mensagem de paz, seja qual
for. No que me concerne, passei seis anos e seis meses na prisão, longe
da minha família; mas, para outros, foi bem mais terrível.
Perdi um amigo muito querido, jornalista da Al-Jazira: morreu em Bagdad, morto
no bombardeamento do hotel onde se encontrava. Perdi igualmente uma colega que
trabalhava comigo na Al-Jazira, que considero como uma irmã: morta,
também ela, em Bagdad.
Muitas pessoas perderam a vida por causa desta guerra. Deve saber que a
administração Bush quis impedir a cobertura dos media livres,
como a Al-Jazira, no Médio Oriente. Os escritórios da Al-Jazira,
em Cabul e Bagdad, foram bombardeados.
Em 2001, quando deixei meu filho e minha esposa para ir filmar a guerra
desencadeada pelos Estados Unidos contra o Afeganistão, podia esperar
encontrar a morte num bombardeamento. Eu fui, consciente dos riscos. Todo
jornalista sabe que cumpre uma missão e deve estar pronto a
sacrificar-se para testemunhar o que se passa, pelos seus filmes e seus
escritos. E para ajudar as pessoas a compreenderem que a guerra não
traz nada mais do que a morte de inocentes, destruição e
sofrimentos. É na base desta convicção que meus colegas e
eu fomos a países em guerra.
Agora, após todos estes anos de cativeiro, posso novamente fazer alguma
coisa em favor da paz. Vou empenhar-me neste sentido, até onde puder.
Estou certo de que um dia, mesmo se não for eu a recolher os frutos,
acabaremos por obter a paz e o respeito dos direitos humanos, assim como a
protecção dos jornalistas por toda a parte do mundo. Estou certo
de que chegaremos a isto de os jornalistas não serem mais torturados ou
feridos ao fazerem o seu trabalho, ao defenderem os direitos das pessoas
à informação e ao mostrarem os abusos contra os humanos.
Silvia Cattori:
Disse no início que se sentia bem. Mas, depois de uma experiência
tão horrível, e depois de ter sido solto sem a menor desculpa da
parte dos vossos torcionários, como pode evocar este passado sem
ressentimento nem rancor?
Sami El Haj:
Sim, este passado é extremamente duro e minha situação
pessoal é difícil. Mas quando penso naqueles que ainda
estão em Guantánamo, a quem a sua família, das quais
não têm notícia nenhuma, falta, digo a mim próprio
que a minha situação, por difícil que seja, é
melhor que a deles.
Não posso esquecer que deixei em Guantánamo irmãos que
estão destruídos, que foram tornados loucos. Penso em particular
neste médico yemenita que vive hoje todo nu na sua cela pois perdeu a
razão.
Silvia Cattori:
Que género de torturas vos faziam sofrer?
Sami El Haj:
Todas as espécie de torturas físicas e psíquicas. Como
os detidos eram todos muçulmanos, a administração do campo
submetia-os a muitas vexações e humilhações
respeitantes à religião. Vi com os meus próprios olhos
soldados dilacerarem o Corão e jogá-lo nas toilettes. Vi com os
meus próprios olhos, durante os interrogatórios, sentar-se sobre
o Corão enquanto não se respondesse às questões
colocadas. Eles insultavam nossas famílias, nossa religião.
Faziam cara de telefonar ao nosso Deus para lhe pedir, caçoando de
nós, para vir nos salvar. O único imam do campo foi acusado de
conivência com os detidos e foi demitido, em 2005, por se ter recusado a
dizer aos visitantes que o campo respeitava a liberdade religiosa.
Eles nos espancavam com golpes. Cobriam-nos de insultos racistas.
Encerravam-nos em peças frias, abaixo de zero, com uma única
refeição fria por dia. Suspendiam-nos pelas mãos.
Impediam-nos de dormir e, quando se dormitava, batiam-nos na cabeça.
Mostravam-nos filmes mostrando sessões de torturas atrozes.
Mostravam-nos fotos de torturados mortos, tumefactos, sanguinolentos.
Mantinham-nos sob a ameaça de nos transferir alhures para nos torturas
ainda mais. Lançavam-nos água fria. Forçavam-nos a fazer
a saudação militar ouvindo o hino dos Estados Unidos.
Forçavam-nos a vestir roupas de mulheres. Forçavam-nos a olhar
fotos eróticas. Ameaçavam-nos de violação.
Punham-nos nus, faziam-nos marchar como asnos, mandando-nos ir aqui e ali.
Mandavam-nos sentar e nos por de pé 500 vezes seguidas. Humilhavam os
detidos envolvendo-os na bandeira estado-unidense e israelense, o que era uma
maneira de dizer que estamos encerrados no quadro de uma guerra de
religião.
Quando, coberto de piolhos, sujo, o detido é tirado da sua cela para ser
submetido a novas sessões de torturas, para o levar a colaborar, ele
acaba por dizer não importa o que e não saber mais quem é.
Sofri mais de 200 interrogatórios sob tortura. Noventa e cinco por
cento das perguntas referiam-se à Al-Jazira. Queriam que aceitar
trabalhar como espião no seio da Al-Jazira. Em troca, ofereciam-me a
nacionalidade estado-unidense, para mim e minha família, e um
salário em função dos meus resultados. Recusei. Eu lhes
repetia que a minha profissão é de jornalista, não a de
espião, e que tinha o dever de fazer conhecer a verdade e trabalhar para
que os direitos do homem sejam respeitados.
Silvia Cattori:
Hoje, está disposto a perdoar vossos torcionários?
Sami El Haj:
Naturalmente que vou perdoá-los se encerrarem Guantánamo. Mas
se eles continuam a fazer o mal, vou recorrer a um tribunal, iniciar uma
acção contra eles.
Apesar de saber que a administração Bush fez tanto mal, continuo
a pensar que não é demasiado tarde para estas pessoas corrigirem
os seus erros.
É preciso saber diferenciar entre a administração e o
povo. Os detidos de Guantánamo sabem que têm amigos nos Estados
Unidos, como este advogado que veio a Guantánamo e que se bateu pelo meu
caso.
Silvia Cattori:
Fica-se com o sentimento de que eles não conseguiram quebrá-lo.
Sami El Haj:
Porque não estou só. Há pessoas atrás de mim;
este sentimento dá-me força. Na prisão, retirei minha
força da convicção de que todo homem livre não pode
aceitar ser posto nesta situação de inferioridade e de
desumanização. Experimenta-se sentimentos de dor, de
desapontamento, mas esforça-se por manter a esperança de que
haverá uma saída; e a ideia de que, mesmo na prisão,
pode-se continuar o trabalho de jornalista limita o sofrimento.
Silvia Cattori:
Enquanto estava em Guantánamo sabia que havia, no exterior, pessoas que
lutavam para voz fazer libertar?
Sami El Haj:
De facto, eu não sabia. Porque no interior da prisão as
notícias são muito difíceis de serem obtidas, mesmo que se
tenha um advogado porque ele está proibido de vos informar. As pessoas
que trabalham para os direitos do homem, e aqueles que não gostam da
administração Bush, hoje eu os conheço. Creio que a sua
voz é cada vez mais forte.
Silvia Cattori:
Vosso irmão, ao revê-lo, disse que tinha o ar de um homem idoso.
É este o vosso sentimento?
Sami El Haj:
No que me concerne, vivo pelo meu coração, e não pelo
meu rosto ou pelo meu corpo. Sinto meu coração sempre jovem, e
mais forte que antes.
Silvia Cattori:
Portanto, foi uma experiência muito doloroso mas, de facto, mas sai dela
rico com um potencial insuspeitado?
Sami El Haj:
Exacto. Do tempo passado em Guantánamos soube tirar algum
benefício. Antes de ir para Guantánamo não tinha
senão uma pequena família; agora tenho uma grande
família, ganhei centenas de amigos no mundo inteiro. Isso é
muito positivo: perdi seis anos e meio mas, agora, tenho mais amigos.
Silvia Cattori:
Ainda é considerado como um "combatente inimigo"?
[3]
Sami El Haj:
Não sei mas, quando fui solto disseram-me: Agora já
não é perigoso para os Estados Unidos.
Silvia Cattori:
E vosso nome não figura mais na "lista terrorista"?
Sami El Haj:
Eu não sei. Penso que, na mentalidade deles, todos aqueles que
qualificaram como "terroristas" vão ficar
"terroristas". E que agora eles têm medo de nós porque
nos fizeram mal sem nenhuma razão.
Silvia Cattori:
Pensa que os agentes da CIA vão continuar a vos espionar?
Sami El Haj:
Sim. Na realidade, não tenho nada contra este país e seu povo.
Se a administração Bush corrigir seus erros, não vou
queixar-me de nada.
Silvia Cattori:
Ficou surpreendido quando, na vossa saída, um oficial do
Pentágono, ao vê-lo com uma bengala, vos acusou de ser um
manipulador?
Sami El Haj:
A gente do Pentágono pretende que os prisioneiros de Guantánamo
são malfeitores mas, na realidade, 500 dentre eles agora voltaram para
as suas casas. Como poderiam tê-los deixado sair se fossem realmente
malfeitores? Eles mentem sempre.
Silvia Cattori:
Dois outros sudaneses foram soltos aos mesmo tempo que vós, Amir Yacoub
Mohamed al Amin e Walid Mohamed. Como estão eles agora?
Sami El Haj:
O governo e a administração do Sudão trataram-nos muito
bem. Eles nos acolheram, a todos os três, directamente no aeroporto. Se
bem que os Estados Unidos tenham tomado meu passaporte, deram-me um novo em
duas horas, e não fizeram nenhuma objecção a que eu
viajasse para fora do Sudão.
Silvia Cattori:
Em Guantánamo, os militares vos chamavam pelo nome ou pela
matrícula de prisioneiro: "número 345"?
Sami El Haj:
Nunca me chamavam pelo meu nome, mas "three, four, five", meu
número de matrícula. Nos últimos tempos chamavam-me
"Al-Jazira". Só os delegados da Cruz Vermelha chamavam-me
pelo meu nome.
Silvia Cattori:
Estes delegados vos visitaram frequentemente?
Sami El Haj:
Quando eles eram autorizador vir nos visitar, todos os dois ou três
meses; eu lhes falava, eles traziam cartas da minha família.
Silvia Cattori:
A administração Bush e os oficiais encarregados de vos torturar
sabiam que era um homem honesto, um simples jornalistas desejoso de dar a
conhecer as brutalidades que eles cometiam contra o povo afegão e
não um "terrorista". Sabe porque razão eles vos
fizeram tanto mal?
Sami El Haj:
A maioria dos soldados seguia as ordens dos seus oficiais. Eles torturavam
sem qualquer emoção. Mas devo na verdade dizer que alguns dentre
eles eram bons. Alguns soldados utilizavam o seu cérebro.
Silvia Cattori:
Os agentes da CIA redigiram um relatório sobre as torturas em
Guantánamo. Quando eles vos torturavam, ficava com a impressão
que eles o observavam, que faziam experiências convosco?
Sami El Haj:
Estávamos sob a vigilância constante de médicos
psiquiatras em uniformes militares. Eles não estavam lá para
cuidar, mas para participar nos interrogatórios, para observar os
torturados de modo a que nenhum pormenor no comportamento do prisioneiro lhes
escapasse. É sob a responsabilidade do coronel Morgan, médico
especializado em psiquiatria, que se faziam os interrogatórios. Este
coronel foi colocado, desde Março de 2002, em Guantánamo.
Servira na prisão afegã de Bagram a partir de Novembro de 2001.
Ele dava instruções aos oficiais que nos interrogavam, estudava
nossas reacções, notava cada pormenor para, em seguida, adaptar
as torturas à personalidade de cada detido, o que deixou traços
profundos no seu psiquismo.
Falei com eles. Disse-lhe que a missão do médico era nobre,
ajudar as pessoas, não torturá-las. Responderam-me:
"Nós somos militares, devemos seguir as regras; quando um oficial
dá uma ordem, sou obrigado a executá-la, senão, serei
colocado na prisão como vós; quando assinei o contrato com o
exército, nesse momento compreendi que devia obedecer a tudo".
Silvia Cattori:
Dentre as torturas praticadas em Guantánamo, vejo semelhanças
com as torturas praticadas em Israel sobre os prisioneiros políticos
palestino. A tortura do sono, por exemplo, é a sua especialidade.
Sami El Haj:
Creio que a maioria dos serviços de informação do mundo
inteiro veio a Guantánamo. Vi britânicos, vi canadianos. Eles
foram lá por se interessarem em interrogatórios, e também
para fornecer aos oficiais da CIA e do FBI conselhos sobre como torturar, como
interrogar, com base nas suas experiências.
Silvia Cattori:
Consegue dormir tranquilamente?
Sami El Haj:
Já não é como antes de Guantánamo. Não
durmo senão 3 a 4 horas. Hoje, quando reencontrei pessoas da Cruz
Vermelha, pedi-lhes para me ajudarem a ultrapassar minhas dificuldades, para me
aconselharem um médico que possa examinar-me. Sete anos, não
é um período curto.
Silvia Cattori:
A greve de fome não era um pouco como uma tortura dirigida contra
vós próprios? Por que fazê-la durante períodos
tão longos, quando vossos carcereiros a utilizavam para vos infligir
ainda mais humilhações e sofrimentos?
Sami El Haj:
Porque pensávamos que não podíamos permanecer
silenciosos, que devíamos fazer alguma coisa. Não
tínhamos senão este meio para nos fazer ouvir. A greve de fome
é um meio de acção penoso, certamente, muito
difícil de suportar. Mas quando se está privado de liberdade
deve-se lutar para obtê-la. Era a única coisa que nos restava
para dizer à administração Bush que um detido tem sua
dignidade, que ele não vive senão do pão, que a liberdade
é mais importante.
Silvia Cattori:
Como se passava isso quando eles vos alimentavam à força?
Sami El Haj:
Quando havia mais de 40 detidos que faziam a greve de fome, a
administração do campo tentava quebrar sua resistência
fazendo-nos sofrer mais torturas. Éramos isolados em compartimentos
frios, desnudados, impedidos de dormir durante longos períodos. Duas
vezes por dia, os soldados prendiam-nos numa cadeira especial. Eles nos
aplicavam uma máscara sobre a boca; introduziam-nos um tubo grosso no
nariz, não no estômago. Quando a ração de alimento
normal era de duas latas, eles nos puniam injectando 24 latas e seis garrafas
de água. O estômago, encolhido por longas greves de fome,
não podia conter estas quantidades. Eles acrescentavam produtos que
provocavam a diarreia. O detido, mantido preso nesta cadeira mais de
três horas, vomitava, vomitava. Eles nos deixavam no vómito e nos
excrementos. Terminada a sessão, arrancavam-nos o tubo com
violência; quando viam o sangue a correr eles riam de nós. Como
utilizam tubos infectados, nunca limpos, os detidos sofrem de doenças
deixadas sem cuidados.
Silvia Cattori:
Foi devido a esta longa greve de fome que foi libertado?
Sami El Haj:
Não só por causa dela, mas foi uma das razões que levou
a administração a soltar-me.
Silvia Cattori:
O que pensar das confissões de Khaled Sheik Mohamed
[4]
, que é acusado de ter organizado mais de 30 atentados em 17
países?
Sami El Haj:
Talvez eles o tenham torturado a um ponto em que já não era ele
próprio. Nunca o encontrei porque eles o puseram num campo especial.
Um oficial disse-me o haviam atingido duramente; pode-se por em dúvida:
eles o torturaram terrivelmente.
Silvia Cattori:
Quando os Estados Unidos afirmam que ele é o "terrorista Nº 3
da Al-Qaïda", isso tem alguma relação com a realidade?
Sami El Haj:
Realmente, não creio em nada que venha da administração
Bush. Porque, a mim também, acusaram-me de ser um
"terrorista". E sei melhor do que ninguém o que se passa.
Estas pessoas mentem demasiado. Nunca acredito em nada do que afirma esta
administração. Conheci um prisioneiro que foi tal forma
torturado que no fim dizia: Eu sou Ussama Ben Laden. Ele dizia o que eles
quisessem para fazer cessar as torturas.
Silvia Cattori:
Então, é a Al-Qaida uma criação dos serviços
informações ocidentais?
Sami El Haj:
Pelo que eu sei, na minha vida nunca encontrei ninguém que me tenha
dito: Eu pertenço à Al-Qaida.
Em Guantánamo, encontrei a maioria dos detidos porque a política
dos nossos guardiões era não deixar os prisioneiros viverem muito
tempo juntos na mesma cela. Eles nos transferiram a cada semana; assim,
conheciam-se novas pessoas. As pessoas que encontrei em Guantánamo
são todas pacíficas.
Desde que saí, falei com mais de 100 dentre elas. Aqueles que eram
casados recomeçaram a sua vida, o solteiros casaram-se.
Silvia Cattori:
Aqueles que extraem forças na oração têm mais
possibilidades de escapar à loucura?
Sami El Haj:
Certamente! Se sente que alguém vos acompanha, sobretudo se é
Deus, irá ser paciente e recordar a todo momento que Deus tem mais poder
que os seres humanos. Devo orar a Deus e agradecer-lhe. Devo também
agradecer todas as pessoas que me apoiaram. Penso que, mesmo se passasse a
minha vida a dizer obrigado, não chegaria a agradecer a todos. Agora,
pelo meu trabalho em favor dos direitos do homem, talvez eu possa contribuir
para tornar mais feliz a vida de outras pessoas.
Silvia Cattori:
Creio que os media e as ONG, no nosso país, não deram a
importância devida à defesa dos direitos destes prisioneiros
muçulmanos
[5]
. Durante muito tempo, denunciar os abusos cometidos contra eles era visto
como um sinal de simpatia para com os "terroristas". Sabia que os
responsáveis de "Repórteres sem fronteiras", por
exemplo, cuja missão é proteger os jornalistas, foram criticados
por terem esperado cinco anos até falar do vosso caso?
[6]
Sami El Haj:
As pessoas, infelizmente, acreditaram naquilo que lhes dizia a
administração dos Estados Unidos. Agora que compreenderam que
aquilo não era verdade, elas corrigirão. Como vos disse, se
alguém comete um erro, isto não é um problema; o
problema, é perseverar no erro.
Se os jornalistas não se sentem preocupados quando jornalistas
são aprisionados no quadro da sua profissão, um dia talvez estes
mesmos jornalistas irão encontrar-se na prisão e não
encontrarão ninguém para os defender. Devemos trabalhar em
conjunto, devemos nos ocupar de cada caso. Se se sabe que um jornalista
está aprisionado, há que apoiá-lo, para além da sua
cor ou da sua religião.
Como jornalista, quero empenhar-me no apoio aos jornalistas que trabalham para
a defesa dos direitos e das liberdades. Há um imenso trabalho diante de
nós. Devemos nos empenhar plenamente para fazer libertar estas pessoas
que estão encerradas em Guantánamo e nas numerosas prisões
secretas onde a administração Bush priva dos seus direitos
dezenas de milhares de outras.
Esta experiência em Guantánamo marcou-nos profundamente. O que eu
quero reter é a necessidade e a importância da defesa dos direitos
do homem. Depois de todo o mal que eles fizeram, todo o mundo hoje está
mais preocupado, creio. Não é aceitável abandonar pessoas
que sofrem. Temos a obrigação imperiosa de nos solidarizar com
eles.
A Al-Jazira tenciona associar-se com os media livres para colectar
informações respeitantes aos direitos do homem e às
liberdades. Peço a todos os jornalistas para cooperarem connosco neste
sentido. Havia mais de 50 nacionalidades em Guantánamo; é um
assunto mundial, e não uma questão de tal ou tal detido.
É vergonhoso que, na nossa sociedade, inocentes que foram vendidos
encontrem-se encerrados em jaulas, e que esta violação dos
direitos fundamentais seja feita num país que pretende ser o garante dos
direitos e das liberdades.
Não tenho nenhum ódio. Respeitamos os cidadãos dos
Estados Unidos. É o seu governo actual que deve assumir as
consequências destes actos.
Os direitos do homem e a segurança não são
separáveis, não se pode ter segurança sem o respeito dos
direitos fundamentais.
Silvia Cattori:
Tem razão em apelar às pessoas honestas e aos jornalistas para
não aceitarem que se viole o direito internacional e que se inflijam
tratamentos cruéis e degradantes a seres humanos. Mas esta
política não teria podido durar se não tivesse o apoio
tácito dos governos das grandes potências; é com o seu
assentimento que as pessoas designadas como "combatentes inimigos"
foram torturadas
[7]
. O "Patriot Act", por exemplo, promulgado após o 11 de
Setembro nos Estados Unidos, todos os países europeus subscreveram seu
conteúdo. É no quadro destes acordos secretos que os agentes da
CIA e do FBI puderam sequestrar e torturar, na Europa, milhares de inocentes
como vós.
Sami El Haj:
Quero vos dizer isto: não creio na acção dos governos.
Porque todo governo, não importa de que país, prefere governar
sem se confrontar com os problemas reais das pessoas. Talvez, por vezes, ele
intervenha para dizer que apoia tal causa mas, no fundo, ele não a
apoia. Não é senão por razões políticas
oportunistas que ele se pronuncia. E talvez mesmo ele afirme sustentar, por
cálculo político, uma causa na qual ele não acredita.
Esqueça os governos, porque eles fazem sua política. Sim,
devemos continuar a trabalhar arduamente para defender os direitos e as
liberdades de cada um.
Silvia Cattori:
Pode-se concluir dizendo que os "terroristas", tais como os
apresentados pela administração Bush e os nossos media,
não existem?
Sami El Haj:
Posso vos assegurar que os detidos de Guantánamo que encontrei
não são "terroristas". Tive ocasião de falar
com eles, de os conhecer: são pessoas pacíficas.
Silvia Cattori:
Então prenderam-vos porque era preciso fazer número para
convencer os outros países europeus que haviam realmente
"terroristas" muçulmanos?
Sami El Haj:
Nós fomos presos na sequência do atentado do 11 de Setembro, de
ninguém até hoje pode dizer quem é o autor. Bush
não queria dizer: Cometi erros, não garanti correctamente a
segurança. Ele disse: Vamos começar uma guerra contra estes
"terroristas". Resultado: ele não trouxe a segurança
a quem quer que seja.
Ele tem feito bombardear o Afeganistão, ele enviou os seus soldados para
a guerra a povos inteiros, mas ele não prendeu as pessoas que se
determina a prender. Ele pagou somas de dinheiro aos paquistaneses para que em
contrapartida este começassem a prender pessoas e as remetessem à
sua administração.
Em Guantánamo, 89% das pessoas foram compradas, contra dinheiro sonante,
às autoridades paquistanesas. Onde eles a encontraram? Encontraram-nas
no Paquistão, não no Afeganistão.
Silvia Cattori:
Estes prisioneiros foram a seguir torturados com a promessa de parar, se
aceitassem tornar-se espiões ao serviço da CIA!? É um
sistema terrífico!
Sami El Haj:
Sim. Aguardemos que o sr. Bush deixe a administração. Quando
ele tiver deixado sua poltrona, estou certo que muitas pessoas vão
exprimir-se acerca das suas malfeitorias.
Silvia Cattori:
Vosso testemunho é muito importante. Massacraram a vossa juventude. E
tendes a magnanimidade de transformar este desastre em alguma coisa de
construtivo. Recusai-vos a vos considerar como vítima. Sois
verdadeiramente magnífico! Tantas pessoas na prisão devem
esperar a ajuda de pessoas da vossa qualidade.
Sami El Haj:
Devemos trabalhar arduamente a fim de que aqueles que continuam a apoiar a
administração Bush acabem por se sentir envergonhados dos seus
actos. Neste momento, ninguém mais vai ajudá-las. E quanto mais
ninguém as ajudar, elas pararão.
Toda a história de Guantánamo é uma mancha negra. A
administração Bush quis enganar a opinião pública
dizendo que éramos terroristas. Ora, estes homens que foram encerrados
na sua grande maioria são, como eu, inocentes.
Silvia Cattori:
Obrigado por nos ter concedido esta entrevista.
Toda a gente pode constar: os pretensos "terroristas" que as nossas
sociedades perseguem são na realidade vítimas
O sr. Sami El Haj impressona pela sua sabedoria, sua maturidade, sua
elevação de vistas. Ele faz pensar em Cristo na Cruz, pois o seu
calvário não acabou; os ferimentos são demasiado
profundos.
Sua delicadeza contrasta com a descrição dos presumidos
"terroristas" que as autoridades e os media tradicionais nos serviram
durante todos estes anos.
Nada de reivindicações nem de queixas. Seu relato é
sóbrio, sem ênfase. Ele deveria fazer mexer as coisas. Enfatiza
a acção a efectuar para fazer sair, sem tardar, aqueles que
permanecem cativos. Ele diz e repete que não poderá encontrar
repouso enquanto os detidos de Guantánamo não forem libertados.
Há doravante a urgência, a obrigação moral de
reagir, de explicar honestamente o que realmente se passou, a lutar para que as
nossas sociedades adoptem uma política em que o mundo árabe e
muçulmano possa esperar outra coisa além de guerra e racismo.
Se, em conjunto, os media do arco em torno do Lago Leman relataram
correctamente a passagem por Genebra do sr. Sami El Haj, acontece também
que a televisão pública local (TSR) minimizou o acontecimento e
não se dignou a convidá-lo ao seu écran. Deve-se notar
será que isto explica aquilo? que os redactores da TSR
deram a palavra abundantemente, nestes últimos sete anos, aos "bons
árabes", como Antoine Basbous ou Antoine Sfeir, que vão
repetindo aquilo que os nossos redactores dizem ou querem ouvir, contribuindo
assim para apoiar as teses belicistas que tem, aparentemente, o seu favor.
Os sequestros, os centros de tortura como Guantánamo, Abou Ghraib,
Bagram, Kandahar, não são, como muitas vezes se dá a
entender, uma simples "derrapagem"
[8]
, mas exactamente a expressão de uma política criminosa que serve
os interesses ocultos de dois Estados, principalmente os Estados e Israel.
Pode-se aliás perguntar-se se este último não é o
único ganhador destas guerras, que não só devastaram povos
inteiros como também arruinaram a imagem dos Estados Unidos no mundo.
Esta "guerra contra o terrorismo", da qual nos enchem os ouvidos,
é uma guerra criminosa; uma guerra manipulada pelas grandes
potências e seus serviços de informação.
São cada vez mais numerosas as pessoas que compreendem que as
sanções da ONU, as "listas terroristas" que a Europa
igualmente redigiu, as campanhas depreciativas em relação aos
muçulmanos, são instrumentos de manipulação da
opinião pública, destinada a manter artificialmente um clima
conflitual.
Os atentados do 11 de Setembro de 2001, de resto, serviram imediatamente de
pretexto para orientar a política internacional de Tel Aviv e Washington
no sentido de objectivos militares programados de longa data. Eles serviram
nomeadamente para liquidar toda forma de resistência à sua
política criminosa. A começar pela resistência palestina e
muçulmana.
Após o desmantelamento da União Soviética, o mundo
islâmico foi designado como o novo "eixo do mal". Desde o
princípio dos anos 90, os Estados Unidos e Israel manobraram de modo a
provocar o medo e a intolerância em relação aos
muçulmanos e a incitar os serviços secretos de diversos
países a infiltrá-los, a manipulá-los, a
financiá-los, a encorajar renegados a fazerem atentados; para a seguir
apontarem o dedo, justificarem medidas coercivas, os sequestros, as torturas as
detenções arbitrárias.
Desde 2001, quando os principais media prazeirosamente faziam-se eco de
campanhas contra "anti-semitas" frequentemente imaginários,
dezenas de milhares de muçulmanos eram sequestrados, encapuçados,
aprisionados, moídos, por torcionários, a fim de os constranger a
aceitar, à força, a trabalhar como espiões para os
serviços de informações estatais. Tudo isso decalcado nos
métodos dos serviços secretos israelenses do Shin Beth [9], que
tão bem funcionou para triturar uns 700 mil palestinos aprisionados
arbitrariamente durante estes últimos 40 anos.
É esta sociedade que queremos?
O que é mais lamentável e mais desencorajador nesta triste
história é o facto de que os governos europeus serviram-se desta
pretensa "ameaça islâmica" para se desembaraçarem
de numerosas protecções constitucionais e puseram, também
eles, em aplicação as medidas ilegais ditadas pelo sr. Bush, e
permitiram assim à CIA sequestrar, no seu solo, muçulmanos,
sabendo perfeitamente que iam ser entregues a centros de torturas, fora de todo
direito, e por durações ilimitadas.
Cabe perguntar igualmente quanto ao lugar que os chefes de
redacções têm concedidos, e continuam a conceder, a estes
pretensos "especialistas em terrorismo" que tem cultivado o fantasma
do "perigo islamista". "Especialistas" que retomam a
propaganda estado-unidense, associando Islão e "terrorismo",
quando sabem perfeitamente que a estratégia de Washington e de Tel Aviv
é associar, sem qualquer prova, muçulmanos a
"terroristas"
[10]
.
Cada um de nós recorda-se daquelas campanhas enviesadas destinadas a
vilipendiar e destruir a carreira de dois irmão: Hani e Tariq Ramadan,
nomeadamente em França e na Suíça. Nos outros
países houve montagens semelhantes.
Se não quisermos uma sociedade pervertida, baseada na mentira, que
autoriza os sequestros, os centros de tortura, os assassinatos selectivos, as
estratégias de infiltrações, destinadas a transformar
pessoas em informadores, é tempo de reagir.
Ver o sr. Sami El Hadj, retornando do inferno, a apelar, sem ódio nem
espírito de vingança, os jornalistas a trabalhar para fazer
triunfar os direitos humanos, para apagar esta "mancha negra da
memória", é uma grande lição.
Nossa "civilização ocidental", nossa
"democracias" tão louvadas, em nome das quais se fizeram
tantas guerra e cometeram-se tantos crimes, nossos media "livres",
deverão contar doravante com estes retornados que nos conclamam a
acordar.
_________
[1] Sami El Haj foi convidado a Genebra pela Fundação
"Alkarama for Human Right". Ver:
"Sami El Haj achève une intense visite à Genève"
, Alkarama for Human Rights, 2
juillet2008.
[2] Ver:
"Andreas von Bülow : Nous devons d'abord lutter contre la manipulation"
, Réseau Voltaire, 6 janvier 2006.
[3] Segundo o sr. Dick Marty, relator da Comissão de Assuntos
Jurídicos e dos Direitos Humanos do Conselho da Europa encarregado de
inquirir a existência de prisões secretas da CIA na Europa, um
"acordo secreto, concluído em Outubro de 2001 entre os Estados
Unidos e seus aliados da NATO, estabeleceu o quadro que permitiu à CIA
encarcerar "detidos de grande importância" na Europa. É
este acordo que autoriza as graves violações dos direitos,
inclusive a tortura".
[4] Khalid Cheikh Mohammed foi preso no Paquistão em 2003. Acusado de
ser o número 3 da Al-Qaida, ele foi internado em diversas prisões
secretas antes de ser colocado no isolamento, desde 2006, em Guantánamo,
e torturado com selvajaria. Seu processo-farsa diante do tribunal militar,
juntamente com 14 outros responsáveis da Al-Qaida, teve lugar em Junho
de 2008.
[5] A "Comissão Árabe dos Direitos Humanos" bateu-se
desde o princípio pelo encerramento de Guantánamo. Ver:
www.achr.nu
[6] Ver:
"Reporters Sans Frontières se souvient (tardivement) de Sami Al Haj"
, Réseau Voltaire, 17 février 2006.
[7] O estatuto de "combatente inimigo" e "combatente
ilegal" permitindo ao governo dos Estados Unidos deter sem limites, sem
passar por uma jurisdição civil, os prisioneiros assim
designados, decorre da lei "Patriot Act", uma lei de
excepção destinada a "unir e reforçar a
América fornecendo as ferramentas apropriadas para detectar e conter o
terrorismo" votada pelo Congresso dos Estados Unidos e assinada por George
W. Bush em 26 de Outubro de 2001.
[8] O diário "24 Horas" escreveu em 27 de Junho de 2008:
"Sami Elhaj está de passagem em Genebra para denunciar a
derrapagem
insensata da grande máquina anti-terrorista americana".
[9] Ver:
"Why did they treat me like that?"
, por Gideon Levy,
Haaretz,
6 juillet 2008.
Ver igualmente:
"Full account of Muhammed Omer's hair-raising encounter with the Shin Beth"
, por Khalid Amayreh, 1er juillet 2008.
[10] No seu sítio internet, M. Youssef Nada mostra o papel que certos
jornalistas desempenharam na sua destruição com base em mentiras.
Ver:
http://www.youssefnada.ch/
[*]
Jornalista suíça.
O original encontra-se em
http://www.voltairenet.org/article157806.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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