A agenda oculta:
o novo Pearl Harbor
A ameaça colocada pelo terrorismo dos EUA à segurança das
nações e da pessoas foi enfatizada com pormenores
proféticos num documento escrito há mais de dois anos e só
agora revelado. Os que os EUA precisam para dominar uma grande parte da
humanidade e dos recursos do planeta, dizia-se ali, é "algum facto
catastrófico e catalizador, como um novo Pearl Harbor", descrito
como "a oportunidade de todos os tempos". Os extremistas que, desde
então, exploraram o 11 de Setembro vêm da era de Ronald Reagan,
quando foram criados grupos de extrema direita e
think-tanks
para vingar a derrota americana no Vietname. Na década de 1990 houve
um acrescento à agenda: para justificar negação de um
"dividendo da paz" após a guerra fria. Criou-se o Projecto
para um Novo Século Americano
(The Project for the New American Century)
, elaborado pelo American Enterprise Instituto, pelo Hudson Institute e outras
instituições que a seguir fundiram as ambições da
administração Reagan com as do actual regime de Bush.
Um dos "pensadores" de George W. Bush é Richard Perle.
Entrevistei-o quando assessorava Ronald Reagan. Quando falou acerca da
"guerra total" considerei-o, erradamente, como louco. Recentemente
ele utilizou outra vez essa expressão para descrever a "guerra
contra o terror" dos EUA. "Sem etapas", afirmou. "Isto
é a guerra total. Estamos a combater contra uma diversidade de
inimigos. Há muitíssimos por aí afora. Toda essa
falação de que primeiro vamos tratar do Afeganistão, e a
seguir do Iraque... é o modo errado de enfrentar o problema.
Simplesmente, se deixarmos que nossa visão do mundo se desenvolva e
possamos compreende-la totalmente não tentarmos estropiá-la como
uma diplomacia de espertezas, aí sim travaremos uma guerra total...
nossos filhos entoarão grandes canções sobre nós
daqui a alguns anos".
Perle é um dos fundados do Projecto para um Novo Século Americano
(PNAC, na sigla em inglês). Alguns dos outros fundados são Dick
Cheney, actual vice-presidente, Donald Rumsfeld, secretário da Defesa;
Paul Wolfowitz, subsecretário da Defesa; I. Lewis Libby, chefe de
pessoal de Cheney; William J. Bennett, secretário da
Educação no governo Reagan; e Zalmay Khalilzad, embaixador de
Bush no Afeganistão. Eles são os modernos patrocinadores do
terrorismo dos EUA. O relatório original do PNAC, " Rebuilding
America's Defenses: strategy, forces and resources for a new century" era
um plano geral dos objectivos dos EUA. Há dois anos atrás
recomendou um aumento das despesas em armamento de 48 mil milhões de
dólares a fim de que Washington pudesse "travar e ganhar
múltiplas guerra simultâneas importantes". Isto
verificou-se. Dizia que os EUA deveriam desenvolver armas nucleares
"destruidoras de bunkers" e fazer da "guerra das
galáxias" uma prioridade nacional. Isto aconteceu. Dizia que, no
caso de Bush tomar o poder, o Iraque deveria ser um objectivo. E assim ocorreu.
Quanto às "armas de destruição em massa" do
Iraque, tais palavras foram postas de lado como as desculpas convenientes que
são. "Ainda que o conflito não resolvido com o Iraque
contribua para a justificação imediata", assinala o referido
relatório, "a necessidade de uma presença militaqr
importante dos EUA no Golfo transcende a questão do regime de Sadam
Hussein". Como foi aplicada esta impressionante estratégia? Uma
série de artigos em
The Washington Post
, escritos em conjunto por Bob Woodward, do caso Watergate, e baseados em
longos entrevistas com funcionários da administração Bush,
revela como foram manipulados os factos ocorridos no 11 de Setembro de 2001.
Na manhã de 12 de Setembro de 2001, sem evidência alguma de quem
seriam os sequestradores, Rumsfeld exigiu que os EUA atacassem o Iraque.
Segundo Woodward, Rumsfeld declarou numa reunião do Gabinete que o
Iraque deveria ser um "objectivo principal de primeira linha na guerra
contra o terrorismo". O Iraque foi perdoado apenas temporariamente
só porque Colin Powell, secretário de Estado, convenceu George W.
Bush de que "a opinião pública tem de estar preparada antes
para ser possível uma acção contra o Iraque".
Escolheu-se o Afeganistão como a opção mais suave. Se as
estimativas de Jonathan Steele no jornal britânico "The
Guardian" estiverem correctas, uns 20 mil afegãos pagaram o
preço deste debate com as suas vidas.
Na
Time
, mais uma vez, o 11 de Setembro foi descrito como uma
"oportunidade". No
New Yorker
de Abril último, o repórter investigador Nicholas Lemann
escreveu que a principal conselheira senior de Bush, Condoleezza Rice,
disse-lhe que ela havia convocado membros seniors do National Security Council
e pediu-lhes "para pensar sobre 'como capitalizar sobre estas
oportunidades' ", as quais foram por elas comparadas às de
"1945 a 1947": o começo da guerra fria.
Desde o 11 de Setembro, os EUA estabeleceram bases junto aos portões de
todas as grandes fontes de combustíveis fósseis, especialmente na
Ásia central. A companhia de petróleo Unocal está para
construir um oleoduto através do Afeganistão. Bush mandou
às favas do Protocolo de Quioto sobre emissões de gases com
efeito estufa, as disposições sobre crimes de guerra do Tribunal
Penal Internacional e tratado de mísseis anti-balísticos (ABM).
Ele afirmou que utilizará armas nucleares contra Estados
não-nucleares "se necessário". Sob a cobertura da
propaganda de alegada armas de destruição em massa do Iraque, o
regime Bush está a desenvover novas armas de destruição em
massa que minam tratados internacionais sobre guerra biológica e
química.
No
Los Angeles Times
, o analista militar William Arkin descreve um conjunto de armas secretas
actividas por Donald Rumsfeld, semelhantes àquelas executadas por
Richard Nixon e Henry Kissinger e que o Congresso declarou fora da lei. Estas
"actividades de apoio de super-inteligência" reunirão
"a CIA e acções militares encobertas, guerra de
informação, e engano". Segundo um documento classificado
preparado por Rumsfeld, a nova organização, conhecida pela sua
alcunha orwelliana como Proactive Pre-emptive Operations Group, ou P2OG,
provocará ataques terroristas os quais por sua vez exigirão
"contra-ataques" dos Estados Unidos a países que "abrigam
os terroristas".
Por outras palavras, pessoas inocentes serão assassinadas pelos Estados
Unidos. Isto é uma reminiscência da Operation Northwoods, o plano
apresentado ao presidente Kennedy pelos seus chefes militares para uma falsa
campanha terrorista completa, com bombardeamentos, sequestros, choques
de aviões e americanos assassinados como
justificação para uma invasão de Cuba. Kennedy
rejeitou-a. Ele foi assassinado poucos meses depois.
Agora Rumsfeld ressuscitou a Northwoods, mas com recursos inconcebíveis
em 1963 e sem qualquer rival global a obrigar à cautela. Você tem
de ter em mente que isto não é fantasia --- este homens realmente
perigosos, tais como Perle, Rumsfeld e Cheney, têm poder. A linha que
está a correr através das suas ruminações é
a importância dos media: "a tarefa priorizada de trazer a bordo
jornalistas de reputação que aceitem nossa
posição".
"Nossa posição", aqui, é a expressão
código para mentir. Certamente, como jornalista, nunca conheceu
mentiras oficiais mais penetrante do que as de hoje. Podemos rir das tolices
vazias de Tony Blair no "dossier do Iraque" e da mentira inepta de
Jack Straw de que o Iraque desenvolveu uma bomba nuclear (a qual os seus
apaniguados correram a "explicar"). Mas mentiras mais insidiosas,
justificando um ataque não provocado ao Iraque e ligando-o a supostos
terroristas que, disseram, estariam a espreitar em toda estação
do metro, são rotineiramente apresentados como notícias. Mas
elas não são notícias. Elas são propaganda negra.
Esta corrupção tornas os jornalistas e radialistas meros bonecos
ventríloquos Um ataque a um país de 22 milhões de pessoas
sofridas é discutido pelos comentadores liberais como se fosse um
assunto de seminário académico, no qual as peças podem ser
postas num mapa, como os velhos imperialistas costumavam fazer.
A questão primária para estes humanitários não
é a brutalidade da moderna dominação imperial, mas
quão "mau" é Saddam Hussein. Não há
qualquer admissão de que a sua decisão de se juntar ao partido da
guerra sele mais uma vez o destino de talvez milhares de iraquianos inocentes
condenados a esperar no corredor da morte internacional montado pelos Estados
Unidos. O seu duplo pensamento não funcionará. Não se
pode apoiar pirataria assassina em nome do humanitarianismo. Além
disso, os extremos do fundamentalismo americano que agora enfrentamos
estão a fitar-nos, para aqueles que têm bom coração
e senso para reconhece-lo.
[*]
Jornalista e cineastra australiano.
O original encontra-se em
Jihad Unspun
.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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