A nomeação de Palin faz sentido

por Rick Wolff [*]

Sarah Palin. Se alguma coisa é melhor do que nada, então a nomeação de Palin dá aos americanos tal opção e dessa forma mais uma possibilidade para os republicanos.

Durante os últimos 30 anos, os republicanos sistematicamente ajudaram o capital a manter os salários reais baixos enquanto crescia a produtividade . Esta combinação proporcionou lucros e rendimentos explosivos para aqueles que conseguiam por as mãos sobre tais lucros. Os republicanos alteraram activamente o fisco governamental e os padrões de gastos para novos incrementos aos lucros corporativos enquanto esmagavam os trabalhadores (através da redução de serviços do Estado e de empregos, etc). O Partido Democrata não podia ou não travaria este processo, muitas vezes apoiou-o, e apenas algumas tornou-o mais lento.

Na ausência de qualquer partido político ou movimento significativo das classes trabalhadoras, os resultados destes 30 anos incluem: (1) os trabalhadores estado-unidenses responderam ao achatamento do salário horário enviando mais trabalhadores da família para a força de trabalho paga e efectuando em média mais 20 por cento de horas de trabalho por ano do que o faziam em 1975, (2) famílias trabalhadores tomaram emprestado grandes quantias para enterrarem-se mais profundamente em dívidas do que em qualquer momento anterior da história dos EUA, (3) a exaustão do trabalho e a ansiedade da dívida produziram níveis extremos de stress que se reflectiram em divórcios, rupturas familiares, solidão , dependência de drogas legais e ilegais, etc. As famílias americanas em dissolução também se confrontam com a cada vez mais vasta divisão entre elas próprias e os 10 por cento de ricos do topo. A Walmart e a Costco saudaram (mas também humilharam) famílias a caírem cada vez mais para trás dos níveis de consumo que na nossa cultura definem o êxito e a auto estima.

Os republicanos perceberam há muito a sua vulnerabilidade política por serem culpados de facilitar este estado de coisas. Para evitar tal acusação – e as perdas eleitorais resultantes – eles gastam o seu dinheiro a carpinteirar a imagem de republicanos como campeões de um retorno aos "bons dias de antigamente" das famílias trabalhadoras dos EUA. Portanto, os "valores da família" prevalecem: casais casados permanecem juntos; eles tinham o tempo e o espaço para criar lindas crianças, ir orgulhosamente à igreja, aplaudir as nossas tropas como difusoras da liberdade, e fazer divertidas actividades de lazer em conjunto. Assim, elas podiam permitir-se o "estilo de vida classe média suburbano" e assim por diante. Um voto para os republicanos nos traria de volta àqueles tempos; pelo menos os republicanos tentariam fazer isso.

Os democratas dividiram-se. Uma parte, ao ver o poder da imagem dos republicanos, quis imitá-los. Eles nunca imaginaram como fazer isso sem aparecerem como uma cópia mal feita, menos crível. A outra parte do Partido Democrata viu de forma transparente a manipulação bruta dos republicanos, ridicularizou a sua imagem como falsa e oportunista, e tentou ao invés desmascarar a cumplicidade dos republicanos nos problemas dos trabalhadores, culpá-los por meios politicamente vantajosos. Esta parte – os democratas "liberais" ou mesmo "de esquerda" – nunca puderam ir muito longe neste rumo porque o Partido Democrata também precisava do dinheiro e do apoio do capital para pagar os custos enormes das campanhas políticas. O Partido Democrata receia que alienar o capital traria vitórias aos republicanos . Assim, o Partido Democrata habitualmente apresenta políticas e políticos que tentam impedir as suas partes de se romperem (uma vez que isto também, temem eles, asseguraria o domínio republicano).

Portanto, basicamente o Partido Democrata nada ofereceu de real e concreto à massa dos trabalhadores dos EUA que mudasse significativamente suas situações sociais e pessoais em deterioração. Ou melhor, a retórica do Partido Democrata enfatiza seus problemas e de forma mais ou menos crível compromete-se a melhorar as coisas um bocadinho. Mas não é nada provável que os democratas pudessem alterar os componentes básicos do aprofundamento da crise dos trabalhadores – seu salário e perspectivas de emprego, a extensão de programas do Estado e o apoio a obter, o colapso das famílias e do relacionamento pessoal, sua auto-confiança minguante e o medo da solidão.

O problema para os republicanos em 2008 era que Bush havia esticado a credulidade popular com as suas imagens cuidadosamente montadas do ponto de ruptura. O Partido Republicano não devolvera a América àqueles bons dias de antigamente os quais pareciam mais longe do que nunca. Os trabalhadores queiram mudança mesmo se o campeão das mesmas fosse um afro-americano que não oferecia mais do que outra versão padrão – e com palavras bem escolhidas – da espécie de posição que o Partido Democrata tentava para manter juntas as suas duas partes. Tão pouco McCain podia representar plausivelmente, e muito menos renovar e ressuscitar, a auto-apresentação dos republicanos como "campeões dos valores da família".

Daí a escolha de Palin. Mais um tiro republicano que funcionou bem, mas agora precisa ser dado mais agressivamente do que antes porque Bush e Cheney desgastaram a imagem. Palin, tal como empacotada, é a fantasia concretizada dos "valores da família urbana" cuidadosamente combinada com "defeitos pessoais" a serem identificados , com entusiasmo patriótico, juntamente com a agressiva celebração da agenda do capital e um status de vítima escorraçada da elite e a enfrentar a hostilidade dos media . Ao nomeá-la, os republicanos tinham como objectivo mais uma vez e mais dramaticamente serem vistos como a melhor esperança do povo trabalhador americano tem de que alguma coisa possa ser feita por ele neste tempo de catástrofe económica em perspectiva. Mesmo que esta "alguma coisa" seja um tiro no escuro e a repetição de uma fantasia não concretizada antes, é melhor do que nada. A esperança, ainda que absurda, é por vezes preferida à resignação.

[*] Professor de Ciências Económica na Universidade de Massachusetts - Amherst.   Autor de numerosos livros e artigos , incluindo (com Stephen Resnick) Class Theory and History: Capitalism and Communism in the USSR (Routledge, 2002) e (com Stephen Resnick) New Departures in Marxian Theory (Routledge, 2006).

O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/wolff130908.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
16/Set/08