Três simples ilustrações para qualquer norte-americano honesto

por Michael Moore [*]

Tal como no tempo de Nixon, cresce nos EUA o movimento para a derrubada de Bush. Por mais honestos que sejam, há muitos norte-americanos que continuam enganados em relação a George W. Bush. Chegam mesmo a afirmar que é o homem que lhes convém. São eles que constituem os 58 por cento da população que aprova a sua administração e os 64 por cento que ainda dizem considerar que a guerra foi uma boa ideia. Você conhece bem essas pessoas. Trabalham consigo ou têm aulas na sala ao lado da sua, ou podem até estar sentados na mesa da sua cozinha neste preciso momento!

Penso que devemos estender a mão a essas pessoas, mas que não o devemos fazer de forma partidária nem condescendente. Creio que, se partilharmos com elas algumas informações, e se o fizermos utilizando o bom senso e não os argumentos políticos, é possível chegar até elas e alterar a situação. Talvez se trate apenas do meu optimismo louco sobre o lado bom que existe em cada pessoa e sobre a capacidade que todos têm, no fim de contas, de diferenciar o bem do mal.

Gostaria de apresentar aqui três pequenas ilustrações que poderá partilhar com essas pessoas. São tão simples e tão chocantes no seu conteúdo que, se as divulgar no escritório, na escola, na vizinhança ou no quarto, conseguiremos qualquer coisa. Ei-las então:

1- GEORGE E LAURA, FALANDO DO 11 DE SETEMBRO DE 2001:
UMA PIPA DE GARGALHADAS


O que se segue é uma entrevista com o Primeiro Casal, publicada numa das minhas revistas favoritas, o Ladies Home Journal (de Outubro de 2003). A pergunta era sobre o que significaram para eles, pessoalmente, os acontecimentos do 11 de Setembro de 2001. Embora nesse dia tenham morrido mais de 3 mil pessoas, George W. Bush foi capaz de ver a situação com humor, quando o dia terminou.

Peggy Noonan (entrevistadora): No 11 de Setembro, vocês estavam separados. Como foi ao voltarem a ver-se?

Laura Bush: Bom, limitámos a abraçar-nos. Creio que sentíamos uma certa segurança por estarmos juntos, em vez de separados.

George W. Bush: Mas o dia terminou com uma nota de relativo humor. Os agentes disseram-me: "Têm de dormir lá em baixo. Washington é ainda um lugar perigoso". Eu disse-lhes que não. Não poderia dormir lá em baixo. A cama não parecia cómoda. Eu estava cansado, Laura estava cansada, e gostamos da nossa cama. Gostamos de manter os nossos hábitos. Sabe, temos o hábito de estar na nossa casa. Sabia que, no dia seguinte, tinha de enfrentar os problemas, dar força ao país, consolá-lo. Por isso, precisava de estar mentalmente preparado. Assim, disse ao agente da segurança que dormiríamos no andar de cima, e ele, com muitas reservas, acabou por aceitar.

Laura usa lentes de contacto e estava a dormir profundamente. Barney (o cão terrier dos Bush) estava connosco. De repente, o agente da segurança chegou a correr e disse: "Estamos a ser atacados. Têm de ir lá para baixo!" E lá fomos nós. Eu estava em calções e camisola, e ainda por cima descalço. Trazia o cão num braço, Laura levava o gato, e eu puxava Laura...

Laura Bush: E eu nem lentes de contacto tinha e vinha de pantufas de peluche!

George W. Bush: E o agente da segurança estava sem fôlego. Íamos para o andar de baixo porque um avião não identificado voava em direcção à Casa Branca. Depois, outro agente disse que se tratava de um avião amigo, e lá voltámos para a nossa cama.

Laura Bush: (Rindo) E deitámo-nos sem mais, pensando na figura que tínhamos feito.

Peggy Noonan: Ou seja, um dia que começou com uma tragédia, terminou como com os irmãos Marx.

George W. Bush: É VERDADE! COMO NOS RIMOS! (Fim)

Apesar de os Estados Unidos terem acabado de sofrer o pior ataque contra o seu território, esse homem conseguiu concluir o dia com uma nota divertida. Gostaria de saber quantas das 3 mil famílias que nesse dia perderam alguém viveram algo que lhes tenha parecido engraçado antes de irem dormir. Por favor, leiam a entrevista em voz alta a todas as pessoas que estiverem dispostas a ouvi-la. É extremamente reveladora.

2- ACABÁMOS DE ARRUINAR O FUTURO DOS NOSSOS FILHOS

O primeiro parágrafo de uma reportagem publicada em 14 de Setembro no New York Times surplus fala-nos da forma como Bush destruiu um excedente recorde e o converteu num défice recorde. Trata-se de um dos melhores leads [NT] que alguma vez li num artigo de jornal.

Diz assim:

"Quando, na noite de domingo passado, o presidente Bush informou o país de que a permanência no Iraque no próximo ano custará outros 87 mil milhões de dólares, muitos dos que na realidade pagarão essa factura não o puderam ver, pois os seus pais já os tinham ido deitar".

Bravo! Viva! Oxalá essas crianças no-lo agradeçam um dia!

O parágrafo seguinte diz assim:

"No dia seguinte, funcionários da administração reconheceram que cada dólar do custo da operação será EMPRESTADO; um crédito que, segundo os economistas, será pago pela PRÓXIMA geração de contribuintes E PELA GERAÇÃO POSTERIOR A ESSA. Os 166 MIL MILHÕES de dólares que custaram ATÉ AGORA as operações no Iraque e no Afeganistão, e que em Washington deixaram muita gente boquiaberta, virão somar-se ao que já é o maior défice orçamental alguma vez visto neste país."

(As ênfases com maiúsculas são minhas).

Quando lerem isto, os vossos amigos conservadores irão chorar. Então, abrace-os e diga-lhes que tudo se passará bem, quando tivermos feito o que temos que fazer.

3- O QUE SE PODE COMPRAR COM 87 MIL MILHÕES DE DÓLARES

Compreenderei perfeitamente se, antes de terminar a leitura desta lista, o leitor sentir vontade de vomitar. Mas, seja como for, divulgue-a entre os seus conhecidos. Independentemente das suas tendências políticas, qualquer pessoa sensata e que saiba pensar achará que este é o último cravo que fechará a tampa da urna da guerra contra o Iraque. (Dados graciosamente fornecidos pelo sítio TomPaine.com e pelo Center for American Progress ).

Para ter uma ideia do que representam 87 mil milhões de dólares, eis alguns equivalentes da vida real:

Oitenta e sete mil milhões de dólares é mais que a soma de todos os défices orçamentais públicos no conjunto dos Estados Unidos.

A administração Bush não propôs quaisquer fundos para ajudar os estados a reduzirem esses défices, apesar dos cortes fiscais terem reduzido substancialmente as receitas locais. (Fonte: Centro de Orçamentos e Prioridades Políticas).

Oitenta e sete mil milhões de dólares é suficiente para dar 26 363 dólares a cada uma das 3,3 milhões de pessoas que perderam o emprego durante a administração Bush.

O aumento das ajudas ao desemprego aprovado no princípio do ano pelo Congresso em nada beneficia os "trabalhadores que esgotaram os subsídios de desemprego e não conseguem encontrar trabalho". Importa sublinhar que, de facto, dois terços dos desempregados esgotaram os subsídios a que têm direito. (Fonte: Centro de Orçamentos e Prioridades Políticas).

Oitenta e sete mil milhões de dólares é mais do dobro da soma total gasta pelo Governo em segurança interna.

Os Estados Unidos gastam cerca de 36 mil milhões de dólares em segurança interna. Mesmo assim, o senador Warren Rudman (republicano por New Hampshire) escreveu que, se não forem aumentados os fundos disponíveis, "faltarão aos Estados Unidos aproximadamente 98,4 mil milhões de dólares para responder a situações de emergência em fases críticas da segurança nacional". (Fonte: Conselho das Relações Externas).

Oitenta e sete mil milhões de dólares é 87 vezes o montante investido pelo Governo federal em programas educativos extra-escolares.

George W. Bush propôs um orçamento que reduz de 1 000 milhões para 600 milhões de dólares os fundos destinados a esse fim, o que excluiu desses programas 475 mil crianças. (Fonte: Comissão das Dotações Orçamentais, dominada pelos republicanos).

Oitenta e sete mil milhões de dólares é 10 vezes mais do que o Governo gasta em protecção do meio ambiente.

A administração Bush solicitou apenas 7,6 mil milhões de dólares para a Agência de Protecção do Ambiente no seu conjunto. Isso implicou uma redução de 32 por cento das dotações destinadas a melhorar a qualidade da água, um corte de 6 por cento no pessoal afecto à execução neste domínio e uma redução de 50 por cento dos fundos destinados à aquisição e conservação de terras. (Fonte: Conselho de Defesa dos Recursos Naturais).

Aqui tem. Preto no branco. Alguns milhões de vocês irão receber esta carta. Por favor, nos próximos dias, distribuam-na pelo menos a meia-dúzia de pessoas. Tal como vocês, também não quero que Bush receba outro índice de aprovação de mais de 50 por cento.

Com os melhores cumprimentos,

Michael Moore 

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[*] Parágrafo inicial de uma notícia jornalística que responde às perguntas quem?, o que?, onde? e quando?.

[*] Michael Moore ganhou este ano o Óscar do melhor documentário com o seu filme Bowling for Columbine , sobre a cultura das armas nos EUA.

Traduzido para resistir.info por ASB

O original encontra-se em
http://www.michaelmoore.com/words/index.php?messageDate=2003-09-15


Este artigo encontra-se em http://resistir.info .

27/Set/03