Por mais honestos que sejam, há muitos norte-americanos que continuam
enganados em relação a George W. Bush. Chegam mesmo a afirmar que
é o homem que lhes convém. São eles que constituem os 58
por cento da população que aprova a sua
administração e os 64 por cento que ainda dizem considerar que a
guerra foi uma boa ideia. Você conhece bem essas pessoas. Trabalham
consigo ou têm aulas na sala ao lado da sua, ou podem até estar
sentados na mesa da sua cozinha neste preciso momento!
Penso que devemos estender a mão a essas pessoas, mas que não o
devemos fazer de forma partidária nem condescendente. Creio que, se
partilharmos com elas algumas informações, e se o fizermos
utilizando o bom senso e não os argumentos políticos, é
possível chegar até elas e alterar a situação.
Talvez se trate apenas do meu optimismo louco sobre o lado bom que existe em
cada pessoa e sobre a capacidade que todos têm, no fim de contas, de
diferenciar o bem do mal.
Gostaria de apresentar aqui três pequenas ilustrações que
poderá partilhar com essas pessoas. São tão simples e
tão chocantes no seu conteúdo que, se as divulgar no
escritório, na escola, na vizinhança ou no quarto, conseguiremos
qualquer coisa. Ei-las então:
1- GEORGE E LAURA, FALANDO DO 11 DE SETEMBRO DE 2001:
UMA PIPA DE GARGALHADAS
O que se segue é uma entrevista com o Primeiro Casal, publicada numa das
minhas revistas favoritas, o
Ladies Home Journal
(de Outubro de 2003). A pergunta era sobre o que significaram para eles,
pessoalmente, os acontecimentos do 11 de Setembro de 2001. Embora nesse dia
tenham morrido mais de 3 mil pessoas, George W. Bush foi capaz de ver a
situação com humor, quando o dia terminou.
Peggy Noonan
(entrevistadora):
No 11 de Setembro, vocês estavam separados. Como foi ao voltarem a
ver-se?
Laura Bush:
Bom, limitámos a abraçar-nos. Creio que sentíamos uma
certa segurança por estarmos juntos, em vez de separados.
George W. Bush:
Mas o dia terminou com uma nota de relativo humor. Os agentes disseram-me:
"Têm de dormir lá em baixo. Washington é ainda um
lugar perigoso". Eu disse-lhes que não. Não poderia dormir
lá em baixo. A cama não parecia cómoda. Eu estava cansado,
Laura estava cansada, e gostamos da nossa cama. Gostamos de manter os nossos
hábitos. Sabe, temos o hábito de estar na nossa casa. Sabia que,
no dia seguinte, tinha de enfrentar os problemas, dar força ao
país, consolá-lo. Por isso, precisava de estar mentalmente
preparado. Assim, disse ao agente da segurança que dormiríamos no
andar de cima, e ele, com muitas reservas, acabou por aceitar.
Laura usa lentes de contacto e estava a dormir profundamente. Barney (o
cão
terrier
dos Bush) estava connosco. De repente, o agente da segurança chegou a
correr e disse: "Estamos a ser atacados. Têm de ir lá para
baixo!" E lá fomos nós. Eu estava em calções e
camisola, e ainda por cima descalço. Trazia o cão num
braço, Laura levava o gato, e eu puxava Laura...
Laura Bush:
E eu nem lentes de contacto tinha e vinha de pantufas de peluche!
George W. Bush:
E o agente da segurança estava sem fôlego. Íamos para o
andar de baixo porque um avião não identificado voava em
direcção à Casa Branca. Depois, outro agente disse que se
tratava de um avião amigo, e lá voltámos para a nossa cama.
Laura Bush:
(Rindo)
E deitámo-nos sem mais, pensando na figura que tínhamos feito.
Peggy Noonan:
Ou seja, um dia que começou com uma tragédia, terminou como com
os irmãos Marx.
George W. Bush:
É VERDADE! COMO NOS RIMOS!
(Fim)
Apesar de os Estados Unidos terem acabado de sofrer o pior ataque contra o seu
território, esse homem conseguiu concluir o dia com uma nota divertida.
Gostaria de saber quantas das 3 mil famílias que nesse dia perderam
alguém viveram algo que lhes tenha parecido engraçado antes de
irem dormir. Por favor, leiam a entrevista em voz alta a todas as pessoas que
estiverem dispostas a ouvi-la. É extremamente reveladora.
2- ACABÁMOS DE ARRUINAR O FUTURO DOS NOSSOS FILHOS
O primeiro parágrafo de uma reportagem publicada em 14 de Setembro no
New York Times surplus
fala-nos da forma como Bush destruiu um excedente recorde e o converteu num
défice recorde. Trata-se de um dos melhores
leads
[NT]
que alguma vez li num artigo de jornal.
Diz assim:
"Quando, na noite de domingo passado, o presidente Bush informou o
país de que a permanência no Iraque no próximo ano
custará outros 87 mil milhões de dólares, muitos dos que
na realidade pagarão essa factura não o puderam ver, pois os seus
pais já os tinham ido deitar".
Bravo! Viva! Oxalá essas crianças no-lo agradeçam um dia!
O parágrafo seguinte diz assim:
"No dia seguinte, funcionários da administração
reconheceram que cada dólar do custo da operação
será EMPRESTADO; um crédito que, segundo os economistas,
será pago pela PRÓXIMA geração de contribuintes E
PELA GERAÇÃO POSTERIOR A ESSA. Os 166 MIL MILHÕES de
dólares que custaram ATÉ AGORA as operações no
Iraque e no Afeganistão, e que em Washington deixaram muita gente
boquiaberta, virão somar-se ao que já é o maior
défice orçamental alguma vez visto neste país."
(As ênfases com maiúsculas são minhas).
Quando lerem isto, os vossos amigos conservadores irão chorar.
Então, abrace-os e diga-lhes que tudo se passará bem, quando
tivermos feito o que temos que fazer.
3- O QUE SE PODE COMPRAR COM 87 MIL MILHÕES DE DÓLARES
Compreenderei perfeitamente se, antes de terminar a leitura desta lista, o
leitor sentir vontade de vomitar. Mas, seja como for, divulgue-a entre os seus
conhecidos. Independentemente das suas tendências políticas,
qualquer pessoa sensata e que saiba pensar achará que este é o
último cravo que fechará a tampa da urna da guerra contra o
Iraque. (Dados graciosamente fornecidos pelo sítio
TomPaine.com
e pelo
Center for American Progress
).
Para ter uma ideia do que representam 87 mil milhões de dólares,
eis alguns equivalentes da vida real:
Oitenta e sete mil milhões de dólares é mais que a soma de
todos os défices orçamentais públicos no conjunto dos
Estados Unidos.
A administração Bush não propôs quaisquer fundos
para ajudar os estados a reduzirem esses défices, apesar dos cortes
fiscais terem reduzido substancialmente as receitas locais. (Fonte: Centro de
Orçamentos e Prioridades Políticas).
Oitenta e sete mil milhões de dólares é suficiente para
dar 26 363 dólares a cada uma das 3,3 milhões de pessoas que
perderam o emprego durante a administração Bush.
O aumento das ajudas ao desemprego aprovado no princípio do ano pelo
Congresso em nada beneficia os "trabalhadores que esgotaram os
subsídios de desemprego e não conseguem encontrar trabalho".
Importa sublinhar que, de facto, dois terços dos desempregados esgotaram
os subsídios a que têm direito. (Fonte: Centro de
Orçamentos e Prioridades Políticas).
Oitenta e sete mil milhões de dólares é mais do dobro da
soma total gasta pelo Governo em segurança interna.
Os Estados Unidos gastam cerca de 36 mil milhões de dólares em
segurança interna. Mesmo assim, o senador Warren Rudman (republicano por
New Hampshire) escreveu que, se não forem aumentados os fundos
disponíveis, "faltarão aos Estados Unidos aproximadamente
98,4 mil milhões de dólares para responder a
situações de emergência em fases críticas da
segurança nacional". (Fonte: Conselho das Relações
Externas).
Oitenta e sete mil milhões de dólares é 87 vezes o
montante investido pelo Governo federal em programas educativos extra-escolares.
George W. Bush propôs um orçamento que reduz de 1 000
milhões para 600 milhões de dólares os fundos destinados a
esse fim, o que excluiu desses programas 475 mil crianças. (Fonte:
Comissão das Dotações Orçamentais, dominada pelos
republicanos).
Oitenta e sete mil milhões de dólares é 10 vezes mais do
que o Governo gasta em protecção do meio ambiente.
A administração Bush solicitou apenas 7,6 mil milhões de
dólares para a Agência de Protecção do Ambiente no
seu conjunto. Isso implicou uma redução de 32 por cento das
dotações destinadas a melhorar a qualidade da água, um
corte de 6 por cento no pessoal afecto à execução neste
domínio e uma redução de 50 por cento dos fundos
destinados à aquisição e conservação de
terras. (Fonte: Conselho de Defesa dos Recursos Naturais).
Aqui tem. Preto no branco. Alguns milhões de vocês irão
receber esta carta. Por favor, nos próximos dias, distribuam-na pelo
menos a meia-dúzia de pessoas. Tal como vocês, também
não quero que Bush receba outro índice de aprovação
de mais de 50 por cento.
Com os melhores cumprimentos,
Michael Moore
____________
[*]
Parágrafo inicial de uma notícia jornalística que responde às perguntas quem?,
o que?, onde? e quando?.
[*]
Michael Moore ganhou este ano o Óscar do melhor documentário com
o seu filme
Bowling for Columbine
, sobre a cultura das armas nos EUA.
Traduzido para resistir.info por ASB
O original encontra-se em
http://www.michaelmoore.com/words/index.php?messageDate=2003-09-15
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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