Monsters, Inc.
O grande feiticeiro, líder dos Sábios, outrora conhecido em todo
o mundo como uma força do bem, tornou-se amargo, temeroso e
ambicioso. Macaqueando os modos do mal que ele outrora combateu
brutalidade, dominação, avareza, terror ele desceu ao seu
laboratório secreto onde, com a magia negra da alquimia e da tecnologia
satânica, engendrou uma raça de guerreiros mutantes, "corpos
de ferro e vontades de ferro": combatentes ferozes que podem atacar noite
e dia, sem descanso, com um espírito de combate que se mantém
elevado graças aos lampejos da varinha do feiticeiro.
Uma cena de "O Senhor dos Anéis", de J.R.R. Tolkein, onde o
corrupto feiticeiro Saruman molda o seu monstruoso Uruk-Hai para travar uma
cruel e impiedosa guerra de dominação? Não, infelizmente
trata-se de um esquema muito real que agora está a ser prosseguido pelo
Pentágono, cujos feiticeiros da droga e manipuladores genéticos
trabalham na criação do "Desempenho Extendido do combatente
em guerra"
("Extended Performance War Fighter")
, relatam o Daily Telegraph e o Christian Science Monitor.
O sinistro amo do Pentágono, Donald Rumsfeld, está a despejar
biliões de dólares de impostos nos fornos de
investigação de laboratórios federais e universidades
privadas de toda a terra num esforço de grande alcance para desovar
"super soldados", movidos por drogas e "cérebros
electromagnéticos assassinos" que possam combater sem cessar dias a
fio. O trabalho é dirigido pela Defense Advanced Research Projects
Agency (DARPA) sim, a mesma instituição que agora labora
sob a tutela do condenado terrorista-conspirador John Poindexter na
construção da rede "Conhecimento total da
informação"
("Total Information Awareness")
que permitirá ao governo monitorar os registos electrónicos e as
comunicações de todos os cidadãos.
Os programas de "estimulação do combatente em guerra"
do DARPA uma aceleração dos bio-consertos que se
desenvolve há vários anos implicarão injectar
homens e mulheres jovens com preparações hormonais,
neurológicas e genéticas; implantar microchips e
eléctrodos nos seus corpos a fim de controlar os seus
órgãos internos e as suas funções cerebrais; e
aplicar-lhes drogas que amorteçam algumas das suas tendências
humanas normais: a necessidade de sono, o medo da morte, a relutância em
matar seres humanos.
A investigação é "muito agressiva e de ampla
abertura", diz o almirante Stephen Baker do Center for Defense
Information. Na verdade, o Comando de Operações Especiais dos
EUA pretende a criação de pessoal com "corpos de ferro e
vontade de ferro" que possam "resistir aos efeitos mentais e
psicológicos da privação do sono" graças a
"substâncias ergogénicas" para "administrar" a
"tensão ambiental e mental induzida" pelo campo de batalha.
Com corpos espremidos, cérebros envolvidos em nevoeiros Prozacianos, os
combatentes guerreiros aperfeiçoados podem agitar-se cruel e
implacavelmente rumo à dominação.
A palavra "criação" não é apenas
retórica fantástica. Algumas das investigações
agora em curso envolvem realmente a alteração do código
genético dos soldados, modificando pedaços
(bits)
de DNA para moldar um novo tipo de espécime humano, alguém que
funciona como uma máquina, matando incansavelmente durante dias e noites
a fio. Estas mutações "revolucionarão a ordem de
batalha actual" e garantirão "dominância operacional ao
longo de todo o espectro de potenciais empregos militares dos EUA",
entusiasmam-se os feiticeiros do DARPA.
Naturalmente, o Pentágono não está a contar com tecnologia
de ciência ficção para elevar as habilidades físicas
dos seus combatentes; os "aditivos" padrão já fora de
moda há muito que são despejados pelas goelas abaixo dos
soldados. Exemplo: o uso de anfetaminas para pilotos foi generalizado durante
décadas; durante a primeira guerra Bush-Saddam, todos os
esquadrões eram trabalhados com este material. A ingestão de
estimulantes é não só oficialmente aprovada como
também activamente encorajada, e mesmo implicitamente obrigatória
a carreira pode ser prejudicada se o piloto recusar drogar-se.
Os resultados desta generalização da dopagem foram vistos
claramente na nova fronteira imperial do Afeganistão, na última
Primavera, quando dois pilotos americanos excitados com estimulantes
mataram quatro aliados canadianos com "fogo amigo" num raid de
bombardeamento. Os pilotos, agora a enfrentar acusações legais,
dizem que a Força Aérea os pressionou a tomar drogas que
alteravam a mente antes do voo fatal.
Mas pequenas falhas como essa são inevitáveis em qualquer grande
empreendimento científico, e a DARPA permanece irredutível no seu
arrojado empreendimento para "chegar aos limites do input/output
humano", avançar o "relacionamento simbiótico entre
homem e máquina" e adaptar a "tecnologia
farmacêutica" para "reforçar o combatente e seus
superiores", como declararam cientistas militares numa conferência
patrocinada pelo Pentágono sobre a guerra futura.
O que acontece às exaustas cascas deste soldados "de ferro"
depois de as suas mentes e corpos terem sido comidos por
modificações inexoráveis e trabalhos incessantes
não faz parte, naturalmente, das preocupações do Regime
Bush. Ainda agora, a Casa Branca está a cortar nos benefícios de
saúde dos militares veteranos chegando até mesmo a ordenar
a hospitais de veteranos que não anunciem os seus serviços
disponíveis, a fim de que os soldados com problemas não tentem
exigir realmente o prometido apoio que o seu governo lhes dava. Para homens
como Bush filhos protegidos do privilégio que ficam em
segurança, fora de guerras, no luxo apodrecido de bebedeiras tais
promessas são apenas tácticas para sugar, destinadas a persuadir
soldados decentes a actuarem como assassinos contratados do império,
descartando-se deles quando não são mais necessários.
Como isto é estranho: Aqueles que querem transformar os soldados
americanos em seres sem mente, em mutantes apodrecidos com drogas a fim de
enviá-los para matar e morrer em distantes guerras imperiais de
conquista são vistos como patriotas, líderes nobres, cumprindo a
vontade de Deus, ao passo que aqueles que tratam estes homens e mulheres bons
com honra e respeito desejando que os seus talentos e
dedicação sejam aplicados unicamente na defesa do seu
próprio grande país e que não sejam espremidos ao
serviço de uma elite voraz e rapinante são denunciados
como "traidores", "agitadores anti-americanos",
"aliados do terrorismo".
Mas esta é a inversão de valores a sabedoria
desencaminhada posta em prática que agora rege a Washington de
Bush, e os escaldantes cadinhos de guerra do Pentágono.
[*]
Jornalista do Moscow Times. © Chris Floyd, The Moscow Times 2003. For
fair use only/ pour usage équitable seulement. Tradução de
J. Figueiredo.
O original deste artigo encontra-se em
http://www.tmtmetropolis.ru/stories/2003/01/10/120.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
|