Ladrões
Quando perguntaram ao fora-da-lei Willie Sutton porque roubava bancos, ele
respondeu de forma directa: "É lá que está o
dinheiro".
É claro que é fisicamente para não dizer
politicamente impossível para os quadros corruptos do regime Bush
dar uma resposta directa seja ao que for, mas se eles pudessem ser
forçados a confessar a verdade por trás da conquista do Iraque,
as suas respostas seriam idênticas à de Sutton. Pois apesar de os
quadros e os comentadores dos media terem vomitado uma tempestade
de pó acerca de grandiosas "razões" morais,
estratégicas e ideológicas para a guerra, cada semana que passa
traz novas provas de que toda a ração assassina reduz-se a apenas
uma coisa: o saque. "Sigam o dinheiro obedeçam à
sabedoria suttoniana do Garganta Funda esta é definitivamente a
chave para penetrar nos sujos mistérios do culto da carga
[NT]
bushista.
Vamos começar por seguir o dinheiro desde a pilha cada vez maior de
cadáveres no Iraque até os sedosos bolsos de Dick Cheney. Este
mês a grande imprensa americana acordou para o facto há muito
estabelecido de que Cheney ainda está a receber da sua antiga firma
Halliburton montes de subornos em "compensações
adiadas". Acontece que está firma é exactamente aquela que
mais se locupleta na manjedoura iraquiana. Estas
"revelações" provocaram no rosto sombrio do
vice-presidente um ciclo furioso de negaças: os termos do
negócio haviam sido ajustados antes da posse, ele dará todo o
dinheiro a obras de caridade, sua probidade é impecável,
blá, blá, blá a novela habitual, toda ela engolida,
como de costume, pelos media.
Tão atrevida foi a sua defesa que na semana passada apaniguados
bushistas pediram aos críticos que emitissem uma desculpa formal ao
pobre e caluniado multimilionário especulador da guerra (e antigo
parceiro de negócios de Saddam Hussein). Mas mesmo aceitando a absurda
suposição de que Cheney estava realmente a contar a verdade
acerca deste arranjo particular que envolve apenas uma fatia de umas
poucas centenas de milhares de dólares, apesar de tudo o facto
é que a Halliburton está a utilizar uma porta traseira para
encher os cofres do seu antigo chefe com milhões em dinheiro sangrento
sugado directamente dos cadáveres de soldados americanos e de civis
iraquianos.
Este arranjo lucrativo, oculto da visão pública, foi
descoberto na semana passada pela investigadora Maggie Burns do
Progressive Populist
. Enquanto os mandarins dos media estavam a engolir
sabão, Burns cometeu o acto cada vez mais raro em jornalismo de
verificar os formulários financeiros públicos
(financial disclosure forms)
de Cheney. Estes mostram que Cheney tem um mínimo de US$ 18
milhões investidos em The Vanguard Group, um importante fundo de
investimentos. (Considerando as apresentações deliberadamente
vagas dos formulários 'disclosure', este pé-de-meia poderia ser
tão elevado como US$ 87 milhões. Meros mortais como nós
não estão destinados a saber isso).
Acontece que a Vanguard é o 10º maior accionista na ah,
você já adivinhou! Halliburton. O fundo possui 7,6
milhões de acções naquela firma, cujo valor é cerca
de US$ 176 milhões. Assim, qualquer contrato governamental que incha a
Halliburton na verdade despeja os lucros da guerra directamente dentro das
avultadas contas bancárias de Cheney. Nenhuma quantidade de
sabão pode lavar tal facto. Enquanto isso, cinco dos outros 10
accionistas principais na Halliburton têm grandes quantias guardadas
junto aos nossos velhos amigos do Carlyle Group, onde George Bush Senior se
abriga
como um valioso apostador corporativo (e antigo parceiro de negócios de
bin Laden). Assim, os cofres da família Bush definitivamente não
ficam esquecidos quando a Halliburton vai à guerra.
Mas vamos ser justos. Depois de aquecer-se entremeando-se com a Halliburton,
com a
Bechtel e com outras firmas abençoadas por Bush com contractos sem
concurso
de mil milhões de dólares, o Regime anunciou que estava a
"abrir" a competição para o porco da guerra. As novas
regras dão aos potenciais empreiteiros prazos de até três
dias
ou mesmo, por vezes, até mesmo sete dias inteiros! a fim de
prepararem propostas para grandes projectos que totalizam centenas de
milhões de dólares, relata The New York Times.
Muito estranhamente, a maior parte das companhias que ainda não
estão no terreno iraquiano estão a achar difícil preencher
estes esplêndidos prazos finais. "Oh, sua companhia não
consegue apresentar proposta para reconstruir toda a infraestrutura
rodoviária nacional do Iraque em apenas três dias? É pena,
imagine que teremos então de entregar isto à Bechtel. Aqui vai
mais uma, Bechtel e a propósito, obrigado pelo cheque para a
campanha, amigo! Vejo-o este fim de semana lá no rancho!".
Agora este sistema de favoritismo do conquistador está a tornar-se
global. Num lance desesperado para obterem alguma ajuda externa para limpar a
atroz confusão empapada em sangue em que se meteram, na semana passada
os bushistas tramaram um negócio com a ONU que permitiria a
países estrangeiros contribuir para a pilhagem desculpe, para a
reconstrução do Iraque que canalizasse o dinheiro para a
suas próprias firmas politicamente favorecidas, relata The Guardian.
Naturalmente, a junta de ocupação bushista
"coordenará" a mastigação nesta nova manjedoura,
de forma a assegurar que os vanguardianos da Casa Branca obtenham a sua fatia.
Aqui está, finalmente, uma forma de internacionalismo que Bush pode
abraçar!
Mas os amados negócios ficam mais doces ainda para devoradores internos
como a Halliburton. Primeiro, a maior parte do porco está a ser
concedida em contratos "cost-plus", com os lucros de uma companhia
ligados às "despesas" do projecto. Quanto mais custos eles
apresentarem, maiores serão os lucros: é um sinal verde para as
ultrapassagens, e uma licença para saquear a tesouraria pública.
Mas isto não é tudo. Os lucros destas fraudes
(scams)
estão a ser mantidos secretos não só dos tolos
habituais, o povo americano, mas também da supervisão do
Congresso, que está constitucionalmente mandatado para tal, relata o
Seattle Times.
Negócios secretos com amigos e patronos, lucros secretos que não
podem ser detectados, fundos mútuos para lavar o dinheiro e um
monte de carne de canhão para cometer os assassínios
(wetwork)
e aguentar as consequências: Bush transformou a América num
covil de ladrões.
___________
[NT]
Alusão a uma religião da Melanésia que apregoa a
vinda de uma era abençoada após a chegada de uma
"carga" de bens com origem sobrenatural.
Referências:
White House Disclosures Lead to Halliburton
Progressive Populist, Nov. 1, 2003 issue
Companies Get Few Days to Offer Bids for Iraq Work
New York Times, Oct. 19, 2003
Profits Not Revealed in Rebuilding Contracts
Seattle Times, Oct. 18, 2003
Senate Won't Oblige Cheney to Refuse Halliburton Money
Casper Star Tribune, Oct. 18, 2003
Divvying Up the Iraqi Pie
Alternet.org, Oct. 7, 2003
Richard Cheney Public Financial Disclosure Form
U.S. Government
Major Stockholders, Halliburton Corporation
Yahoo Finance.com, Oct. 22, 2003
Slaves of the Foreigners
Der Spiegel, October 6, 2003
Bremer Fought to Weaken Iraqi Oil Watchdog
Reuters, Oct. 17, 2003
US Allows Wider Say on Funds for Rebuilding
The Guardian, Oct. 21, 2003
The Emperor Has No Clothes
Sen. Robert Byrd, Senate floor remarks, Oct. 17, 2003
Halliburton Overcharges US Taxpayers While Selling Oil to Iraqis
San Francisco Chronicle, Oct. 22, 2003
Bush's Golden Triangle
Village Voice, Oct. 15, 2003
Yes, Bush Lied
World Net Daily, Oct. 6, 2003
The privatization of War and Peace
Yahoo.com, Oct. 21, 2003
The New Great Game
Common Dreams, Oct. 20, 2003
Bush Campaign Raises a Record $49.5 Million
Washington Post, Oct. 14, 2003
[*] Jornalista.
O original encontra-se em
http://www.tmtmetropolis.ru/metropolis/stories/2003/10/24/120.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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