NÃO EM NOSSO NOME!

Apelo de intelectuais e artistas dos EUA contra a guerra

Manifestações contra a guerra, programadas nos EUA para 6 de Outubro Que não se diga que nos EUA as pessoas não fizeram nada quando o seu governo declarou uma guerra ilimitada e impôs novas medidas repressivas.

Os signatários deste apelo convidam a população a resistir às políticas e às orientações gerais que surgiram após o 11 de Setembro e que põem em alto perigo os povos do mundo.

Nós acreditamos que as pessoas e as nações têm direito a traçar o seu próprio destino, livres de qualquer coacção militar das grandes potências. Acreditamos que todas as pessoas detidas ou perseguidas pelo governo estadunidense devem ter os mesmos direitos. Formular perguntas, criticar e discordar são atitudes que devem ser valorizadas e protegidas.

Acreditamos que as pessoas conscientes devem assumir a responsabilidade das acções dos seus governos e antes de mais opor-se às injustiças cometidas em seu nome.

Convidamos os estadunidenses a resistir à guerra e à repressão impostas ao mundo pela administração Bush. Ela é injusta, imoral e ilegítima. Devemos fazer causa comum com os povos do mundo.

Contemplamos com angustia os terríveis acontecimentos do 11 de Setembro de 2001. Também choramos pelos milhares de vitimas inocentes e sentimos horror da terrível carnificina que nos trouxe à memória cenas similares em Bagdade, no Panamá, ou há uma geração, no Vietname. Tal como milhões de estadunidenses perguntamos como foi possível que uma coisa assim tivesse acontecido.

Mas enquanto a dor estava apenas começando, as mais altas instancias desencadearam o espirito da vingança. Cunharam um lema simplista: «os bons contra os maus», que foi imediatamente adoptado por meios de comunicação submissos e acobardados. Disseram-nos que o simples facto de formular perguntas sobre esses tristes acontecimentos roçava pela traição. Não devia haver qualquer debate. Não havia lugar para dúvidas éticas ou políticas. A única resposta possível era a guerra no exterior e a pressão dentro de casa.

Em nosso nome a Administração Bush, contando com a quase unanimidade do Congresso, atacou o Afeganistão, e arrogou-se junto com os seus aliados o direito de destruir forças militares em qualquer lugar e momento. Os efeitos, brutais, fizeram-se sentir desde as Filipinas à Palestina, onde os tanques e os buldozers israelenses abriram uma sinistra estrada de morte e destruição.

O governo está disposto agora a empreender uma guerra total contra o Iraque, país que não tem qualquer relação com os factos do 11 de Setembro. Que espécie de mundo será este se permitir ao governo dos EUA lançar comandos assassinos e bombas onde lhes apetece?

Em nosso nome o governo criou nos EUA duas classes de cidadãos: aqueles a quem, pelo menos, lhes prometem os direitos fundamentais do sistema legislativo e aqueles que segundo parece não tem agora direito algum. O governo prendeu mais de mil imigrantes, meteu-os no cárcere secretamente e por tempo ilimitado. Centenas de pessoas foram deportadas e centenas continuam na prisão. Pela primeira vez nas ultimas décadas as formalidades imigratórias submetem determinadas nacionalidades a tratamento desigual.

Em nosso nome o governo desencadeou uma vaga repressiva na sociedade. O porta-voz do presidente intimidou as pessoas dizendo: «Tenham cuidado com o que dizem!».

Os artistas, intelectuais e professores dissidentes vêem os seus pontos de vista distorcidos, atacados e eliminados. A chamada Lei Patriótica, juntamente como uma infinidade de medidas similares nos diferentes Estados, conferiu à Policia novos e mais amplos poderes de investigação e sequestro, com cobertura de métodos de acção secretos.

Em nosso nome o executivo usurpou constantemente os papeis e funções de outras áreas do governo. Uma ordem executiva pôs em funcionamento tribunais militares. Uma assinatura do presidente basta para definir como «terrorista» um grupo de pessoas.

Devemos levar muito a sério os governantes quando falam de uma guerra que durará uma geração, e de uma nova ordem. Estamos perante uma nova política imperial para o mundo e uma política interna que gera e manipula o medo para limitar os direitos.

Há uma estratégia mortal nos acontecimentos dos últimos meses, que deve ser vista como o que é e à qual temos que resistir.

Demasiadas vezes na historia as pessoas esperaram para resistir até quando já era tarde demais. O presidente Bush declarou: «ou estão connosco ou contra nós!».

Esta é a nossa resposta: negamos-lhe o direito de falar em nome de todos os estadunidenses.

Não entregaremos as nossas consciências em troca de uma oca promessa de segurança. Dizemos NÃO em NOSSO nome. Negamo-nos a ser parte destas guerras e recusamos todas as acções empreendidas em nosso nome ou do nosso bem estar. Estendemos a mão àqueles que no mundo sofrem em consequência destas decisões.

Demonstraremos a nossa solidariedade pelas palavras e pela acção. Os signatários deste apelo convidam todos os estadunidenses a unir-se a este desafio.

Aplaudimos e apoiamos as propostas em curso e reconhecemos a necessidade de se fazer muito mais para por termo a esta loucura. Inspiramo-nos na decisão dos reservistas israelenses que, assumindo um risco pessoal, declaram que há um limite e se negam a servir em Gaza e nos territórios ocupados.

Inspiram-nos numerosos exemplos de resistência e a consciência que nos oferece a história dos Estados Unidos: desde os que combateram a escravatura aos que puseram termo à guerra do Vietname, desobedecendo a ordens, negando-se a entrar nas fileiras e apoiando os que resistiam.

Não permitamos que o mundo que nos contempla se desespere com o nosso silêncio e a nossa capacidade de acção. Trabalhemos para que sinta o nosso compromisso.

Resistiremos à maquina da guerra e da repressão e faremos todo o possível para a deter.

Assinam: Noam Chomsky, politólogo e linguista; Susan Sarandon, actriz; Jane Fonda, actriz; Kurt Vonnegut, escritor; Oliver Stone, realizador; Robert Altman, realizador; Gore Vidal, escritor; Danny Glover, actor; Barbara Kiugsolver, escritora; Marisa tomei, actriz; Russell Banks, escritor; Alice Walker, escritora; Aaron Macgruder, caricaturista; Ozomatli, banda de rock de Los Angeles; Laurie Anderson, dramaturga; Amy Ray, de Indigo Girls; Anbi di Franco, cantora; Eve Ensler, dramaturga; Pete Seeger, cantor; Angela Davis, professora universitária; Howard Zinn; Edward Said, escritor; Brian Eno, músico; Steve Earle, músico; Tony Kushner, dramaturgo; Martin Luther King III; Gloria Steinem; Mark Strand, poeta. Seguem-se mais 4000 assinaturas.

As demais assinaturas podem ser lidas em http://www.nion.us/CURRENTM.htm

Esta declaração encontra-se em http://resistir.info

01/Out/02